quinta-feira, 13 de maio de 2021

Autoajuda

A pandemia tem basicamente zero pontos positivos (não tente olhar os aspectos positivos de uma desgraça como essa, aliás; tá tudo bem achar tudo uma merda). E uma das coisas ruins nesse tsunami de negatividade foi que me deixou trancado num quarto com meus instrumentos, microfones e tempo livre. Aí eu gravei sozinho umas músicas velhas e, se você acompanha esse blog, já sabe que eu não tenho problema em compartilhar as tontices que eu faço. Então aqui está. Ele chama Autoajuda, são 6 faixas, e um dia quem sabe estará nas plataformas todas.

Depois de gravar eu resolvi experimentar com uns textos de alguma forma relacionados ao tema. Vou soltando esses textos aqui de tempos em tempos. Eis o primeiro:


Bom dia. Bom dia. Hoje eu *nnhhhhhhhhhiiiiiiii*... desculpa, gente, o menino do som não veio hoje, disse que tinha que levar a mãe no médico. Médico que atende domingo de manhã, essa é nova pra mim. Mas tá bom, vamos em frente. Melhorou aí, Nestor? Show, vamos em frente, vamos em frente. Bom dia a todos nessa bela manhã. Tô vendo umas caras conhecidas, bem vindos de volta. Tem umas caras novas também. Não fiquem tímidos, cheguem mais. Todos são bem-vindos aqui. Pode chegar mais, moça, como é o seu nome? Neuza, bem-vinda, Neuza. Nome da minha mãe. O dela era escrito com dáblio, acredita? N-E-W-Z-A. Meu vô achava chique. É. É. Haha. Chega um pouco mais pra frente, gente, senão fica muito perto da rua, é perigoso pra vocês. A essa hora tem cara que saiu da balada, tá mais louco que o Batman, passa aí a milhão e nem vê o que tem pela frente. Mais louco que o Batman. Minha sobrinha me ensinou essa. Chega mais, gente, chega mais. É um prazer ver que cada semana tem mais gente aqui. Sinal de que nosso trabalho tá chegando em mais pessoas. Prazer ter vocês aqui. O que eu queria falar com vocês hoje é… é de fome. Vocês já sentiram fome? Já? É, mas não é dessa fome que eu tô falando não, gente. Eu tô falando de fome de vencer. De conquistar. De garra. Sabe? Ambição, tem gente que chama assim. Quem aqui tem fome? Tem ambição? Quem acorda todo dia com um propósito, com aquela coisa de "hoje é o meu dia"? Pois é. O sol tá na minha cara, não tô enxergando muito bem, mas tô vendo umas mãos levantadas. Bom. Sabe o que a gente faz quando a gente tem essa fome? Quem aqui sabe? O rapaz ali no fundo parece que quer falar. É o que? Lutar? Tem que lutar? Ah, entendi. Gente, é o seguinte: não tem que lutar não. Não tem que ter ambição. Tem gente que fala "Nelson, você é louco. Como você fala essas coisas?". Eu falo. A ambição é a mãe do fracasso. Tem uma pessoa aqui, a Narinha, cadê Narinha? Ali ó, levanta a mão pro pessoal te conhecer, Narinha. Narinha chegou pra mim na semana passada, depois do nosso trabalho aqui, e falou: "eu tô preocupada com meu filho. Ele tá nessa de empreendedor, de startup. Disse que quer fazer um aplicativo pra sei lá o que". Falei: Narinha, isso é normal. O jovem tem dessas fases mesmo. É uma fase, só. Tem que deixar quebrar a cara, deixar se estropiar todo. Se tiver que vender o carro, vende o carro. Se tiver que pegar empréstimo, pega empréstimo. O jovem, ainda mais o jovem no Brasil, que é tudo fudido aqui mesmo, desculpa o palavreado, o jovem se alimenta de sonhos. E sonho não morre com a gente falando. Sonho morre é na paulada. É. É. Haha. É. Depois que tudo der errado, quando ele não tiver mais nada, aí ele vai entender que sonho não bota comida na mesa. O que põe comida na mesa é carteira assinada, ou o pejotinha mesmo, salário fixo. Quando o sonho morre, a alma morre junto. Quando a alma morre, nasce o bom empregado. É o ciclo da vida. Faz o que tem que fazer, não fica com cabeça nas nuvens. O bom trabalhador tem os pés no chão e os dentes no saco do patrão. Desculpa o palavreado. O bom trabalhador desiste quando tem que desistir. Desistir é bom demais, gente. Joga fora aqueles fantasmas, aquele peso. Isso cria câncer, saiu uma pesquisa aí outro dia, lá da Inglaterra. O negócio te corrói por dentro. Isso é angústia, né. Se é pra ter angústia, pega a angústia do patrão, que pelo menos tá te pagando. Ficar angustiado de graça ou se endividando pra isso não dá, né. É. Haha. O sonhador não desiste. O otimista não desiste. Não sabem o que tão perdendo. Tem uma palavra da moda que o pessoal usa agora, "guerreiro". Tudo é guerreiro. Até no futebol você vê lá a torcida cantando "time de guerreiro". Vocês sabem da onde vem a palavra "guerreiro"? Vem de guerra. Vocês sabiam? Você sabia? Menina esperta. O pessoal fala em guerreiro como elogio, mas guerra é bom onde? Vai lá tomar um tiro na cabeça pra que? Defender a pátria. Tem que defender nada não, gente. Não defendo nem minha reputação, vou defender pedaço de terra dos outros. Ainda é melhor isso que fazer aplicativo igual o filho da Narinha, mas pelo menos ninguém usa "startupeiro" como elogio. Imagina só a torcida do Flamengo cantando "time de startupeiro". Haha. Não dá, né. Haha. Às vezes a gente fala as palavras e não entende o que elas significam, e isso é um problema. Palavras tem poder. A guerra, como o sonho, ela tem um objetivo. Quando a pessoa alcança aquele objetivo - quando alcança, né, que é raro - faz o que depois? Acha outro? Faz outra guerra? Outro aplicativo? Fica sempre ali a chinchila correndo na roda? É chinchila que faz isso? Enfim, aquele rato lá. O povo fala mal de rato, fala que rato é o primeiro a abandonar o navio quando tá afundando. E tá errado o rato? Vai fazer o que, ficar lá bebendo água? Haha. Não dá pra ter sonho, gente. Quem quer viver bem acha o prazer na rotina. Todo dia lá. Acorda, manda lá o bom dia no zap, trabalha, almoça, vai embora do trabalho, ouve um rádio, lê um livro, brinca meia hora com o filho, com a filha, assiste TV com o marido, com a esposa, com os maridos, sei lá. Às vezes faz lá um rala-e-rola, mas só de vez em quando, que é pra não ficar muito feliz. O negócio é ter uma vida plana. Não plena! Plana. Pra não acostumar com os picos e não deprimir com os vales. Aceita o tédio. A monotonia. A gente acha que tá no mundo com uma missão, que tem um sentido por trás de tudo. Mentira. A gente tá aqui por azar. Podia ter sido outro espermatozoide, calhou de ser o nosso. O mínimo que a gente faz é honrar os espermatozoides perdedores e não ter uma vida muito melhor do que a que eles tiveram. A gente sabe o que é a derrota. É pra isso que a gente vive. Mas só é derrotado quem luta. Lembra o que a gente falou agora há pouco? Cadê o rapaz que tinha falado isso? Foi embora? Foi embora. Tem gente que não gosta de ouvir, faz parte. Não tem problema. Mas nem tudo é luta. Quando um não quer, dois não brigam, não é esse o ditado? Então a lição de casa pra essa semana, vamos chamar assim, é começar a dar essa nivelada na vida de vocês. Dá um jeito de melhorar o que tá ruim e de cortar o que parece bom. Sem pressa, a gente ainda tem muito tempo pra fazer isso. Expectativa de vida tem aumentado, né, infelizmente. Então vai na boa, porque não é fácil. O importante é começar. Uma ideia, ó, uma ideia, já que a gente falou de desistir: desistam de uma coisa essa semana. Uma só, pra começar. Pode ser daquela carreira tocando Djavan em barzinho, daquele aplicativo, daquela promoção. Assim a gente vai acostumando o corpo e vai evitando o câncer. Tá bom? Obrigado, pessoal, semana que vem a gente tá aqui de novo, se não expulsarem a gente. Um abraço, tchau. *nnnnnnhhhhiiiiiii*

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Retrospecbosta 2017

Duas coisas aproximam-se do fim nesses dias: 2017 e minhas desculpinhas por não escrever aqui. Não escrevi porque não quis, me deixa. Mas agora eu quero, não me deixe! Pra fechar esses últimos meses esquisitíssimos, vamos com uma retrospectiva de assuntos que você não fazia ideia que aconteceram porque, bem, eu não escrevi.

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Eu tenho uma pança. Ela começou a despontar nos idos de 2011, quando meu metabolismo passou a ficar mais coerente com o resto do meu ser e fracassar. Eu sempre quis uma barriga: é sinal de respeito, sinal de maturidade. Não há sinais de maturidade em mim: só bonequinhos de personagens da Nintendo e bolachas recheadas. Com uma barriga eu poderia finalmente me considerar adulto.

Esse ano a barriga alcançou sua forma mais evoluída até então: rotunda, saliente, confiante. Parece aquelas bolas de borracha que a gente brincava quando era criança: redonda e cheia de gás dentro. Um luxo.

Mas o efeito não foi o desejado. As pessoas falam. As pessoas ficam "nossa o que é isso é uma barriga?". As pessoas falam a respeito dela quando eu não estou por perto. As pessoas não aceitam minha pancinha. Tratam-me com chacota por ostentar transbordamento acima da cintura mesmo quando tenho braços finos de espaguete e os ombros mais estreitos que a visão de mundo das pessoas na internet. Pois são uns invejosos!, eu digo. Não sabem apreciar o valor de uma bela barrigota. De um abdômen convexo. De ter uma parte do corpo que pode ser dividida em hemisférios. Eu tenho pena das pessoas!

Embora realmente esteja um pouco difícil escrever isso porque a barriga não me deixa chegar muito perto da mesa e talvez esse tenha sido o real motivo da baixa produtividade do blog, mas faz parte.

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Um dia eu tava na fila e eu era o próximo. Aí uma mulher passou na minha frente. Como se eu não estivesse ali. Como se eu nunca tivesse existido. Como quando você passa e sente um calafrio e as pessoas que acreditam em coisas pensam "senti uma presença" mas tal presença não pode ser vista ou comprovada. É isso que eu me tornei: um fantasma, vagando eternamente pelas filas do mundo até encontrar a fila que finalmente me levará para os portões do inferno.

Mas eu não deixei barato: pus as mãos na cintura e olhei bem feio. Rá! Se ela tivesse visto ia pensar duas vezes antes de furar fila novamente.

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Após um longo hiato dos palcos que absolutamente zero pessoas sentiram, voltei a me apresentar ao vivo com o Volto Logo Joyce. Foi um show muito especial, com um palco montado na rua em um evento voltado à causa animal. Foi no centro de São Paulo e atrás do palco era possível ver o famoso Elevado Presidente João Goulart, antigo Elevado Costa e Silva. Confesso que fiquei muito emocionado porque sempre foi meu sonho tocar com o Minhocão atrás.

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Eu peço desculpas pela última, estou muito triste.

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Tomei uma importante decisão de negócios: convidei minha namorada para viver sob o mesmo teto que eu, estabelecendo uma fusão que aumentou em 100% o número de bonecos de personagens da Nintendo nesse apartamento. Concorrentes entraram na justiça alegando monopólio mas suas intimações pra mim são como baratas: eu gentilmente as conduzo para fora do ambiente.

Além disso estou feliz* e minha barriga aumentou, então 10/10.

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*AVISO LEGAL: a felicidade é uma construção social e as únicas coisas que existem são a tristeza e a dor e somos todos apenas fantasmas vagando por esse mundo procurando a fila certa.

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Meu gato (adotado esse ano, aguarde o post a respeito) resolveu treinar para as próximas olimpíadas usando a TV nova como barreira na modalidade corrida com obstáculos. Ele deu sinais de não estar preparado para concorrer ao errar e fazer a TV SE ESPATIFAR NO CHÃO E DESTRUINDO TODA SUA LINDA TELINHA. Comprei outra e decidi colocá-la num suporte na parede, exercendo assim toda minha perícia com ferramentas para trabalho manual e com conceitos estéticos como alinhamento. Não ficou tão ruim, é só sentar e inclinar a coluna 30 graus pra esquerda que tá tudo certo.

Em nota relacionada, fui tentar trocar o cabo da TV que ficava no quarto (também em um suporte) enquanto segurava o aparelho contra a parede usando apenas uma mão. Por incrível que pareça, eu não proporcionei nem o equilíbrio nem a força adequados e ela foi pro chão.

Pus a culpa no gato.

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Além da saliência abdominal também estou ficando com a barba esbranquiçada, mais um sinal inequívoco de que eu já deveria ter saído da adolescência a essa altura.

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Minha memória, que desde sempre foi meu maior orgulho e, honestamente, a única coisa boa a meu respeito, está se desmanchando como a aprovação de um certo prefeito de uma certa cidade importante do país. Acessar informações no meu cérebro tem sido um exercício difícil e improdutivo, e por muitas vezes já me vi perder meia hora investigando uma tarefa no trabalho só pra descobrir que eu já a tinha feito.

Eu não tenho piadinha espirituosa pra fazer com essa, é só uma merda.

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Meu pai pôs no rack da sala dele uma foto minha e do meu irmão juntos e a diversão dele é mostrar pras pessoas e perguntar quem sou eu e quem é meu irmão. É um jogo muito difícil, eu mesmo só acertei na segunda.

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Tinha um casamento pra ir e decidi honrar a barriga e a barba branca: resolvi aprender a fazer um nó de gravata. Não foi fácil. Muitas tentativas. Muito suor. Muitos socos na parede de frustração. Não, você não vai desistir. Você já desistiu de muitas coisas na sua vida, chega! Você é capaz! Tapa na cara. Cena do Whiplash que o cara pergunta se o batera tá acelerando ou atrasando.

Dia do casamento. São Paulo, 2017. A hora da verdade. A apreensão toma conta de mim. Me preparo mentalmente. Ponho a calça, a camisa, o cinto. Respiro fundo. Mãos trêmulas. Vamos, você consegue! Passa por trás. Uma volta. Passa por dentro. Outra volta. Mais uma. Passa por dentro de novo. Ajusta.

Puta calor, fui sem gravata mesmo.

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Meu contrato de união estável foi redigido por um Youtuber.

Sério.

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Bom, esse foi um resumo do que rolou esse ano. Foi até que bom. Espero que o seu ano tenha sido bom também e que você tenha sido capaz de estocar energia e felicidade porque o ano que vem será uma tempestade de bosta. Boa sorte pra gente, boas festas pra você, desculpa qualquer coisa e obrigado pela audiência.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

10!

Dia 7 de janeiro de 1995 eu fiz 10 anos. Lembro de andar na Lapa, queixo erguido, ombros pra trás, braços balançando, com a confiança de saber que eu era um ADULTO. Eu olhava para os outros adultos, torres se erguendo ao meu redor, e me sentia um deles. Eu já era meio burro na época, né, claro que eu não era adulto. Inclusive estava na Lapa porque meu pai foi comprar os chapeuzinhos de papel pra minha festa de aniversário dos Cavaleiros do Zodíaco (irada). Acho que já contei essa história aqui.

Na verdade, acho que já contei todas as histórias aqui. Porque, assim como eu naquele 7 de janeiro de 95, hoje esse blog anda pela Lapa de queixo erguido, ombros pra trás e braços balançando: sim, hoje o Vida de bosta completa 10 (dez) anos! Nossa senhora.

É estranho imaginar que durou isso tudo porque n'A Grande Era das Opiniões Não Solicitadas blogs são cidades em ruínas visitadas por turistas de férias. É difícil de acreditar, crianças, mas houve um tempo em que as pessoas iam de endereço em endereço na rede mundial de computadores procurando saber a opinião de terceiros. Sim, o masoquismo já era tendência antes de 50 tons de cinza.

Tenho vergonha de absolutamente tudo já escrito nesse blog, e a intensidade da vergonha aumenta de acordo com a idade do post. Entretanto, tá tudo aí: é um registro de quem eu era e de quem eu estava tentando ser. Quando a Grande Calamidade acontecer e tudo que meus filhos tiverem de mim forem as lembranças de eu os oferecendo em sacrifício para as bestas saídas do inferno pra me salvar, eles vão encontrar um dispositivo ancestral chamado "smartphone" e no cache de um negócio chamado "site" da entidade que fez o pacto final com Satanás permitindo assim a abertura dos portais para as trevas vão descobrir o Vida de bosta e saber quem era realmente o pai deles. E isso só vai piorar ainda mais minha já abalada reputação.

Mas, ahn, é isso. Peço desculpas pela escassez de conteúdo novo (achei um post nos rascunhos do meu email e devo publicá-lo em breve, yay). Agradeço pela atenção e pela companhia. 10 anos é tempo pra caralho, e eu sei que tem gente aí que tá lendo faz tempo. Brigadão mesmo.

E, para os que estiverem lendo isso no futuro: sigam na direção das montanhas gêmeas. Procurem numa pedra na maior clareira da maior caverna. Apenas essa espada poderá derrotar Belzegoogle. Papai ama vocês.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Burrice

Parte do meu processo de envelhecimento tem sido gasto procurando ser uma pessoa melhor, mais justa, com mais empatia e menos julgamentos sumários. Esse talvez seja um dos motivos pra esse blog andar tão devagar: imagina que saco ler toda semana um bocó escrevendo "gente, calma, vamos pensar o lado da outra pessoa". Sai daqui, internet é pra apontar dedo na cara.

Um dos julgamentos mais comuns e mais irresistíveis é considerar burro todo mundo que possa pensar ligeiramente diferente de você ou que não tenha um repertório intelectual que o senso comum reputa como sendo próprios da pessoa inteligente. Então esse é um dos esforços maiores que tenho feito nessa minha jornada rumo à nulidade completa, o de entender que existem inteligências diferentes, que esperteza acadêmica não define tudo, que há tantos fatores envolvidos em cada acontecimento que é possível cinco pessoas terem opiniões diferentes e mesmo assim não estarem exatamente erradas. Um ou dois talvez sejam filhos da puta, mas não burros.

Ops, estou julgando de novo. Desculpe.

Mas como todo esforço observado sob a ótica maniqueísta (que está errada, sempre, para com isso), há aquele desafio, aquela pedra no sapato, o inimigo sombrio que quer evitar seus planos a qualquer custo. E, quanto mais eu tento avaliar outras perspectivas, descobrir os pontos fortes em que a pessoa brilha e demonstra inteligência especial, tem uma pessoa que derruba minha teoria toda vez. Minha teoria de que ninguém é burro, você que não viu direito. Tem um sujeito, vamos preservar o nome dele por ora, que continua me desafiando. Que fica chutando todas as minhas análises, que toda vez que eu consigo finalmente resolver um grande quebra-cabeça lógico e retórico ele dá um tapão, derruba no chão e grita na minha cara "VAI DIZER QUE EU NÃO SOU BURRO AGORA?"

Sim, tem sido cada vez mais difícil não achar que eu sou um palerma completo. Talvez porque eu me conheça melhor do que conheço a qualquer outra pessoa. Veja: a ignorância me faz achar que as pessoas são inteligentes, o conhecimento me faz achar que eu sou burro. Se isso não é poesia, é o que? Não é poesia mesmo, só quero saber o que é.

"Ah, mas você é inteligente". Obrigado, mãe. Eu às vezes gosto de pensar que sou mesmo, mas estou aqui travando uma queda de braço entre minhas querências inocentes e os fatos duros. Eu sei que estou na internet e na internet os fatos não tem importância, mas ao mesmo tempo eu nunca ganho uma queda de braço, então é meio como a história do gato com o pão com manteiga.

Mas apesar de eu ter dito que fatos não importam, vamos a eles. Listo a seguir alguns acontecimentos recentes ou relativamente recentes. Julguem por vocês mesmos (concordem comigo): eu fiquei calculando a velocidade da esteira de bagagem no aeroporto pra andar por ela no sentido oposto até alcançar minha mala que caiu do outro lado (ao invés de só esticar a perna e passar por cima); cogitei VIRAR MEU ASPIRADOR DE PÓ EM CIMA DA LIXEIRA ao invés de só tirar o saco com a sujeira de dentro; subi 18 andares de escada para o escritório pois o prédio estava sem luz, de modo que não havia o que fazer no diabo do escritório; fiz uma trilha montanha acima sob o sol do meio dia sendo que havia setas apontando no sentido contrário e um trenzinho que levava para o alto da montanha; não passei protetor solar enquanto fazia a trilha da montanha sob o sol do meio dia; cortei cenouras fazendo o movimento da faca em direção à minha cara; desisti de esperar o metrô que demorou cinco minutos depois de já ter pago passagem, saí da estação e fui caminhando para o trabalho pra chegar muito atrasado e suando feito um filho da puta (diversas ocorrências); comprei uma guitarra em promoção pra vender pelo preço normal, não vendi, ela estragou; paguei mais caro por um produto pelo qual eu havia pedido desconto; deixei a cachorrinha com diarreia deitar nas minhas roupas; sério, lê a última de novo; fiz minha tia que queria um sorvete de banana comprar um frozen banana, afinal, por que isso não seria um sorvete de banana? (não era); fiquei uma hora na fila errada no aeroporto e só não perdi o voo porque atrasou; fiz faculdade de publicidade; comprei um tênis de presente pra namorada achando que combinaria perfeitamente, pra só depois que cheguei em casa lembrar que ela tinha um igual; derrubei uma tupperware cheia de gordura por toda a cozinha porque decidi segurar ela só pela tampa - que era uma tampa de panela; tentei desmontar um chuveiro me posicionando exatamente embaixo dele e sem desligar o registro; comprei camisetas femininas achando que eram masculinas, não sem ter resmungado mentalmente que estão fazendo camisetas cada vez mais apertadas hoje em dia; falei "parabéns" pra uma colega que foi se despedir após ter sido demitida; coloco o pé quando vou puxar a porta pra ela não abrir com força, mas ela bate no meu pé e pof na minha cara (diversas ocorrências); quando requisitado (obrigado) a dar um depoimento para as câmeras que serviriam a um vídeo institucional da empresa, contei uma piada sobre masturbação.

Todos fazem burradas. Todos tem pontos fortes. Faz parte do balanço universal, o grande equilíbrio que não nos permite despencar. Mas e quando não há esse equilíbrio, quando você é inteligente às vezes e burro quase o tempo todo? Quer dizer que você é burro mesmo, tem jeito não, e minha teoria tá errada. O que não tem problema porque eu sou burro e você já viu teorias propostas por pessoas burras? Eu também não, porque ninguém é burro, tem que ver o lado da outra pessoa. Ou sim? Não sei mais, tô confuso, vou parar com isso.

Alguém quer comprar uma guitarra?

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Emperdedorismo 2.0: como fracassar no Vale do Suplício

Quem quer que tenha nos criado, pessoinhas pensantes numa rocha espacial, cometeu um erro de projeto meio grave, se é que posso assim ter a ousadia de criticar tamanha magnificência. O problema é, vê, que somos seres semanticamente orientados: nos foi dado o dom de ver significado nas coisas. Nenhum outro ser vivo no planeta Terra possui semelhante talento. Onde está o erro de projeto: podemos ver significado nas coisas, mas nas coisas não há, sinto muito, significado nenhum.

Qual o sentido da vida? Por que nós? Pelo que lutamos? Bem, por nada. Nada faz sentido. Nada quer dizer nada. É só caos e colisão de moléculas. E isso cria um certo problema, um problema crônico próprio da nossa espécie, assim como é próprio do poodle ter otite: há o nosso corpo, e nele há a nossa alma, e nela há um imenso vazio.

Sim, um buracão, como se uma bala de canhão nos tivesse transpassado e deixado um buraco que nunca se fecha. E assim vivemos, em dor, em agonia, procurando respostas que nunca virão. Isso não é evitável, não senhor. Mas também somos uma espécie adaptável, e é desse poder maravilhoso que vem nosso combustível pra nos impulsionar permanentemente até o momento da única certeza, da única verdade, você sabe qual é.

Mas vamos deixar isso um pouco mais positivo. Hoje eu não quero lamentar, não quero depreciar, hoje eu quero ajudar! E é com esse propósito totalmente altruísta e demonstrativo da grande nobreza de caráter que me pertence que eu resolvi investir naquela que eu considero a próxima grande onda, aquela que virá depois que essa onda atual nos der um caldo e levar todos os nossos sonhos para o fundo do mar: estou falando de Emperdedorismo, que é a qualidade de todo aquele que não é só um fracassado, um bosta, um pobre diabo que não faz nada que preste, um inútil, um imbecil, um traste, um erro filha da puta, mas também uma pessoa que quer aprender a evoluir e a aprimorar sua própria fracassabilidade. Esqueça promessas de glória, frases edificantes e planos de felicidade: o importante é abraçar a sua própria miséria.

Hoje, pra começarmos de maneira mais leve, quero apresentar algumas formas de nos ajudar a lidar temporariamente com aquele grande vazio de que eu falei alguns parágrafos acima. A palavra chave aqui é "temporariamente", pois lembre-se: não existe sucesso, existe apenas o adiamento da derrota.

[apagar depois: traduzir as palavras-chaves pro inglês porque vai ficar loko d+]


Animais de estimação

Sim! Uma das maneiras mais eficientes de preencher aquele vaziozão no peito é com afeto, amor incondicional e controle absoluto sobre a vida de outrem. E animais são demais: eles são... tão fofos. Eles brincam com você, eles te dão carinho, eles te fazem companhia, eles cagam no seu travesseiro. Não é também um mar de rosas, né. Mas animais são irados e se você não concorda talvez seu problema seja outro. Talvez você apenas seja uma pessoa horrível. Desculpe. Falei.

Lááááá no fundo, porém, a posse de um animal cumpre uma outra tarefa ainda mais importante, embora seja uma que não ousamos admitir, que não ousamos sequer pensar: eles são, basicamente, ferramentas que nós mantemos com o único propósito de nos entregar amor e devoção totais. Calma! Não atire pedras ainda. É um pensamento perfeitamente normal e inclusive é a base de praticamente todas as civilizações já descobertas. Pense nos deuses e demais autoridades místicas (ou, paralelamente, no seu próprio chefe no trabalho) que exigem sacrifícios, ritos, ou orações: eles só nos colocaram aqui pra gente puxar o saco deles. A verdade é aquela: manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Mas então, animais. Tão bonitinho os animal.


Escapismo

Se o mundo é assim mesmo e nele só o que nos espera é sofrimento e Zubats, por que não viver em outro mundo? Tem tantos mundos por aí. Cada livro tem uns montes. Cada jogo tem mais outros tantos (alguns jogos também tem Zubats, é verdade). Cada filme, cada série, cada álbum (os jovens ainda ouvem álbuns ou só playlists?), cada pano pra costurar, cada relatório pra redigir, cada pisada firme no acelerador (respeite o limite de velocidade), cada gota amarga de uma cerveja vagabunda, cada picadinha ardida de uma agulha bem intencionada, cada rolagem de dado, cada abraço apertado em quem você ama, cada verso desafinado no karaokê, cada colada de zap na testa do caboclo ao lado, cada série de 15 repetições, cada compra por impulso num produto sem nota fiscal. Mentira, evite o consumismo, consumismo é para a nossa alma o que é um peido de vaca pra camada de ozônio.

Esqueça o mundo por um instante. Deixe-se alienar. Eu era um adolescente nerd, covarde e sem perspectiva de crescimento pessoal. Passava os dias desenhando universos paralelos onde só vivíamos eu e minhas criaturas. E você viu no que deu? Exato, um ADULTO nerd, covarde e sem perspectiva de crescimento pessoal.

Com os índices de criminalidade nesse país isso é algo pra se comemorar, sim.


Se achar inteligentão

Perceba que eu escrevi "se achar" e não "ser". A inteligência é ao mesmo tempo muito parecida e completamente diferente da beleza. É parecida porque é uma qualidade rara, presente nuns poucos abençoados. E é diferente porque ao menos em geral as pessoas sabem que não são bonitas.

Sim, você é feio. E burro. Toca aqui.

Não tem problema. Falta de inteligência nunca inibiu alguns dos maiores palermas do universo de destilar teorias, confeccionar textões, juntar dois fatos irrefutáveis e transformar num pensamento que só poderia ter sido produzido por um fungo. Eu conheço um site cheio deles. É do ser humano querer ser melhor que os outros, de acordo com qualquer critério arbitrário que seja mais conveniente para o orador. Nem todo mundo pode ser mais bonito, ou mais forte, ou melhor atleta, ou melhor músico, ou sei lá o que. Mas todo mundo pode PARECER inteligente, e nem é difícil. É só treinar uma cara no espelho, ofender quem tem opinião diferente da sua, ser obcecadamente impermeável aos fatos que te contradigam e plim!, você sente seu ego se expandindo, sua auto-estima florescendo, talvez o bastante pra cobrir um pouco aquele vão.


Ser ignorante

Ué! Mas isso não é o oposto do tópico anterior?

De certa forma, sim. E a boa notícia é que esse é, de longe, o método mais eficiente. Olhe ao seu redor. Veja quantas pessoas vivem suas vidas obstinadamente, com extrema dedicação, sem nunca fazer a rodinha da chinchila parar de rodar. Quem disse que a vida não tem significado? Tem sim, eu li num lugar ali. Quem disse que eu não vou ter sucesso? Se eu quero, eu posso e consigo! Desistir jamais!!!!!!!!exclamação

Essa pessoa não faz ideia. PSIU, NÃO CONTA! Deixa. É melhor assim. Olha como ela sorri. Olha o instagram dela, tem aqueles emoji da mãozinha dando um soco. Isso é maravilhoso. Deixa.

Já pra você que está lendo isso eu tenho que trazer a má notícia: pra você já era. Você sabe demais. Esses olhos caídos e sobrancelhas arqueadas trazem muita sabedoria. Agora é tarde. E, se você começou esse texto sem saber, ops. Desculpa.

Mas já que está aqui, deixa eu te falar sobre o próximo módulo do meu curso de Emperdedorismo, é sobre um negócio que...

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Pokémon

Quando o desenho do Pokémon estreou na Record, chuto que lá por 1999, eu estava naquela idade nebulosa em que seus braços são as cordas de um cabo de guerra entre a realidade e a ficção. A ficção: com 14 anos eu já sou um homem, já tenho um vistoso bigode, já praticamente tenho voz de radialista, já tive meu coração partido em tantos pedaços quanto há Pokémons na última geração. A realidade: se eu ainda sou criança aos 31, imagina aos 14.

Então entre o meu verdadeiro desejo de assistir a todos os episódios jogar todos os jogos ler todas as revistas e a minha ficcional persona neo-adulta que tem coisas mais importantes pra se preocupar como as políticas de privatização do governo FHC e a topologia da minha pele, eu vivia uma vida secreta e sombria, só conhecida por aqueles que eram sanguineamente obrigados a gostar de mim. Foi nessa época que eu aprendi a minha primeira linguagem de programação (programar o videocassete pra gravar os episódios), desenvolvi técnicas avançadas de memorização (pedra tem vantagem contra inseto, Shellder só evolui pra Cloyster usando a water stone) e aprendi a fazer planejamento e gerenciamento de recursos em situações de vida ou morte (a pilha dura 8 horas, já estou jogando desde as 11, preciso parar em 15 minutos, dá tempo de mais uma luta e uma captura caso eu gaste até 3 pokébolas - mais do que isso é muito arriscado). Essa vida subterrânea me transformou num cientista, mas todos esses conhecimentos precisariam ser redirecionados para outras atividades ou eu acabaria morrendo com habilidades que não serviam de nada e sobre as quais eu não me atrevia a falar.

Até que…

Pokémon nunca deixou de ser um sucesso absurdo e continuei jogando esses anos todos (podemos tirar, se achar melhor), mas recentemente algo aconteceu - ou reaconteceu: Pokémon voltou a ser motor dessa nave chamada zeitgeist. Pokémon GO está aí e não há quem não tenha ouvido falar. Minha mãe mandou mensagem perguntando quantos eu tinha capturado. O diretor da empresa veio mostrar áudio do whatsapp do cara falando que na época dele ele saía na rua “pra caçar droga pra dar pra puta”, não Pokémon. Até a CIA está envolvida, aparentemente, nos espionando. E é nessa era de loucura e empolgação, mas de muita incerteza, que se faz necessária a figura daquele que sabe o motivo das coisas, que sabe que um Dratini é raro e um Pidgey não, que sabe diferenciar as silhuetas do Tangela e do Venonat, que sabe que o “ovo podre” se chama Exeggcute e que o nome é Jynx, não “bruxa da neve”. Sim, o mundo deu tantas voltas que finalmente chegou na estação onde eu esperava, com minha Nintendo World debaixo do braço, já cansado e envelhecido, para embarcar. Agora meus conhecimentos servem. Agora minha imaturidade tem utilidade.

Por outro lado, o jogo em si eu não jogo mais. Eu tentei: peguei os Zubats, saí na rua em buscas incansáveis, joguei pedras em outros seres humanos que também jogavam e tentavam uma interação (que nojo). Mas meu celular, coitado, não dá conta. Ele tenta e tenta, mas eventualmente desistiu, como que dizendo que está velho demais para Pokémon. Acho que foi uma indireta. Mas não me abalo: posso ajudar o mundo de outras formas, e antes de virar apenas mais um bug catcher, mais digno e irado é ser um Professor Carvalho, uma voz de experiência e sabedoria, uma bússola que guia os jovens aventureiros. Sim. Sim.



Você: “Mas, professor?”
Eu: “Sim?”
Você: “Não é mais fácil eu usar a internet ao invés de confiar na memória de um mongão?”
Eu: “…”
Você: “…”

Vocês jovens não respeitam mais nada, tá louco.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Retrospecbosta 2015

2015 foi um bom ano, e talvez por isso esse blog tenha ficado às moscas. Me condicionei a escrever só sobre as bosta, e, embora isso estabeleça uma dependência, era como chutar pro gol vazio: sempre tá uma bosta, então sempre haverá sobre o que escrever.

Pois que as coisas mudaram. Não porque não tem tanta bosta (sempre tem, né), mas porque eu não estou mais afim de escrever sobre isso. Sinceramente, hoje eu sequer tenho vontade de me expressar, essa urgência maluca de por pra fora minhas opiniões, meus sentimentos, minhas impressões. Não tô nem aí pra isso mais. E é saudável, é gostoso, você deveria experimentar também (principalmente você que eu arranquei do meu feed no facebook porque que saco, para de dar opinião sobre tudo, ninguém te perguntou).

Mas, para que quem gosta desse blog do jeito como ele é tenha ao menos uma retrospectiva do meu ano, fiz uma em forma de listas categorizadas. Tem tópicos, subtópicos, parágrafos, incisos, vou parar porque eu não sei bem o que significam essas coisas. Coisa sucinta, pá pum, toco y me voy.

Viagens
  • Muitas viagens;
  • Foi legal;
  • Muitos pombos em Buenos Aires. Não coma na calçada;
  • Sério, eles vem e pá;
  • “Pá” pode ser “roubam sua comida” ou “cagam na sua comida”;
  • A Califórnia é grande, longe, e não faz esse calor que dizem que faz;
  • Um cara tentou me vender maconha na frente do McDonalds. Me parece que essa associação só gera lucro pro McDonalds;
  • Um guaxinim invadiu a sacada do meu quarto de hotel, no terceiro andar;
  • Ele era fofo, mas como eu nunca vi um troço desse na vida, não havia hospital num raio de 50km e eu não sei falar “anti-rábica” em inglês, preferi pedir que ele se retirasse, de uma maneira contida e serena, sem escândalos;
  • Foi sim, tá;
  • POIS PROVE! PROVE, QUERO VER!
  • Uma mulher pediu pra eu descer do ônibus só porque eu sou marronzinho;
  • Ou porque eu estava com uma camiseta do Breaking Bad e ela gosta de Game of Thrones;
  • Tudo tem pimenta nesse carai;
  • Monte Verde, em Minas Gerais, é uma vila singela, aconchegante, romântica, muito romântica;
  • Tem bosta de cavalo por todo lado, meu deus do céu;
  • Tem que ver a alimentação desses bichos, não é possível um negócio desse.

Moradia
  • Mudei-me duas vezes durante o ano;
  • Na primeira, ao mover a estante para desmontar, enfrentei uma megalópole de baratas e as exterminei como se fosse c e r t a s entidades genocidas em Sodoma e Gomorra. Algumas foram atingidas por inseticidas mortais e arrastaram seus cadáveres condenados para as pilhas de caixas;
  • Desmontar móvel, montar móvel, por livro na caixa (mil quilos), carregar coisa, muito trabalho físico pra uma pessoa da minha constituição;
  • Achei uma barata morta;
  • A primeira casa era grande, bonita, legal. Muitos armários, muitos quartos;
  • Achei outra barata;
  • Meses depois foi um apartamento. Agora estamos sós, meus instrumentos e eu, no quarto andar de um empilhamento de pequenas tragédias;
  • Morar sozinho dá muito trabalho, sempre tem louça pra lavar, tem pó pra varrer, tem roupa pra passar, tem… achei mais uma barata;
  • Tem duas cervejas na minha geladeira e eu não bebo, venha me visitar.

Animais
  • Aos quatro cachorros somaram-se um gato, depois outra gata. Depois, na casa nova, um gato qualquer se somou à gata, o que não faz sentido porque no final os gatos se multiplicaram;
  • Mais uma barata, mas essa não foi culpa minha;
  • Um passarinho! Olha como ele é belo. Vem, passarinho, que lindo você é;
  • O passarinho morreu;
  • Falei também da pogona, dragão barbudo, largato? Tem um também. Ou uma. Não sei;
  • Uma tartaruga! Oi, tartaruga!;
  • Tartaruga?;
  • Não tenho nenhum bicho comigo no apartamento. Meu coração não aguenta mais.

Futebol
  • Próximo tópico.

Música
  • A banda não ensaia desde abril, então tá devagar o negócio;
  • Estou aprendendo a tocar piano, porque sou esnobe;
  • Só vi um show internacional durante o ano inteiro, mas um show do Faith no More vale mais que mil palavras;
  • Não era esse o ditado.

O Brasil, o mundo
  • Ah, tá complicado, né? Tá complicado;
  • E as escolas, hein? Professores, alunos… tá complicado;
  • E a crise? A crise tá complicada;
  • Crise migratória é um negócio complicado, os refugiados correndo pelas suas vidas, e esse Estado Islâmico aí…;
  • Sim, é complicado;
  • Lá perto de casa tem uma ciclovia. Ciclofaixa. Não sei. Complicado;
  • A ameaça comunista aparentemente voltou. Ou é paranoia? Hein?;
  • É…

Concluindo
Foi legal. Tô vivo. Tô empregado. Joguei Undertale. Fui bem acompanhado. Gastei dinheiro demais. É bom também.

Pro ano que vem eu não prometo nada. Nem você deveria, pare de se enganar. Seja feliz. Ou seja triste. Mas sinta alguma coisa. E até 2016, se isso significar algo. Não sei. É complicado.