Quando ele e seus talentosos companheiros entraram no palco e começaram a tocar, deu logo pra ver que era Rainy Day Women #12 & 35. As linhas vocais e a letra já não eram a mesma coisa daquela música de 1965, mas esse é um cenário comum e ao qual você tem que se acostumar: ele agora é assim, ponto.
Depois, quando começaram a tocar Lay, Lady, Lay, eu cantei Knockin' on Heavens Door. Erro crasso, minha culpa, eu assumo. E erro feliz, prefiro a canção da senhorita.
E o show foi seguindo, e eu consegui acertar pelo menos as músicas recentes. E nessa levada de acertos das novidades, comecei Highway 61 Revisited cantando Someday Babe. Eu cantava "I don't care what you do" e ele mandava "God said to Abraham 'kill me a son'". Quase a mesma coisa.
Outro erro feliz, Highway 61 é incomparavelmente melhor, e talvez tenha sido o ápice da noite, se não considerarmos a própria noite como sendo o ápice.
Quando, já no final, eles começaram a tocar Like a Rolling Stone, pensei em mandar um 'woooo hoooo', mas então reparei que ninguém mais se empolgou e me controlei - meu retrospecto no 'maestro-uma-nota' estava sendo pífio até então. Mas porra!, era Like a Rolling Stone mesmo, e os bastardos começaram a gritar atrasados. Todos de pé, todos cantando o refrão - que foi hilário, por motivos que você, desafortunado que não estava lá, não merece saber.
Aí ele saiu pro bis, e voltou com Thunder on the Mountain. Essa era fácil, também das novas, e outro ponto alto da noite. Pessoas dançavam em cima das cadeiras - se fosse um show do Vinny, o termo "mexendo as cadeiras" caberia bem -, uma louca subiu no palco e agarrou o véio numa violência que eu achei que ele fosse partir ao meio. Mas aparentemente ele gostou, como testemunham alguns jornalistas por aí (eu juro que não consegui entender o que ele fala). E então, na última música, o bróder do violão bateu um ré.
Um ré. Tudo silenciou-se. Aquele ré dizia tudo, era Blowin' in the Wind, só podia ser. Uma melodia esquisita se seguiu, e então ele se esgueirou ao microfone e cantou "how many roads must a man walk down...". Público ao delírio, e ponto pra mim. No final, um empate justo.
Tem esses bastardos que reclamam que a voz dele está zoada, rouca, desafinada, esquisita, e que as traduções contemporâneas não fazem jus aos clássicos. Pode ser. Mas, confesso, eu não sou santo. Já cometi meus pecados nessa vida, você cometeu também. E, como pecador, eu não sou digno de ouvir as versões originais sendo reproduzidas no palco. O espetáculo de ontem foi um momento de intervenção divina, quando Bob Dylan desceu ao nível dos mortais e espalhou versões coerentes de suas canções num show perfeito. O show que você não viu porque não quis pagar o dízimo. Talvez absurdo, sim, mas como seria minha vida se eu tivesse perdido isso?
sexta-feira, 7 de março de 2008
Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me
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2 comentários:
Meu Deus!!! Vc foi!!!Meu Deus!!!Neste dia foi o meu niver...mas não ouvi Bob Dylan!!Só mesmo um chopp aqui na esquina!kkkk...Padu...vamos marcar de nos ver por aqui, né?rsrs, tá loco!!!Desculpe o sumiço, mas esta capital é f...!rsrsrs...Vamos nos ver!Beijooo! Marceli
Olha só. Padula caro amigo, acredito que vc agora seja uma pessoa melhor, mais completa. Uncle Bob always kick ass!
Blowin' in the wind foi a primeira música que aprendi ao violão, olha a importância disso.
Só é inadmissível vc citar Viny num post sobre Bob. Isso ficará pra sempre cravado nos anais da comunicação virtual.
Heresia imperdoável.
De qualquer forma, parabéns!! e faz uma lista aí dos shows que faltam vc ver antes de bater as botas. Esse, certamente, é menos um.
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