Você, leitor mais antigo do blog, talvez tenha entendido o que acontece por aqui. O Vida de bosta conta a história de um homem que, apesar de ser essa desculpa patética para um ser humano </edgeworth> é um homem que tentou. Um homem que tentou ser bonito, que tentou ser saudável, que tentou ser feliz, que tentou encontrar o amor verdadeiro. Mas o post de hoje, senhoras e senhores, é sobre um homem que desistiu.
Eu fracassei. Admito. O bonde da vida adulta passou por mim e me atropelou. Cansei de pegar rabeira, pensei e decidi que começaria de novo. Então hoje fui me consultar com a dra. Olinda, pediatra e pneumologista infantil.
Quando eu penso em "vida de bosta", não consigo pensar em nenhuma imagem melhor que um cara de 25 anos, já meio calvo e cansado da vida, entrando numa casa decorada com ursinhos e balões, sem estar acompanhado de uma criança. Era o meu atestado de derrota. Lá dentro a recepcionista me disse: "Dra. Olinda vai ficar tão feliz de te ver. Ele ali (aponta pra um outro cara sentado na sala) também é cliente dela desde pequeno". Olho para ele e penso "amigo!". Então ela completa: "só que hoje eles vem pra trazer os filhos, né". Orgulho espatifa-se no chão novamente.
Então estava eu lá, quieto e paciente, enquanto crianças corriam e jogavam um Brick Game que tocava Chorando se foi (pensei em sacar o DS da mochila, mas tive receio de que pensassem que além de crianção eu sou esnobe), de vez em quando esticando o pescoço na direção da porta, como se estivesse procurando meu filho. Talvez até tenha soltado um "esse moleque sai correndo por aí e ninguém sabe onde se mete", não sei. Apesar da encenação, era óbvio que todos olhavam pra mim com desprezo, e desconfio ter ouvido uma mãe cochichando pro filho: "tá vendo, Junior, se não fizer o que eu falo vai ficar igual esse moço". Imagine uma sala cheia de ursinhos de papel crepon, crianças angustiadas e o midi monofônico de um clássico da música brega nacional servindo de trilha.
Aí eu entrei no consultório, a doutora disse que nem me reconheceu, achou que eu fosse o meu pai (vulgo "caralho, como você tá acabado"), disse que sempre lembra de mim quando passa na frente da ETESP (paciente de quem o médico sempre se lembra é paciente problemático), perguntou da família e tal. Ela pegou meu histórico, viu que a última vez que me viu foi em 99 (quanto eu tinha 14 anos e já tinha vergonha de ir lá), falamos sobre minha saúde e tudo mais. Aí ela perguntou quando foi que começaram a crescer os cabelos no meu corpo...
(toma um ar)
Intercalando-se a essas amenidades todas, ela insistia no quanto eu estava magro (justo) e que precisava fazer um regime de engorda (não sei se deveria me sentir como um boi ou como o João, irmão da Maria). Aí ela começou a carcar ni mim e me estapear moralmente, fraturando cada osso do pouco que me restava de orgulho. Tentei fazer uma piada pra quebrar o clima.
- O pessoal do trabalho acha que eu faço fotossíntese <risada de porco>
- E bem mal feita, porque olha como você tá.
Aí acabou a consulta e depois de abraços e aquela coisa toda eu saí, cheio de guias médicas com o desenho de um pulmão feliz. Na saída, mais crianças assustadas com o fato de que alguém que se trata com o mesmo médico que elas tinha dinheiro na carteira pra pagar a consulta. Despedi-me e parti, enquanto as irritantes notas de Chorando se foi diluíam-se na distância.
Portanto, amigos, espero que entendam o que eu quis dizer no primeiro parágrafo. Eu sempre soube que rir de mim era uma coisa boa, mas a piada tá começando a ficar de mau gosto. Meu nome é Thiago Padula de Oliveira, tenho 25 anos e aceitei que a vida adulta não é pra mim. Deixarei de acompanhá-los nessa jornada, mas espero que tenham boa sorte com seus hobbies e sorrisos amarelos.
Se precisarem de mim, estarei no meu quarto lendo Chico Bento e tomando Sustagen.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Vida de bosta
Postado por Thiago Padula às 23:06
Marcadores: I hate myself and I wanna die
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8 comentários:
as irritantes notas de Chorando se foi diluíam-se na distância.
Poético isso. Faça poemas, poeteiro. E eu acertei a especialidade, mereço uma 7 Belo, pelo menos. E um Almanacão de Férias da Mônica.
Em um momento dramático da minha vida eu ganhei uma abelha que tocava "Chorando se foi". Minha primeira namorada me deu. Terminou queimada por uma lupa.
Cuidado pra não ficar gordo. Quando chegar nos 30, como eu, vai ver como é foda.
Caramba! Caí aqui de páraquedas, mas confesso que ri muito desse post. Desculpe se foi em cima da sua dor... se é que ela é verdadeira. Espero que vc não esteja se despedindo de nada e de ninguém. Abraços
Pagodula, olha meu clipe novo:
http://www.youtube.com/watch?v=7U5jZ5sskns
valeu!
Você ficou em dúvida se deveria se sentir como um boi ou como o bródi da Maria... Pagodula, ambos são comidos no final. Por um acaso essa médica moonwalka ou tem birruga no nariz?
aaaaah, mas isso me lembrou dos tempos da tia DORINA.
A véia com halito de anis me media a cada mes, e me prometia, pela curva do crescimento, 1,85m.
Depois do tal do estirão, aterrissei nos 1,70m.
Bom, pelo menos ainda consigo encobrir as entradas com um penteado alternativo. Ainda.
Heidá uma passada lá no meu blog: http://mulhercrisenta.blogspot.com/
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