Eu não sei quando começou, mas aposto que foi em algum lugar do século XX. Porém é inegável que, cada vez mais, esse fenômeno que arrebanha soldados aleatórios e preguiçosos por todos os cantos do planeta está cada vez mais forte. Senhoras e senhores, estamos vivendo os dias de glória do exército do 'faça a sua parte'.
É lógico que eu vou cagar em cima desse conceito todo, mas antes deixe-me explicar melhor do que se trata a bagaça: como o mundo está cheio de problemas e cheio de pessoas, é razoável imaginar que se todas essas pessoas se unirem com um objetivo comum, as coisas melhoram. Parece legal, parece justo, parece certo, certo?
Certo. O problema é: ninguém quer fazer bosta nenhuma. Tipo, eu quero mudar o mundo, mas eu tenho preguiça. Porque, sério, vamos admitir: a prostituição infantil é uma merda, mas não é mais importante que a minha carreira. Vou te dar alguns exemplos recentes pra ficar mais fácil somar esse parágrafo com o anterior e chegar ao mesmo resultado:
O primeiro aconteceu há uns três meses. Foi uma campanha ousada, grande, que propunha o seguinte: vamos todos apagar as luzes de casa durante uma hora, no mesmo horário. Porque o aquecimento global é esse monstro que fica debaixo da cama, e nós precisamos fazer algo com relação a isso. Lembram desse? Beleza, o próximo: com as últimas eleições presidenciais no Irã, tem nego apanhando e morrendo a dar com pau por lá. Você lê as notícias, não preciso explicar, né? Pois então, surgiu então uma campanha no Twitter, esse negócio que todo mundo adora difamar, que era a seguinte: todo mundo tinha que pintar suas fotos de exibição de verde. Sei lá porque, aposto que tinha um bom motivo. Mas a ideia era fazer um protesto contra as injustiças e não sei o que que rolavam no país de nome tão pequeno.
A última, também disparada no Twitter, era mais local: quem queria aderir escrevia um negócio assim: #forasarney. Lembra os caras pintadas que pediam a saída do Collor? Então, uma variação disso, que quer mostrar a quantidade de brasileiros indignados com os atos praticados por esse agora senador que está botando na nossa bunda há pelo menos 20 anos, sem ninguém poder fazer nada, porque o Brasil não é uma democracia e ele nunca foi eleito pelo voto popular.
Agora chega a parte em que eu começo a implicar: como disse, ninguém tá ligando. Sério. Ninguém economiza em água ou eletricidade, nem joga papel velho no lixo ou vai pro trabalho de bicicleta pra não poluir o ar (vai, quando eu digo 'ninguém', é claro que eu estou generalizando). Mas apagar a luz de casa por uma hora? Bem, isso eu posso fazer. E então, plim!, eu fiz minha parte. Se um dia as geleiras derreterem e todo mundo morrer afogado, a culpa não é minha.
O mal do faça sua parte é essa falsa sensação de dever cumprido. É a pessoa se sentir bem, e de alma lavada, por algo que nada mais é que uma idiotice. Tipo, #forasarney? Sério mesmo? Fotinho verde? E que porra é essa de mobilizar UM BILHÃO DE PESSOAS pra fazer um ATO SIMBÓLICO? Se todos os chineses (mais ou menos um bilhão de pessoas) pulassem ao mesmo tempo, a Terra sairia do eixo, é o que dizem. Então se um bilhão de pessoas tem esse poder, por que não fazer algo realmente relevante?
Porque um bilhão de pessoas podem apagar a luz, mas nem duas mil se disporiam a fazer algo que fosse exigir mais tempo de sua vida em um negócio que não vai botar uma TV de LCD na sua estante. E não pense que eu estou dizendo isso pra me crescer, não. Pergunta pro meu pai quantas TVs a gente já pesquisou hoje.
Então seguimos assim: a gente finge que faz nossa parte, e o mundo finge que é afetado por isso. O problema, amiguinhos, não é o aquecimento global, nem o Sarney. O problema é a punheta.
sábado, 4 de julho de 2009
Faz parte
Postado por Thiago Padula às 13:59
Marcadores: I hate myself and I wanna die, Verdades
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4 comentários:
Esse texto ofende tantos leitores do blog, que eu fiz bem grande só pra que ningúem tenha vontade de ler.
Isso me cheira a hipocrisia...
Eu li até o fim e adorei. Concordo tanto que vc não imagina. Mas acho o assunto tão chato que me deu preguiça de falar sobre. Eu prefiro não me relacionar com quem participa dessas "campanhas". Tirar a bunda da cadeira que é bom, nada, né?
Um dos melhores textos que você escreveu. Concordo totalmente. Thanks for sharing!!!!
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