segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um post das antigas

Algumas pessoas falam que a internet está acabando com a língua portuguesa. A overdose de abreviações, o genocídio dos acentos, a transformação de consoantes em sílabas, toda uma alteração no formato há muito estabelecido de composição idiomática em favor de uma maior fluência de escrita, otimizando o tempo e adequando-se à linguagem falada.

Eu vejo uma coisa mais simples: acho que ninguém sabe escrever mesmo. Mas como a caneta costumava ser uma opção à voz, essa dificuldade nossa com a escrita era camuflada. A internet piorou um pouco as coisas, uma vez que o uso de recursos de áudio ainda é pequeno, e todo mundo desembestou a furar o teclado com seus dedinho, resultando nessa merda toda. Mas se formos observar esse aspecto de demolição da gramática e da ortografia, existe algo que é ainda mais danoso que os blogs e MSNs: o post-it. Ele mesmo. O post-it foi responsável por um enxugamento brutal na estrutura das frases, resumindo-as, em geral, a substantivo e verbo. É só reparar nos recados que costumam ser rabiscados, coisas do naipe de 'João, ligar Roberta', ou 'Paulo, fazer relatório'. Muitas vezes a própria conjugação dos verbos é descartada, e derramam-se infinitivos pelas frases. Se na linguagem oral temos o gerundismo, na escrita temos o infinitivismo.

Agora, vamos pensar de uma maneira mais ampla. Acompanhe meu raciocínio: ao invés de a Dinastia dos Post-Its ser personagem de uma ruptura com o modelo de linguagem que Camões e Machado ajudaram a consagrar, ela é responsável por um resgate. Um resgate às raízes da cultural oral brasileira. E quando eu digo brasileira eu quero dizer brasileira mesmo, de antes da invasão lusa por essas terras. Estamos escrevendo que nem índios! Voltamos à era da linguagem simplória mas eficiente, do 'mim quer tocar, mim gosta ganhar dinheiro'. Se a corrente modista está agregada ao retrô, podemos considerar esse tipo de escrita uma modinha. Agora, se analisarmos que o pop está sempre 20 anos atrasado, e que o resgate às tradições brasileiras tem pelo menos uns 500 anos, a Dinastia dos Post-Its está na vanguarda da cultura universal. As coisas voltariam aos seus eixos, os índios virariam cult e o padre Anchieta seria visto como o filho da puta que sempre foi. Pena que o mundo tá acabando. Pena. Rousseau estaria orgulhoso agora.

3 comentários:

Thiago Padula disse...

Caralho, esse é do tempo de faculdade. Mil anos.

Anônimo disse...

That was great, Bob!!!!

Anônimo disse...

Sensacional.