segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Reset

Semana passada o Restart, aquela banda que 'todo mundo' odeia, ganhou uma pá de prêmios no VMB. As críticas no dia seguinte eram as mais diversas, e em geral descambavam pra ataques a essa geração de adolescentes, molecada perdida, gosta de qualquer merda, etc.

Eu não sei se isso está claro pra todo mundo, mas vamos abrir os olhos: esse lance do Restart não é de agora, não é só dessa geração. A mesma merda vem acontecendo há, sei lá, décadas: surge um novo ídolo juvenil, a mulherada* enlouquece, os adultos fazem aquele facepalm maroto e começam com o papo de juventude perdida, molecada sem bom gosto, no meu tempo é que era bom. Foi assim com o Elvis, com os Beatles e os Rolling Stones, com o punk e - tcharam!, golpe de espada no seu saudosismo barato - com os Backstreet Boys.

Sim, não seja besta, a minha (talvez a sua também) geração idolatrava as boy bands. Não só os já citados BSB, como também Five, N'Sync, Westlife, e até as bizarras versões nacionais, como Twister. E não venha me dizer que qualquer um desses é melhor que o Restart e seus semelhantes, porque orgulho com cheiro de naftalina é um negócio que esse blog tá dispensando. Pra ser sincero, anulem-se as porcarias das músicas, entre o despojo bobo dos coloridos e a sensualidade brega da turma do Justimberlake, fico com os primeiros.

O que a gente oferece pra meninada de hoje é basicamente o mesmo veneno que nos foi dado no nosso tempo de espinhas e desproporções corporais. É um ciclo cretino e inexplicavelmente imune ao empirismo que recomeça a cada nova leva de gente que chega pra dominar o mundo. Sei que o nome Restart não surgiu pensando nisso, mas o charme do acaso é que ele sabe ser perfeito quando quer.

Se hoje festas com temática das músicas horrorosas (horríveis, tenebrosas) dos anos 80 são um sucesso - e você gosta -, pode ter certeza que daqui a umas duas décadas seus sobrinhos estarão afogando sua indesejada vida adulta ao som de Levo Comigo e A Usurpadora.

Aliás, sabe uma vantagem que a gente tem? A internet. Agora a gente pode fugir dessas aberrações ouvindo exatamente o que a gente quer. Pense no quanto sofreram nossos pais e contemporâneos, restritos ao rádio e aos programas de auditório. Então agradeça e tente envelhecer com um pouquinho de dignidade, vai. Não dói nada.


* 'Mas é só a mulherada, seu machista?!'. Sejamos sinceros, sim. Veja a quantidade de mulheres adolescentes surtando por causa de ídolos que vendem pela sua estética e tente comparar com a de homens no mesmo barco. Essa é a diferença: meninas estravazam sua admiração gritando e escrevendo declarações de amor em rolos de papel higiênico. Meninos fazem o mesmo batendo punheta e, a seu modo, 'escrevendo declarações de amor' em rolos de papel higiênico. A favor das donzelas, esse comportamento delas tende a acabar com o tempo.

domingo, 5 de setembro de 2010

Escrevendo o testamento

Pois agora o Blogger, muito gentilmente, anexou estatísticas de acesso ao seu menu de serviços (o povo do Wordpress vai começar a se gabar que lá já tinha muito antes; acho ótimo quando nego vem se achar por usar alguma coisa na internet, é bem coisa de gente que venceu na vida). Parece muito legal, só que esse é o começo do fim desse blog.

Já raspei no assunto aqui, e o negócio é que toda vez que eu tenho algum instrumento pra monitorar a popularidade de qualquer coisa que eu faça o destino é sempre o mesmo: a morte. Eu não sou popular, não sou querido e costumo ser bastante ignorado - não é mimimi, estou ciente e de acordo com isso -, mas fico paranoico pra caralho quando eu consigo de alguma maneira ilustrar isso em números. Todos meus blogs antigos faleceram porque tinham poucos acessos, meu Orkut naufragou porque eu não tenho amigos e o Vida corporativa de bosta já entrou num hiato de algumas semanas porque não consegue passar de 30 visitas por dia - tá, isso é mentira, mas é que sempre que eu dou exemplos eu dou três, e precisava de um pra completar.

E olha, eu tava bem satisfeito com o rumo que as coisas vinham tomando aqui: escrevo quando quero, não ligo se comentam ou não, e essa é a hora em que precisaria de um terceiro item pra completar minha matemática idiota dita no parágrafo anterior. Mas com esse raio de estatística eu vou ficar louco, monitorando de cinco em cinco minutos, seguindo as traffic sources, tentando adivinhar quem é que acessou o blog pelo Mac ou que navega pelo OneRiot (sério agora, quem?). Entrarei numa espiral paranoico-depressiva que culminará no fim do Vida de bosta e em algumas letras tristes de músicas no nick do MSN. O Blogger fará de mim um transexual.

Sim, eu (acho que) posso desabilitar esse bagulho. Mas por que fazer isso silenciosamente e perder todo o drama, né?