domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ruradélica

Eu nunca achei que a cidade grande fosse um bom lugar pra mim. Toda essa sujeira, essas pessoas apressadas, esse ritmo esquisito, esse trânsito caótico, essa merda toda. Imaginava que o campo e seu ar limpinho e seus matos verdinhos e suas vaquinhas malhadinhas fossem um ambiente mais adequado à minha personalidade pacata. Mas eu estava errado. Oh, deus, como eu estava errado.

Nesse final de semana fui pra chácara de um amigo ajudar a dar um trato nela pra deixá-la no jeito pra putaria e o despudor pro carnaval. Saí da capital paulista com uma mochila nas costas imaginando que ia chegar lá, cortar o mato (com um cortador de grama) e pronto. Estava enganado. Até teve o corte da grama, mas com uma foice - e essa foi a coisa mais sussa. Porque de pintar parede e janela, limpar piscina, carregar saco de cimento, lavar as casas, preparar fiação pra refletor, alimentar os patos, ser acordado pelo galo (esse filho da puta), arrastar duas árvores no braço e travar mortais batalhas com as aranhas, cada minuto do fim de semana foi um tapa na cara, como se deus fosse um caipira de chapéu de palha e garrucha, rindo da minha cara lá de cima.

Olha, não dá. Cidade grande, I love you. Aqui eu não ganho doze cicatrizes por dia, não fico sujo feito um porco rolando na lama e não tenho que lutar contra bestas mutantes disfarçadas de aranhas. Estou moído, sangrando e muito mais macho, mas não troco mais minha vida e minha profissão de mulherzinha por nada.

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