terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Assim vocês me enchem o saco

Deixa eu já explicar uma coisa antes: eu odeio 'Ai, se eu te pego'. Acho uma bosta de música, fácil, feita de qualquer jeito, mas do jeito certo, e por isso bombou. Imagino até que por alguma movimentação cósmica arbitrária, porque nessa linha de música sertaneja para retardados há tantos outros exemplares até mais bem acabados, mas que não tiveram o mesmo sucesso. Essa é a graça da vida, o acaso.

E é bastante provável que se eu escrevesse sobre esse Michel Teló (que, pela cara de velha, poderia muito bem jogar no Flamengo) há duas semanas, o parágrafo de cima fosse um resumo do texto. Mas então parece que descobriram o cara. 'Descobriram', né, porque esse puto tá estourado nas rádios faz um tempão. Faixa mais vendida no Itunes em vários países, coreografia de celebridades internacionais como Cristiano Ronaldo e Rafael Nadal, possível motivo de expulsão de uma dezena de soldados israelenses. A mídia internacional fala dele. Então, a mídia nacional presta atenção. E cabum.

O Ronaldo Angelim da música aparece na capa da Época e neguinho fica maluco. Fica puto. Fica desgraçado da cabeça. Onde já se viu, o cara faz uma música que eu não gosto e vira capa da revista. Chamam de fenômeno, diz que traduz os valores da cultura brasileira. Não, senhor, não a minha cultura brasileira. Rica, cheia de sacis, berimbaus e cocares. Isso é um desrespeito, alguém faça alguma coisa!

Quer saber? É a cultura brasileira, sim. Cultura é coisa do povo, não dos livros de história. Se não é do seu gosto, do seu agrado, foda-se. Não é do meu, e eu tô cagando. A 'minha' cultura não me representa, meu país não me representa, quem me representa sou eu e acabou. E se isso é comprado, fenômeno de marketing ou o que quer que seja, paciência. O mundo de hoje é assim. Os Beatles são fenômeno de marketing, a Madonna é fenômeno de marketing, a Katy Perry, apesar - ou por isso mesmo - dos olhos lindos e seios perfeitos, é fenômeno de marketing. Independentemente do talento, da mensagem, da voz.

Michel Teló é o típico personagem que vai desaparecer daqui a alguns meses, e talvez com sorte reapareça no futuro (ex. Latino). O mundo hoje é assim, mastiga, mastiga bastante, e então cospe. Características do tempo, características do povo, características do lugar. Cultura, afinal. E o fogo reacionário só confirma isso - o que seria do Elvis sem os pais das adolescentes enfurecidos? E se colocar acima da população porque a cultura 'deles' não é alta o suficiente para alcançar os seus patamares rebuscados de bom gosto é coisa de moleque. Já discutimos isso no post sobre o Restart, lembram?

Eu também preferiria que os grandes representantes da cultura brasileira fossem a Nação Zumbi ou o Sivuca, como alguns até tentam fazer acreditar, mas não são. São, sim, representantes, parte dessa coisa maluca e linda que é a cultura brasileira, mas são personagens menores. E dane-se, também, porque eu conheço um monte de gente que ia ficar puta se o seu artista preferido estivesse estourado como o Michel Teló, ou o Luan Santana, ou a Paula Fernandes. Coisas do povo, crise de um sistema político, social e de pensamento que privilegia a maioria, não o meu umbigo.

E não me entenda mal, acho saudável se revoltar contra o mundo. Só que às vezes é meio ridículo, também.

Um comentário:

Del Nero disse...

genial, padula

e só completando, a referida música parece estar "estourada" em toda a América Latina tb

abraço!