Na minha biografia vai ter um capítulo especialmente dedicado à minha relação com os dentistas, esses pedreiros do sorriso.
Minha mãe, por ser banguela, sempre prezou muito pela higiene bucal (ok, nem sempre, mas valeu o incentivo), e arrastava eu e meu irmão por essa cidade, naquele dentista caro pacacete na zona sul (o que cardealmente é o oposto da zona norte, onde eu moro). Usei aparelho, essas coisas todas, até que houve a despedida, tchau, ele ficando rico lá, eu ficando rico aqui (cof cof).
Pelo final do ano passado, vi a necessidade de voltar ao dentista, pois um dente doía bastante. Como não sou paranóico como a minha mãe, nem rico como o dentista antigo, fui num outro, aqui perto de casa, e por lá iniciei um tratamento que tem durado até hoje.
A média de espera, lá, é de 90 minutos. Sem brincadeira. O mais estranho é que eu gosto. Sabe, uma hora e meia olhando pro alto, é uma boa oportunidade pra pensar na vida e tal. Até evito fazer essas coisas em casa, guardo tudo pro dentista. E, dessa maneira, me acostumei a esse recreio semanal de integração entre eu e minha mente.
O problema é que, tirando essa relativa 'vantagem' que a visita ao consultório apresenta, ir até lá geralmente é um exercício doloroso de auto-constrangimento. Desde a recepcionista, que me trata como um retardado só porque eu sou quieto (hoje, ao cumprimentá-la, ela mandou: 'nossa, achei que você não falasse!'. O fato de eu cumprimentar ela todo dia e inclusive ter ligado ontem ainda não a tinha dado o número de evidências suficiente pra chegar a essa conclusão antes) - sabe, fala pausado, olhando nos meus olhos, gesticulando bem devagar, como se eu não fosse capaz de entender as merdas que ela fala - até a hora de cuspir, já na sala do dentista.
Deixa eu mudar de parágrafo, porque essa merece. Eu não sei cuspir. 'Como assim, Padula, além de não saber andar de bicicleta e encher bexiga, você também não sabe cuspir?'. Exato. Não sei o que há, eu faço todos os movimentos que parecem certos, puxo o catarro lá do fundo, dou aquela arranhada na garganta, e na hora de botar pra fora sai uma agüinha, que geralmente fica conectada à boca por um fio nojento. É extremamente embaraçoso, e eu sempre tento fazer com as mãos em volta, pra não deixar o dentista ver - mas nem sempre dá.
E então eu saio de lá, com o que seria a cota de constrangimento de vidas inteiras cumprida, mas que pra mim só dá pra um dia.
quinta-feira, 19 de abril de 2007
Em boca fechada...
Postado por Thiago Padula às 20:14
Marcadores: I hate myself and I wanna die, No dentista
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4 comentários:
Quando eu vou no dentista simplesmente abro a boca e espero ela me machucar...
Qualquer coisa para entreter é melhor do que aquelas revistas (Contigo, Quem, Caras, que ainda são do ano passado...rsrs)
Só faltou uma foto do seu sorriso, que se não estiver no jeito, ao menos sua mente,tá!!Ou não?rsrs
Me visite tb, quando der...o link tá aí...bjos
Conheci outro alguém que não sabe andar de bicicleta e acha o ato de cuspir uma sincronia de movimentos extremamente difíceis.
Mais três e dá pra fazer um time de salão. Os Incuspíveis.
Ainda tem aquele teu violão velho? Forma uma banda!!
Agora com vcs, quem será?
Os Impossíveis? (NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO)
Os Estalagtites? (NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO)
Os primos da Alice? (NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO)
Quem é então, molecada?
Os INCUSPÍVEIS! (LINDOOOO)
e calcinhas voando de tudo que é lado.
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