quarta-feira, 9 de maio de 2007

Ventura

Nada contra (talvez um pouco), mas não me entra na cabeça essa coisa de superstição. Pra mim, essa questão de sorte e azar é muito mais cósmica, uma conjunção de fatores aleatórios que o universo manipula. Como é que isso tudo cabe em um gato preto?

Outro dia estava na rua e tinha lá uma escada arreganhada sobre a calçada. Uma mulher na minha frente passou por debaixo da escada, uns dois passos a frente se ligou, então voltou, passou por baixo da escada de novo e então, finalmente, passou por fora. Ou seja, nosso principal exemplo da teoria que põe em dúvida a inteligência humana passou sob a escada duas vezes. E, pelo menos até onde eu pude ver, nada aconteceu com ela - afinal, se passar uma vez já é azar desgraçado, duas é pedir pra morrer na próxima esquina.

A coisa da sorte e azar também é muito relativa. A sorte do homem e do coelho é totalmente inversa, como se fosse um espelho: pra cada humano supostamente sortudo há um coelho perneta. Que tipo de privilégios na vida pretende ter um desgraçado que transforma um roedor tão simpático num saci?

Mas o pior de todos é, certamente, o torcedor supersticioso. Aquele cara que acha que o time dele só perdeu porque ele não usou a cueca da sorte. Sejamos racionais: o futebol é uma indústria que movimenta trilhões de dólares todo ano, transforma meninos pobres em mega-stars, mobiliza cidades, estados, países em torno de um campeonato. Realmente difícil acreditar que isso tudo seja controlado por um trapo nojento que guarda os testículos de algum desocupado.

Por isso essa coisa de superstição não me entra na cabeça. Sorte é loteria, e não adianta querer trapacear porque quem gira a roda com as bolinhas é deus, e ele não é tão subornável quanto parece. Agora volta lá no pasto e devolve a ferradura pro coitado do cavalo, que ele tá mancando.

Um comentário:

bb disse...

Então, o coelho já tá perneta mesmo, né? Precisa devolver tbm?