quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Retrospecbosta 2017

Duas coisas aproximam-se do fim nesses dias: 2017 e minhas desculpinhas por não escrever aqui. Não escrevi porque não quis, me deixa. Mas agora eu quero, não me deixe! Pra fechar esses últimos meses esquisitíssimos, vamos com uma retrospectiva de assuntos que você não fazia ideia que aconteceram porque, bem, eu não escrevi.

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Eu tenho uma pança. Ela começou a despontar nos idos de 2011, quando meu metabolismo passou a ficar mais coerente com o resto do meu ser e fracassar. Eu sempre quis uma barriga: é sinal de respeito, sinal de maturidade. Não há sinais de maturidade em mim: só bonequinhos de personagens da Nintendo e bolachas recheadas. Com uma barriga eu poderia finalmente me considerar adulto.

Esse ano a barriga alcançou sua forma mais evoluída até então: rotunda, saliente, confiante. Parece aquelas bolas de borracha que a gente brincava quando era criança: redonda e cheia de gás dentro. Um luxo.

Mas o efeito não foi o desejado. As pessoas falam. As pessoas ficam "nossa o que é isso é uma barriga?". As pessoas falam a respeito dela quando eu não estou por perto. As pessoas não aceitam minha pancinha. Tratam-me com chacota por ostentar transbordamento acima da cintura mesmo quando tenho braços finos de espaguete e os ombros mais estreitos que a visão de mundo das pessoas na internet. Pois são uns invejosos!, eu digo. Não sabem apreciar o valor de uma bela barrigota. De um abdômen convexo. De ter uma parte do corpo que pode ser dividida em hemisférios. Eu tenho pena das pessoas!

Embora realmente esteja um pouco difícil escrever isso porque a barriga não me deixa chegar muito perto da mesa e talvez esse tenha sido o real motivo da baixa produtividade do blog, mas faz parte.

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Um dia eu tava na fila e eu era o próximo. Aí uma mulher passou na minha frente. Como se eu não estivesse ali. Como se eu nunca tivesse existido. Como quando você passa e sente um calafrio e as pessoas que acreditam em coisas pensam "senti uma presença" mas tal presença não pode ser vista ou comprovada. É isso que eu me tornei: um fantasma, vagando eternamente pelas filas do mundo até encontrar a fila que finalmente me levará para os portões do inferno.

Mas eu não deixei barato: pus as mãos na cintura e olhei bem feio. Rá! Se ela tivesse visto ia pensar duas vezes antes de furar fila novamente.

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Após um longo hiato dos palcos que absolutamente zero pessoas sentiram, voltei a me apresentar ao vivo com o Volto Logo Joyce. Foi um show muito especial, com um palco montado na rua em um evento voltado à causa animal. Foi no centro de São Paulo e atrás do palco era possível ver o famoso Elevado Presidente João Goulart, antigo Elevado Costa e Silva. Confesso que fiquei muito emocionado porque sempre foi meu sonho tocar com o Minhocão atrás.

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Eu peço desculpas pela última, estou muito triste.

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Tomei uma importante decisão de negócios: convidei minha namorada para viver sob o mesmo teto que eu, estabelecendo uma fusão que aumentou em 100% o número de bonecos de personagens da Nintendo nesse apartamento. Concorrentes entraram na justiça alegando monopólio mas suas intimações pra mim são como baratas: eu gentilmente as conduzo para fora do ambiente.

Além disso estou feliz* e minha barriga aumentou, então 10/10.

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*AVISO LEGAL: a felicidade é uma construção social e as únicas coisas que existem são a tristeza e a dor e somos todos apenas fantasmas vagando por esse mundo procurando a fila certa.

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Meu gato (adotado esse ano, aguarde o post a respeito) resolveu treinar para as próximas olimpíadas usando a TV nova como barreira na modalidade corrida com obstáculos. Ele deu sinais de não estar preparado para concorrer ao errar e fazer a TV SE ESPATIFAR NO CHÃO E DESTRUINDO TODA SUA LINDA TELINHA. Comprei outra e decidi colocá-la num suporte na parede, exercendo assim toda minha perícia com ferramentas para trabalho manual e com conceitos estéticos como alinhamento. Não ficou tão ruim, é só sentar e inclinar a coluna 30 graus pra esquerda que tá tudo certo.

Em nota relacionada, fui tentar trocar o cabo da TV que ficava no quarto (também em um suporte) enquanto segurava o aparelho contra a parede usando apenas uma mão. Por incrível que pareça, eu não proporcionei nem o equilíbrio nem a força adequados e ela foi pro chão.

Pus a culpa no gato.

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Além da saliência abdominal também estou ficando com a barba esbranquiçada, mais um sinal inequívoco de que eu já deveria ter saído da adolescência a essa altura.

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Minha memória, que desde sempre foi meu maior orgulho e, honestamente, a única coisa boa a meu respeito, está se desmanchando como a aprovação de um certo prefeito de uma certa cidade importante do país. Acessar informações no meu cérebro tem sido um exercício difícil e improdutivo, e por muitas vezes já me vi perder meia hora investigando uma tarefa no trabalho só pra descobrir que eu já a tinha feito.

Eu não tenho piadinha espirituosa pra fazer com essa, é só uma merda.

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Meu pai pôs no rack da sala dele uma foto minha e do meu irmão juntos e a diversão dele é mostrar pras pessoas e perguntar quem sou eu e quem é meu irmão. É um jogo muito difícil, eu mesmo só acertei na segunda.

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Tinha um casamento pra ir e decidi honrar a barriga e a barba branca: resolvi aprender a fazer um nó de gravata. Não foi fácil. Muitas tentativas. Muito suor. Muitos socos na parede de frustração. Não, você não vai desistir. Você já desistiu de muitas coisas na sua vida, chega! Você é capaz! Tapa na cara. Cena do Whiplash que o cara pergunta se o batera tá acelerando ou atrasando.

Dia do casamento. São Paulo, 2017. A hora da verdade. A apreensão toma conta de mim. Me preparo mentalmente. Ponho a calça, a camisa, o cinto. Respiro fundo. Mãos trêmulas. Vamos, você consegue! Passa por trás. Uma volta. Passa por dentro. Outra volta. Mais uma. Passa por dentro de novo. Ajusta.

Puta calor, fui sem gravata mesmo.

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Meu contrato de união estável foi redigido por um Youtuber.

Sério.

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Bom, esse foi um resumo do que rolou esse ano. Foi até que bom. Espero que o seu ano tenha sido bom também e que você tenha sido capaz de estocar energia e felicidade porque o ano que vem será uma tempestade de bosta. Boa sorte pra gente, boas festas pra você, desculpa qualquer coisa e obrigado pela audiência.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

10!

Dia 7 de janeiro de 1995 eu fiz 10 anos. Lembro de andar na Lapa, queixo erguido, ombros pra trás, braços balançando, com a confiança de saber que eu era um ADULTO. Eu olhava para os outros adultos, torres se erguendo ao meu redor, e me sentia um deles. Eu já era meio burro na época, né, claro que eu não era adulto. Inclusive estava na Lapa porque meu pai foi comprar os chapeuzinhos de papel pra minha festa de aniversário dos Cavaleiros do Zodíaco (irada). Acho que já contei essa história aqui.

Na verdade, acho que já contei todas as histórias aqui. Porque, assim como eu naquele 7 de janeiro de 95, hoje esse blog anda pela Lapa de queixo erguido, ombros pra trás e braços balançando: sim, hoje o Vida de bosta completa 10 (dez) anos! Nossa senhora.

É estranho imaginar que durou isso tudo porque n'A Grande Era das Opiniões Não Solicitadas blogs são cidades em ruínas visitadas por turistas de férias. É difícil de acreditar, crianças, mas houve um tempo em que as pessoas iam de endereço em endereço na rede mundial de computadores procurando saber a opinião de terceiros. Sim, o masoquismo já era tendência antes de 50 tons de cinza.

Tenho vergonha de absolutamente tudo já escrito nesse blog, e a intensidade da vergonha aumenta de acordo com a idade do post. Entretanto, tá tudo aí: é um registro de quem eu era e de quem eu estava tentando ser. Quando a Grande Calamidade acontecer e tudo que meus filhos tiverem de mim forem as lembranças de eu os oferecendo em sacrifício para as bestas saídas do inferno pra me salvar, eles vão encontrar um dispositivo ancestral chamado "smartphone" e no cache de um negócio chamado "site" da entidade que fez o pacto final com Satanás permitindo assim a abertura dos portais para as trevas vão descobrir o Vida de bosta e saber quem era realmente o pai deles. E isso só vai piorar ainda mais minha já abalada reputação.

Mas, ahn, é isso. Peço desculpas pela escassez de conteúdo novo (achei um post nos rascunhos do meu email e devo publicá-lo em breve, yay). Agradeço pela atenção e pela companhia. 10 anos é tempo pra caralho, e eu sei que tem gente aí que tá lendo faz tempo. Brigadão mesmo.

E, para os que estiverem lendo isso no futuro: sigam na direção das montanhas gêmeas. Procurem numa pedra na maior clareira da maior caverna. Apenas essa espada poderá derrotar Belzegoogle. Papai ama vocês.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Burrice

Parte do meu processo de envelhecimento tem sido gasto procurando ser uma pessoa melhor, mais justa, com mais empatia e menos julgamentos sumários. Esse talvez seja um dos motivos pra esse blog andar tão devagar: imagina que saco ler toda semana um bocó escrevendo "gente, calma, vamos pensar o lado da outra pessoa". Sai daqui, internet é pra apontar dedo na cara.

Um dos julgamentos mais comuns e mais irresistíveis é considerar burro todo mundo que possa pensar ligeiramente diferente de você ou que não tenha um repertório intelectual que o senso comum reputa como sendo próprios da pessoa inteligente. Então esse é um dos esforços maiores que tenho feito nessa minha jornada rumo à nulidade completa, o de entender que existem inteligências diferentes, que esperteza acadêmica não define tudo, que há tantos fatores envolvidos em cada acontecimento que é possível cinco pessoas terem opiniões diferentes e mesmo assim não estarem exatamente erradas. Um ou dois talvez sejam filhos da puta, mas não burros.

Ops, estou julgando de novo. Desculpe.

Mas como todo esforço observado sob a ótica maniqueísta (que está errada, sempre, para com isso), há aquele desafio, aquela pedra no sapato, o inimigo sombrio que quer evitar seus planos a qualquer custo. E, quanto mais eu tento avaliar outras perspectivas, descobrir os pontos fortes em que a pessoa brilha e demonstra inteligência especial, tem uma pessoa que derruba minha teoria toda vez. Minha teoria de que ninguém é burro, você que não viu direito. Tem um sujeito, vamos preservar o nome dele por ora, que continua me desafiando. Que fica chutando todas as minhas análises, que toda vez que eu consigo finalmente resolver um grande quebra-cabeça lógico e retórico ele dá um tapão, derruba no chão e grita na minha cara "VAI DIZER QUE EU NÃO SOU BURRO AGORA?"

Sim, tem sido cada vez mais difícil não achar que eu sou um palerma completo. Talvez porque eu me conheça melhor do que conheço a qualquer outra pessoa. Veja: a ignorância me faz achar que as pessoas são inteligentes, o conhecimento me faz achar que eu sou burro. Se isso não é poesia, é o que? Não é poesia mesmo, só quero saber o que é.

"Ah, mas você é inteligente". Obrigado, mãe. Eu às vezes gosto de pensar que sou mesmo, mas estou aqui travando uma queda de braço entre minhas querências inocentes e os fatos duros. Eu sei que estou na internet e na internet os fatos não tem importância, mas ao mesmo tempo eu nunca ganho uma queda de braço, então é meio como a história do gato com o pão com manteiga.

Mas apesar de eu ter dito que fatos não importam, vamos a eles. Listo a seguir alguns acontecimentos recentes ou relativamente recentes. Julguem por vocês mesmos (concordem comigo): eu fiquei calculando a velocidade da esteira de bagagem no aeroporto pra andar por ela no sentido oposto até alcançar minha mala que caiu do outro lado (ao invés de só esticar a perna e passar por cima); cogitei VIRAR MEU ASPIRADOR DE PÓ EM CIMA DA LIXEIRA ao invés de só tirar o saco com a sujeira de dentro; subi 18 andares de escada para o escritório pois o prédio estava sem luz, de modo que não havia o que fazer no diabo do escritório; fiz uma trilha montanha acima sob o sol do meio dia sendo que havia setas apontando no sentido contrário e um trenzinho que levava para o alto da montanha; não passei protetor solar enquanto fazia a trilha da montanha sob o sol do meio dia; cortei cenouras fazendo o movimento da faca em direção à minha cara; desisti de esperar o metrô que demorou cinco minutos depois de já ter pago passagem, saí da estação e fui caminhando para o trabalho pra chegar muito atrasado e suando feito um filho da puta (diversas ocorrências); comprei uma guitarra em promoção pra vender pelo preço normal, não vendi, ela estragou; paguei mais caro por um produto pelo qual eu havia pedido desconto; deixei a cachorrinha com diarreia deitar nas minhas roupas; sério, lê a última de novo; fiz minha tia que queria um sorvete de banana comprar um frozen banana, afinal, por que isso não seria um sorvete de banana? (não era); fiquei uma hora na fila errada no aeroporto e só não perdi o voo porque atrasou; fiz faculdade de publicidade; comprei um tênis de presente pra namorada achando que combinaria perfeitamente, pra só depois que cheguei em casa lembrar que ela tinha um igual; derrubei uma tupperware cheia de gordura por toda a cozinha porque decidi segurar ela só pela tampa - que era uma tampa de panela; tentei desmontar um chuveiro me posicionando exatamente embaixo dele e sem desligar o registro; comprei camisetas femininas achando que eram masculinas, não sem ter resmungado mentalmente que estão fazendo camisetas cada vez mais apertadas hoje em dia; falei "parabéns" pra uma colega que foi se despedir após ter sido demitida; coloco o pé quando vou puxar a porta pra ela não abrir com força, mas ela bate no meu pé e pof na minha cara (diversas ocorrências); quando requisitado (obrigado) a dar um depoimento para as câmeras que serviriam a um vídeo institucional da empresa, contei uma piada sobre masturbação.

Todos fazem burradas. Todos tem pontos fortes. Faz parte do balanço universal, o grande equilíbrio que não nos permite despencar. Mas e quando não há esse equilíbrio, quando você é inteligente às vezes e burro quase o tempo todo? Quer dizer que você é burro mesmo, tem jeito não, e minha teoria tá errada. O que não tem problema porque eu sou burro e você já viu teorias propostas por pessoas burras? Eu também não, porque ninguém é burro, tem que ver o lado da outra pessoa. Ou sim? Não sei mais, tô confuso, vou parar com isso.

Alguém quer comprar uma guitarra?