quinta-feira, 1 de maio de 2008

Freak fighter II

Lá pelos meus seis anos de idade joguei fliperama pela primeira vez, um daqueles mods famosos de Street Fighter II. Basicamente, esse jogo foi responsável por um turbulento período da minha vida, de dependência eletrônica e humilhações públicas, com minha mãe indo buscar o filho fugitivo nas portas das casas de jogos por ai. Mas me curei e tal.

However, o assunto desse post é outro. Porque assim, algo que te vicia quando você tem menos de uma década de vida pode deixar fortes seqüelas no seu caráter e na sua maneira de ver o mundo. Em Street Fighter seu objetivo era enfrentar lutadores de várias partes do globo, cada um de um país, cada um representando a maneira distorcida como aquela japonesada que criou a bagaça via o planeta. O jogo é ótimo, mas o estereotipismo, patético.

Veja só, vamos começar pelos lutadores dos US and A, que é a nação que abriga mais personagens. Temos Ken, o playboy, Guile, o militar, e M. Bison, o boxeador safado. Esses são fáceis, Ken é o símbolo do capitalismo que acabara de dar um cheque-mate no socialismo soviético, Guile é a representação da obsessão bélica estadunidense, em alta por conta da Guerra do Golfo que se iniciara no ano de lançamento do jogo, e M.Bison era, claro, o Mike Tyson, que em 91 foi preso acusado de estupro (aí eu não sei te dizer se a parada foi antes ou depois do jogo estar pronto).

Até aqui foi fácil. Depois começa a piorar. Já que o Ken era o capitalismo triunfante, teria que haver um representante soviético, e esse é o amargurado Zangief. Vocês lembram (eu não lembro, era muito novo) de todos os mitos assustadores, de que comunistas comiam criancinhas e tudo mais? Pois então, vamos aproveitar o marketing negativo e fazer um personagem que se vista apenas de SUNGA NA SIBÉRIA e que tenha um monte de cicatrizes no corpo por suas lutas em que ESTRANGULAVA URSOS. Sério, depois dessa, criancinhas deviam ser tipo a pipoca na sessão da tarde.

E tá começando a ficar bizarro. Diretamente da Índia, vem Dhalsim, um magrelo e desnutrido e sem pupilas (!) que passa os dias meditando entre elefantes. Seu estilo de luta? IOGA. I-o-ga. A arte milenar que busca o equilíbrio perfeito entre o corpo e a mente agora virou arte marcial. E aí manja aquele negócio que os iogueiros põem a perna atrás da nuca, como se pudessem esticar os membros? Pois então, novidade pra você: segundo quem fez o jogo, eles podem mesmo. E também podem cuspir fogo, cuidado.

Chegamos na Chun-Li. A minha primeira de muitas paixão platônica (oh, criança burra) era, do umbigo pra cima, uma linda oriental com um corpo perfeito. Do umbigo pra baixo, era um minotauro.

A Chun-Li não é nem uma representante da China. Ela é mais uma representante da mulher, como um todo. E aparentemente designers de jogos não são muito íntimos aos detalhes da anatomia feminina porque, oh deus, aquilo está muito longe de ser normal.

Fora que ela não devia pegar ninguém, porque se as pernas são musculosas daquele jeito, ela devia estrangular paus com a buceta.

Não sei como fizeram pra enfiar ela numa calça em versões posteriores do jogo.

Agora respira.

Você, amigo brasileiro, você, amiga brasileira, deve às vezes se sentir incomodado com a imagem deturpada que fazem da nossa nação maravilhosa nos longínquos domínios estrangeiros. Mas isso aqui é demais. Blanka, o defensor das águas tupiniquins, é um monstro. Ele era uma criança normal, aí sofreu um acidente de avião, foi parar na selva amazônica e, evidentemente, involuiu para um orangotango verde, com o cabelo laranja e dentes de crocodilo. Claro. Fora que o cenário dele é uma pequena aldeia amazonense esquecida pela civilização, com uma anaconda (!!) enrolada numa árvore, como se um bicho de estimação fosse.

E o que me deixa mais estupefato nessa história toda é que ele usa uma bermuda. Se eu fosse um ogro verde que desse choque a última coisa que ia querer esconder seria minha trolha. Pelo contrário, depois de tudo isso é mais possível que eu saísse à noite estuprando as menininhas da aldeia.

Pois bem, esse foi meu texto-desabafo. Eu adoro esse jogo e ainda tenho uma quedinha pela Chun-Li, mas me senti na obrigação de pôr os pingos no is. Agora eu entendo porque minha mãe ia me buscar no fliperama me puxando pela orelha de volta pra casa, e agradeço. Imagine se eu tivesse jogado isso tanto, ao ponto de virar um adulto infeliz que ganha a vida escrevendo HTML. Deus me livre.

4 comentários:

Renato Sansão disse...

Oooooooo Pada, acho que esse post merece uma versão II pra explicar tipões como Ryu, Vega, Honda, Mr. Bison, Sagat....

E eu tb arrastava um boing pra Chun Li, ql o problema de admitir?!? Aquela devassa!

Thiago Padula disse...

Pois é, eu tive que cortar um pouco porque esse post tava ficando imenso. Mas ainda há muita coisa pra falar, principalmente dos bizarros que entraram depois, T.Hawk, Dee Jay, Fei Long... lembra deles? Meu deus...

Anônimo disse...

Esses dias eu vi o Blanka em um filme da Xuxa...
Ou seja, é oficial. Os brasileiros são verdes, com cabelo vermelho.

Thiago Padula disse...

Sabe que, se por algum motivo pessoas verdes passarem a fazer parte da sociedade, esse meu texto vai ser interpretado como manifesto racista.

O que é mentira, eu até tenho amigos verdes e admiro sua cultura.