segunda-feira, 7 de abril de 2014

Eu estive no Lollapalooza esse ano e

Primeiramente, bom dizer que eu só fui num dos dias, o dia legal, aquele que não tinha o Muse (todo dia que não tem o Muse é legal, hoje mesmo eu não ouvi nenhuma vez, foi um ótimo dia). Eu estou meio velho pra esse negócio de festivais (mas ainda não velho o bastante pra aprender), e como a edição desse ano aconteceu no autódromo de Interlagos, também conhecido como puta que pariu que lugar longe dos infernos, foi possível ver as marcas dos pneus da vida manchando meu corpo atropelado e cansado.

Eita.

Pra começar que eu já cheguei lá morrendo. Meio dia, puta solão, supostamente 6 minutos de caminhada entre a estação de trem e o portão de acesso (levei 20, quase voltei pra casa na metade). Assisti pela primeira vez o show do Apanhador Só e foi bem bom, grande banda, boas canções, planeja demais, calcula demais, e nada demais. Pra terem uma ideia, até dei uma grana no Catarse pra bancar o último álbum deles, mas vocês não vão encontrar meu nome nos agradecimentos. Só o de um tal de Thiago Padilha, minha nêmesis. Tem uma música deles cujo refrão tem a frase "decido respeitar a minha dor", o que não tem nenhuma importância para esse parágrafo mas vocês precisam guardar porque eu vou usar em uma piada daqui a pouco.

Ao fim do show, fui caminhar até o palco mais próximo e descobri que, novamente, ou essas medidas de distância e tempo estão equivocadas ou alguém me colocou no slow motion, porque a suposta distância de 300 metros entre eles eu levei 15 minutos pra percorrer e fiquei fora do tempo de qualificação (o que não tem problema porque minha equipe é apenas um esquema de lavagem de dinheiro). Aliás, tudo subida e descida naquele raio de lugar, você vê a corrida pela TV e parece tudo tão plano. Mas, enfim, cheguei no palco seguinte, onde iria rolar o show do Raimundos, mas estava tão cansado e tão suando e tão fedendo e aquele sol de pelamordedeus que decidi respeitar a minha dor (obrigado pela paciência) e fui me encostar nuns dois palmos de sombra, quase sentando em cima de um belo monte de bosta que, honestamente, não quero nem saber como foi parar ali.

Mesmo assim deu tempo de descansar e ver o Raimundos e, talvez por não ser exatamente a minha banda de Brasília da primeira metade dos anos 90 com letras engraçadinhas favorita, não achei de todo mau. Teve Puteiro em João Pessoa, teve Esporrei na Manivela, teve, é claro, Eu Quero Ver o Oco. Não foi ótimo, mas também não foi terrível.

Andei mais um bocado (gente, sério, que tipo de monstro projetou essa distância entre os palcos?) pra ver o Johnny Marr, e embora os Smiths não sejam exatamente minha banda de Manchester dos anos 80 com vocalista vegetariano favorita, foi uma beleza de show. As pessoas estavam empolgadas, o som estava bom, e é bacana ver um ótimo guitarrista tocando ao vivo. Aí teve esse diálogo estranho entre dois caras do meu lado, em que um deles, pra puxar conversa, diz pro outro que viu o show do Morrissey, no que seu companheiro responde "O MORRISSEY É UM DROGADO SAFADO!" e se volta para o palco, continuando sua dancinha. Oxe.

Aí segue o jogo, muito calor, muita gente, Pepsi (oh, deus), aquela banda sem graça com nome de vampiro e vamos ver o Pixies, porque agora sim uma banda de verdade, uma instituição do rock 'n' roll, essa sim exatamente a minha banda norte-americana surgida nos anos 80 com álbum produzido pelo Steve Albini sem contar o Nirvana favorita! Ah, Frank Black, derrama sobre mim esses hits maravilhosos, Debaser, Wave of Mutilation, Gigantic, Velouria!

"Nop", disse Charles. "Não vou tocar nada disso. E Gigantic, sério? A mulher nem tá na banda mais. Mas olha só essas músicas novas aqui ó". Eu não gosto dessas músicas, senhor Black. "Foda-se. E quer saber? Vou pegar então o violão e tocar o resto do show com ele, como se eu fosse o Jack Johnson. Me processa".

Poxa :(

Chateado com essa apresentação - apesar de aparentemente eu ter sido o único no mundo a achá-la um porre - pulei o Soundgarden (obrigado pelos palcos tão distantes, gente, valeu mesmo) e permaneci lá pra guardar meu lugarzinho pro Arcade Fire. "Por que não o New Order?", pergunta o leitor ligado no encavalamento de horários do festival. Ora, porque não. Eu gosto do New Order, mas obviamente nesse festival bizarro isso não significa muita coisa. Então esperei o Arcade Fire e um monstro horroroso feito de espelhos parou do meu lado e ficou dublando na frente do microfone e apresentou a banda e eles entraram e eles tocaram esse disco novo chato mas também tocaram aquelas mais velhas tipo Rebellion e Power Out e The Suburbs e No Cars Go e, pra derreter os nossos corações na chapa, Wake Up. Que grande show, que lindo show, puta merda.

Fui embora caminhando sozinho entre milhares de corações quentinhos até o trem e do trem pro metrô e do metrô pra casa, feliz da vida com esse show do Arcade Fire, e mais feliz de saber que os reencontrarei mês que vem. Meu corpo dói todo, minha pele tá toda vermelha e queimada, mas valeu, foi bom.

E melhor ainda porque não teve o Muse.

Um comentário:

Anônimo disse...

bichona