quarta-feira, 2 de julho de 2014

Orkut

Eu entrei no Orkut acho que em 2004, e me matei em 2005. Na época as coisas eram diferentes, redes sociais eram novidades e as pessoas até usavam termos hoje obsoletos como "web 2.0" e "urru novo jogo do Sonic". Pra entrar no Orkut você precisava ser convidado, uma dessas babaquices exclusivistas que existem desde sempre na internet porque tem pessoas que querem se sentir importantes. E pelas estalactites de mágoa que se penduraram na frase anterior você deve ter adivinhado que eu tive alguma dificuldade pra participar do negócio.

Não vou negar: eu acessei o Orkut do meu irmão e me convidei. Comecei minha carreira nesse universo das redes sociais como um larápio que ganha acesso a um local para onde não foi convidado porque esse mundo não foi feito para essa gentalha. E eu percebi isso depois de pouco tempo: o Orkut era como uma festa em que o único lugar confortável para você é o canto da parede. Era muita amizade, muita curtição, muitos scraps, muitos depoimentos. Eu só tive um depoimento: "Padula, você merece mais do que essa vida miserável que você leva". Obrigado, amigo.

Como eu nunca me dei mesmo à interação social, pulei do topo do prédio e enterrei meu crânio no esquecimento digital. Como diziam, se você não estava no Orkut você não era ninguém, e essa função me cabia melhor. Voltei às redes sociais vários anos depois, porque a gente envelhece e amolece, mas nunca me senti totalmente à vontade ou tive certeza de que estava me comportando direito (o Twitter deve servir pra mais coisas do que apenas xingar os jogadores do São Paulo gratuitamente, por exemplo). E então essa semana surgiu a notícia de que o Orkut será finalmente encerrado no dia 30 de setembro.

E eu criei uma conta nele.

Senhores, não quero ser palhação (embora eu seja) ou saudosista brega (embora eu seja embora eu seja). Mantenho minha posição inicial: esse mundo de gente feliz, sorte do dia e o que falar desse cara que eu mal conheço mas já considero pacas continua não sendo pra mim. Porque eu não gosto de gente feliz, não gosto de sorte, não gosto de dia e posso garantir que o melhor é que eu mal conheça esse cara, porque me dá mais uma semana e eu não vou gostar dele também. Mas vocês sabem o que é o Orkut hoje? Um mundo que já viu o apocalipse e agora vê o rastro vermelho do cometa vindo terminar com tudo.

Não há mais jovens e hormônios. Eu ando no chão poeirento e piso em cadáveres, em corações e gelinhos despedaçados, em gifs animados e flyers de balada. Eu vejo pessoas conhecidas congeladas, com a aparência de 10 anos atrás. Eu passo na frente de um grande coliseu chamado "Eu odeio as segundas-feiras", aos pedaços. O céu é sempre vermelho, o silêncio predomina.

Essa é uma rede social pra mim, caro leitor. Gélida, vazia, com todos os componentes que simulam um universo fantasioso adequado à minha imaturidade. Eu nem fico zanzando, procurando conhecidos ou explorando comunidades. Só fico lá, no silêncio. É agradável. E o fim do mundo é um cenário que me fascina - não lembro se postei aqui sobre isso, mas já escrevi uma música -, de modo que eu não poderia escolher um lugar melhor pra sentar numa cadeirinha de praia e ver o horizonte se desmanchando.

Óbvio que nada disso vai acontecer de verdade, mas essa é uma das vantagens de ser um bobão: as coisas são bem mais legais na minha cabeça.

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