segunda-feira, 6 de maio de 2013

The voice Brasil

Tirando uma óbvia parte da população, é de se supor que o homem humano não mantém uma relação saudável ou justa com a própria voz. Uso meu exemplo: a minha voz, como eu a ouço dentro do meu crânio, é maravilhosa. Maravilhosa. Tem personalidade, tem corpo, tem graves suaves e bem pontuados, médios cremosos e agudos aparados. Cada sílaba tem seu próprio tempo e espaço para desfilar, todas as frases são projetadas num ritmo agradável, quase musical. É inconcebível que todas as mulheres do mundo não queiram dar imediatamente pra mim ao ouvir um simples "bom dia" (bem, ao menos as cegas).

Mas do meu crânio pra fora, no mundo real, é só pão de batata.

Então vamos a mais uma lição de vida fabulesca: o que esse contraste bizarro nos mostra não só sobre o ar que vem dos pulmões e passa por nossas pregas (vocais), mas também sobre autocrítica? Muito, não é?

NÃO! Você verá esse tipo de analogia babaca e sem cabimento em qualquer outro lugar, menos aqui. (o Vida de bosta tem preferência, não coincidentemente, por utilizar alegorias que envolvam, de alguma maneira, cocô. Como quando o vizinho veio pedir pra gente limpar a merda dos cachorros que se acumulava em nosso quintal porque nem ele do outro lado da rua tava aguentando, e isso nos ensina sobre altruísmo e pensar no próximo)

Recentemente comecei a jogar online - coisa que nunca havia feito, porque sou raízes - com pessoas que eu conheço e mantenho uma distância segura e, eventualmente, um deles não utiliza fone de ouvido, deixando o som vazar pela sala e retornar aos microfones para minha apreciação. Então veja só: eu primeiro ouço o que eu acabei de falar, na minha voz que torna o mundo um lugar melhor, e um segundo depois ouço a mesma coisa na voz que vocês ouvem. É uma experiência transcendental, como se eu estivesse saindo do meu próprio corpo, me humilhando perante o universo feito um demente descontrolado e retornando com o DVD. Criei minha própria nêmesis, com a ingrata realidade de que ela é igualzinha a mim (afinal, quem vai me odiar mais do que eu mesmo? Talvez o vizinho).

Eu nunca vi alguém dizer que prefere a própria voz gravada. E, se alguém preferir, pode-se apurar que é porque o som que só ela ouve reverbera demais e não fica bom.

Porque a cabeça da pessoa é oca, entendeu?

Me desculpem.

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