domingo, 8 de julho de 2007

Demônica de grupo

Agora que deixei essa vida de desempregado fedorento para trás, fico ponderando sobre o quão irracionais são os processos de seleção de funcionários.

Todo chefe quer no seu moquifo um robô programado para saber sobre tudo o que acontece no mundo e em seu mercado particular, que seja obediente e manso, e que aceite trabalhar por migalha. Até aí, tudo bem, querer não faz mal a ninguém. O caso é que esse tipo de utopia é realmente levada a sério, e cada vez mais a população economicamente ativa (a.k.a. pobres infelizes) desse planeta precisa estar a par de mais e mais coisas pra ver sua vida ser desperdiçada atrás de uma mesa com duas gavetas pra receber por isso uma quantia irrisória.

Sério, pensa bem: o trabalho não é um dos deveres de uma pessoa, tipo jogar o lixo na rua e ser educado com o próximo. O trabalho é parte do ciclo vital: você nasce, cresce, trabalha e morre. Sendo assim, o salário que você ganha paga o tempo que você está perdendo da sua vida?

Mas voltando ao processo de seleção. Imaginemos que música fosse uma profissão de escritório, em que você passa por entrevista e tudo o mais. Em tempos passados, Bob Dylan foi considerado o pior cantor do mundo. E não é gracinha, ouça ele cantando e concorde. Só que, a despeito da sua voz de pato, ele é um puta compositor, talvez - veja a ironia - o maior letrista do mundo.

Numa entrevista, se ele estivesse competindo com Jon Bon Jovi, por exemplo, que canta relativamente bem e faz letras mais-ou-menos, provavelmente o bonitão ia levar, pois faz as duas coisas. Mas, olhando friamente, trocar o Bob Dylan pelo Jon Bon Jovi deveria ser crime previsto em lei.

E tem aqueles testes psicológicos, em que você risca pauzinhos, escolhe qual triângulo completa o quadrado e diz qual animal você seria, se não fosse um verme. Eu nunca entendi como isso pode dizer quanto uma pessoa é eficiente no serviço. Tartarugas não carregam caixas, leões não sobem em motos, elefantes não sabem usar um mouse!

A sociedade é muito segregadora, e desempregados são sua casta mais baixa. Todo mundo gosta de ver um coitado se humilhando pra conseguir tirar 600 reais por mês sem convênio médico. Tá legal, faça da sua sala de reuniões um circo, mas depois não vá reclamar que a mulher barbada não passou o fax de manhã. A culpa é sua.

2 comentários:

bb disse...

Concordo. Uma vez numa redação pra seleção eu escrevi sobre isso (Por que em todos os processos seletivos temos que escolher um animal pra ser). Fui contratada.

Renato Sansão disse...

É exatamente o que tou passando.
Valeu pelas palavras, Pada