terça-feira, 24 de novembro de 2009

Se você é jovem ainda, amanhã velho será

Todo mundo já deve ter passado por isso: você é criança, suja e babona, e imagina como sua cabeça será completamente diferente quando for adulto. Repare: não a vida, a cabeça. Você acha que não vai continuar gostando das mesmas coisas, querendo as mesmas coisas, agindo da mesma forma. Aí você cresce e continua gostando das mesmas coisas, querendo as mesmas coisas e agindo da mesma forma. E continua sujo e babão.

As coisas que te fazem sentir-se adulto estão nos detalhes. Não tem nada a ver com responsabilidade, com ganhar dinheiro, com essa baboseira toda. Isso é tão natural no fluxo da vida que quase não dá pra sentir. Ao menos pra mim, o que me fez perceber que eu estava crescendo foram detalhes tão pequenos, tão bobos, que estiveram perigosamente perto de passar despercebidos.

O primeiro deles é sentar no banco da frente do carro. No banco do passageiro, não do motorista, porque dirigir é uma profissão, é algo que você exerce de maneira quase forçada. Ser o passageiro do banco da frente exige uma coisa que autoescola não resolve: exige reputação. Durante toda minha vida, era meu pai dirigindo, minha mãe ao lado, meu irmão e eu atrás. Um dia, minha mãe foi para o banco de trás e, quando vi, o da frente estava vago. Anos depois, entendi o que isso queria dizer: que eu estava quase no topo da pirâmide da hierarquia familiar. Quase no topo porque estar efetivamente no topo te deixa poucas opções confortáveis de lugar pra sentar, if you know what I mean.

Dar presente é outra coisa. Eu não sei vocês, mas eu nunca ganhei mesada e trabalhei ganhando um salário de fome durante muito tempo. E também nunca ganhei muitos presentes, o que não ajudou a criar essa cultura. Dar presente é algo que transcende a relação comercial, o lance de chegar na loja e comprar algo pura e simplesmente, porque é uma maneira de você dizer que gosta de uma pessoa de verdade. De verdade porque, vamos lá, beijos e abraços e palavras são legais, mas não servem pra bosta nenhuma. O importante é ter algo pra ostentar ou usar. E aí está o desafio: precisa ser algo que a pessoa goste e queira usufruir. No fim de tudo, além da declaração de afeto, vem o mais importante: a necessária reciprocidade. A deu um presente pra B, então B se sente na obrigação de retribuir A, e daí A está, temporariamente, no comando da relação. Ser adulto é, acima de tudo, ser filho da puta e saber manipular pessoas.

O terceiro fator são as dívidas calculadas. Não a que você faz por não ter escolha, a que você faz por ser zoiudo. Exemplo: eu tenho um débito com a Caixa Econômica Federal, que financiou minha faculdade, até 2014. Isso não faz eu me sentir mais velho. Mas no último fim de semana, quando paguei as duas prestações restantes do carnê do Ponto Frio, senti como se me arrancassem 15 anos das costas. Porque ser responsável não significa não ser irresponsável: eu PRECISAVA de um monitor de 22 polegadas e não tinha um centavo, então fiz um crediário e paguei três vezes mais do que ele vale. Irresponsável e burro, como deve ser um adulto.

Como você pode ver, é preciso estar atento às sutilezas da vida pra não se deixar enganar pela pilha de jogos de video game e DVDs de desenhos animados que ficam jogados pelo quarto. Porque adulto e criança é tudo igual, só muda a casquinha.

(e a necessidade de foder, mas isso estragaria a doçura do texto)

5 comentários:

Edu Melo disse...

Ficou ótimo o novo visual do blog...
...
Aliás, todos esses detalhes que vc acha que te fazem mais adultos são todos impressão sua. Vc está ficando cada dia mais ifantilóide e babão.

Abraços.

Big Rena disse...

1. Acho que quando eu tinha 10 anos era muito mais maduro que com 25.

2. E dar presente DE CASAMENTO então? Se você dá o faqueiro Guinsu Knives, pega 1 ano de prestação. Se opta pelo espremedor de laranja é muquirana!

3. Muito bom mesmo o novo lay do blog. Um pouco bambi esses tons pastéis, mas dá pra entender.

Marina disse...

Era o que eu ia citar: presentes de casamento. Aliás, antes disso, convites de casamento. Antigamente só chegava convite no nome do seu pai e família; agora chega no seu nome e você ainda tem que ir comprar o presente. Agora você também pode ser padrinho/madrinha (e o presente tem que ser mais caro).

Thiago Padula disse...

Putz, nunca recebi convite de casamento. Agora me sinto um juvenil perto de vocês.

Suzana disse...

Adorei a cara nova do blog, fiquei morrendo de inveja por ainda usar o default do blogspot. Não quero falar sobre velhice e maturidade.