terça-feira, 28 de agosto de 2007

Lembra o final de Débi e Lóide?

Como revelar alguns hábitos constrangedores da minha rotina já não é novidade por aqui, vamos a mais um hoje.

Coloquei como 'constrangedor' ali em cima pra ser legal, porque se por um lado é extremamente patético, por outro é praticamente regra entre os homens, em maior ou menor grau (o meu é um dos maiores, modéstia à parte), só não é tão exposto num espaço assim, unissex.

Eu sou voyeur de busão.

Siiiim, confesso, uma das minhas tarefas diárias é ficar secando garotas bonitas no coletivo. E daí? Esse é o tipo de coisa que se faz todo o tempo, em qualquer lugar. Eu só tenho uma preferência particular pelos ônibus primeiro pelo tempo que se pode gastar observando (da onde eu moro, as viagens costumam levar horas); segundo pelo desafio da coisa: não é fácil achar mulher digna de ser admirada por esses lados de cá, verdade seja dita.

'Machista!', 'Canalha!', praguejarão contra este humilde e inútil digitador. Rubem Braga e Vinícius de Moraes são dois notórios voyeurs, e não só ofereceram algumas das obras literárias e musicais mais importantes do nosso portfólio erudito como também fizeram a vida de muita gente nessa brincadeira (Helô Pinheiro taí e não me deixa mentir). Agora, tirando as óbvias disparidades intelectuais entre os supracitados e eu, a única diferença é que meu escritório é o ônibus, enquanto o deles eram as românticas praias cariocas do pré-guerra.

Que nem é lá uma diferença tão grande se for pensar bem: no Rio, o principal ponto de agrupamento coletivo e mesclagem de gente de todo tipo, toda cor e todo bolso é a praia. Pois em São Paulo o que é esse mesmo ponto senão justamente o ônibus (e o metrô, o trem e esses transportes de corno)?

Taí, convenci a mim mesmo de que o voyeurismo de busão é uma prática saudável e bonita. O que não quer dizer que não seja prejudicial em doses cavalares.

Alguém me ajude...



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Now playing: Vanguart - Miss Universe
via FoxyTunes

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

É proibido fumar?

Todos os meus amigos fumam. Tá, talvez não todos, mas os mais chegados sim. Alguns nem fumavam antes de me conhecer, o que põe em caráter de dúvida os benefícios da minha amizade. Mas não é essa a questão.

Eu às vezes até encho o saco, mas na verdade não ligo: quer fazer do seu pulmão uma lareira, fique à vontade. Eles fumam, eu não como, tem gente que leva uma vida sedentária, e quase todo mundo tem aquele hábito que lhe é prejudicial à saúde - então quem sou eu pra dizer qualquer coisa. Na verdade, a situação até me é confortável: sabendo que todos nós, eu e meus amigos, cuidamos da nossa saúde com o mesmo carinho com que limpamos a bunda, a chance de todos morrermos cedo e juntos é bem grande. Imagina que bonito, vivemos juntos, morremos juntos.

Mas eis que um dia desses estou em casa judiando do meu braço (trabalhando, pessoal, antes que o post de baixo dê impressões erradas sobre a minha pessoa) e ouço a chamada de um programa, possivelmente o Globo Repórter, em que o apresentador mancheta que pessoas que comem menos vivem mais.

Que coisa, nasce anti-social, morre anti-social. Talvez eu tenha que começar a fumar também.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Pornografia, eu quero uma pra viver

Antes de começar o texto, já vou deixar algo avisado: você, menina, moça, mulher, que tem dois xis no cromossomo 23, talvez possa sentir que o conteúdo do post de hoje é um tanto indelicado. Não a repreendo, sei como é, e exatamente por isso estou aqui, gastando um parágrafo da minha vida - que pode me fazer falta no futuro, vá saber - para alertá-la do tipo de coisa que se segue, então sinta-se a vontade para não ler.

Mas, se ler, e o assunto for de seu interesse, deixe um comentário dizendo isso, tá?

Ontem estava reunido com duas amigas minhas pensando em maneiras de ficar rico com a dáblio-dáblio-dáblio. Uma delas perguntou 'do que você sente falta na internet?'.

Respondi em tom de brincadeira na hora, mas é sério: falta pornografia de qualidade na rede. Ou melhor, falta um lugar que organize a pornografia, que seja claro, limpo, bem taxonomizado, em português, gratuito e sem vírus. Seria O Portal do Punheteiro.

Já tenho essa tese pra mim há alguns anos, de que a internet é um grande mar de putaria, e de que tudo nela é um rio que encaminha pra lá. O grande motivo do fracasso do Youtube (tá, ainda é um sucesso, mas um dia vai cair miseravelmente, vai por mim) é esse pudor à mais antiga atividade humana, vide Adão e Eva. Amiga minha que trabalha com links patrocinados, sites de busca e tal, disse que as palavras mais procuradas são sempre relacionadas a isso - mesmo que elas não tenham relação nenhuma com a campanha em si.

Veja quanto ganha uma atriz de filme pornô, veja quanto ganha uma baranga famosa pra posar nua. Encaremos o fato: a pornografia é o que faz o mundo andar, o fluido do amor solitário é o combustível do planeta. Organizar isso de maneira, ahn, organizada e acessível pra todo mundo é um passo importante pra virar um mártir do mundo virtual. Você provavelmente não iria ficar rico nem nada, mas imagine a quantidade de impérios da putaria que iriam ruir graças a essa iniciativa.

Foder com a vida dos outros não tem preço.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

As trágicas conseqüências de um milagre

Aí eu fui no hospital ontem, pra ver a coisa da tendinite. Não sou um grande admirador de hospitais públicos, ainda mais o de Pirituba (nada é bom em Pirituba), então cheguei no balcão, perguntei pra moça se tinha um ortopedista e virei as costas, já me projetando à saída. Quando ela disse 'sim', o choque foi tão forte que, por pouco, ao invés de ir ao ortopedista eu teria que ser encaminhado à ala de internação.

Passado o milagre, a moça preencheu minha ficha e me mandou esperar. Eu era o último da fila, e quando via pessoas que nem conseguiam andar se arrastando ao 'consultório' e saindo um minuto depois, imaginei se na minha vez chegaria a dar tempo de fechar a porta.
Até deu. Sentei e ele perguntou, com um sotaque chileno safado:

- Que aconteceu, Chiago? (repara na minha emulação ortográfica do sotaque)
- Acho que é tendinite, doutor. Tá doendo esse braço.
- Isso não é tentinite, é uma inflamação muscular. Eu fou te passar um remetinho, focê fai tomar a cada oito horas. Mas começa a tomar logo, que a inflamação tá quace alcançando o tentão.
- Tá legal. Brigado, doutor.
- Teixa a porta aperta.

Que fique registrado que eu sequer cheguei a arregaçar a manga da blusa. O cara é um gênio. Mas enfim, fui embora, passei na farmácia e não tinha o remédio. Fui pra casa, senti mais dor, dormi, acordei, vim trabalhar, fui procurar o remédio de novo. Achei na terceira farmácia.

- Você vai tomar isso quanto tempo?
- Ixe, não sei. Ele não disse.
- Tem o de 30 dias e o de 10.
- Vê o de 10, não deve ser tão grave. Existe esse remédio?
- Existe. Mas tem o de 300g e o de 400g. Ele não escreveu qual é pra tomar. Você vai ter que voltar lá e perguntar pra ele.
- Awww...

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Tell me where it hurts

Uma tendinite vem se avizinhando aqui, e já estou quase acostumando a essa rotina de maneta. Mas engana-se quem pensa que eu venho aqui me lamentar, até porque é o que se faz quando se sente dor, mas não! Acho isso o maior bom e pra não precisar escrever muito pra expor meus argumentos (não por preguiça, cara de melão, por repouso mesmo), vou usar um texto que escrevi em fevereiro, lá no finado fotolog, sobre uma coisa bizarra que me acometia.



Há coisa de três semanas surgiu um calombo roxo no peito do meu pé direito, que só deus sabe qual é a procedência. Depois de muito me incomodar e deixar meu pé mais ou menos da circunferência de uma pata de elefante, ele explodiu, uma semana depois. Aí cê sabe, aquele tanto de sangue preso tinha que sair, e foi saindo, o pé foi desinchando, e coisa e tal.

Pois o pé já está mais magro que o outro e eu ainda tenho esse vulcãozinho aqui, cuspindo labaredas de sangue e, eventualmente, pus. É das coisas mais feias que eu já vi, me impede de usar tênis e atrai pessoas assustadas como um cadáver atrai um urubu faminto.

Mas o que mais me incomoda é que tenho vivido em função desse machucado há três semanas. Não que seja uma coisa grave, preocupante, etcétera, mas é que realmente foi a única coisa "interessante" que me aconteceu em muito tempo. As pessoas até falam mais comigo. "Oi, e como tá o pé?". Quero ver se descolo um desse na cara agora. E esses são basicamente meus planos de vida pra um futuro próximo.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Saudosa maloca

Está enganchado em algum lugar do inconsciente coletivo a máxima de que alguma coisa especial se perdeu com o tempo, fazendo as coisas que antigamente exalavam uma fragrância artística se transformarem em mecanismos rígidos e com cheiro de parafuso.

Exemplos não faltam. Vejam o futebol, que lindo era nos tempos românticos de Pelé, que lixo é hoje, no pragmatismo dos tempos do Dunga. Ou as brincadeiras, que perderam a inocência e as ruas e se transformaram em jogos violentos pixelizados entre quatro paredes.

Somos naturalmente saudosistas, e isso é resultado do rumo que as coisas tomaram com o passar dos anos, à medida em que íamos mais e mais profundamente na caverna do capitalismo, da pós-modernidade, do caralho a quatro. Certo?

Não necessariamente. Veja o exemplo do cabeleireiro. Hoje temos nessa classe dois exemplos interessantes da ação do tempo: tem o cabeleireiro tiozinho, o barbeiro, aquele velhinho de avental azul semi-transparente de tão velho, que trabalha num salão apertado, com o espelho enferrujado nas bordas, um calendário amarelado de 1985 e um radinho analógico sintonizado em uma AM católica.

E tem os salões modernos, grandes, cheios de luzes e espelhos, com bichas rodopiando pra lá e pra cá e peruas e famosos esperando para ter seus cabelos cortados pela mixaria de 400 reais.

Vamos colocar no gabarito desenvolvido lá em cima: o antigo é o artístico, o novo é o mecânico. Mas pensa aqui comigo: se existe alguém que pense mais pro artístico nessa história, é o tiozinho, que corta o seu cabelo do mesmo jeito desde que você tinha cinco anos, ou o cabeleireiro moderno, que passa os dias a inventar e desenvolver todo tipo de design capilar?

Somos saudosistas, sim, não nego. Mas não somos saudosistas porque antes era tudo bom e hoje é tudo uma merda. Achamos que antes era tudo bom e hoje é tudo uma merda justamente porque somos saudosistas. Artístico, mecânico, romântico, pragmático, o caso é que o único artista nessa história toda é mesmo o tempo, que lapida nossa memória e põe tudo que se foi lá no alto da montanha, enquanto pra gente só resta o precipício.

O sentimento é universal, está até na letra do hino do meu tricolor. Mas chega a ser engraçado pensar que, quanto mais se quer andar pra frente, mais se quer voltar pra trás. Manja aquela música do Cartola em que ele diz que o mundo é um moinho? Faz sentido.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Quem poderá nos defender?

Que a linha que separa os US and A e o México divide não só dois países como também duas realidades bem opostas, todos sabemos. Mas não é só a fronteira que nos dá a medida de onde terminam as Américas e onde começa a América.

Todos os povos precisam de ídolos, deuses, heróis. E é na personalidade desses heróis que se imprime o retrato sociológico de uma nação.

O Super-Homem é o herói da América. Imponente, forte, invencível, bravo. O Chapolin é o herói das Américas. Humano, frágil, vulnerável e medroso. Ambos são amados e respeitados por seus povos. O Super-Homem é a imagem estadunidense: convencido, todo-poderoso, dono do mundo. O Chapolin é um retrato fiel das outras duas Américas: gentil, falível, sabe rir das suas próprias mazelas. Enquanto o Super-Homem ostenta em seu peito um pentágono, cheio de ângulos sólidos, o Chapolin carrega um coração, símbolo da ternura que deve restar àqueles que vivem na miséria.

Com o Chapolin não existe nicho de mercado: ele faz de tudo. Derrubar mal-feitores e salvar o mundo até pode ser, mas pra sobreviver às vezes também se faz necessário dar bronca em criança que joga o brinquedo por cima do muro e atuar como si mesmo em um seriado sobre... si mesmo. E isso tudo além de enfrentar o Tripa-Seca, o Abominável Homem das Neves, a Bruxa Baratuxa e um bebê gigante jupiteriano.

E lá vou eu incorrer em heresia aqui, mas pensa comigo: quem é o Jesus dos tempos modernos senão o Chapolin? Um cara que está sempre no meio do povo, e não foge voando sem nem receber os agradecimentos, que vive em um lugar pobre e inexpressivo na geografia mundial, que tem um coração como símbolo e é magro, pequeno e feio. E aí não venha usar como contra-argumento o Chapolin ser um personagem de ficção porque... bom, chega de heresia por hoje.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Merci beaucoup

Sou um entusiasta e fã apaixonado dos filmes da Pixar. Acho que desde que a Disney fez Mulan, ninguém mais além da Pixar alcançou o patamar máximo de qualidade, embora tenhamos obras que chegaram aos pés da perfeição, como Era do Gelo, Robôs e os trabalhos do Miyazaki.

Não vi muito estardalhaço em cima desse Ratatouille, especialmente se considerarmos o tipo de atenção que se criou em volta de Carros e Os Incríveis, pra ficar nos exemplos mais recentes. Pra você ter uma idéia, nem brinquedo no McLanche Feliz rolou (droga). Mas o fato é que Ratatouille é, fácil, um dos pontos altos da curta carreira longa-metrágica (?) da Pixar - só não me venha pedir pra escolher um ponto alto, é crueldade demais.

Ratatouille é elegante, sutil, inteligente, engraçado pra caralho e simplesmente genial. Como qualquer coisa que a Pixar faça, o filme jorra idéias brilhantes e detalhes precisos (repara como todos os cozinheiros têm cicatrizes de faca nas mãos). Remy, o protagonista, embora seja cozinheiro e tudo o mais, não é aquele rato humanizado (como o Mickey, que chega ao cúmulo de ter um cachorro de estimação), e seus movimentos e expressões são os mais 'animais' possíveis (lembrei da minha cachorra várias vezes) - além disso, a justificativa dele pra andar sobre duas patas, coisa que todo animal de desenho faz, como se fosse a coisa mais natural do mundo, é ao mesmo tempo simples e certeira.

O filme continua a lógica invertida da Pixar, de fazer obras para adultos e que agradam também às crianças, e, pra variar, acerta mais uma vez. O chato é que depois de oito acertos consecutivos, você começa a ficar mal-acostumado, e ver outras animações com outras perspectivas. Shrek é um excelente passatempo, Ratatouille é um filmaço.