Há males que vem para o bem, dita o dizido diz o ditado. Se considerarmos que o maior bem da vida adulta nesses dias de hoje é o tempo, então pode-se dizer que minha calvície me põe na regra que começa o post: os cortes de cabelo tem sido cada vez mais rápidos (o último, juro, durou cinco minutos), o que me deixa com tempo de sobra pra várias outras coisas, como... como me entregar às lágrimas em frente ao espelho enquanto contemplo o avanço do meu couro não cabeludo.
Não sei o quanto você, sofrido leitor, se identifica com a minha situação, mas é mais ou menos como a morte, com a fantástica vantagem de, bem, não ser a morte: você sabe que vai acontecer, só torce pra que demore. Digo, talvez não aconteça com você, mas na minha família todo mundo foi abatido por esse mal terrível: as únicas lembranças que eu tenho do meu pai cabeludo são por fotografias, e meu irmão - que é mais novo que eu - já raspa a cabeça há mais de um ano e meio. Eu vejo as fotos da minha juventude e lá estão aquelas entradas, pequenas rachaduras na parede de uma catedral bonita e cheia de vida, que um dia iriam crescer e derrubar aquela merda toda.
(Momento histórico: acabei de me elogiar no parágrafo anterior. Deve ser a primeira vez na história desse blog)
Mas aí sempre tem quem não sabe aceitar esse destino, e quer por que quer se manter cabeludo mesmo depois que o anjo do cabelo chamou na beirada da quadra e fez o sinal da substituição. Usam creme, passam babosa, compram peruca, fazem transplante. Pra manter a analogia com a morte, esses são como zumbis, gente que se recusa a dizer adeus e ser comido pelas minhocas. E, meu amigo, não venha me dizer que é legal ser zumbi. Não é. Zumbis são feios, não sabem andar direito, só querem comer o seu cérebro. Mas eles são melhores em um ponto: estrelam metade dos jogos de videogame lançados no mundo. Eu nunca vi um que tenha um personagem que fez transplante capilar.
Eu posso ser otimista e acreditar que se a natureza me permitiu demitir a capa peluda que habitava o topo da minha cabeça é porque eu provavelmente não preciso. It's the evolution, babe. Mas sei lá, aquecimento global, efeito estufa, cocô de pombo, tudo isso me faz pensar que a natureza tá na verdade tirando com a minha cara.
Não a culpo. Tem cara de paga-lanche, tem mais é que se foder.
sábado, 5 de junho de 2010
You're bald!
Postado por Thiago Padula às 20:29
Marcadores: I hate myself and I wanna die, Morte
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