terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Osso na caveira

Existe o bem e existe o mal, tá. Qual é o bem, qual é o mal, onde um começa e onde o outro termina, isso ninguém sabe, só se sabe que eles estão aí, ainda que no imaginário simplório de algum povo. O caso é que o tempo costuma dar uma soprada nesses contrastes, misturando o preto e o branco, e aí você não sabe qual é qual mesmo.

Porque o tempo é, acima de tudo, um romântico, um amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores. Ele põe nas cenas um colorido caleidoscópio em forma de corações, que pode ser bonito, mas a beleza é em boa parte a arte de distorcer as coisas.

Os piratas, antes mesmo de Jack Sparrow, são um bom exemplo de seres inescrupulosos e nefastos que de repente tornaram-se referencial de coisa cool. Ele pode até ser mau, como o Capitão Gancho, mas nós os amamos mesmo assim (eu amaria qualquer um que quisesse foder com a vida do Peter Pan, na verdade).

A pirataria dos nossos tempos é completamente diferente (não sei quem foi o idiota que pôs esse nome), é uma coisa mais Robin Hood, de tirar dos ricos pra dar para... qualquer um. Músicas, jogos e filmes são os artigos mais populares nos navios-barracas desses piratas sem tapa-olho, papagaio e de sotaque oliental.

Há os que criticam (normalmente os prejudicados), há os que apoiam (normalmente os beneficiados) e há os que estão se lixando, mas compram mesmo assim. O negócio é que a pirataria se apóia em uma lógica genial pra garantir seu sucesso: as pessoas estão ca-gan-do pro tal do próximo, especialmente se ele for uma corporação multinacional que escraviza seus artistas e explora o bolso dos seus clientes. No fundo, nossa vida é uma via de mão única onde a gente só ganha o que quer, não dá nada em troca e ainda tenta correr a estrada na garupa da motoca.

Não que isso esteja errado, calma lá. No cerne da questão da pirataria, não existe o bem e o mal: existem três classes tentando se dar bem às custas das outras. Porcos brigando na lama por um punhado de lavagem. Nesse sentido, a gratuidade da internet revelou-se uma existência superior e divina, deus para uns, diabo para outros.

A pirataria clássica, dos navios e Barbas-Negras, teve um impacto visível e exterior. Revelou o mar como sendo um lugar perigoso e como silhuetas de navio no meio da neblina noturna eram sinal claro pra correr como você nunca correu antes. A pirataria (pós?) moderna, como quase tudo que diga alguma coisa nessa sociedade de tangentes, é uma hemorragia interna, que você só percebe quando começa a ficar roxo. Ela pode tanto te matar e te jogar aos vermes quanto recomeçar o ciclo do zero com idéias novas. Difícil saber.

Se eu apóio a pirataria? Não sei. Mas sabe quando eu vou pagar 250 reais num jogo de Wii?

Passa amanhã.

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