quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

É melhor ser alegre que ser triste

Depois de quatro anos de um blog escrito por mim, essa pessoa que não sustenta uma conversa por cinco minutos, previsível que assuntos e sentimentos se repitam. Mas a gente muda, o mundo muda, a audiência muda, então não custa às vezes voltar num tema antigo.

Hoje eu quero falar de gente feliz. Se você, estimado e pimpão leitor, é uma pessoa feliz, positiva, saltitante, satisfeita, gostaria de já deixar bem claro que, ainda que possa depender de outros, a felicidade é meio que coisa nossa, egoísta e tal. Portanto, não se deixe abalar pelo que eu vou falar aqui. Você tem que cagar pra nós, esses monstrinhos cinzentos praguejadores. Você chegou lá, parabéns.

Mas eu tenho que representar o outro lado da corda, o daqueles cínicos filhos da puta que querem te matar. Porque é muito, muito difícil aguentar gente feliz. Gente alegre. Gente que sorri. Gente que aprecia a companhia de outra(s) pessoa(s) que está(ão) no mesmo recinto que você. Dá vontade de morder os dedos até deixá-los em carne viva. Gente feliz é um caralho, um entojo. Gente que se diz apaixonada pela vida. Eu sei que o amor é cego, mas pera lá, aí já é demais.

Tem duas coisas que todo mundo busca: dinheiro e felicidade. Você não gosta que algum rico fique esfregando dinheiro na sua cara, então entenda o quanto é repugnante toda vez que você gargalha e suspira por algo que nem é tão engraçado assim. E aquela sua foto de óculos escuros numa paisagem linda sorrindo de orelha a orelha? Tô olhando pra você nela e vendo um machado enferrujado enterrado no meio do seu crânio. Para de esbanjar, seu esnobe do cacete. Se a gente quisesse ser feliz, pelo menos tentaria. Respeita nosso gosto pela miséria, faz favor.

'Oh, mas que coração negro, por que tanto ódio?', é o comentário padrão. Não é ódio, e meu coração é daquela cor bizarra igual o de todo mundo (não aquela bunda invertida que você desenha, veja bem). Mas é que não tem nada de errado em ser assim. Não é errado gostar de ouvir Radiohead, não é errado pensar em coisas escabrosas nem se detestar e achar que é tudo uma merda. Pelo contrário, é saudável, não deixa o cérebro ser engolido pelo mofo da felicidade (que deve ser um algodãozinho rosa sorridente).

E vamos ser justos, o que eu disse pra um vale pra outro: também é um saco gente que fica esfregando tristeza na cara dos outros. Ninguém gosta disso, e deve ser tão irritante quanto o vomitador de alegria. Esse texto não tem nada a ver com isso, tem a ver com falar mal pelo puro prazer de fazê-lo. Coisa de quem tem ódio no coraçãozinho negro, sabe?

Aliás, 'coraçãozinho' não, vá se foder.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Band on the run


Há vários fatores pra determinar se um show é o melhor que você viu na vida. Tem o grau de afinidade (e paixão) que você tem com a banda/artista, tem o momento - tanto o seu quanto o da banda -, tem a própria maneira como o espetáculo é montado, sobre organização, qualidade do áudio, todo esse tipo de coisa.

Eu sou um fã incondicional dos Beatles, que é de longe a minha banda favorita (deixa o Nirvana, segundo lugar, comendo poeira).Desnecessário dizer, portanto, que já entrei no Morumbi ontem pra assistir o show do Paul McCartney praticamente convencido de que aquele seria o show da minha vida. Mas sacomé: da expectativa até a definição tem um caminho enorme (vocês não sabem como eu me controlei pra não fazer uma piada com The Long and Winding Road), e nesse caminho eu cantei alto pra caralho, tossi pra caralho (ah, a doença, que momento inoportuno), chorei pra caralho, até passei mal (ah, a doença, que momento inoportuno), mas dignamente caminhei até um local mais vazio e me estirei no chão enquanto cantava Day Tripper de braços abertos.

Não teve nada errado no show de ontem (bem, o volume poderia ser mais alto, mas ninguém ia conseguir ouvir nada de qualquer jeito): a banda é muito boa, o set list foi quase perfeito (eu incluiria Maybe I'm Amazed e I Saw Her Standing There, mas aí é meu gosto), e o Macca é um barato: conversava o tempo todo, sorria o tempo todo, fazia um monte de gracinha.

Aliás, calmaê, deixa eu me corrigir: eu não sou um opositor das áreas vip (pelo menos não quando não bate na hipocrisia), acho que se tem gente querendo pagar mais pra ficar num lugar melhor, ótimo. Mas a tal área Premium de ontem não precisava ser tão grande. Eu fiquei quase na grade da pista comum e mesmo assim estava a quilômetros do palco. Eu paguei caro também, pessoal, vamos ser um pouquinho mais legais.

E o público é boa parte da graça de um show (para o bem ou para o mal). Se no sábado os fãs do Smashing Pumpkins estragaram minha experiência com o Pavement, ontem tava todo mundo unido e cantando e dançando e se abraçando o tempo todo. É bom estar rodeado de pessoas que gostam da mesma coisa que você, mesmo que elas te olhem torto quando você ACIDENTALMENTE deixa cair uma lágrima ou duas (ou centenas) durante Something. E teve o nananaheyjude, coisa mais linda do mundo, e os balões brancos em A Day In The Life / Give Peace a Chance. Aliás, gostaria de agradecer ao Paul (que lê esse blog, eu sei) por tocar a melhor música do mundo. Quando eu cheguei no final do Sgt. Peppers e ouvi essa pela primeira vez, fiquei acabado. Que música, que música.

Então eu fui do relato simples à babação de ovo desenfreada. Acontece. Mas é engraçado que quando você já viu shows demais e não tem mais o mesmo vigor físico de outros tempos ainda continua se surpreendendo e desabando (metafórica e literalmente) num espetáculo desse tipo. Se você não foi, perdoe minha insensibilidade: você vai rolar pelo resto da vida num mar de ácido do arrependimento. Se foi, meus parabéns: você viu a História.

E isso não é questão de opinião. Tem duas verdades nessa vida: a de que a gente vai morrer e a de que o show de ontem foi foda. Infelizmente, agora só resta a primeira. Mas tá tranquilo, tá tranquilo: agora já pode.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Scott Pilgrim contra o mundo

Já aviso: tem um monte de spoilers.

Eu gosto do Scott Pilgrim, né. Li a série toda, tenho o jogo (falta terminar ainda) e sabadão fui ver o filme. E gostei.

O lance é que não dá pra evitar ao menos um tequinho de desapontamento quando você acompanha a adaptação cinematográfica de uma obra em papel que você gosta. São formatos diferentes, o tempo disponível pra contar a história é outro, e por aí vai. Então, de uma maneira geral, o filme me agradou. Mas vamos ser específicos.

A história é a seguinte: Scott Pilgrim, canadense, 23 anos, é um bosta. Não tem emprego, é baixista numa banda tosca, mora na mesma casa - e dorme na mesma cama - do Wallace, o clássico melhor amigo gay (ainda que o clichê caberia melhor se Scott fosse uma mulher) e ainda é atormentado pelo fantasma da ex-namorada, com a qual terminou há um ano. Então ele conhece Ramona Flowers, uma americana misteriosa, se apaixona, se relaciona, e aí que mora o perigo: pra poder namorá-la em paz, vai precisar vencer seus 7 ex-namorados do mal. É, tipo, 7 caras que ela chutou e que ficaram malvadões e agora querem matar todos os pretendentes.

O filme começa quase como uma transcrição literal da HQ - com algumas devidas adaptações - e é interessante notar que as piadas que foram feitas pra funcionar em nanquim funcionam também com pessoas de verdade contando. O que é ótimo, porque o filme é engraçado pra caralho, e no mínimo vai valer a visita ao cinema só pelas risadas. Do quinto e sexto ex em diante a coisa começa a despirocar e vira praticamente outra história. O que é bom pra quem não leu o final ainda (especialmente porque os últimos dois volumes não saíram em português).

Michael Cera está excelente como Scott, tornando um personagem que é praticamente um mangá (com seus exageros absurdos) em algo acreditável. O problema está na outra metade da dupla de protagonistas: Ramona é deprimente.

Da moça simpática e adorável da HQ, ela se transformou numa esnobe sem graça. Além de séria e excessivamente arrogante, ela perdeu todo o background que a transformava na personagem mais interessante da história: pouco do passado de vadiagem dela é contado, e, se isso a deixa ainda mais misteriosa, também tira a vontade de desvendá-la. Mas o maior efeito negativo na história é que acaba ficando difícil de entender porque Scott arrisca sua vida por uma mina tão chata. E o final (a gente chega lá), só piora as coisas nesse sentido.

Ramona não foi a única afetada: Knives Chau, a chinesa adolescente que namora Scott logo no começo da história ganha bastante destaque no final. Se por um lado é bom ver um personagem tão legal aparecendo mais, por outro é uma pena que sua essência tenha sido distorcida. Perto do fim, Scott diz que ela é mais madura do que a idade aparente, quando a graça dela era justamente o contrário: apesar de seus 17, ela parecia ter 12. Nisso, o filme tenta criar um triângulo amoroso de verdade (porque na HQ isso tudo é tratado como uma piada), e quando Knives, no finzinho, sugere ao herói que vá atrás de Ramona ao invés de ficar com ela, cria um clichê tão bobo que faz toda a aura sarcástica do filme perder um pouco de sua força. Além do que, naquela situação, que tipo de imbecil deixaria uma moça tão legal pra ir atrás daquela escrota?

(Justiça seja feita, o final da HQ também é uma merda. Só que, ao invés de apelar para um clichê cinematográfico, vai no vácuo dos finais épicos e bregas dos mangás, com pessoas transformadas em monstros e esse tipo de bobagem)

Pra fechar a parte de críticas, o grande (e, até certo ponto, previsível) inimigo do fluxo do filme é o fato de que, para condensar a história da HQ, o foco acaba sendo nas lutas com os ex-namorados - justamente a parte menos legal. No princípio, quando a luz está sobre a vida de Scott e seu relacionamento com os amigos, o filme é uma delícia. Depois, vai gradualmente ficando chato.

Mas vamos às coisas legais: além de ser engraçado pra cacete, a montagem, que busca inspiração nas histórias em quadrinhos, funciona muito bem. O amontoado de referências nerds (a música do menu principal de Zelda, o riff de baixo de Seinfeld, a camiseta que Scott usa num show com o ícone do baixo do Guitar Hero) manteve o espírito do gibi. Um ponto positivo do filme sobre a HQ é a relevância maior dada aos Sex Bob-Omb, a banda de Scott, que aparece tocando bastante. E, no final, quando eles assinam contrato (o que nunca existiu no gibi) e trocam o baixista, o filme amarra a piadinha que ficou aberta nos quadrinhos, sobre Stephen Stills e Young Neil tocarem na mesma banda.

O filme é bem legal e tem grandes chances de agradar muita gente. Apesar de ser um pouco mais leve que a HQ, em que jorra promiscuidade e homossexualidade (acreditem, Wallace está longe de ser o único personagem com aspirações gays na história), ainda é muito divertido. E se o argumento ficou ainda mais absurdo devido ao achatamento da história, o pouco caso com que o filme trata a si próprio ajuda a deixar tudo na boa. Ele é indie até o osso, nerd até o osso, e na sua bizarrice consegue capturar o espírito jovem da nossa geração (ou a nossa fatia dela) como poucos. Eu recomendo, mas recomendo o pacote inteiro: vê o filme, joga o jogo e lê os quadrinhos (não necessariamente nessa ordem).

Aí depois me procura pra gente trocar um ideia.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

E eu fui no terceiro dia do SWU



... e meio que foi aquilo que todo mundo falou (e já dizia que ia acontecer meses antes, o que dá um toque de má vontade à coisa): desorganizado, caro pra cacete, etc.

Nem dá vontade de falar sobre o lance da sustentabilidade, porque não acho que ninguém aqui engoliu essa. Não tenho números e não sou especialista (ajuda eu, João?), mas acredito que, pra começo de conversa, a não realização desse show já ia poupar muito lixo e energia. Depois, na moral, separar sustentabilidade de igualdade social (pista premium e pãns) é meio trouxa, coisa de quem se foca demais num problema que é muito maior.


E aí tem o meu problema pessoal com festivais, que é o seguinte: eu os odeio. Porque são vários meios-shows, às vezes (como foi no caso do SWU) costurados pela falta de bom senso de escalar bandas semelhantes. Não é um problema do ponto de vista artístico, é um lance de descaso da plateia.

Porque um dos três shows que eu queria muito ver era o do Yo La Tengo, que tá longe de ser uma banda popular, e tocaria naquele palco antes do Avenged Sevenfold (de quem eu nunca tinha ouvido falar e, oremos, nunca mais ouvirei de novo). Pois a plateia estava cheia de fãs dessa última aí, que estavam cagando pro que rolava no palco. Conversando, gritando, cantando, pulando, totalmente alheios ao (puta) show que tava rolando. Só pararam pra prestar atenção quando Ira Kaplan começou um de seus tradicionais surtos no final, o que causou um certo estarrecimento do pessoal que nunca viu um guitarrista sair da escala na vida.

Por sorte, não ocorreu coisa semelhante com o Pixies, a outra atração alternativa da noite, já que os fãs da banda seguinte (o Linkin Park) estavam no palco ao lado, xingando pra ninguém ouvir. E, vou te confessar, o show foi até melhor do que eu esperava. Teve todas os 'hits' (Where's My Mind, Monkey Gone to Heaven, Hey, Bone Machine, Velouria, Gigantic, Wave of Mutilation), conectados por uma cacetada de grandes músicas (a maioria do espetacular Doolittle), num volume bom e pra um público que cantava tudo e sorria pra tudo e gostava de tudo - era jogo ganho, afinal. Deixa a molecada gritar ao lado.

E antes do Pixies teve o Queens of The Stone Age, a banda que mais se aproximou da unanimidade nos últimos dez anos, num show curto (atrasou uma hora) e demolidor, daqueles que até quem não conhece a banda curte. O som começou baixo, mas depois melhorou e foi só alegria, bom o bastante pra entrar no meu top 5 da vida.

Musicalmente, esse um terço do festival que eu assisti foi excelente. Mas, convenhamos, essa é a parte fácil de se fazer um evento. E, pra ser honesto, não vi nas minhas andanças nenhuma escabrosidade que fosse muito mais escandalosa que em outros festivais e shows grandes do tipo (em relatos, aí sim, vi coisas muito piores), mas isso não é desculpa. Precisa parar com esse negócio de achar que é frescura não gostar de entrar num banheiro sujo ou não ter um ônibus esperando na porta, porque é por isso que todo mundo tá pagando, e alguém tá enchendo o cu de dinheiro enquanto nego sofre achando que tá roots. É uma pena que quem é idiota como eu (não sei se você tá nesse bonde, manifeste-se) ainda se sujeite a essas coisas só porque é a única oportunidade de ver aquela banda que gosta tanto, mas parece uma rua sem saída: sempre vai haver público grande, então pra que se preocupar?

Sexta feira estarei lá eu tentando descolar um ingresso pro Paul McCarney. E a merda continua.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Loser wear

Daí que, motivado por uma das minhas cento e trinta investidas diferentes esse ano em busca de prazer produtivo, resolvi fazer uma camiseta desse blog pra mim. Não é pra divulgar (não tem a URL, pode ver) nem pra vender, fiz só de alegre mesmo. E, claro, tinha que mostrar aqui.

Não repare o amarrotamento, ela ficou dois dias na mochila.

domingo, 3 de outubro de 2010

Fortalecendo a democracia: dia 1

Então hoje foi minha primeira participação efetiva como barman da tal festa da democracia (aliás, ponto a favor: é bem minha cara uma festa em que ninguém se diverte). Alguns fatos que rolaram:

  • Os velhos votam até mais rápido que os jovens
  • Crianças votam mais rápido que todo mundo
  • Um cara grande e gordo e com cara de "vá se lavar que eu vou lhe usar" entrou na cabine e o celular dele começa a tocar num volume inacreditável de alto (nem meu amplificador chega nesse barulho). O toque? Oops!... I did it again.
  • Ninguém ia votar no Tiririca. Sei
  • Muita gente vota sem saber o que está fazendo
  • Mas a maioria vota sabendo o que está fazendo. Já não sei o que é pior
  • Tinha uma mulher chamada Claudelícia (fiquei com vergonha de falar o nome dela em voz alta, então a apelidei de 'moça')
  • Só existe uma mulher bonita entre todas as eleitoras da 168ª seção da 327ª zona. Ela tem 45 anos
  • Tem gente que só tá lá pra te foder 
  • Já tem uma puta fila faltando mais de uma hora pra começar a votação
  • Reza a lenda que em outra seção uma pessoa levou 20 minutos pra votar
  • Minha mãe vota duas salas ao lado e não passou pra me ver. Pos no mundo e agora fica com vergonha
  • Nunca vi tanta Sonia, Sueli, Severino, Sebastião e Terezinha na vida
  • Todo mundo tem mãe chamada Maria
  • 18/09/1986: não sei o que aconteceu nessa data, mas os títulos de eleitor de quase todo mundo foram emitidos nela. Coincidência? #sabotagem
  • Ninguém sabia que precisava votar em dois senadores. Resultado? Em São Paulo, 22,23% dos votos foram brancos e 32,58% nulos (até o fechamento dessa edição)
  • Não é tão ruim assim. Pra ser sincero, pode ter sido o melhor dia de trabalho trabalhado da minha vida. A cinco minutos de casa, é tão bom que não parece verdade. E ainda ganhei 20 reais de vale refeição
É isso. Como vocês não foram bróder e não votaram na Dilma, no segundo turno estaremos lá de volta. Agora vai dormir com raiva do 'povão', vai.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Reset

Semana passada o Restart, aquela banda que 'todo mundo' odeia, ganhou uma pá de prêmios no VMB. As críticas no dia seguinte eram as mais diversas, e em geral descambavam pra ataques a essa geração de adolescentes, molecada perdida, gosta de qualquer merda, etc.

Eu não sei se isso está claro pra todo mundo, mas vamos abrir os olhos: esse lance do Restart não é de agora, não é só dessa geração. A mesma merda vem acontecendo há, sei lá, décadas: surge um novo ídolo juvenil, a mulherada* enlouquece, os adultos fazem aquele facepalm maroto e começam com o papo de juventude perdida, molecada sem bom gosto, no meu tempo é que era bom. Foi assim com o Elvis, com os Beatles e os Rolling Stones, com o punk e - tcharam!, golpe de espada no seu saudosismo barato - com os Backstreet Boys.

Sim, não seja besta, a minha (talvez a sua também) geração idolatrava as boy bands. Não só os já citados BSB, como também Five, N'Sync, Westlife, e até as bizarras versões nacionais, como Twister. E não venha me dizer que qualquer um desses é melhor que o Restart e seus semelhantes, porque orgulho com cheiro de naftalina é um negócio que esse blog tá dispensando. Pra ser sincero, anulem-se as porcarias das músicas, entre o despojo bobo dos coloridos e a sensualidade brega da turma do Justimberlake, fico com os primeiros.

O que a gente oferece pra meninada de hoje é basicamente o mesmo veneno que nos foi dado no nosso tempo de espinhas e desproporções corporais. É um ciclo cretino e inexplicavelmente imune ao empirismo que recomeça a cada nova leva de gente que chega pra dominar o mundo. Sei que o nome Restart não surgiu pensando nisso, mas o charme do acaso é que ele sabe ser perfeito quando quer.

Se hoje festas com temática das músicas horrorosas (horríveis, tenebrosas) dos anos 80 são um sucesso - e você gosta -, pode ter certeza que daqui a umas duas décadas seus sobrinhos estarão afogando sua indesejada vida adulta ao som de Levo Comigo e A Usurpadora.

Aliás, sabe uma vantagem que a gente tem? A internet. Agora a gente pode fugir dessas aberrações ouvindo exatamente o que a gente quer. Pense no quanto sofreram nossos pais e contemporâneos, restritos ao rádio e aos programas de auditório. Então agradeça e tente envelhecer com um pouquinho de dignidade, vai. Não dói nada.


* 'Mas é só a mulherada, seu machista?!'. Sejamos sinceros, sim. Veja a quantidade de mulheres adolescentes surtando por causa de ídolos que vendem pela sua estética e tente comparar com a de homens no mesmo barco. Essa é a diferença: meninas estravazam sua admiração gritando e escrevendo declarações de amor em rolos de papel higiênico. Meninos fazem o mesmo batendo punheta e, a seu modo, 'escrevendo declarações de amor' em rolos de papel higiênico. A favor das donzelas, esse comportamento delas tende a acabar com o tempo.

domingo, 5 de setembro de 2010

Escrevendo o testamento

Pois agora o Blogger, muito gentilmente, anexou estatísticas de acesso ao seu menu de serviços (o povo do Wordpress vai começar a se gabar que lá já tinha muito antes; acho ótimo quando nego vem se achar por usar alguma coisa na internet, é bem coisa de gente que venceu na vida). Parece muito legal, só que esse é o começo do fim desse blog.

Já raspei no assunto aqui, e o negócio é que toda vez que eu tenho algum instrumento pra monitorar a popularidade de qualquer coisa que eu faça o destino é sempre o mesmo: a morte. Eu não sou popular, não sou querido e costumo ser bastante ignorado - não é mimimi, estou ciente e de acordo com isso -, mas fico paranoico pra caralho quando eu consigo de alguma maneira ilustrar isso em números. Todos meus blogs antigos faleceram porque tinham poucos acessos, meu Orkut naufragou porque eu não tenho amigos e o Vida corporativa de bosta já entrou num hiato de algumas semanas porque não consegue passar de 30 visitas por dia - tá, isso é mentira, mas é que sempre que eu dou exemplos eu dou três, e precisava de um pra completar.

E olha, eu tava bem satisfeito com o rumo que as coisas vinham tomando aqui: escrevo quando quero, não ligo se comentam ou não, e essa é a hora em que precisaria de um terceiro item pra completar minha matemática idiota dita no parágrafo anterior. Mas com esse raio de estatística eu vou ficar louco, monitorando de cinco em cinco minutos, seguindo as traffic sources, tentando adivinhar quem é que acessou o blog pelo Mac ou que navega pelo OneRiot (sério agora, quem?). Entrarei numa espiral paranoico-depressiva que culminará no fim do Vida de bosta e em algumas letras tristes de músicas no nick do MSN. O Blogger fará de mim um transexual.

Sim, eu (acho que) posso desabilitar esse bagulho. Mas por que fazer isso silenciosamente e perder todo o drama, né?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

100 anos

Então o Corinthians faz 100 anos. Que legal. Já dei várias demonstrações do meu desamor por essa camisa aqui no blog (minha preferida é essa), mas não sejamos bestas: é claro que uma das grandes graças de ser são paulino (assim como de ser palmeirense, santista, etc) é torcer contra o aniversariante. Sob esse ponto de vista, esse 1º de setembro é importante pra todo mundo.

Nem sei por onde começar a falar o que eu mais gosto no Corinthians. Aliás, sei sim: pra mim o mais legal é esse lance de todo corinthiano bater no peito e dizer que tem a maior torcida, yada yada yada. Porque uma vez que a gente ESCOLHE o time que vai torcer (alguns dirão que não se escolhe, que está no sangue e etc, pensamento um tanto contraditório à virilidade inerente ao futebol - tá, ser são paulino também é), se orgulhar de ter a maior torcida é tipo entrar na comunidade do Orkut com o maior número de membros e sair soltando rojão. E, cá pra nós, torcedor é um negócio que me embaraça um pouco: isso de ficar cantando musiquinhas e batendo palma no meio da rua, em um contexto qualquer, e não se deixar abater pelo fato do senhor do universo estar vendo aquilo e ficando com uma vergonha da porra.

Outra coisa que eu adoro: o slogan "corinthiano, maloqueiro e sofredor, graças a deus". Primeiro porque a maior parte dos preibói que eu conheço é gambá (verdade seja dita, tirando os gays, os corinthianos são maior parte de qualquer categoria), o que torna o fato de ver alguém de banho tomado e todos os dentes na boca se chamando de maloqueiro bem engraçado. Não vou comentar o "sofredor", porque fetiche é um negócio muito pessoal, mas o "graças a deus" é curioso: se você escolheu ser corinthiano e diz que é maloqueiro sem ser, tá agradecendo a deus o que? Por ser masoquista?

Em defesa dessa nação alvinegra, entretanto, devo contestar dois objetos de ataque das torcidas rivais: a falta de estádio e título da Libertadores. Começando pelo último, não tem problema nunca ter sido campeão: o São Caetano nunca foi, a Portuguesa nunca foi, a Ferroviária nunca foi. Sobre o estádio, tipo, por que diabo alguém tem que se sentir mal por isso? Parece falta de coisa melhor pra zoar, o que absolutamente não é verdade: há simplesmente tanto...

Você, corinthiano: não vou te dar os parabéns, você não tem nada com isso (tirando o Bueno, baixista da minha banda, que de fato faz aniversário dia 1º de setembro). Mas você, Sport Club Corinthians Paulista: parabéns, muitas felicidades, muitos anos de vida, tudo de bom. Te odiar é boa parte da graça do futebol, e por você eu posso extravasar toda a raiva que não posso nas outras pessoas que fazem parte do meu dia-a-dia. Agora bola pra frente e curte a festa: título é difícil de comemorar, mas aniversário tem todo ano, tem que aproveitar.

domingo, 22 de agosto de 2010

Gente que nunca aprende

Toda vez que eu digo que vou escrever mais aqui (tenho o blog há quase três anos e meio e continuo repetindo esses erros juvenis), desapareço logo em seguida. Dessa vez tenho desculpas:

1- Eu não tenho feito nada, o que leva a não ter assunto pra escrever (sério, olha esse post agora). Na verdade, até tenho feito: tô lendo pra caralho, desenhando pra caralho, tocando violão pra caralho; minhas férias tem sido uma viagem no tempo, para aquela era maravilhosa antes de eu começar a trabalhar, mas isso só é legal pra mim.

2- Falando em trabalhar, eu posso não estar escrevendo aqui, mas tem bastante coisa rolando no blog novo, o Vida corporativa de bosta. Tá bombando, cara. Sucesso no Twitter, sucesso na internet, mais de TRINTA acessos diários. Tá, isso num dia bom. Eu sou tão loser.

3- Eu gastei 350 reais em quadrinhos (é, pois é, eu sei, eu sei) e vi que minha dívida na Caixa (aquela do post anterior) cresce mais rápido do que eu consigo juntar dinheiro - vocês precisavam ver minha cara derretendo na hora que a mulher me mostrou o extrato. E olha só, o antigo eu pegaria essa mínima coisa, enrolaria por quatro parágrafos e faria um post sobre isso, mas o novo eu... O antigo eu era melhor.

Só pra vocês não ficarem sem sua dose de minha desgraça para diversão, saibam que ontem meu dente quebrou. No começo das férias eu comprei um saco de Dadinhos, um saco de 7 Belo e um saco de pirulitos de coração e brincava que até o fim de agosto eu estaria banguela. Nunca achei que fosse virar realidade.

Ah, leiam Maus. Vale a vida.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Phérias

Hoje, oficialmente, eu entro em férias. 'DE NOVO?', bradará aquele mais afobado, mas tá tudo dentro da lei, então sente essa bunda na sua cadeira DE ESCRITÓRIO e volte a trabalhar, vagabundo.

Eu tinha um plano para as minhas férias: procurar um apartamento pra me esconder e dar algum sossego aos meus familiares. Esse plano durou até as 13 horas de hoje, quando bateu uma preguiça e tal. O que significa que todo o dinheiro que eu não gastei e as viagens que eu não marquei por conta disso foram em vão. Rá, eu rio na cara de mim mesmo.

(Na verdade, vou é pegar o dinheiro pra pagar uma dívida com a senhora Caixa Econômica Federal, mas isso não é da sua conta)

Pretendo fazer dessas férias um período mais produtivo que da última vez - até aí, também pretendia procurar lugar pra morar e você já viu no que deu -, o que deve inclusive significar mais posts nessa pocilga. Parece inacreditável, mas eu gosto de escrever nessa bosta. É mesmo inacreditável.

Além daqui, também estou há algumas semanas com outro blog, o Vida corporativa de bosta, que serve basicamente pra esculhambar o trabalho e tudo que se relaciona. Com todo respeito, né, afinal tenho crianças pra alimentar. E além dissos, devo fazer mais coisa que não te interessa em nada, mas que estará aí na internet. Aviso quando rolar.

Agora, se permite, vou voltar a assistir Chapolin. Fique com essa música da qual me lembrei agora, e boa noite.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Má influência

Eu já disse num outro post - preguiça de procurar o link, desculpa - que sou muito facilmente influenciável. Sou um pequeno graveto na correnteza (os engraçadinhos dirão que eu sou um pequeno graveto, ponto), arrastado pra uma cascata de decepção e autoconstrangimento. Eita, que drama.

Eu quero ser um monte de coisas só pelo estímulo recebido. Se eu vejo Seinfeld, quero ser comediante; se vejo Slam Dunk, quero jogar basquete; se vejo The Big Bang Theory, quero ser inteligente; se assisto a Copa do Mundo, quero ser o celular da Larissa Riquelme; e por aí vai.

Vamos deixar isso claro: eu nunca vi, nem verei, O Segredo de Brokeback Mountain. Nunca se sabe o que pode acontecer.

Daí que eu tenho assistido bastante Scrubs, e adivinhem, estou com mó vontade de ser médico. Pode não parecer nada de mais, não fosse o fato de que eu tenho horror - HORROR (tenta repetir arranhando bastante na parte dos dois R) a sangue, vísceras, órgãos, ou qualquer coisa que costume ficar dentro do corpo humano. Imagina a bosta de médico que eu seria: enquanto o pobre do paciente tá lá gritando porque o fêmur dele está empalando a coxa, eu fico olhando pro outro lado e gritando 'volte pra dentro, por favor, senhor osso!'

Quando criança, eu era menos reservado quanto a essa repulsa. Todo mundo sabia que eu não gostava de sangue, e até fazia questão de me mostrar quando rolava algum. Hoje eu tento fingir que não me preocupo, porque sacomé, velho, careca, barbudo, fica feio demonstrar esse tipo de fraqueza. E convenhamos, eu já demonstro tantos outros tipos de fraqueza que esse aí pode passar.

Mas é que dessa vez é preocupante: leia os textos desse blog e você verá minhas aspirações a humorista, participe de uma discussão comigo e perceberá como eu tento parecer inteligente, jogue uma bola de basquete na minha direção e vai me ver quicando ela no chão feito malandrão do Bronx - inclusive tentando passá-la entre as pernas e provavelmente acertando o saco. Quanto ao celular, pff, leia o texto de baixo. Então estou aqui pedindo a sua ajuda, caro leitor: não me deixe ser médico. Não me deixe nem ajudar uma pessoa que precisa de primeiros socorros. Imagina eu desmaiando em cima de um cara que acabou de ser atropelado. Não vai ser bom pra ninguém. Se puder colaborar comigo, seria de imensa ajuda.

O Vida de bosta também faz bem pra sociedade, veem? =)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Liga pra mim / no celular / meu coração

Nunca tive essa relação íntima que muitos tem com celular. Pra mim, ele sempre funcionou mais como relógio-despertador que qualquer outra coisa - inclua 'telefone' nesse 'qualquer outra coisa'.

Mas foi então que, cansado do meu velho MP3 player 'Sony' - gravem isso: jamais, JAMAIS sucumbirei ao iPod -, resolvi adquirir um telefone celular um tiquinho mais sofisticado. Sofisticado assim: tem MP3, jogos, bluetooth, câmera, todas essas coisas que ficaram populares há cinco anos ou mais, mas pra mim são novidade.

O negócio é que como tocador de MP3 ele é uma senhora e retumbante bosta: danifica os arquivos, demora pra atualizar quando eu incluo músicas novas, o volume é baixo, o fone é ruim e etc. Mas tem um outro bagulho que eu sempre invejei nas pessoas menos tecnologicamente recalcadas: a capacidade de colocar músicas pra tudo.

Eu fiquei tão empolgado com essa babaquice que atribuí toques personalizados pra quase todos os meus contatos. Se você me ligar e ouvir Last Nite saltando do aparelho, mal aê, você é escória sem toque próprio.

Também é possível escolher a musiquinha do despertador, e esse foi o maior acontecimento da minha vida nos últimos 30 anos: se antes eu não tinha nem snooze - juro por Satã, eu precisava acordar, reprogramar o despertador pra dali a 10 minutos e voltar a dormir - agora posso acordar ouvindo o tema do Frog. Já salto da cama me sentindo um herói de capa e espada. Meu pai inclusive disse que hoje eu acordei gritando "você vai pagar por isso, maldito Magus!". Eu nego.

Mas tirando essa papagaiada e o não-digno-de-orgulho fato de que agora eu posso competir com os fia da mãe que ouvem pagodão e funk alto no busão, dá pra concluir que não vai ser dessa vez que meu relacionamento com a telefonia móvel vai dar um passo adiante. Começo a achar que talvez seja por eu não usar mesmo a função de ligar e receber ligações, mas posso estar errado. É possível colocar toques aleatórios pra quando meu pai ligar? Assim vai dar a impressão que são várias pessoas diferentes, tipo aquela história da mulher que mandava flores pra ela mesma, pra se sentir amada. Vou tentar e aviso, abraços.

domingo, 4 de julho de 2010

Na União Soviética, a urna eletrônica vota você

Ah, a vida. Essa puta. Você vai dormir uma noite, sonha com coisas fantásticas, e quando acorda tem uma cartinha da Justiça Eleitoral selando a sua morte.

Sim, fui convocado para ajudar no fortalecimento da democracia do meu país: serei mesário na próxima eleição. Logo eu, que anulo todos os meus votos desde 2002 - não é nenhum protesto nem nada, é que eu acho que desse negócio de escolher o menos pior já basta minha própria opção por continuar vivendo.

Eu detesto eleição, detesto horário eleitoral, detesto propaganda eleitoral, detesto político, detesto eleitor, detesto pesquisa eleitoral, detesto debate, detesto ser obrigado a votar, detesto ser obrigado a ser mesário. Mas gosto da urna eletrônica, ela faz um barulhinho bacana. Tililim.

O que eu acho legal é a ironia da coisa: eu, além de votar nulo e detestar tudo relativo ao assunto, como apresentado nos últimos parágrafos, sou um ferrenho opositor da democracia. Não que eu ache que tem coisa melhor por aí, mas acho que a gente não devia se dar ao luxo de parar de procurar. Tirania da maioria? Tô fora. Quero um negócio que seja bom pra todo mundo. Deixa esse negócio de mesário pra quem é fã. Tem um monte de voluntários na igreja, um monte de gente que faz flash mob, tem um monte de gente que faz parte de torcida uniformizada; não é possível que não haja pessoas dispostas a fazer de bom grado um negócio tão importante quanto trabalhar nas eleições. Sem sarcasmo aqui.

Por mais que eu não seja grande apreciador do tipo de trabalho que paga meu salário, certamente prefiro ele a ficar um domingo inteiro sentado numa sala de escola infantil auxiliando gente que não consegue decorar uma sequência tão simples quanto 'apertar o número do candidato, apertar o verde'. É mais fácil que usar um celular, oh puta que pariu!

Se depender de mim, fiel e assumido lobatista, vai todo mundo votar 99. Monteiro Lobato presidente: a hora dos monocelhas do Brasil. É.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Oportunidades e afins

Eu não sou muito fã, não sei se deu pra notar, dessas frases edificantes fáceis que falam e retuitam por aí. Devo ser um tipo de monstro pra algum escritor ou apreciador da autoajuda, essa anomalia literária e comportamental sem precedentes na história da burrice humana: eu me arrependo de tudo, eu deixo pra amanhã, eu prefiro morrer por dentro a arriscar e correr o risco de dar certo.

Mas entre os mandamentos da bagaça, tem um que está perigosamente fora de controle: o tal de agarrar todas as oportunidades. Tem um tanto a ver com essa tal visão teísta de que deus vai fazer isso e aquilo e que aquilo outro deu errado por culpa do capeta: basicamente entrega seu destino a algum fenômeno aleatório qualquer que pode um dia surgir e lhe sorrir.

Não vou ser besta de dizer que tudo nessa vida é talento e esforço e que nada depende de sorte. Claro que não é por aí - eu mesmo posso garantir que tudo que eu tenho é mais graças ao tal fenômeno aleatório que a meus méritos. O problema é achar que você deve agarrar toda maldita 'oportunidade', não importa qual é. Eu tento pensar que não, mas toda vez que eu vejo um coitado correndo estabanado pra entrar no elevador, mesmo sabendo que outro vai chegar em menos de um minuto, eu penso que é algum problema de interpretação da 'lição de vida' que, convenhamos, já é de muito fácil assimilação. Seu ônibus chegando no ponto antes de você não é uma oportunidade a agarrar, uma gostosa correndo pelada é.

Já cansei de ler fulaninho falando por aí que a vida é curta e o caralho. Eu vivi mais ou menos um terço do tempo de vida médio do brasileiro, e meu amigo, já não aguento mais. Mas muita gente acha que é, e se apega a várias dessas fórmulas mágicas da felicidade. Só que no fim acabam sendo só apressados, teimosos, inconvenientes. Como diz aquela música do REM, living well is the best revenge. Como vingança não está no cardápio de Augusto Cury e seus colegas - e neles, choro em dizer, encontra-se Seu Madruga -, viver bem parece ser também uma impossibilidade. Tudo bem então, continuem tropeçando vergonhosamente no caminho de suas oportunidades estroboscópicas; eu vou ali contar uma piada estúpida pro próximo frustrado amor da minha vida.

sábado, 5 de junho de 2010

You're bald!

Há males que vem para o bem, dita o dizido diz o ditado. Se considerarmos que o maior bem da vida adulta nesses dias de hoje é o tempo, então pode-se dizer que minha calvície me põe na regra que começa o post: os cortes de cabelo tem sido cada vez mais rápidos (o último, juro, durou cinco minutos), o que me deixa com tempo de sobra pra várias outras coisas, como... como me entregar às lágrimas em frente ao espelho enquanto contemplo o avanço do meu couro não cabeludo.

Não sei o quanto você, sofrido leitor, se identifica com a minha situação, mas é mais ou menos como a morte, com a fantástica vantagem de, bem, não ser a morte: você sabe que vai acontecer, só torce pra que demore. Digo, talvez não aconteça com você, mas na minha família todo mundo foi abatido por esse mal terrível: as únicas lembranças que eu tenho do meu pai cabeludo são por fotografias, e meu irmão - que é mais novo que eu - já raspa a cabeça há mais de um ano e meio. Eu vejo as fotos da minha juventude e lá estão aquelas entradas, pequenas rachaduras na parede de uma catedral bonita e cheia de vida, que um dia iriam crescer e derrubar aquela merda toda.

(Momento histórico: acabei de me elogiar no parágrafo anterior. Deve ser a primeira vez na história desse blog)

Mas aí sempre tem quem não sabe aceitar esse destino, e quer por que quer se manter cabeludo mesmo depois que o anjo do cabelo chamou na beirada da quadra e fez o sinal da substituição. Usam creme, passam babosa, compram peruca, fazem transplante. Pra manter a analogia com a morte, esses são como zumbis, gente que se recusa a dizer adeus e ser comido pelas minhocas. E, meu amigo, não venha me dizer que é legal ser zumbi. Não é. Zumbis são feios, não sabem andar direito, só querem comer o seu cérebro. Mas eles são melhores em um ponto: estrelam metade dos jogos de videogame lançados no mundo. Eu nunca vi um que tenha um personagem que fez transplante capilar.

Eu posso ser otimista e acreditar que se a natureza me permitiu demitir a capa peluda que habitava o topo da minha cabeça é porque eu provavelmente não preciso. It's the evolution, babe. Mas sei lá, aquecimento global, efeito estufa, cocô de pombo, tudo isso me faz pensar que a natureza tá na verdade tirando com a minha cara.

Não a culpo. Tem cara de paga-lanche, tem mais é que se foder.

sábado, 29 de maio de 2010

Por que eu vou torcer pela Argentina na Copa


Motivo número um


Eu não sei se já publiquei isso aqui alguma vez (sei que já escrevi, mas a lixeira do Vida de bosta é maior que a internet), mas sou tarado por Copa do Mundo. Tá, com a foto aí de cima a palavra não ajuda, mas desvincula. Eu adoro Copa do Mundo. É a única época da vida em que é socialmente aceitável vandalizar as ruas com desenhos no chão e bandeirinhas nos postes e em que você para de trabalhar pra ver futebol. Se você não acha isso motivo o bastante pra tornar essa época mágica, faça o favor de se por pra fora desse blog.

Mentira, não se vá.

Mas deixa eu explicar já o título do post: claro, dã, que eu vou torcer pelo Brasil. É o meu time. É a seleção que eu tentei defender. Mas quando o habilidosíssimo escrete comandado por Dunga não estiver em campo, estarei torcendo por qualquer um dos times sulamericanos. Yeap, Chile. Yeap, Paraguai. Yeap, Uruguai. Yeap, Argentina.

Deixe-me explicar um negócio sobre futebol pra você: o que movimenta a bagaça é a rivalidade. Mas não o ódio. Percebe a diferença? O legal da rivalidade é se divertir às custas do fracasso alheio, e deixar isso bem claro pro alheio. É legal ganhar do Cruzeiro, é legal ganhar do Flamengo, mas legal é mesmo é ganhar do Palmeiras e do Corinthians, porque eu não conheço ninguém que torça pro time mineiro ou pro rubronegro. Como é que eu vou me divertir em cima de alguém que está a algumas centenas de quilômetros de mim?

Pausa para você captar a piada (ruim) de duplo sentido.

O Brasil pode até ser rival da Argentina no sentido de que é o vizinho que joga melhor. Mas não é o bastante pra me fazer querer que o outro se exploda, e pior ainda, levar pro lado pessoal. Tem gente que efetivamente odeia argentinos, pelo simples fato de eles viverem no país cuja seleção eliminou o time horroroso do Lazaroni na Copa de 90. Deixaram o Caniggia livre, porra, não é culpa dos cabeludos.

E o futebol latino é bróder do nosso. Vários craques de lá - e que estarão na Copa - foram craques aqui. Valdivia, Lugano, Tevez, uma galerinha. Eu me sinto como se estivesse entre amigos, e o claro e patético fato de que eles estão pouco se fudendo pra minha existência só contribui pra fortalecer essa sensação.

Fora que ver o Messi jogar é legal pra caralho.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Felicidade foi embora

Aconteceu o que todos temiam: meu Gol (também conhecido como 'flecha verde' e 'essa bosta') envolveu-se num terrível, terrível acidente e saiu seriamente ferido.

Foi no último sábado, quando meu irmão voltava do trabalho. O bróder da frente fechou, ele brecou, o de trás veio e pimba!, engavetamento. Por sorte, meu menino (o verde, não o cor de pele - embora ele também, mas não vou chamá-lo de 'meu menino') estava no meio, então se fudeu pela frente e por trás. Pode fazer sua piada extremamente sem graça, vai. Apesar da gravidade do acidente, meu irmão não se machucou, o que me faz pensar que está tudo invertido nesse mundo. Ninguém tinha seguro, ninguém aceita que está errado, então que fique cada um com seu prejuízo.

E qual foi o nosso prejuízo? Segundo o camarada que veio aqui hoje, não tem conserto. Não. Tem. Con. Ser. To. Joga fora essa bosta e compra outro. Passei 24 anos da minha vida sem ter um carro pra chamar de meu, então digamos que é uma situação familiar. Mas é mais ou menos como quando você é virgem, dá uma pela primeira vez e logo depois cortam seu pinto fora.

Nunca aconteceu, é só um exemplo.


Só queria dizer que estou desolado e sem chão. E que sábado é aniversário de 3 anos do blog. Mas não estou sugerindo nada. Faça o que o seu coração mandar.

Grato.

sábado, 3 de abril de 2010

Eu acho que eu vi um gatinho

Não sei se você lembra desse post, em que eu conto como me sinto um bosta por não poder retribuir à altura todo o amor que Maria me dispensa. Se você não leu, é bom eu salientar que Maria é minha cachorra, au au e pãns.

Pois aconteceu que há duas semanas minha mãe apareceu com uma gatinha lá em casa, coisa mais linda dessa vida, magra e esfomeada, maltratada por essa cidade sem coração. Como todo o meu repertório cultural e científico - e minha própria postura perante a vida - vem de desenhos animados, não chega a ser surpreendente o fato de que Maria e ela não se deram nada bem. Maria nunca foi mesmo muito receptiva a estranhos no meu lar, mas ela costuma se borrar de medo de outros animais. Que o diga o cachorrinho do inquilino do meu vô, a quem nunca mais abrirei as portas da minha casa - você recebe o cara de braços abertos, oferece seu espaço e sua água, e quando vê ele está montado em cima da sua filha fazendo... aquelas coisas, não quero falar sobre isso.

Animais, você deve saber, guiam-se muito pelo olfato. Então pensa comigo: eu passo a mão na Maria, esfrego a cabeça dela, ela fica feliz e tal. Aí quando vou passar a mão na gata, ela sente o cheiro da rival e... esquiva. É o oposto da situação dita no primeiro parágrafo - eu tenho tanto amor pra dar, ela que não quer. Tudo bem que, como eu disse no texto linkado, a esse tipo de coisa eu estou mais que acostumado. Mas, sabe, não dentro da minha casa. Minha residência sempre foi meu santuário, minha fortaleza com campo de força impermeável à rejeição. Então aparece um bicho de dois quilos e me aniquila.

Meu mundo ruiu. Nada mais faz sentido, nenhum lugar é seguro. Vou dormir sob algum viaduto, na esperança de que uma família boa me acolha, assim como a minha fez com gata. Isso ou 'acidentalmente' colocar a bichana e Maria no mesmo quarto trancado. Hum...

Em tempo: meu irmão vota para que o nome da esnobe seja Cecília. Como você é um desses metidos a besta que não tem contato com a cultura popular atual, clica na dica. Agora adivinha qual o nome dele.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vou de táxi

Você já deve saber disso, mas quando se trata de locomoção eu sou adepto do bom e velho (e sujo e caindo aos pedaços) ônibus. Metrô só ocasionalmente, carro idem, trem é raro. Aí tem o táxi.

Não sei aí onde você mora, mas em São Paulo uma viagem normal de táxi custa os olhos da cara. Se for bandeira 2, também custa os olhos, mas não os da cara. Desse modo, antes de eu decidir estender o bracinho, entrar num carro branco e falar sobre o tempo, eu pondero sobre diversos aspectos: se ainda tem ônibus naquele horário, se eu estou morrendo, se é a empresa que tá pagando. Vocês vão me desculpar, mas qualquer um que pegue táxi em uma condição não descrita acima merece mesmo pagar os olhos de outro lugar. Você sabe de que lugar eu tô falando.

De todo modo, aqui em Belo Horizonte eu só me movimento de táxi, porque - condição 3 - é a empresa que paga. Aí funciona assim: eu ligo, peço pra virem me buscar, eles vem, me levam onde eu quero ir, depois eu ligo pra me buscarem de novo, etc. Da empresa pro hotel 5 estrelas. Venci na vida, mamãe.

Então outro dia eu e meu colega de roubada pegamos um motorista loucão, que acelerava na curva, fechava caminhão e dava 100 por hora numa estradinha vagabunda e cheia de óleo. Saindo do carro, o alívio misturado à revolta, prometemos que nunca mais pegaríamos um táxi com aquele cara de novo. Passa o dia, vamos voltar pro hotel, ligamos e esperamos o carro. Adivinha quem?

Vai, na hora foi engraçado. Então dormimos, acordamos, nos preparamos para voltar ao trabalho, ligamos, esperamos, e quem aparece? Yeap.

- Fábio? - pergunta o Mansell
- Não - respondo secamente

Ufa. Três vezes seguidas já era sacanagem. Coitado do Fábio. Segundos depois o mesmo piloto grita novamente, agora ao longe:

- Thiago?

E você pode dizer 'ah, mas é só você ligar na empresa e pedir pra esse cara não vir mais'. Há razão. Mas, cá entre nós, se Deus aparentemente quer porque quer que o bróder seja o motorista, quem é a companhia de táxi pra decidir?

E minha mãe preocupada com o avião...


Escrevi esse texto ontem, quarta-feira. Na quinta, mais uma vez, o taxista foi o supracitado. Tá ficando ridículo.

sábado, 27 de março de 2010

Crazy trem

Não é que eu tivesse poucas oportunidades de conviver com pessoas de Minas Gerais durante o decorrer da minha vida, até porque minha mãe é mineira. Mas foi só passando uma semana na capital que eu pude notar alguns traços peculiares da gente desse estado. O mais característico, claro, é o sotaque, e digo a vocês, amigos e amigas, que eu o decifrei. Se um dia você for lá (não vale se você já é mineiro, né), imprima esse post, treine bastante e você poderá passar tranquilamente por um nativo.

O grande problema de você, seu lamentável e patético imitador de sotaques, é que você não se preocupa com a cadência da fala. Se você imita um gaúcho, só põe um 'bah' no começo da frase e um 'tchê' no final. Se imita um mineiro, só joga aleatoriamente um 'uai' aqui e outro 'trem' acolá. E nem quero pensar em você imitando o sotaque carioca. Pare. Com. Isso. Pelo. Amor. De. Deus.

Sotaque tem tudo a ver com ritmo, com levada. Você tem que perceber as nuances, o modo de entonação das vogais, as pausas entre as palavras. Estamos entendidos até aqui? Beleza, porque isso estando claro vai ser megafácil sacar o segredo por trás do sotaque mineiro. E ele é:

*tambores*

O segredo é você esticar a sílaba anterior à sílaba tônica da frase.

*vozes na multidão*

Sim, pequeno gafanhoto. Peguemos um exemplo enviado por São Randão: 'eu só quero um pouquinho'. Vamos decupar a frase (sílaba tônica em vermelho):

Eu só quero um pouquinho

A sílaba anterior é 'pou'. Logo, é só dar um breque logo ali. Fica mais ou menos assim:

Eu só quero um poouquinho.

Não há melhor jeito de entender isso do que ouvindo o sotaque por si próprio. Porém, não me gravarei falando (pra vocês verem como é possível um paulistano de merda passar tranquilamente por um mineiro) nem procurarei nenhum exemplo no YouTube, visto que tô com uma preguiça miserável. Mas nenhuma escola é escola mesmo sem lição de casa, então ó: você vai tentar ouvir um mineiro conversando e prestar atenção no que eu disse. Depois disso, grava sua própria voz e manda pra cá. Quem fizer direitinho ganha uma estrela na testa.

Se bem que, dado o nome do blog e tal, deveria ganhar um montinho de bosta na testa. Vou pensar melhor a respeito.

terça-feira, 23 de março de 2010

Além do horizonte

Então eu estou em Belo Horizonte, a capital mundial do... da... do... ponto de fuga... bonito. Bom, deve ser capital mundial de alguma coisa, porque todas as cidades do Brasil são capital mundial de alguma coisa. E esse, absolutamente, não é o ponto.

O ponto é que eu vim pra cá a trabalho e por cá ficarei duas semanas. Não tenho muita opinião formada sobre a cidade, mas sei que o sotaque mineiro (óbvio) que por aqui aflora me faz lembrar da casa da minha vó, um lugar mágico onde não existe preocupação e o tempo se arrasta tão devagar que chega a ser irritante.

O hotel, veja você, é o único cinco estrelas da cidade. Luxo, sofisticação, finesse, e UMA PORRA DE UMA TV DE TUBO QUE DEVE TER UNS QUATROCENTOS ANOS. Cada diária nessa bosta de quarto compra um aparelho daquele, mas enfim. A merda é que eu trouxe o PlayStation 3 pra cá, mas fiquei a ver navios.

Mas é engraçado como sair um pouco de casa muda sua vida: estou até ligando a televisão de manhã, enquanto me troco. Hoje passava Legião Urbana na MTV enquanto eu punha minha cueca, e isso deve significar alguma coisa.

Não tenho lá muito tempo pra escrever nem pra pensar em algo engraçadinho ou concatenar as ideias numa ordem lógica, porque a internet aqui é limitada (eu posso pagar 15 reais por uma hora nessa buceta, mas não posso ter uma TV com entrada de vídeo componente no meu quarto). Imaginei que tivesse assunto pra postar, mas nah.

Fica então com um resumo rápido desses meus dois dias aqui:

Chove toda tarde, pão de queijo gostoso, chove dentro do prédio do cliente, muita mulher gostosa, privada ruim pra cagar, televisão velha, três reais a garrafinha de água, trabalho tranquilo, cidade tranquila, meu tempo esgotou.

Adeus.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Vida de bosta

Você, leitor mais antigo do blog, talvez tenha entendido o que acontece por aqui. O Vida de bosta conta a história de um homem que, apesar de ser essa desculpa patética para um ser humano </edgeworth> é um homem que tentou. Um homem que tentou ser bonito, que tentou ser saudável, que tentou ser feliz, que tentou encontrar o amor verdadeiro. Mas o post de hoje, senhoras e senhores, é sobre um homem que desistiu.

Eu fracassei. Admito. O bonde da vida adulta passou por mim e me atropelou. Cansei de pegar rabeira, pensei e decidi que começaria de novo. Então hoje fui me consultar com a dra. Olinda, pediatra e pneumologista infantil.

Quando eu penso em "vida de bosta", não consigo pensar em nenhuma imagem melhor que um cara de 25 anos, já meio calvo e cansado da vida, entrando numa casa decorada com ursinhos e balões, sem estar acompanhado de uma criança. Era o meu atestado de derrota. Lá dentro a recepcionista me disse: "Dra. Olinda vai ficar tão feliz de te ver. Ele ali (aponta pra um outro cara sentado na sala) também é cliente dela desde pequeno". Olho para ele e penso "amigo!". Então ela completa: "só que hoje eles vem pra trazer os filhos, né". Orgulho espatifa-se no chão novamente.

Então estava eu lá, quieto e paciente, enquanto crianças corriam e jogavam um Brick Game que tocava Chorando se foi (pensei em sacar o DS da mochila, mas tive receio de que pensassem que além de crianção eu sou esnobe), de vez em quando esticando o pescoço na direção da porta, como se estivesse procurando meu filho. Talvez até tenha soltado um "esse moleque sai correndo por aí e ninguém sabe onde se mete", não sei. Apesar da encenação, era óbvio que todos olhavam pra mim com desprezo, e desconfio ter ouvido uma mãe cochichando pro filho: "tá vendo, Junior, se não fizer o que eu falo vai ficar igual esse moço". Imagine uma sala cheia de ursinhos de papel crepon, crianças angustiadas e o midi monofônico de um clássico da música brega nacional servindo de trilha.

Aí eu entrei no consultório, a doutora disse que nem me reconheceu, achou que eu fosse o meu pai (vulgo "caralho, como você tá acabado"), disse que sempre lembra de mim quando passa na frente da ETESP (paciente de quem o médico sempre se lembra é paciente problemático), perguntou da família e tal. Ela pegou meu histórico, viu que a última vez que me viu foi em 99 (quanto eu tinha 14 anos e já tinha vergonha de ir lá), falamos sobre minha saúde e tudo mais. Aí ela perguntou quando foi que começaram a crescer os cabelos no meu corpo...

(toma um ar)

Intercalando-se a essas amenidades todas, ela insistia no quanto eu estava magro (justo) e que precisava fazer um regime de engorda (não sei se deveria me sentir como um boi ou como o João, irmão da Maria). Aí ela começou a carcar ni mim e me estapear moralmente, fraturando cada osso do pouco que me restava de orgulho. Tentei fazer uma piada pra quebrar o clima.

- O pessoal do trabalho acha que eu faço fotossíntese <risada de porco>
- E bem mal feita, porque olha como você tá.

Aí acabou a consulta e depois de abraços e aquela coisa toda eu saí, cheio de guias médicas com o desenho de um pulmão feliz. Na saída, mais crianças assustadas com o fato de que alguém que se trata com o mesmo médico que elas tinha dinheiro na carteira pra pagar a consulta. Despedi-me e parti, enquanto as irritantes notas de Chorando se foi diluíam-se na distância.

Portanto, amigos, espero que entendam o que eu quis dizer no primeiro parágrafo. Eu sempre soube que rir de mim era uma coisa boa, mas a piada tá começando a ficar de mau gosto. Meu nome é Thiago Padula de Oliveira, tenho 25 anos e aceitei que a vida adulta não é pra mim. Deixarei de acompanhá-los nessa jornada, mas espero que tenham boa sorte com seus hobbies e sorrisos amarelos.

Se precisarem de mim, estarei no meu quarto lendo Chico Bento e tomando Sustagen.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Hoje a festa é na avenida

Pega a ideia de um desfile de moda: o cara ou a mina põem lá uma roupa bizarra estilosa, andam numa passarela de uns cinco metros de comprimento, param, olham com desprezo pra ralé da calça jeans, dão meia volta e se vão. É chato, né? É chato pra caralho.

Então pega a ideia de um desfile de escola de samba: centenas de caras e minas põem lá uma roupa fantasia estilosa bizarra, sambam numa passarela de um quilômetro de comprimento, sempre sorrindo e suando como se estivessem entrando em ponto de fusão. Junto a eles, 'carros' colossais feitos de isopor e papel crepon (dá-lhe desprezo), multicoloridos e algo articulados, cheios de luzes e famosos que você nunca ouviu falar. Se um desfile de moda é chato pra caralho, um desfile de escola de samba é chato pra caralho multiplicado por alguns milhares.

Fora que é um negócio rígido pra cacete: tem um determinado tempo, tem que dançar o tempo todo, tem que fazer isso e tem que fazer aquilo. É gasto um puta tempo, trabalho e dinheiro (ganho honestamente, claro) durante um ano inteiro, e um deslize pode mandar tudo à merda. Aliás, sabe como descobrimos que foi tudo mandado à merda? Assistindo a uma transmissão de duas horas que se resume a um cara falando o nome da escola de samba, pausa, um número de zero a dez. E há quem vibre com isso. Faziam isso na minha escola, durava dois minutos, e era um pandemônio.

Não vou ser aqui cuzão e dizer que não gosto do carnaval, porque carnaval é muito mais que escolas de samba. Tá, eu também detesto o axé, o trio elétrico, os abadás, as marchinhas, as serpentinas, as propagandas sobre o uso de preservativos. Mas, gente, é um feriado de quatro dias e meio. E não é como se me obrigassem a participar dessas atividades todas, então nem me machuca. Machuca é ficar o sábado de carnaval inteiro sentado numa bateria de Guitar Hero e acordar no dia seguinte com uma dor nas costas miserável.

Tenho a impressão de que as propagandas sobre o uso de preservativos não se dirigem a mim. Só impressão.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Lua vai

Apesar de eu gostar de escrever, e até não ser um completo fracasso nesse quesito (depende, na verdade: eu sei algumas regras gramaticais, e não ganho nenhum dinheiro com isso; tem gente que não sabe nenhuma, e ganha cem reais por mês), toda minha atividade nesse campo costuma se restringir a esse blog e aos emails da empresa. Ou costumava: desde novembro, decidi encarar a árdua - e até agora infrutífera - tarefa de escrever letras de músicas. Músicas inteiras, na verdade, mas não vou ficar aqui contando pra vocês sobre o por que de eu ter escolhido o lá menor pra seguir o dó, ao invés do fá.

O lance é que escrever letras não é tão fácil quanto parece. Se é que parece fácil, sei lá. Porque as coisas tem que rimar, tem que obedecer a métricas e tem que obedecer à minha própria regra pessoal de ser um total imbecil o tempo todo. O resultado são coisas tipo 'eu te amo / mais ou menos / mas te quero só pra mim' e 'um Yakult azedo adoça a minha vida'. Como é que faz sucesso com umas coisas dessas?

Meu colega de protobanda ri dessas bostas e incentiva, obviamente porque ele sabe quem será o alvo das risadas no final. O negócio é que a gente se vira como pode: há pessoas com várias cicatrizes da vida, e escrevem as letras de suas músicas com o sangue que escapa dessas marcas. Minha biografia daria uma lauda, então só me resta a bobeira. Eu queria ser Bob Dylan, mas se o que resta é Carlinhos Carneiro, que seje.

Ao menos vou aprender a não falar mal das letras alheias. Se eu não gosto, a culpa não é das palavras, é do cara que pôs o fá depois do dó, quando claramente era melhor o lá menor. Disse um cara de muito sucesso, que não ganha cem reais por mês.

domingo, 10 de janeiro de 2010

O velho e o moço

Por alguma razão, a gente sempre espera que velhinhos sejam intransponíveis reservas morais, estandartes dos bons costumes, bastiões de tudo que há de correto e imaculado nesse mundo. Tanto é que sempre que surge uma notícia ou fofoca (hoje em dia é impossível diferenciar um do outro) sobre algum delito cometido por um idoso, todo mundo fica espantado.

Isso se deve a dois erros de nossa parte, um de inocência e outro de lógica. Porque eles vem com essa conversinha de que o mundo está perdido, que ninguém mais tem respeito por ninguém, que não se faz mais nada como antigamente. A gente, então, compra essa ideia, acredita que hoje o mundo tá mesmo poluído pelo pecado e nos idos de mil-novecentos-e-a-Hebe-pegável as pessoas eram civilizadas e educadas. Besteira. Cheque os recortes históricos e vai ver tantas provas do contrário quanto se é esperado para um mundo povoado por seres humanos. E além disso, eles não assistiram Rá-tim-bum na infância. Rá-tim-bum inventou o amor ao próximo, mano.

O erro de lógica é bem lógico: independentemente da geração ou de qualquer coisa, você é uma pessoa certinha, correta, faz o bem e respeita o meio ambiente e os corinthianos. Aí passam-se sessenta anos da sua vida e você ouviu todo mundo ao seu redor contando as histórias mais cabeludas sobre todas as coisas que você evitou fazer. E então percebe que está velho, recebendo um salário mínimo por mês, tem três filhos que te exploram e netos que não querem saber da sua cara. Você já aguentou demais. Sua vida acabou e foi uma merda, você tem o DIREITO de ser um velho escroto do cacete. Justiça na terra, sim senhor.


Já que as leis, a exemplo do seu pau/suas tetas, amolecem com a terceira idade, dê-se esse último presente e saía por aí furtando mercados e escorraçando menininhas/menininhos. A vida ficou muito curta pra ter que servir de exemplo pra gente que liga pro Criança Esperança.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

When I'm 25

No último 19 de dezembro meu pai completou 50 anos. Hoje eu faço 25. Não sei se você é um desses tapados em matemática, mas te ajudo: eu tenho hoje a idade que ele tinha quando nasci.

Quando se é uma pessoa que teve acesso a educação e a essa bobagem toda, é natural ter como principal meta de vida construir uma carreira, encher o cu de dinheiro, ficar chato e vazio. Quando não, o negócio é formar uma família mesmo. Então, aos 25 anos, meu pai cumpriu o que tinha que cumprir no praneta: tava casado e tinha uma criança linda (que acabou virando essa desgraça que eu sou hoje). Depois ainda nasceu meu irmão, mas em 85 ele já podia dizer que tinha uma família.

'Ai, caralho, agora ele vai ficar com esse negócio de falar que não tem família nem carreira e é um perdedor patético e não sei o que'. Nããããão senhor! Já que tem essa onda de reavaliar a vida a cada aniversário (e virada de ano, mas como o meu fica próximo eu guardo pro aniversário), eu quero é chamar meu pai pra uma batalha Pokémon disputa amigável sobre o primeiro quarto de século de cada um.

Olha só, aos 25 anos...

  • ... ele já tinha encontrado o amor da vida, casado e colocado uma bola na rede. Eu não encontrei, não casei e, queira deus, errei todos os chutes. Ponto pra ele.
  • ... ele era alcoólatra e fumante inveterado. Eu não sou dependente químico, ainda que talvez meu nível de apreço por Trakinas de morango e Coca-Cola possa ser considerado um pouco acima do saudável. Anyway, ponto pra mim.
  • ... ele já tinha claros sinais de calvície atropelando, mas nessa época tinha mais cabelo que eu. Ponto pra ele.
  • ... ele havia fugido da escola no então segundo colegial. Eu terminei o ensino médio e sou graduado em Publicidade e Propaganda. Ponto pra ele.
  • ... ele não tinha nem casa, nem carro, nem nenhum bem de valor. Eu tenho um monte de video games e um baixo Fender (Squier, mas vá lá), o que é melhor que nada. Ponto pra mim.
  • ... ele tinha sido fixo do grande Ajax da Vila Miriam. Eu nunca joguei em nenhum time de prestígio, mas também fui defensor por aí, e dos quase bons (não dá pra ser um zagueiro muito bom com 1,75 m e 56 kg, né). Empate.
  • ... ele tinha visto o Queen no Morumbi. Eu vi o Dylan e o Radiohead. Ponto pra mim, por pouco.
  • ... ele não tinha Twitter. Ponto pra ele.
  • ... ele tinha visto Pelé jogar. Eu vi o Richarlyson. 50 pontos pra ele.
  • ... ele passou pela chegada do homem à Lua, pela ditadura militar e pela morte do Elvis. Eu passei pelo E.T. de Varginha, pelo impeachment do Collor e pela morte do Michael Jackson. Ponto pra mim, porque o E.T. de Varginha chuta bundas.
  • ... ele foi circuncidado com uma gilete. Eu, pelos meios tradicionais e seguros. 50 pontos pra mim.
Disputa acirrada, senhoras e senhores, com um emocionante empate meu no finalzinho, depois de estar perdendo por 50 pontos de diferença. Eu sou o cara da virada, eu sou o cara do amor, parodiando a canção.

Tá, ponto pra ele.

    segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

    Surprise! You're dead

    Eu não gosto de festa surpresa, essas de aniversário, porque são chatas e desagradáveis. Você entra na sala, a luz acende, todo mundo grita e você não pode fazer a habitual cara de bunda porque alguém se deu ao trabalho de organizar aquela merda e você precisa parecer feliz por isso. Por essa razão já deixo bem claro a meus parentes e pessoas que gostam de mim (o que deve dar uns três coitados) que não me preparem esse tipo de coisa. Eu gosto, entretanto, de surpresas. Gosto de saber o que vai acontecer no filme, quem é o assassino no livro e que nova maneira de me humilhar o mundo preparará amanhã.

    Por isso eu não peço presente. Se alguém quiser me dar um, vai ter que escolher sozinho. Meu irmão começou a trabalhar há umas três semanas e achou que deveria me dar alguma coisa no meu aniversário. Ele pede dicas, pede pro meu pai investigar, faz o diabo, mas eu não conto. Sem falar que é muito fácil dar presente pra alguém previsível como eu: compra qualquer porcaria dos Beatles ou do Seinfeld e vualá!, tô mais que agradado.

    No último amigo secreto da firma a pessoa que me tirou mandou um recado anônimo pedindo pra eu dizer o que queria. Respondi: 'o que eu quero ganhar eu compro, quero saber o que você vai me dar'. E ele me deu uma CAIXA de Trakinas de morango. Melhor de todos os tempos, eu não teria escolhido melhor.

    Mas você pode encarar - não sei se sua mente também é assim doente e te leva a esse tipo de raciocínio, mas vamos lá - como apenas carência da minha parte, necessidade de fazer a pessoa, que já se dispôs a me dar algo, gastar ainda mais tempo pensando em mim. E você teria grandes chances de ficar com a razão.

    Vai ver é por isso que ganho tão poucos presentes. Pensamento ruim atrai coisa ruim, sacomé.