segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

As meninas do Leblon nunca olharam pra mim

Foi com 13 anos (uma das poucas idades das quais não tenho aversão a lembranças) que eu comecei a perceber que enxergar a lousa ficava cada vez mais difícil. A aula de história, então, era um terror, porque a letra da Renata era muito pequena.

Foi aí que eu comecei a usar óculos. Tinha 1 grau de miopia. Só 1, mas já era bem ruim conviver com um mundo borrado. E eu morria de vergonha, paranóico e estúpido que sempre fui, então só usava os óculos dentro da sala de aula. Pra ir embora, meu irmão era quem lia o letreiro do ônibus. Um dia ele faltou, e não quero nem lembrar a quebrada onde eu fui parar.

Aí o tempo passa, você acostuma e tal, até o ponto em que pôr o óculos é a primeira coisa que você faz quando acorda e tirá-lo a última antes de ir dormir.

Escrevi esse texto em novembro de 2007. E agora, meus amigos, dizer-lhes devo: vai acabar essa merda. No próximo dia 22 eu opero meus dois olhos e, assim espero, me livro dessa porra pra sempre (não dos meus olhos, dos óculos. Pretendo continuar com os olhos, afinal a terra há de comê-los). Falando assim, parece que foi o período mais horrível que eu passei na minha vida. Também não é pra tanto. Nunca foi desconfortável, nem desagravável. E enxergar bem é bom pra cacete, né. O problema reside na aparência.

Primeiro, porque eu não sou bom em escolher modelos de óculos. Segundo, porque minha cara não ajuda. Aí tem que aguentar nego me chamando de Renato Russo, Gandhi e essas coisas. E de achar que eu tenho cara de inteligente. Sério, que adianta ter cara de inteligente se toda vez que eu penso ouço um barulho de descarga?

Lembro que, até os 13 anos, eu me dava bem com todos na escola. Não existiam grupos, não existiam gangues, e o fato de eu tirar boas notas não me desqualificava a ter boa convivência com qualquer aluno. Aí eu coloquei os óculos e bum!, fui segregado ao grupo dos nãrdes nerds. Não que, numa taxonomia mais simples, eu já não fizesse parte dele. Mas os óculos me trancaram nele. Então eu fazia trabalho com as mesmas pessoas, conversava com as mesmas pessoas, jogava bola no mesmo time (aliás, no futebol, nem quero lembrar as batalhas campais que rolavam entre o nãrdes nerds e os burros. Difícil ter um jogo em que alguém não saísse sangrando).

Não que esse tipo de coisa vá acabar agora, porque, bem, já acabou faz tempo. Talvez as pessoas no trabalho parem de achar que eu sou programador, mas nada de mais. O bom mesmo vai ser não ser mais parecido com Gandhi, nem com Renato Russo. Só um careca de barba mal feita e cara de burro. Não que eu não quisesse ser Gandhi (sem ser indiano) ou Renato Russo (sem, né, a AIDS e o que levou até ela), mas é bom ter uma cara própria.

Então agora só falta desfigurar o rosto do meu irmão.

2 comentários:

JP Rodrigues disse...

Dou aulas a moleques da tua idade. Da época em que os traumas ñ eram tantos. Aos 13 anos vc começa a despertar, se encontrar e selecionar instintivamente o próprio grupo, a buscar o que mais o agrada e as meninas que tem os maiores peitos, é um processo absolutamente normal, não se preocupe.

Ana disse...

Deixo você segurar no meu cotovelo, caso Maria não possa exercer o trabalho de cão-guia.

Caso nada disso seja necessário... Não, não o ajudarei a desfigurar seu irmão. Afinal, dependendo do produto, 12% é considerável...


=D