domingo, 22 de abril de 2007

As palavras que nunca são ditas

Existe, nas pessoas da mesma faixa etária e biombo cultural que eu, um natural e até inconsciente preconceito contra a Legião Urbana. Porque a gente tem esse costume de rejeitar tudo que tem uma boa aceitação popular, e nisso a Legião já pedia pra ser escurraçada. Tem mais um monte de motivos: o jeito afeminado do Renato, as chupações de Smiths e Cure, Pais e Filhos, a horda de gente feia que os idolatra.

Sempre me incluí no meio desse povo (o que repudia), e o fato de Legião tocar em todas as rádios, rodas de violão e reunião de jogo da galera contribuia pro tal 'efeito paisagem': você ouvia, mas entrava por um lado e saia pelo outro.

Mas os poucos, bem aos poucos, meu conceito foi mudando. No meio daquelas músicas despropositalmente decoradas, um ou outro verso acabava escapando a chamando a atenção. Um 'eu quis o perigo e até sangrei sozinho' aqui, outro 'senti teu coração perfeito batendo á toa e isso dói' ali, um 'há tempos nem os anjos têm ao certo a medida da maldade' acolá. Então você começa a cantar junto, e perceber que Pais e Filhos é um blues lindo, que Química é um esporro juvenil como o Charlie Brown jamais conseguiria fazer, que Faroeste Caboclo é uma opera rock suburbana incrível. E depois de um tempo de negação, resolvi admitir: Legião é legal.

Ainda não consigo ouvir um disco inteiro, é Renato Russo demais pra minha cabeça, nem consigo engolir e versão horrorosa pra Head On que eles fizeram, mas já posso dizer que se trata, sim, de uma puta banda. Que eu talvez nem goste tanto assim - como acontece com os Smiths - mas não deixa de ser uma puta banda por isso. Agora enfia seu preconceito no bolso e põe Tempo Perdido pra rodar, vai.

5 comentários:

Anônimo disse...

talvez aconteça com os beatles na inglaterra...
ou por aqui aconteça em relação aos hermanos...
mas o radicalismo ou preconceito há de ficar pra trás...
hoje assumo em público o trio parada dura...
enfim, se a coisa tocar minha alma, eu bebo da vertente...

Thiago Padula disse...

Rapaz, se isso acontece com os Beatles na Inglaterra acho que o brasileiro perdeu o posto de povo mais burro do mundo =P

Anônimo disse...

pois é,Padula e eu o meu senso...
mas ignore meus comentários "no sense" e...bem,é um prazer conhece-lo mesmo que pelo blog e digo que se é amigo do jOãO e do LuIzinhu, vai ter que me aguentar (no bom sentido) na virada cultural...caralho, soou gay mas foi sincero...

Thiago Padula disse...

Hahahahahaha, então tá. O nome 'virada' cultural também não ajuda...

Anônimo disse...

Ouço Legiao desde que tenho 12 anos...e faço parte da horda de gente feia que os idolatra...rsrsrs...(Como vc é exagerado!!!rs)Mas, tocando em frente, as músicas que eu conheço não foram despropositalmente decoradas, aliás foi bem ao contrário...Comigo, veja bem, parafraseando o Renato: Eu só falo por mim...rs...Minha afinidade com o legião/Renato é tão grande que se assemelha a uma explosão, algo maior que vem daqui de dentro e que a eles agradeço por ter expressado nas palavras e melodias de suas músicas! É isso, falou aqui uma fanática!rsrsrs...bjos