quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

2009 de bosta

"O homem é um animal social", disse Aristóteles. Renato Russo, por sua vez, era "um animal sentimental". Eu (repare a escala decrescente de relevância) sou só um animal. Você pode confirmar nessa retrospectiva do blog em 2009.

Porque esse ano você descobriu que eu:

E, se ter lido sobre tudo isso não for o bastante e você ainda tiver mais pecados pra pagar, pode me perguntar no formspring que eu respondo. Já que não vou ficar famoso pra aparecer no Jô, me contento com as suas perguntas sem graça.

E que 2010 seja um ano feliz e sem esse blog miserável.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Avatar

Eu já tava seco pra assistir Avatar desde uma pancada de meses antes de estrear. Aí foi lançado, e eu queria porque queria ver no Imax, 3D, aquela veadagem toda. Concorrência forte pra cá, cirurgia pra lá, só consegui ver mesmo na sessão das zero horas do último sábado pro último domingo. E valeu?

Opa. Assim, pra já deixar claro antes de entrar melhor no assunto: filmaço. Agora, entrando melhor no assunto: também não é pra tanto.

Num filme cuja promoção está praticamente toda em cima das inovações visuais, natural imaginar que a história em si seja fraca. Não é. É, claro, como todo blockbuster, um amontoado dos clichês mais detestáveis do cinema - o protagonista que começa um imbecil e o filme tenta te provar que ele é legal no decorrer (comigo normalmente não rola, perdão), o fraco desenvolvimento do casal principal (claro, a partir de um triângulo amoroso), o vilão ganancioso e trouxa, etc, etc, etc. O que ele faz melhor que praticamente todos os outros blockbusters que assolaram as telas de cinema dessa década (já entro mais a fundo nessa parte) é se preocupar genuinamente com a maneira como a história está embrulhada.

Pandora, o planeta que acolhe a aventura, é deslumbrante. E é bacana observar o cuidado com que pensaram em tudo: na fauna, na flora, na história, na religião, nas particularidades biológicas, tudo. É um cuidado (e até falta de preguiça) que não se vê em filme nenhum já há muito tempo. E aqui entra algo que talvez justifique o fato de Avatar merecer entrar na galeria dos filmes que marcaram essa geração: ele não busca suas referências imediatas no próprio cinema, esse centenário caduco. É possível enxergar claramente muito mais influências das duas alas do entretenimento que, queiram esses velhos barbudos de vinte e tantos anos ou não, dominaram essa década: os animes e os videogames.

É só prestar atenção: há mais Zelda, Final Fantasy, Pokémon e Bioshock em cada frame que qualquer Star Wars ou Jurassic Park. E a história da floresta, da guerra entre a tradição e a tecnologia, e até a maneira incandescente com que a flora local se comporta são influências muito óbvias de Princesa Mononoke, clássico de Hayao Miyasaki que teve o azar de existir antes de Chihiro abrir as portas pra arte do mestre no ocidente.

Se formos analisar pelo lado visual da coisa, o causador desse furor todo, não dá muito pra discordar: o filme é lindo. Tudo vive, respira e salta na tela. E não é só um display pra tecnologia 3D, não senhor, o design é soberbo, e brilha mesmo numa tela 'tradicional'. Inclusive, nesse aspecto, o maior problema da obra está justamente na parte da tridimensionalidade: a sensação de profundidade se passa principalmente através do foco - o objeto principal está sempre nítido, e o que quer que esteja atrás ou na frente aparece embaçado. Até aí, normal. O problema é que por várias vezes o filme acaba se perdendo nisso e a tela fica completamente borrada. Imagina meu desespero de ficar de cinco em cinco minutos achando que minha miopia tinha voltado. Ando paranoico, tentem entender.

Avatar, se formos analisar artisticamente, como uma obra dentro desse treco chamado 'cinema', não é a melhor coisa que já existiu, sequer a melhor que foi feita esse ano. É um produto, feito pra vender pra caralho e encher o cu dos produtores de grana. Mas tem uma série de ótimos atributos que, aliados ao fato de ter uma audiência excepcional, o coloca na briga com os Piratas do Caribe da vida pelo posto de filme mais marcante dessa geração. Mais uma vez, não é o melhor, longe disso. Mas certamente é um daqueles que daqui a 30 anos ainda terá fãs apaixonados em convenções deprimentes mundo afora. Você tem, então, três décadas pra assistir antes que fique chato. Mas, sério, vai agora.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

As meninas do Leblon nunca olharam pra mim

Foi com 13 anos (uma das poucas idades das quais não tenho aversão a lembranças) que eu comecei a perceber que enxergar a lousa ficava cada vez mais difícil. A aula de história, então, era um terror, porque a letra da Renata era muito pequena.

Foi aí que eu comecei a usar óculos. Tinha 1 grau de miopia. Só 1, mas já era bem ruim conviver com um mundo borrado. E eu morria de vergonha, paranóico e estúpido que sempre fui, então só usava os óculos dentro da sala de aula. Pra ir embora, meu irmão era quem lia o letreiro do ônibus. Um dia ele faltou, e não quero nem lembrar a quebrada onde eu fui parar.

Aí o tempo passa, você acostuma e tal, até o ponto em que pôr o óculos é a primeira coisa que você faz quando acorda e tirá-lo a última antes de ir dormir.

Escrevi esse texto em novembro de 2007. E agora, meus amigos, dizer-lhes devo: vai acabar essa merda. No próximo dia 22 eu opero meus dois olhos e, assim espero, me livro dessa porra pra sempre (não dos meus olhos, dos óculos. Pretendo continuar com os olhos, afinal a terra há de comê-los). Falando assim, parece que foi o período mais horrível que eu passei na minha vida. Também não é pra tanto. Nunca foi desconfortável, nem desagravável. E enxergar bem é bom pra cacete, né. O problema reside na aparência.

Primeiro, porque eu não sou bom em escolher modelos de óculos. Segundo, porque minha cara não ajuda. Aí tem que aguentar nego me chamando de Renato Russo, Gandhi e essas coisas. E de achar que eu tenho cara de inteligente. Sério, que adianta ter cara de inteligente se toda vez que eu penso ouço um barulho de descarga?

Lembro que, até os 13 anos, eu me dava bem com todos na escola. Não existiam grupos, não existiam gangues, e o fato de eu tirar boas notas não me desqualificava a ter boa convivência com qualquer aluno. Aí eu coloquei os óculos e bum!, fui segregado ao grupo dos nãrdes nerds. Não que, numa taxonomia mais simples, eu já não fizesse parte dele. Mas os óculos me trancaram nele. Então eu fazia trabalho com as mesmas pessoas, conversava com as mesmas pessoas, jogava bola no mesmo time (aliás, no futebol, nem quero lembrar as batalhas campais que rolavam entre o nãrdes nerds e os burros. Difícil ter um jogo em que alguém não saísse sangrando).

Não que esse tipo de coisa vá acabar agora, porque, bem, já acabou faz tempo. Talvez as pessoas no trabalho parem de achar que eu sou programador, mas nada de mais. O bom mesmo vai ser não ser mais parecido com Gandhi, nem com Renato Russo. Só um careca de barba mal feita e cara de burro. Não que eu não quisesse ser Gandhi (sem ser indiano) ou Renato Russo (sem, né, a AIDS e o que levou até ela), mas é bom ter uma cara própria.

Então agora só falta desfigurar o rosto do meu irmão.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Vai ter que rebolar




A gente tem, né, que saber lidar com as muitas situações que essa vida boba joga na nossa cara. Saber se virar, é, basicamente, o que difere os homens dos animais. Tipo, joga um cachorrinho na jaula de um leão e ele vai ser devorado. Joga uma pessoa e daqui a pouco você vai ver o desgraçado enfiando a cabeça na boca do cabeludo pra fazer graça.

Tem esse jogo, Scribblenauts, que funciona assim: você está num certo cenário, tem que fazer uma certa coisa. Pra fazer essa certa coisa, você pega um caderninho, escreve o nome de algo e plim!, tá lá esse algo pra você usar. Quer subir num lugar? Escreve 'escada'. Quer cavar? Escreve 'pá'. Quer mergulhar? Põe 'submarino'. Muito divertido, bem sacado, genial, yada yada yada.

Se você ligou os dois primeiros parágrafos, vai sacar que o jogo é uma emulação com pinceladas absurdas do tal 'se virar' que eu falo lá no começo. Eu sempre soube que era um cara sem recursos (sempre o mesmo drible pra dentro, sempre as bordas arredondadas, sempre as piadas com bosta), mas nunca imaginei que pudesse levar um tapa na cara tão forte de um DS.

Porque toda vez que a coisa aperta no jogo, eu chamo o pterodáctilo. É, aquele. Toda vez. E, vamos lá, se eu depender de um animal pré-histórico pra me livrar das enrascadas da vida, eu tô, basicamente, bem fudido. Já fiz um imenso esforço pra não depender tanto da minha mãe, que tá viva e saudável e pode, efetivamente, me ajudar, imagina como deve ser precisar de um pterodáctilo pra tudo. Já vi muita gente dizendo que nasceu na época errada, mas isso é ridículo.

Claro, você pode dizer que, ao contrário do jogo, provavelmente um pterodáctilo não seria tão útil no dia-a-dia. Concordo. Acho pouco provável que um réptil voador vá me ajudar a negociar um salário maior ou a dar ideia numa mina. Então eu fico simplesmente esperando que eles me paguem mais e elas cheguem em mim. É uma tática, até funciona, mas é pouco pra quem deveria colocar a cabeça na boca do leão.

E aí vai chegar um paulistano chato e dizer 'ah, mas eu queria um pterodáctilo pra não precisar pegar trânsito'. Em matéria de reclamação, meus conterrâneos são mais sem recursos que eu.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Busquei felicidade, encontrei foi Maria

Maria já habita minha casa há pouco mais de três anos e, durante todo esse tempo, uma coisa me incomoda bastante no nosso relacionamento: eu simplesmente não me sinto digno de receber todo o carinho que ela tem pra dar.

Porque é claro que eu gosto dela demais, apesar do seu notório problema em identificar qual é e qual não é um local apropriado pra cagar, mas como se retribui o amor de alguém que toda vez que te vê rebola, balança o rabo, põe a língua pra fora, pula pra te abraçar e depois sai correndo enlouquecidamente pela casa, arrancando olhos e testículos de quem ousar se horizontalizar no seu percurso? Não há absolutamente nada que eu possa fazer pra retribuir uma atenção dessa. A menos que eu faça a mesma coisa, mas tenho quase certeza de que não serão tão tolerantes comigo quanto aos eventuais danos escrotais.

E, vá lá, eu também não me esforço muito. Raramente levo ela pra passear, raramente divido o pão de queijo e raramente impeço a Grazi, minha prima de 3 anos, de fazê-la de cachorro e sapato. Eu sou, pura e simplesmente, um canalha. Como seu tutor e responsável legal, jamais permitiria que se envolvesse com um cachorro com a mesma personalidade que eu. É esse tipo de bicho que eu espanto a paulada do portão de casa.

Aí me lembrei de um pastor alemão que tinha aqui perto e que se chamava, veja só, Thiago. Há quem fique ofendido por ter seu nome atribuído a um cachorro (assim como muita gente me faz vade-retro por ter batizado minha menina com o nome da mãe de Jesus), mas era um bicho tão grande e bonito e garboso que até vejo razão em imaginar que deveria ser ele o indignado por ter o mesmo nome que eu.

Enfim, voltando: realmente não sei o que fazer pra merecer toda essa paixão. E me aproveitar do fato de que a adoração dela por mim é cega não condiz com a educação que mamãe e papai me deram. Até sinto saudades dos meus gatos, esses esnobes do cacete, porque ele aos menos estavam pouco se fudendo pra minha existência. A esse tipo de atitude, sim, eu estou acostumado.

Mas como gato é o bicho da moda, provavelmente me concentrarei na criação de tartarugas ou rinocerontes. Ou melhor, rinocerontes não. Não depois que eu vi isso:



TCC, juro.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Se você é jovem ainda, amanhã velho será

Todo mundo já deve ter passado por isso: você é criança, suja e babona, e imagina como sua cabeça será completamente diferente quando for adulto. Repare: não a vida, a cabeça. Você acha que não vai continuar gostando das mesmas coisas, querendo as mesmas coisas, agindo da mesma forma. Aí você cresce e continua gostando das mesmas coisas, querendo as mesmas coisas e agindo da mesma forma. E continua sujo e babão.

As coisas que te fazem sentir-se adulto estão nos detalhes. Não tem nada a ver com responsabilidade, com ganhar dinheiro, com essa baboseira toda. Isso é tão natural no fluxo da vida que quase não dá pra sentir. Ao menos pra mim, o que me fez perceber que eu estava crescendo foram detalhes tão pequenos, tão bobos, que estiveram perigosamente perto de passar despercebidos.

O primeiro deles é sentar no banco da frente do carro. No banco do passageiro, não do motorista, porque dirigir é uma profissão, é algo que você exerce de maneira quase forçada. Ser o passageiro do banco da frente exige uma coisa que autoescola não resolve: exige reputação. Durante toda minha vida, era meu pai dirigindo, minha mãe ao lado, meu irmão e eu atrás. Um dia, minha mãe foi para o banco de trás e, quando vi, o da frente estava vago. Anos depois, entendi o que isso queria dizer: que eu estava quase no topo da pirâmide da hierarquia familiar. Quase no topo porque estar efetivamente no topo te deixa poucas opções confortáveis de lugar pra sentar, if you know what I mean.

Dar presente é outra coisa. Eu não sei vocês, mas eu nunca ganhei mesada e trabalhei ganhando um salário de fome durante muito tempo. E também nunca ganhei muitos presentes, o que não ajudou a criar essa cultura. Dar presente é algo que transcende a relação comercial, o lance de chegar na loja e comprar algo pura e simplesmente, porque é uma maneira de você dizer que gosta de uma pessoa de verdade. De verdade porque, vamos lá, beijos e abraços e palavras são legais, mas não servem pra bosta nenhuma. O importante é ter algo pra ostentar ou usar. E aí está o desafio: precisa ser algo que a pessoa goste e queira usufruir. No fim de tudo, além da declaração de afeto, vem o mais importante: a necessária reciprocidade. A deu um presente pra B, então B se sente na obrigação de retribuir A, e daí A está, temporariamente, no comando da relação. Ser adulto é, acima de tudo, ser filho da puta e saber manipular pessoas.

O terceiro fator são as dívidas calculadas. Não a que você faz por não ter escolha, a que você faz por ser zoiudo. Exemplo: eu tenho um débito com a Caixa Econômica Federal, que financiou minha faculdade, até 2014. Isso não faz eu me sentir mais velho. Mas no último fim de semana, quando paguei as duas prestações restantes do carnê do Ponto Frio, senti como se me arrancassem 15 anos das costas. Porque ser responsável não significa não ser irresponsável: eu PRECISAVA de um monitor de 22 polegadas e não tinha um centavo, então fiz um crediário e paguei três vezes mais do que ele vale. Irresponsável e burro, como deve ser um adulto.

Como você pode ver, é preciso estar atento às sutilezas da vida pra não se deixar enganar pela pilha de jogos de video game e DVDs de desenhos animados que ficam jogados pelo quarto. Porque adulto e criança é tudo igual, só muda a casquinha.

(e a necessidade de foder, mas isso estragaria a doçura do texto)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

I've been loving you too long (to stop now)

Cat's power *virada de bateria*

No dia 18 de julho de 2009 foi aniversário de 51 anos da minha mãe (e o primeiro que vier com qualquer coisa sobre "boa ideia" leva uma estilingada; com mãe não se brinca fazendo piada ruim). Mas à noite aconteceu também o show da Cat Power em San Pablo, de modo que eu dei um beijo na velha, vesti minha roupa de missa, fiz a barba, pus as lentes de contato e fui ao encontro da mulher por quem meu coração-platão bate há alguns anos (prova e prova).

Então ela tava lá, toda linda e pouco falativa no palco, desfilando um monte de covers do seu último e ótimo álbum, Jukebox, mais algumas de fora do disco (Fortunate Son, Angelitos Negros, House of the Rising Sun) e do The Covers Record (Sea of Love) e um punhado de músicas dela mesma, incluindo uma versão bem esquisita de I Don't Blame You - ela deve ter aprendido com o Bobão esse negócio de distorcer as próprias canções a ponto de torná-las irreconhecíveis.

Enquanto isso, eu ficava sentado e cantava junto bem baixinho, com os pés balançando igual a uma criança (ou um idiota). Então lá no final do show ela chega na beirada do palco e começa a distribuir flores pra patreia plateia. Aían todo mundo desce desembestadamente pra ficar perto da deusa musa linda gostosa simpática e boa de coração Chan Marshall. E eu? E EU? Eu amarelei. Yeap. Troquei a roupa de missa pela camisa do Palmeiras. Fiquei sentado, olhando, esperando. E acabaram as flores, e ela foi embora, e a Alessandra Negrini passou do meu lado enquanto eu tava distraído olhando o diabo do Marco Butcher. Tudo errado nesse mundo.

Então eu fui pra casa, de alma lavada e coração partido. E esse é mais um daqueles posts que eu devia ter escrito meses atrás e fiquei com preguiça e escrevi agora pra preencher a falta de assunto.

Os desprovidos de caráter chamam isso de 'calhau'.

domingo, 8 de novembro de 2009

Porra, caralho!


A vida é uma caixinha de bosta. Fiquei reclamando por haver dois festivais no mesmo dia, de ter que escolher entre Faith No More e Primal Scream e patatí e patatá; no fim das contas, optei pelo Faith No More; no fim mais finzinho das contas, não comprei ingresso pra nenhum; aí antes de acabarem os créditos, plim!, ganhei a entrada pro Maquinária, que além da trupe de Mike Patton ainda tinha Nação Zumbi, Sepultura, Deftones e Jane's Addiction.

Cheguei já no meio do Jane's, que fez um show bem bom, com o Perry Farrell veadaço pagando pau pro Dave Navarro, que praticamente comeu a guitarra no palco. Been Caught Stealing fica muito melhor ao vivo, mas o grande destaque mesmo eram as duas gostosas seminuas que passeavam pelo palco. Não é um show pra família, senhoras e senhores.

O show do Faith No More, veja bem, era aquele tipo de show que não podia dar errado. Mas também não precisava ser tão... meu deus.

Mike Patton é um demônio no palco. Canta muito - Korn e System of a Down que o digam -, conversa o tempo todo em um inacreditável bom português - habilidade que ele deixou bem clara quando cantou Evidence inteirinha com uma letra absurda no nosso idioma querido -, engole o microfone pra vomitar em seguida, estrebucha pelo chão, vai até a platéia, incentiva todo mundo a gritar 'porra, caralho!' - again, não é um show pra família - e derrama carisma sobre um bando de gente molhada que ria feito besta. Não vou miguelar elogio: foi o melhor performer que eu já vi num palco. Ganha até do Iggy, e por uma boa distância.

O setlist foi quase perfeito, só devendo pela ausência óbvia de Falling to Pieces. De resto, tava tudo lá: From Out of Nowhere, We Care a Lot, Last Cup of Sorrow, Surprise! You're Dead, Easy (pois é), Evidence, Caralho Voador, Ashes to Ashes, Digging the Grave, Midlife Crisis e Epic, que provavelmente foi o ponto alto da bagaça. Puta show, que só não encabeça a lista dos melhores do ano porque isso significaria bater o Radiohead.

O legal mesmo, e que eu não contei ali em cima, é que o tal ingresso que eu ganhei era pra área VIP. Rá! Não me levem a mal, mas é tipo limpar o cu a vida inteira com folha de bananeira e então te apresentarem o papel higiênico. Eu nunca mais quero ir na folha de bananeira. Quero as regalias, quero ficar perto do palco, ganhar brindes legais, ficar rodeado de sub-celebridades - pra você ver a situação, na minha frente estava o cara que ganhou esse último Big Brother, cujo nome eu não sei, mas suponho que tenha um metro e noventa de altura, feladaputa.

Aí você vai achar que eu sou playboy e esnobe. E eu direi: 'caguei'; quando eu quero opinião de pobre, pergunto qual o melhor alvejante pra minha governanta. Recolha-se à sua insignificância.


Não me abandone.

sábado, 7 de novembro de 2009

Beber, cair, levantar

Terminei de ler há pouco (tipo no ônibus, antes de chegar em casa, cinco minutos atrás) a autobiografia do Eric Clapton, ídolo eterno porque passou a jiromba na Pattie Boyd e furou os olhos do George Harrison ao mesmo tempo, o que me fez decidir que meu filho vai se chamar, definitivamente, Ericlepton. O livro é bom, legal e sincero. Aí chega no ponto em que o amigo Eric larga a bebida e passa a viver uma vida de sobriedade. Acho ótimo pra ele e pra família, mas o livro de repente fica um saco.

Vão-se as orgias, as drogas, a destruição, as brigas, as músicas ruins. Ficou apenas o cotidiano. Veja esse trecho:

Depois do almoço nos despedimos de todos e fomos até Jamie Lee montar equipamento para a caçada. Jamie e sua esposa, Lydia, têm [futuro sic] duas garotas adoráveis, Jessica e Georgia, que são um pouco mais velhas que as nossas e se deram otimamente com elas; Paul Cummins também estava vindo com a esposa, Janice, e o filhinho, Jamie, de modo que estávamos todos empolgados com os dias que se seguiriam.

Longe de mim vir aqui criticar Deus. Meu pai parou de beber há pouco mais de um ano, depois de passar 37 dias no hospital, 25 dos quais na UTI, fazendo o favor de não morrer devido a uma pancreatite causada pelo alcoolismo. Depois disso, a vida aqui em casa tem sido incrivelmente boa, provavelmente pela forçada mudança de perspectivas de que eu falo nesse post. Então se o problema não é com o Eric, com quem é?

Comigo. Veja bem, eu não bebo - provavelmente culpa do seu Armando, mas não vem ao caso - e, pelo que pude observar pelo livro, eu devo ser chato pra cacete. Conversando e escrevendo. A rotina do Eric Clapton envolve tocar todos os maiores músicos de quem já se ouviu falar e fazer cruzeiros pelas praias do mundo num barco luxuosíssimo. A minha se resume a acordar, trabalhar, ir pra casa, fazer um sexo, lavar a mão e dormir. Cadê os casos de infidelidade, as loucuras, os arroubos de genialidade, a contemplação do suicídio, as doenças poderosas? Tomando Toddynho, o máximo que eu já consegui foi uma caganeira. Convenhamos, ficar um dia inteiro no banheiro me desfazendo em bosta não é lá muito digno de virar parágrafo em livro (blog é outra história).

Pronto, agora está claro que eu sou chato. Posso ser mais chato um pouquinho? Se, quando você leu 'cadê os casos de infidelidade' ali em cima, pensou imediatamente na mão esquerda, esse parágrafo serve só pra te tirar essa piada fácil. Abraços.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Yesterday / All my troubles seemed so far away

O lugar onde eu trabalho é, dentro dos limites do profissionalismo, um local divertido. A gente canta, grita, faz piada e fica uma hora na padoca durante o expediente. Daí que ontem, graças a uma iniciativa mó legal - e deveras assustadora, certeza que vem uma tora na nossa bunda depois -, fui com alguns coleguinhas para um lugar afastado desse mundo horroroso participar de uma jam session que durou o dia inteiro, durante o horário de trabalho.

A gente levou os instrumentos - inclusive o Brito levou aquela guita linda que eu deixei de roubar por muito pouco -, a empresa descolou o equipamento de som e assim passamos uma ensolarada sexta-feira descarrilando alguns clássicos da música pop, de Magal a Nirvana, de Tim Maia a Lynyrd Skynyrd. Desses, só o Nirvana foi salvo da minha blablableação, mas nenhum passou incólume à minha sempre declarada - e agora comprovada - falta de talento. Caguei; como diz aquela música dos Stooges, my idea of fun is killing everyone.

Mas legal mesmo, repara o sadismo, foi estar num lugar lindo a sei lá quantos quilômetros de São Paulo estuprando o rock'n'roll enquanto todos os coleguinhas - e provavelmente você também - ficaram sentados na frente do computador o dia todo, agradecendo pelo menos por ser sexta-feira.

Melhor dia útil de todos os tempos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Semcordefinida Drama

Quando éramos jovens e cheios de sonhos nas ruas da Vila Miriam, e o tamanho do pênis não era um fator que incrementava a reputação, ficava por cima na cadeia social quem soubesse mais versos de 'Fim de Semana no Parque', dos Racionais MCs. Eu, sempre o leproso, só sabia o refrão, que era ridículo: 'Vamos passear no parque, ô / Fim de semana no parque / Vamos passear no parque, ô / Fim de semana no parque Santo Antônio Santantônio santantônio ....'

Perdi a época de 'Diário de um Detento' e 'Capítulo 4, Versículo 3'. Em parte porque meu gosto musical tinha zarpado pra outros mares (Os Travessos, Kiloucura), mas principalmente porque nessa época o tamanho do pênis já era um fator. Digo, Winning Eleven. A habilidade no Winning Eleven. E, pra variar, eu era a escória.

Por causa do Winning Eleven.

Daí chegou 'Negro Drama', vice-hino da geração pé-rapada anos 2000. Tem um trecho que é assim:

Problema com escola eu tenho mil, mil fita
Inacreditável, mas seu filho me imita
No meio de vocês ele é o mais esperto
Ginga e fala gíria
'Gíria não, dialeto'

I was just 17, if you know what I mean, e na época criei um email com o trecho italicado ali em cima: seufilhomeimita@ig.com.br. Vai, todo mundo teve um período na vida em que desandou a criar emails bestas - tudo bem que normalmente eles eram coisas com 'gatinha' e 'surfista' e tal, mas ainda assim eu estava respaldado. Então vai-se o tempo, seguem-se os penduricalhos tecnológicos, e todas as pessoas da minha idade mudaram seus emails identificadores por coisas mais austeras, tipo nome.sobrenome. Porque é natural, já que chega uma hora que você precisa levar a vida a sério e não pode colocar um negócio bizarro no currículo.

Mas, corrigindo a sentença anterior, houve uma pessoa que manteve seu email escroto: eu. Quero dizer, o do iG lá de cima morreu - dando lugar ao nome.sobrenome@gmail.com - mas o MSN mantem-se firme, forte e vida loka. Lá no trabalho, toda vez que algum respeitável colega me pede o messenger, pra trocarmos informações profissionais importantes e sisudas, costuma dar-se o seguinte diálogo:

- Padula, me passa seu MSN.
- seufilhomeimitaarrobahotmail
- Que?
- seufilhomeimitaarrobahotmail
- Hein?
- seufilhomeimitaarrobahotmail!
- ...
- ...
- Porra, Padula.

Depois de sete anos, ainda me sinto muito envergonhado toda vez que preciso dizer essa merda. E não dá pra trocar agora, porque a) eu tenho preguiça; b) já fui premiado com esse endereço de messenger. - um prêmio que eu próprio ajudei a organizar, é verdade, mas garanto a honestidade da eleição; e c) apesar disso tudo, ele tem uma certa arroganciazinha besta que me cai muito bem.

E assim, a história da minha vida foi contada por meio de um endereço de email. No próximo capítulo, exporei minhas perturbações psicológicas explicando a diferença entre memória e HD. Não saiam daí.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

It's a long way to the top if you wanna rock 'n' roll

Não sei se eu já escrevi isso aqui alguma vez, mas imagino que dê pra presumir: eu tenho a maior vontade de fazer música. Estar numa banda, tocar pra gente, comer umas fedidas com tatuagem feia dos Rolling Stones no cóccix. Pra ser direto, se tivesse que listar as coisas que eu nunca fiz e quero fazer, o primeiro lugar seria parar de dar a bunda toda semana fazer um show pra um monte de gente. Estive perigosamente perto disso não faz muito tempo - lembra? - mas acabou não indo além de dois ensaios. Não sou de comparar épocas, mas se estivéssemos em 1977 minha falta de talento seria minha glória.

Na última sexta-feira chegou meu The Beatles: A Biografia, monobloco de três milhões de páginas sobre um determinado assunto aí. Se antes essa ideia de ser um deus do rock era só um foguinho que crepitava discretamente, agora estou completamente em chamas. A cada parágrafo eu jogo o livro pro lado, pego o violão e faço um sol trastejar como uma arara sendo abatida durante seu canto.

Mãs, sacomé, pra fazer esse negócio de rock 'n' roll precisa de três coisas: habilidade, atitude e algum tipo de conectividade social. Ter amigos que gostem da mesma coisa que eu ajuda - mais uma 'jam session' em que tiver de tocar Fernando e Sorocaba e eu me enforco com a mizinha. - Pensando nisso, decidi comprar um Guitar Hero.

(Vou aqui poupar vocês de detalhes sobre a briga Guitar Hero x Rock Band; o dia em que os instrumentos do segundo funcionarem no primeiro, a gente conversa)

Porque o Guitar Hero reune algumas coisas que podem ser interessantes: não precisa estudar nenhuma bosta de instrumento durante anos; faz tanto barulho quanto o volume da TV permitir; não tem Fernando e Sorocaba no tracklist. Além disso, um jogo desses tem o mesmo efeito da bola de capotão na meninitude: junta um monte de interesseiro ao redor. E isso não é um defeito, se estivesse procurando uma amizade verdadeira eu estaria no chat do UOL.

E assim, com um Guitar Hero e um frigobar, esse blog encerra suas atividades. Grande abraço.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Vida de bosta no mundo

Eu já tive vários blogs nessa vida, um pior que o outro. E uma coisa que aprendi nesse tempo é que, ainda que as coisas jogadas na internet possam ser vistas por todo mundo, provavelmente não serão vistas por ninguém, e portanto é muito bom saber gerenciar as expectativas. A melhor maneira? Não ter nenhuma. Por isso, nunca procurei saber nada sobre o Vida de bosta. A única pista que tenho sobre o tráfego dele é o número de comentários, mas convenhamos que isso não serve pra nada.

Daí que ontem eu estava fazendo um estudo pro trabalho (juro), e acabei esbarrando em algumas estatísticas do Google sobre essa pocilga. Descobri, por exemplo, que há 13 usuários Google cadastrados nos feeds do blog. Considerando que minha família não acessa esta bagaça e, dos meus cinco amigos, três não tem acesso à internet (ou ao mundo fora da minha cabeça), me pareceu mais do que eu mereço. Soube também que, se procurar por links pra cá no site de busca, a maior parte dos resultados vem do blog da Suzana (um beijo no seu coração, obrigado).

Mas o que mais me surpreendeu nessa série de informações brilhantemente irrelevantes foi saber que o Vida de bosta é o quarto resultado no Google quando se busca por 'maneiras de morrer'. Mano, que orgulho. Primeiro, por ser uma expressão de busca fantástica. Daria até pra usar como subtítulo pro blog, se ele não fosse super variado e falasse de milhões de outras coisas. Segundo, por pensar que algum idiota desgostoso com a vida pode procurar instruções no Google e de fato tentar se matar de november rain. Não consigo imaginar um presente melhor. O que é até perigoso, porque quando meu filho trouxer da escola uma carteira pintada com guache pra me dar, vai ser difícil evitar a cara de 'grande bosta, já tive gente se matando por orientação minha'.


Alguém se matar por um post meu e eu ter um filho. Pelo visto, a meta de não ter expectativas já foi pro saco. Bosta.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O punk da periferia

Fuçando nos meus arquivos no computador do trabalho, encontrei esse texto, de fevereiro de 2008, que jurava ter publicado. Como ainda pego o mesmo ônibus, continua valendo.


Julgar as pessoas pela aparência é feio, muito feio. Mas às vezes é necessário, e vou fazer minha defesa pessoal.

Sim, eu julgo. Mas é por um motivo muito nobre. Veja bem: no caminho do trabalho pra casa, eu pego um ônibus em Pinheiros pra Perus, e desço em Pirituba (língua do P?). E Pirituba, por mais que seja um lugar pelo qual eu tenha um carinho especial, é lugar de gente feia.

Não só feia, mas... Olha só: normalmente eu entro no ônibus já com todos os assentos ocupados. Qual o segredo? Ficar de pé ao lado de alguém que vá descer antes de Pirituba. Entende onde eu quero chegar?

O perfil piritubano é diferente do perfil de Pinheiros. No primeiro, reina a aparência humilde, a roupa de operário, o sotaque nordestino. No segundo, o 'arrojamento', o 'ecletismo', o visual 'alternativo'. É nesse tipo de pessoa que eu colo.

Dia desses, por exemplo, andando pelo corredor em busca de uma presa, vi um rapaz de barba propositalmente mal feita, piercing na orelha e All Star preto no pé. Lia a biografia do Eric Clapton. Parei do lado.

Normalmente esse pessoal desce ainda no começo do percurso, na Teodoro Sampaio. Mas o rapaz continuou lá, calmamente virando as páginas de seu livro. Às vezes, jogava um olhar na minha direção, provavelmente atraído pelos Rolling Stones que vazavam pelo meu fone de ouvido. Vamos lá, Clapton e Stones, ele não poderia me decepcionar.

Mas o caso é que vai rua, vem rua, curva pra lá, curva pra cá, página pra lá, página pra cá, e nada do cara descer. Um solo de saxofone estralou em Rip this Joint, ele olhou de novo. Voltou pro livro, virou mais uma página, e eu começo a ficar impaciente. Shake your Hips, Casino Boogie, em Tumbling Dice ele deu mais uma olhadinha. Virou pro livro, marcou a página, cutucou o cara que tava sentado ao lado, levantou, pegou o corredor, deu o sinal, e enfim desceu, quando começava Sweet Virginia.

Julgo sim, estou sentando. Tem gente que não julga e vai de pé.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Arquitetura da destruição

Eu costumava pensar - e as pessoas costumavam me dizer - que tinha cara de menino. Era uma coisa que até me incomodava um pouco, tanto que minha barba não tem como principal qualidade estar sempre feita. Em 2007, uma moça recém chegada à empresa em que trabalho disse que achava que eu tinha 18 anos - eu tinha 22. Alegria!, oras, é uma mulher dizendo que você parece mais novo do que é, mesmo que, por consequência, seja o mesmo que te chamar de moleque, irresponsável, estagiário e fudido. Eu não era estagiário, mas admito que há razão nas outras.

Daí que se passam dois anos, e uma linha recente nas conversas com os coleguinhas ultimamente tem sido como eu estou decadente. Um, de 28 anos, achou que eu era mais velho que ele. Outro, quando viu uma foto minha do ano passado pendurada em um dos murais da empresa, mandou um 'como você tá acabado, cara!'. É, com essas palavras.

Eu não entendo, juro. Não é o estresse que me detona, porque tô pra achar alguém mais sossegado que eu (não parece, mas é verdade). Não é o linguajar, porque se a menina lá de cima fosse cega poderia achar que eu tinha 12 anos. Também não é no visual, de um modo geral, porque a única mudança significativa nesse campo que eu fiz nos últimos sete anos foi trocar o All Star pelo Adidas. E não deve ser porque eu não rio, já que todo mundo sabe que não sou sério, sou cínico.

'Mas Padula, seu imbecil, no texto linkado ali de cima você dizia que queria parecer mais adulto'. Adulto é uma coisa, velho caquético é outra. Fora que um amigo meu certa vez disse, com razão, que eu vou ser daqueles velhos safados.

Mas, vá lá, tem suas vantagens. Um cara no trabalho, por exemplo, acha que eu sou o chefe do departamento, e desde então tenho agido como tal. Precisa ver os esporros falsos que eu dou quando ele tá por perto.

É, isso compensa tudo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Meu refrigerador funciona, sim

Outro dia estava no ônibus, a caminho de casa, e me lembrei de que tinha esse espaço aqui. Sirene. Há algumas etapas no processo de decadência e morte de um blog. A primeira é você se sentir mal por não escrever com a frequência que deveria, e então ficar postando coisas tipo 'gentem, desculpa a ausência, mas o blog volta, blá blá blá'. Essa última parte eu não faço, porque tenho princípios (tá, eu fiz uma vez, pois era uma questão séria de verdade), mas ficar me torturando por não escrever era uma constante. Quanto notei que eu tinha um blog de que nem me lembrava, plim!, pulei pra segunda etapa: desencanar.

O problema é que o mote principal dessa bagaça, que é reclamar, está sendo enfraquecido pelas circustâncias da vida. Tipo, ela continua ruim e tal, mas aconteceram coisas legais e vai demorar até eu cansar delas e voltar a achar tudo uma merda.

Primeiro, eu tenho um carro. É bem verdade que continuo a andar de ônibus (como você deve se lembrar, lá do primeiro parágrafo), mas pelo menos tenho um negócio verde horroroso e que faz sete quilômetros por litro na garagem. Já é útil na hora de me levar aos jogos do São Paulo.

Segundo, eu tenho um baixo E uma banda. Não sei porque caralhos alguém me chamou pra tocar baixo - um negócio que eu nunca toquei na vida -, mas todos os motivos em que eu consigo pensar dizem respeito à religiosidade dos colegas (satanismo é uma religião, certo?).

E, por fim, eu tenho um frigobar no quarto. RÁ! Lembra quando eu disse que não tinha nada e que a única coisa que fazia os outros terem inveja de mim era a minha mãe? Agora tem a minha mãe e <eco> UM FRIGOBAR NA PORRA DO MEU QUARTO! </eco> <pombas brancas voando />. Sério, isso é muito foda, e uma etapa crucial no meu projeto de vida.

Olha só, no meu quarto agora tem:

- Três camas (uma beliche e uma normal) e dois colchões soltos (um de casal e um de solteiro);
- Uma TV;
- Um DVD;
- Um Wii e um Playstation 2;
- Dois violões e um baixo (com amplificador);
- Uma poltrona e um bau que serve de arquibancada;
- <eco> Um frigobar </eco>

Tá, não é muita coisa, mas vem no raciocínio: assim que conseguirmos (meu irmão e eu, no caso) instalar um mictório no quarto, as únicas vezes em que precisaremos passar da porta pra fora serão para expedições esporádicas até o Econ da avenida pra comprar mantimentos pro frigobar (cerveja pra ele, Yakult pra mim). E, claro, pra cagar, já que imagine quão desconfortável deve ser mandar um barro num urinol.

Como o meu computador fica na sala, vocês terão de compreender que a situação desse blog ficará ainda mais peor. A menos que eu arranje tempo pra escrever durante o trabalho (como agora), a tendência é o intervalo entre cada post ficar maior. Mas, se serve de consolo, estão todos convidados a conhecer meu quarto <eco fraquinho, porque já tá dando no saco> com frigobar </eco fraquinho, porque já tá dando no saco> e jogar uma partida de Smash Bros. com a gente. Só não reparem a bagunça e o cheiro de mijo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Streets of rage

Eu nunca fui assaltado. Nunquinha, jamaizinho. E, considerando que eu morei a vida toda em São Paulo, uma cidade em que pessoas saem de casa com os vidros do carro blindados e fazem campanha vestindo branco e usando nariz de palhaço para protestar contra a criminalidade (afinal, faz todo sentido, pensa bem), eu devo ter uma sorte da porra. Devo ter mais sorte ainda se pensarmos que eu tenho três características que deveriam me tornar o alvo ideal de qualquer larápio:

1- Eu ando sempre sozinho;
2- Eu tenho cara de bobo;
3- Eu sou fraco feito um grafite 0.5

Então por que, oh deus, por que ninguém quer me roubar? Outro dia, andando pelas tenebrosas ruas da Lapa de baixo no começo da madrugada de uma sexta-feira, um cara me parou e disse mais ou menos isso: 'Rapaz, vou lhe ser sincero: eu bebo. Bebo memo. Então eu quero lhe pedir um real pra comprar maconha [sem zoar a lógica do rapaz, vocês já viram os vícios dele]. Não vou lhe roubar, só tô lhe pedindo. Eu até podia lhe roubar, tô com mais uns caras ali, mas só vou lhe pedir um real pra comprar maconha'. Alguém pode pensar que foi só uma abordagem mais marota pra me assaltar, não fosse o fato de que eu não dei o real a ele. Ali estava eu, cara a cara com um assaltante assumido, e saí ileso.

Pensando mais, talvez tenha encontrado os motivos da minha invulnerabilidade aos males da cidade grande, olha só: se eu ando sempre sozinho, é sinal de que não tenho amigos nem amores. Qualquer sacripantas gatuno sabe que a abstinência dessas coisas pode fazer tão mal quanto a falta de cachaça. Além disso, a minha cara de bobo, além de justificar um pouco o tópico anterior, ainda mostra que eu sou fraco de espírito e força de vontade, coisas importantes na hora de arrumar um emprego que pague bem. E, sobre eu ser fraco, só de olhar pra minha cara de bobo já dá pra sacar que eu sou covardão o bastante pra não entrar em combate físico por causa de um assalto, o que torna esse ponto irrelevante.

Tudo bem, tudo bom, tudo legal. Tenho o corpo fechado, isso é bom, tô tranquilo.

Mas aí outro dia eu tive um sonho em que caminhava pro trabalho, e no pedacinho da Teodoro Sampaio entre a Henrique Schaumann e a Francisco Leitão só perambulavam malfeitosos malfeitores. Muitos deles. Um grupo de três me cercou e falou qualquer coisa que nada tinha a ver com eu dar o dinheiro ou eles me aplicariam um cuecão. Eu simplesmente tirei a carteira do bolso, entreguei e eles foram embora, num perfeito movimento que denunciava um bom entrosamento na relação assaltante-assalariadoassaltado. Caos nas ruas. Crime. Pânico. Um policial em busca de vingança. Insegurança. Impotência. Trabalho. Marcas de sangue no ar. Medo.

E então, desde esse dia, comecei a me borrar de medo de ser assaltado. Se na vida real for qualquer coisa igual ao sonho, é um sentimento horrível e boboca. Mas não se preocupem, já achei a solução: depois de tudo que aprendi nas bem sucedidas caminhadas contra o crime, só preciso ficar amigo de algum grupo de médicos palhaços criadores de pombos e tá tudo bem. Tirando em Gotham City, é uma tática que não deve falhar em lugar nenhum.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Just say yes

Sei que eu fico aqui pagando de moleque rebelde, apontando o dedo virtual na cara de pessoas que evidentemente não estão na minha frente (já disse: sou bundão, só falo mal pelas costas), mas a verdade, você deve saber, é que sou total Mariavaicasôtra. Total. Não tenho personalidade, não tenho originalidade, só sigo o mestre.

Eu tendo sempre a concordar com quem aponta um bom argumento. Sem questionar. A lógica fazendo sentido, por mais que seja contra tudo por que deveríamos zelar, tô comprando. Se o Maluf tivesse um blog, é bem provável que todos os meus direcionamentos políticos (1 - não votar no Maluf; 2 - não votar em ninguém) se despedaçassem como meu coração toda vez que vejo um Pikmin morrer.

Na outra mão, eu costumo criar total aversão a algo só porque muitas pessoas falam bem. Exemplos? Stand-up comedy, Tropa de Elite, Harry Potter, Madonna, essa porra de cultura trash, e por aí vai descambando. Então, a) eu me solidarizo com alguém só por ouvir seu argumento, sem objeções; e b) eu detesto algo simplesmente porque me irrita ver tantas pessoas gostando.

Meu irmão, matemático formado, volta pra casa na semana que vem. Mas nem preciso dele pra ajudar nessa conta: a + b = x, sendo 'x' um abjeto rascunho de ser humano. Bom, pelo menos já sei como começar minha necrografia.


Só não vou deletar esse texto porque estou em débito com o blog.

sábado, 4 de julho de 2009

Faz parte

Eu não sei quando começou, mas aposto que foi em algum lugar do século XX. Porém é inegável que, cada vez mais, esse fenômeno que arrebanha soldados aleatórios e preguiçosos por todos os cantos do planeta está cada vez mais forte. Senhoras e senhores, estamos vivendo os dias de glória do exército do 'faça a sua parte'.

É lógico que eu vou cagar em cima desse conceito todo, mas antes deixe-me explicar melhor do que se trata a bagaça: como o mundo está cheio de problemas e cheio de pessoas, é razoável imaginar que se todas essas pessoas se unirem com um objetivo comum, as coisas melhoram. Parece legal, parece justo, parece certo, certo?

Certo. O problema é: ninguém quer fazer bosta nenhuma. Tipo, eu quero mudar o mundo, mas eu tenho preguiça. Porque, sério, vamos admitir: a prostituição infantil é uma merda, mas não é mais importante que a minha carreira. Vou te dar alguns exemplos recentes pra ficar mais fácil somar esse parágrafo com o anterior e chegar ao mesmo resultado:

O primeiro aconteceu há uns três meses. Foi uma campanha ousada, grande, que propunha o seguinte: vamos todos apagar as luzes de casa durante uma hora, no mesmo horário. Porque o aquecimento global é esse monstro que fica debaixo da cama, e nós precisamos fazer algo com relação a isso. Lembram desse? Beleza, o próximo: com as últimas eleições presidenciais no Irã, tem nego apanhando e morrendo a dar com pau por lá. Você lê as notícias, não preciso explicar, né? Pois então, surgiu então uma campanha no Twitter, esse negócio que todo mundo adora difamar, que era a seguinte: todo mundo tinha que pintar suas fotos de exibição de verde. Sei lá porque, aposto que tinha um bom motivo. Mas a ideia era fazer um protesto contra as injustiças e não sei o que que rolavam no país de nome tão pequeno.

A última, também disparada no Twitter, era mais local: quem queria aderir escrevia um negócio assim: #forasarney. Lembra os caras pintadas que pediam a saída do Collor? Então, uma variação disso, que quer mostrar a quantidade de brasileiros indignados com os atos praticados por esse agora senador que está botando na nossa bunda há pelo menos 20 anos, sem ninguém poder fazer nada, porque o Brasil não é uma democracia e ele nunca foi eleito pelo voto popular.

Agora chega a parte em que eu começo a implicar: como disse, ninguém tá ligando. Sério. Ninguém economiza em água ou eletricidade, nem joga papel velho no lixo ou vai pro trabalho de bicicleta pra não poluir o ar (vai, quando eu digo 'ninguém', é claro que eu estou generalizando). Mas apagar a luz de casa por uma hora? Bem, isso eu posso fazer. E então, plim!, eu fiz minha parte. Se um dia as geleiras derreterem e todo mundo morrer afogado, a culpa não é minha.

O mal do faça sua parte é essa falsa sensação de dever cumprido. É a pessoa se sentir bem, e de alma lavada, por algo que nada mais é que uma idiotice. Tipo, #forasarney? Sério mesmo? Fotinho verde? E que porra é essa de mobilizar UM BILHÃO DE PESSOAS pra fazer um ATO SIMBÓLICO? Se todos os chineses (mais ou menos um bilhão de pessoas) pulassem ao mesmo tempo, a Terra sairia do eixo, é o que dizem. Então se um bilhão de pessoas tem esse poder, por que não fazer algo realmente relevante?

Porque um bilhão de pessoas podem apagar a luz, mas nem duas mil se disporiam a fazer algo que fosse exigir mais tempo de sua vida em um negócio que não vai botar uma TV de LCD na sua estante. E não pense que eu estou dizendo isso pra me crescer, não. Pergunta pro meu pai quantas TVs a gente já pesquisou hoje.

Então seguimos assim: a gente finge que faz nossa parte, e o mundo finge que é afetado por isso. O problema, amiguinhos, não é o aquecimento global, nem o Sarney. O problema é a punheta.

domingo, 24 de maio de 2009

Versão brasileira

Volta e meia, nas conversas com os coleguinhas da firma, falamos dos desenhos animados de outrora. Em geral, o assunto passa por Caverna do Dragão (sempre tem um idiota que detesta), Cavaleiros do Zodíaco (sempre tem um idiota que detesta) e Pica-Pau (sempre tem um idiota que lembra de todos os episódios).

E também tem idiota que fica quase um mês sem escrever no blog e quando aparece é pra vomitar mais uma de suas listinhas sem o menor critério ou interessantabilidade. Como na evolução do PowerPoint para o YouTube como repositório de constrangimento nostálgico coletivo as aberturas do desenhos são frequentemente relembradas, decidi citar aqui meus três temas despreferidos de animações - ou whatever. Um deles não é exatamente desenho, mas tem o mesmo espírito.

Acho que não caberia fazer uma lista das melhores músicas porque é óbvio que a de Ducktales chuta bundas. Vamos, portanto, às piores:

3 - Bananas de Pijamas

Um bom programa infantil começa por uma boa música... not. Basta lembrar a de Thundercats, que apesar de não ser tão ruim quanto o merde de la merde que está aqui, é vergonhosamente não condizente com a qualidade do desenho. Anyway...

... O assunto é essa atrocidade chamada 'Bananas de Pijamas'. Claro, o público alvo (e acho que, nesse caso, 'alvo' é bem o termo) é o infantil, e eu já não tinha idade pra gostar dessas coisas quando passou na TV por aqui, mas não muda o fato de que a música é um ultraje. E tipo, sério, quem foi o imbecil que achou que seria uma boa idéia ensacar duas bananas no uniforme do Paysandu?

Analisando a letra:

Bananas de pijamas
Descendo as escadas
Bananas de pijamas
Uma dupla bem levada
Se você viu a abertura (vídeo abaixo), percebeu que ele só fez a rima fácil porque as bananas de fato estavam descendo as escadas. Imagino que se os dois estivessem na banheira, seria algo do tipo Bananas de pijamas/Tomando um belo banho/Bananas de pijamas/Um é mudo e o outro fanho.
Hm, nah.

Bananas de pijamas
Aprontando pra valer
Regra básica da música infantil: ter pelo menos um termo de tiozão. No caso é o 'pra valer'.
Brincando com os ursinhos
Bananas brincando com ursinhos?
Cantando pra você
Entrei na feira da fruta...



2 - Digimon

Essa é particularmente legal porque é, digamos, ambiciosa. A Globo andava levando um senhor cacete da Record na programação matinal, graças ao tal do Pokémon. Pra combater o femônemo, eles decidiram investir pesado: pegaram o principal concorrente (leia-se cópia) do sucesso da Nintendo, anunciaram no intervalo do Fantástico e até fizeram a gravação da música tema com a Angélica.

Claro, é a Angélica, mas a Globo realmente acha que essas loiras fazem sucesso com a criançada, vide a Xuxa que tá aí até hoje. O desenho fracassou por seus próprios deméritos, mas é fácil imaginar quantas pessoas desligaram a TV durante a música tema, tão frouxa quanto um lado B da, ahn, Angélica.

Analisando a letra:

Digimon Digitais
Digimons são campeões
Até agora nada faz sentido.
Digimon Digitais
Digimons são campeões
Mesmo repetindo, continua não fazendo sentido.
Eles vão se transformar
Para o seu mundo salvar
O meu ou o deles? Tipo, se for o deles, qual a graça?
Juntos combatem o mal
Claro.
São os guerreiros da paz
Possivelmente uma das antíteses mais gritantes da história.
Nesse lugar virtual
Os digimons são demais
Porque nesse lugar real eles são apenas uns bostas.
Digimon Digitais
Digimons são campeões
Ainda nada.
Digimon Digitais
Digimons são campeões
Aaaaah, agora... perae, não.
Basta o perigo chegar
Eles virão pra salvar
Claro, primeiro todo mundo caga nas calças de medo, depois eles chegam por cima da carne seca, quando um monte de gente já morreu.
São os amigos da paz
BFF.
Os digimons são demais
Advérbio de intensidade.
Digimon Digitais
Digimons são campeões
Meu problema é: o que há de mais em ser digital? Meu relógio é digital, e nem por isso é campeão de nada.
Digimon Digitais
Digimons são campeões
Sério, já tá começando a dar no saco.
Digimon Digitais
Digimon.
Ufa.

Vê a bagaça aqui (a campeã não libera o embed): http://www.youtube.com/watch?v=n6EqPoGZ5Zo

1 - Cavalo de Fogo

Não vou nem apontar o dedo e dizer que esse é o pior desenho de todos, porque isso implicaria em ter que assisti-lo, e portanto ouvir à música de abertura todos os dias. Tô suave.

Mas toda vez que eu critico essa desgraça a resposta vem de imediato: 'é desenho de menina'. Essa eu nunca engoli, porque até onde eu saiba mau gosto não tem flexão de gênero. Vamos lá, mulherada, não se subestimem. Vocês podem gostar de coisa melhor. Algo que não seja um cavalo ROXO de cabelos VERMELHOS que transporta uma princesa bastarda de uma dimensão pra outra. Nunca saquei porque nesses desenhos os membros da família real sempre têm algum tipo de poder mágico. Aparentemente a monarquia ainda era o regime de governo predominante nos anos 80.

Analisando a letra:

No meu sonho eu já vivi um lindo conto infantil
Tudo era magia
Era um mundo fora do meu
E ao chegar desse sonho acordei
Foi quando correndo eu vi
Um cavalo de fogo alí
Que tocou meu coração
Quando me disse então
Que um dia raiIiIinha eu seria
Ai.
Se com a maldade pudesse acabar
No mundo dos sonhos pudeEeEsse chegaAaAr
Nossa.

Nenhum problema com a letra aqui. Música ruim de verdade é assim: nada de pequenos detalhes pra ficar se apegando, simplesmente um grande bloco de bosta. Tá de parabéns.



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Mas assim, eu devo ter esquecido vários, né? Tem algum tema horroroso que vocês acham que vale a pena ser mencionado? Cita aí nos comentários, por gentileza.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Deixem os porcos em paz

Repito: deixem os porcos em paz. Tipo, sério. Chega uma hora em que um homem honrado precisa bater o pé e proteger uma espécie que não pode se defender sozinha. Como não encontrei nenhum homem honrado, vou eu mesmo.

Eu não sei em que ponto da história foi que a humanidade achou que os nobres suínos deveriam simbolizar tudo que é ruim. Mas daí em diante, tudo que era claramente culpa dessa cambada de bípede pelado ganhou o selinho do porco. Ferrou com a vida de alguém? É espírito de porco. Pensa mais em dinheiro que qualquer outra coisa? É um porco capitalista. Torce pro Palmeiras? Bem...

Aliás, é típico dessa gentinha 'expiar' suas chagas transferindo-as pra quem não tem nada a ver com a história. É sempre o diabo, o porco, o Mumm-Ra.

Aí chegamos em 2009, e os porcos levam a culpa por uma gripe que sequer transmitem. No Egito, já querem exterminar toda a população suína! Eu tenho uma solução melhor: exterminem a população humana. Com todos mortos, a gripe não tem efeito nenhum.

Pois eu exijo um pedido de desculpas. Re-tra-ta-ção. Assim que acabar essa frescura de gripe, faço questão que esse gado suíno bonito de meu deus receba uma valiosa recompensa. E não falo de lavagem ou Oscar para o Babe. Quero, ao menos pra cada macho, uma punheta da Sabrina, igual essa:



Prazer, Napoleão.

domingo, 19 de abril de 2009

Sobre a sobrevivência

Eu sou, como talvez já tenha dito por aqui, um desistente profissional. Sabe aquela frase de adesivo de Kombi que diz 'lutar sempre, vencer talvez, desistir nunca'? A minha seria mais ou menos como 'lutar talvez, vencer nunca, desistir sempre'. E eu acho um saco esses ditados de PowerPoint sobre como é melhor a tristeza da derrota que a amargura de não ter tentado. Mentira, só se arrepende de não ter tentado quem fica se apegando a bobagens como otimismo.

Portanto, não é sem ser tomado por agradável surpresa que vejo que esse blog completa, hoje, dois anos de existência. Não me lembro de nenhum projeto (vamos chamá-lo assim) pessoal meu ter durado tanto. Até o Furúnculo, meu fanzine da época da faculdade, durou pouco mais de seis meses. E eu adorava fazer aquela porcaria.

O motivo do Vida de bosta ainda estar de pé é que ele me diverte. A cara do blog muda de tempos em tempos, embora não dê pra perceber muito. No começo, era mais como um acumulado de mimimis e opiniões desorganizadamente agrupadas. Hoje, eu uso principalmente pra fazer graça, mesmo que pra isso precise me humilhar (tipo, não levem a sério coisas como isso. As pessoas têm me evitado desde então. Era só brincadeira, pessoal).

Agora falando sério: também acho uma merda essa parada de ficar falando de si mesmo e pedindo aplauso só porque o diabo do blog faz aninhos. E eu não faria isso se tivesse outro assunto pra postar. Como não quero deixar a criança desmaiar por inanição, preciso periodicamente escrever algo, mesmo que seja sem nenhum propósito específico. Por sorte, calhou de ser aniversário da bagaça =)

Alguém sugere um tema pra eu enrolar na próxima semana?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Síndrome do pinto pequeno

Eu passei os últimos dois dias no trabalho analisando currículos, porque a pilha já estava se acumulando e alguém precisava fazê-lo.

Depois de ler uns 130 e só aprovar cinco, cheguei a uma bifurcação: ou eu sou chato demais, ou as pessoas são ruins demais (talvez os dois). A minha chatice eu não vou conseguir consertar tão cedo, então resolvi criar um pequeno guia para o muito específico caso de alguém que lê isso mandar um currículo pra minha empresa e calhar dos dois designers importantes estarem muito ocupados e sobrar pra mim. Alguns desses toques podem servir pra vida, mas outros são só pra me agradar mesmo.


- Mande um link pro seu portfólio ou pra trabalhos que você fez. Nem precisa ser um portfólio todo bonitão, pode ser um blog ou Carbonmade da vida. Desde que dê pra ver o seu talento (ou falta de), tudo bem. Claro que se for um site próprio, com layout seu e tudo mais faz uma preza diferente, mas é melhor um link pro DeviantART que nada.

- Faça um currículo bonitinho. Vamos lá, eu sei que você é capaz. Times New Roman? Formatação do Word? Que raio de impressão alguém que se acha designer quer passar com uma merda dessa?

- Não seja metido. Não venha me dizer que é ideal para a vaga, porque isso não é você quem determina (nem eu, mas eu pelo menos conheço quem decide). E você não é 'dedicado, proativo, inovador e tem bom relacionamento interpessoal'. Se for, grande bosta, todo mundo também diz que é.

- Se você tem no currículo um campo 'Objetivo', tome muito cuidado. Especialmente se o seu objetivo é outro, tipo ser arquiteto da informação ou embalador (sério, li um desse), porque você pode mandar pra uma vaga dizendo que queria mesmo atuar em outra. Pega mal.

- Não queira ser formal demais, sério demais ou didático demais. E não escreva 'atuo na área à [sic] 5 (cinco) anos'. Eu sei como se soletra 'cinco', porque ao contrário de você, eu sou só um pouco burro.

- E sem esse papinho de que quer a vaga pra 'aprimorar meus conhecimentos e aprender com o ambiente dessa empresa'. Eu quero saber o que você pode me dar, não o que você quer. Pra isso você ganha salário, larga mão de ser sanguessuga.

- Evite colocar frases, citações e, principalmente, poesia. Além de não acrescentar nada, ainda corre o risco de pegar pela frente alguém que odeia poesia com todas as forças, tipo eu.

- Não coloque link pra Orkut ou blog (a menos que o blog seja relacionado à área de interesse), porque eu vou ler. Eu vou saber que você está tristinha porque ninguém quer te comer e que você bebeu demais no último almoço comemorativo da firma e passou a mão na bunda da gerente. E, pior, eu posso saber em quais comunidades você está. Nessa já vi um racista-chauvinista e um tarado-narcisista. Não quero um cara desses trabalhando na mesma sala que eu.

- Não ponha foto no currículo. Primeiro, porque não me interessa qual é a sua cara. Segundo, porque eu sei, eu tenho certeza, que você vai pôr uma foto horrível tirada num almoço de família, com os olhos vermelhos e a testa escorrendo óleo.

- Restrinja a lista de cursos feitos àqueles relacionados à área. Você fez um curso de culinária indiana? Juuura???? *peido com a boca*

- Toque bateria. Ainda não temos nenhum baterista na banda da empresa.

- Aprenda a escrever a porra do nome da sua profissão. Design NÃO É 'DESING', SEU QUADRÚPEDE! E antes que alguém diga que pode ter sido só um erro de digitação (imperdoável, diga-se; o mínimo que se espera é que o cara revise o currículo antes de mandar), gostaria de registrar que eu também li essa blasfêmia em LOGOS e até na URL DE UM SITE. Isso não é erro de digitação, é analfabetismo. Fora os que dizem que fazem designER.

- Na mesma linha do anterior, escreva direito o nome dos softwares que você diz que conhece. Tipo, de coração. Photoshop não é 'Foto Shop' e CorelDRAW não é 'Corel Drawn' (nem vou falar de 'In Desing', porque meio que se enquadra no tópico anterior). Sabe qual o problema aqui? É que toda vez que se abre um programa aparece a porra do nome dele escrito bem grande no meio da tela. Se você não sabe escrever o nome do desgraçado, é porque não usou tantas vezes quanto diz que usou.

- Essa é mais pessoal que as outras, porque me ofende profundamente: se tudo o que você faz é colocar uma foto no Illustrator e vetorizar por cima, você não é ilustrador. Você é só um macaco que copia o que já existe. Saca colocar papel vegetal por cima de uma imagem e desenhar por cima? É a mesma coisa.

- E por último, se quer mandar currículo pra empresas e dar a cara a tapa pro mercado, esteja ciente de que eu vou te zoar, ironizar e escorraçar (só pelas costas, claro, porque eu sou covarde). Eu posso ser um designer ruinzinho, mas pra xingar eu mando benzaço.

terça-feira, 24 de março de 2009

You and whose army?

Várias pessoas (duas) me pediram pra escrever aqui minhas impressões sobre o show do Radiohead. Eu bem que tentei ontem, mas quando vi que no texto tinha muito 'lindo', 'maravilhoso' e 'sensacional', parei por aí. Eu sei (e você sabe) que no fundo eu sou só um menino sozinho e cheio de ídolos, mas nesse blog eu tenho que manter a aparência de cara revoltado e 'do mal'.

No post anterior eu disse que o problema do ônibus te tornar uma pessoa pior é inevitável. Errei, e errei grandão. Porque o que todo mundo passou até a hora do show - e principalmente depois - põe no chinelo qualquer viagem Terminal Pirituba - Praça Ramos. Da má educação dos seguranças e despeito dos guardas da CET à zoação das putas da região, li relatos de gente reclamando de praticamente tudo - um ou dois inclusive do show. Mas, em geral, o sentimento foi de que valeu a pena.

Que é mais ou menos o sentimento de recompensa que abate o coitado do burro na busca do raio da cenoura que está sempre a um palmo do focinho, mas nunca chega. Segundo imaginou a organização do evento, de burro e louco todo mundo tem um pouco, e se esse todo mundo ainda topou pagar 200 reais por isso, não dá nem pra restringir as porções desses adjetivos a 'um pouco'. E quando 30 mil malucos berram e se descabelam e, em menor escala, cantam 'I'm a creep, I'm a weirdo', fica difícil tirar a razão da produtora em pensar isso.

Mas o Radiohead juntou seu pequeno exército de esquisitos e entregou a eles o que foi possivelmente um dos melhores shows de suas vidas. O palco era lindo, o set list maravilhoso e a interação entre banda e público sensacional (opa). Grandes shows deixam marcas, e as minhas vão desde a memória nítida de cantar Paranoid Android para o Radiohead até o registro físico de ficar com tantas dores no corpo no dia seguinte que andava como se tivesse sido estuprado por um cavalo.

Podemos até ser bizarros e esquisitos, mas se há algum lugar no mundo a que pertencemos, era na frente daquele palco, naquelas duas horas.

Por isso, senhor secretário do transporte, se quiser evitar que os coletivos virem escola de estressados e psicopatas, dê a cada usuário, quando chegar em seu destino, um show do Radiohead. Como retratação. Porque a gente chia e reclama, mas já deu pra perceber que respeito não é de graça. E, até onde sei, custa mais de 200 reais.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Magic bus

Numa cidade tão grande e populosa como São Paulo, é natural que os transportes públicos coletivos tenham diversos problemas. Reclama-se do estado dos veículos, do preço das passagens, da superlotação, da falta de conforto, etc, etc, etc. Mas se você me permitir fazer uma observação (se não permitir, suma daqui), pra mim o grande mal do transporte coletivo é que ele te transforma em uma pessoa pior.

(Vou me referir aqui sempre aos ônibus, porque é o único meio que uso. Mas faça as devidas adaptações pra metrô, trem, etc)

Olha só, eu me considero um cara legal. Devolvo o troco no mercado quando vem a mais, ajudo uma pessoa a recolher as coisas que deixou cair no chão, oriento a direção direitinho pra quem me pergunta. E eu sei que tem bastante gente no mundo que é boa também. Mas é só subir num ônibus que a bacanitude e a gente bonice ficam da porta pra fora.

Ali dentro somos todos animais. Bestas selvagens e egoístas que só pensam na própria sobrevivência. Não existe tolerância a ninguém, e supostos atos de altruísmo são nada mais que delicadas táticas de guerra. No ônibus impera o nazismo, ou seu equivalente no repúdio às minorias: velhos, gordos, grávidas, bêbados, crianças, todas essas criaturas que deveriam ficar da catraca pra frente, o reservado espaço para os leprosos do coletivo.

Se alguém quer só um espacinho no puta que pariu pra se segurar e não capotar no meio do ônibus, você abre os braços e finge que tá lotado. Se um idoso fica de pé ao seu lado no banco, você dorme. Se um obeso passa andando no meio do corredor, você segura no cano de cima e dobra o corpo pra frente, passando o pipiu na cara de quem tá sentado. Se chove, é uma briga de foice pela conquista da janela entre quem está sentado e quem está de pé, os primeiros pra não se molhar, os segundos pra respirar. Não há ética, não há gentileza, não há caráter.

O ônibus é algum tipo de zéfiro do espaço-tempo, um lugar onde o apocalipse já aconteceu, e só resta aos humanos sobreviventes lutarem pela carne. Mas o que vai se fazer? É por isso que sempre que surge um novo serial killer, colocam a culpa em algum filme, música ou jogo. É uma maneira de desviar o foco da verdade que é óbvia, mas inevitável.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Existem mil garotas com quem eu quero passear

Eu não sou uma metamorfose ambulante, mas as opiniões que tenho a meu respeito costumam variar bastante. Hoje, por exemplo, cheguei à conclusão de que devo ser tarado. Eu me apaixono fácil demais (num jeito masculino de se apaixonar), mas ultimamente a coisa tá saindo perigosamente do controle. É ver uma mulher bonita na rua e eu estou lá, cataléptico, com a saliva correndo pelo canto da boca. Se a moça é bonitinha, meu coração bate tão forte que dá pra ver através da camiseta. Mas se a moça é linda, vamos dizer que não é só meu coração que dá pra ver pela roupa.

Ainda estou tentando entender como um ser humano atinge tamanho nível de degradação moral. Já descobri que não é carência, porque a) perguntei pra outros caras, casados e enrolados, e eles me disseram sentir o mesmo (e que a coisa só piora com a idade); e b) estou num relacionamento muito sério e sólido com a minha senhora, a mão direita.

O pior é que eu trabalho num bairro que só tem mulher bonita (ou isso ou meu filtro está deixando passar qualquer uma que não tenha uma pereba na cara ou uma tatuagem do Corinthians no braço). Não estou naquele ponto em que tenho vontade de estuprar qualquer menina no meio da rua - prefiro um lugar mais reservado, tipo um beco -, mas ainda assim me preocupo. E se tive o deslavamento de escrever tudo isso aqui, num espaço em que a maioria das pessoas que lê me conhece, é porque a doença me consome a uma velocidade impressionante.

Vou procurar um psicólogo, então se conhecerem algum bom, por favor me indiquem. De preferência se for mulher e não tiver uma pereba na cara ou uma tatuagem do Corinthians no braço.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa

Ah, o futebol. Essa imbecilidade, essa tosquice, essa merda que não serve pra nada. Só pra deixar a gente maluco, babando e chorando na frente da TV ou colado no rádio. O meu amigo Morto de Frio não gosta, já o meu outro amigo Sansão acha legal bagaralho. Acha tão legal que montou um site só pra falar do esporte bretão, no melhor estilo mesa de bar (se é que é possível haver alguma comparação entre a internet e uma mesa de bar, mas deixa pra lá).

E apesar de ser maculado por meus desenhos feios e meu layout horroroso, o site é a maior curtição. Se liga: você, são paulino, porco, galinha ou viúva do Robinho (é só pros quatro times que importam em São Paulo, por enquanto), que gosta de futebol, sabe onde pôr uma vírgula e uma crase e quer envenenar a internet escrevendo sobre o seu time - ou essa bosta pra quem você torce, dependendo do caso - entra no site (que se chama Galera do Tobogã, detalhe bobo de que eu já ia me esquecendo) e manda um texto maroto, explicando porque você tem que ser escolhido. Se tiver sucesso na empreitada, vira o blogueiro oficial do seu esquadrão lá e ainda deve ganhar alguma coisa que, confesso, não faço idéia do que seja.

Eu não vou participar porque sou amigo do dono, mas alguns dos posts que eu mais gosto nesse blog são sobre futebol. Se você é chegado no assunto, acho que é uma oportunidade divertida de tentar humilhar com palavras seus adversários de arquibancada (ou tobogã).

Mas eu torço mesmo é pro Morto ser o cara do Coríntia.