segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Carta ao Professor Dunga

São Paulo, 24 de Dezembro de 2007.

Querido Dunga, ou, como devo chamá-lo, professor.

No próximo dia 7 de janeiro eu faço aniversário, que será meu 23º, uma vez que eu nasci no distante ano de 85. Essa é a idade limite para jogar uma Olimpíada pela seleção brasileira de futebol, mas quem sou eu pra dizer isso ao senhor, que será o comandante de nossa estimada trupe rumo ao cobiçado ouro olímpico, a estrela que falta sobre nosso brasão.

Eu sei que seu trabalho já é bastante complicado, haja visto que escolher 23 atletas do melhor nível não é uma tarefa simples, mas eu não quero atrapalhar. Na verdade, meu apelo até visa facilitar o seu lado: eu quero uma vaga.

Tá, eu sei, não joguei em nenhum time de expressão, não joguei em nenhum time sem expressão, e levei um chapéu humilhante no campeonato do segundo colegial - eu sei que o senhor sabe disso, porque mesmo depois de um ano todos ainda comentavam na escola -, mas eu não vou aqui ficar tentando persuadí-lo me apoiando em minhas qualidades técnicas - que, eu admito, inexistem. Vou argumentar cinematograficamente.

O senhor deve gostar de filmes, afinal quem não gosta? E já deve também ter visto filmes em que o mongolóide ganha uma chance de fazer algo que é seu sonho e que jamais seria alcançado não fosse pela piedade de terceiros. Esse sou eu, o mongolóide.

Sabe 'Carros'? É filme de criança, eu sei, mas lembra que o Mate consegue, ao finalzinho da história, voar no seu 'alecóptro'? E lembra da alegria dos vietnamistas jogando softball com o Robin Williams em 'Bom dia Vietnã'? Ou do Cuba Gooding Jr. entrando feliz pelo gramado do campo de futebol americano em 'My Name is Radio'? Ah, confesse, você até enxugou uma lágrima agora.

Pois bem, pense em mim como esses pobres coitados. Professor, vou ser franco: eu não sou nada. Eu sou um designer de bosta, nunca consegui ganhar dinheiro desenhando, e sou formado numa faculdade que eu detestava. Não sei dirigir, não sei andar de bicicleta, sou descoordenado, sedentário e preguiçoso. Não falo nada que presta, não penso nada que presta, não me divirto, não me emociono, não me empolgo. Minha vida até aqui tem sido uma vã e monótona experiência sobre como um homem consegue viver tão longe dos limites.

Jogar uma Olimpíada com a camisa amarela da seleção seria meu único suspiro de alegria, e o senhor pode ajudar. Eu não ligo de ir por piedade, afinal eu não tenho orgulho. E nem preciso jogar, só me deixa sentado no banco, já tá ótimo.

Aproveite a folga do final de ano e deixe o espírito do natal guiar seu raciocínio. Pense com carinho, pois se a nossa campanha for um fracasso, pelo menos um brasileiro o senhor terá deixado feliz.

Um grande abraço,
Thiago Padula
Zagueiro-central. Ou não.


Ps: na minha opinião, o Afonso é o Van Basten dos novos tempos. Parabéns por descobrí-lo, e continue o bom trabalho.

2 comentários:

Edu Melo disse...

Tomara que o Dunga não continue vendo filmes sobre esportes, porque se não ele vai descobrir que animais são uma escolha muito melhor em qualquer tipo de time.

Anônimo disse...

Van Basten dos novos tempos foi fd...

Padock na seleção jáááá!!!!!

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