Tem um cara, o Marcos, que estudou comigo de metade da quinta até a sétima série. Ele era a referência nerd da turma (se considerarmos 'nerd' nos padrões de hoje, porque na minha época nerd era o cara que ia muito bem na escola, e o Marcos, até então, já tinha repetido de ano três vezes), e foi na casa dele que eu joguei Playstation pela primeira vez (Need for Speed e Street Fighter Zero - não me pergunte como eu lembro disso). Depois que ele saiu da escola a gente se viu poucas vezes, durante o ano posterior, quando ele ia lá fazer uma visita.
Onde eu moro, na Freguesia do Ó, tem um bar chamado Matriz do Açaí, que é onde a gente vai às vezes. Na primeira em que eu fui, reconheci o garçom de cara: era o Marcos. Mas depois de tanto tempo, não dava pra chegar e dizer um 'oi, e aí, beleza?'. E nem todo mundo é lá chegado a esses maçantes rituais de reencontros, com abraços e sorrisos (e eu detesto sorrir. Se querem que eu sorria, contem uma piada). Então eu fingia que não conhecia ele, ele fingia que não me conhecia, mas mantínhamos ainda aquele fio de amizade telepática, em que ele me zoava pensando 'ah, que veadinho, não toma cerveja', e eu replicava 'vai, você virou garçom'. Tudo na camaradagem.
Pois aí vai que o Marcos namora uma mina que mora perto da minha casa, e pega o mesmo ônibus que eu toda manhã, então por vezes os dois aparecem juntos no ponto. Até aí tudo bem, até o dia em que a moça resolveu cismar que eu estava olhando muito pra ela (o que era mentira, porque nem bonita ela é), e pediu pro Marcos tomar uma atitude. Aí fodeu. Ele não podia chegar e dizer 'tudo bem, ele é meu amigo' e pular todo o tal ritual de reencontro - e seguer poderia haver um ritual de reencontro a essa altura, depois que a gente já cansou de olhar pra cara um do outro. Então, por essas coisas da vida, ele teve que vir tirar satisfação comigo. Apesar das palavras agressivas que saíam pela boca, com os olhos ele dizia 'porra, mano, sacomé, perdoa aí'. E eu, por trás dos palavrões que são a única coisa que homens sabem utilizar numa discussão antes de efetivamente resolvê-la na porrada, respondia 'tá suave, bróder, é nóis'.
Aí ficou nisso, cada um pro seu lado, embora eu e ela ainda tivéssemos que dividir o mesmo coletivo.
Claro que existe a possibilidade de na próxima vez em que eu for ao Açaí ele jogar um copo de cerveja na minha cara, mas faz tudo parte da coreografia que a gente precisa encenar pro mundo - e pros nossos eus adultos -, porque você sabe, o que importa mesmo são as aparências, mais do que essas coisas bobas como amizade e toda essa merda.
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Why can't we be friends?
Postado por Thiago Padula às 08:53
Marcadores: Inutilidades
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4 comentários:
Ah... Vc tá mentindo.
Eu não boto minha mão no fogo não..hein?
Padula aparenta ser daquele que não entra em briga à toa, mas qdo entra só sai se for direto pro hospital!
Verdade. Até porque, com minhas habilidades marciais e meu vigor físico, se eu entro numa briga nem dá tempo de desistir - já tô indo pro hospital.
Padoka fura zóiooooo!!!!!
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