terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Falar do tempo

Eu não sou um cara viajado, ao menos não dentro do planeta Terra, e mesmo nos lugares em que estive não passei grandes temporadas. Sendo assim posso afirmar, com todas as letras (embora eu não precise de todas, não preciso do k, nem do y, nem do z) que eu nunca passei tanto calor nessa bosta dessa vida. Eu sei que São Paulo não é assim o Rio ou Cuiabá ou Manaus, mas puta que me pariu, não tô dando conta.

E não uso isso apenas como expressão: já considerei o suicídio como fuga desse reinado de satanás ao menos três vezes. Hoje. Porque se é pra viver suando feito uma panela de pressão, com a roupa molhada, a pele vermelha e chegar ao ponto de preferir ficar no trabalho a ir pra casa porque lá tem ar condicionado, eu prefiro não. Abro mão, adeus.

Não é só que a temperatura subiu um pouquinho, é possível ver outros sinais que indicam alterações drásticas na maneira como nada a vida na Terra. Por exemplo, o fato de que à noite faz tanto calor quanto durante o dia é óbvio indício de que não só o segundo sol chegou para realinhar as órbitas dos planetas como ele é negro e joga seus tentáculos de nanquim sobre nossas cabeças para nos fazer pensar que é noite e o sol - o único que conhecemos - está do outro lado do globo espalhando caos e miséria sobre os habitantes de um hemisfério coirmão. Os insetos não só cresceram em quantidade como em tamanho. Já viram os tamanhos dessas baratas? Outro dia eu calcei uma achando que era meu chinelo. Tem pernilongo que entra no meu quarto de madrugada e eu percebo sua presença não pelo bzzz característico (já que eu uso um protetor no ouvido), mas pelo vento que se choca contra o meu rosto, provocado pelo bater das asas desse monstro voador. E eu posso estar enganado, mas tenho a impressão de que outro dia vi, durante uma madrugada de insônia (quem consegue dormir?) a silhueta de uma iguana gigante recortada pelo luar.

São Paulo sempre foi um deserto de gentileza, pontilhado por cactos que são prédios com todos os apartamentos esgotados já na planta, onde sonhos são enterrados na areia e corações rolam e pingam no chão carregados pelo vento. Mas estava bom quando era só na metáfora: isso aí, esse inferno, esse sol a um palmo das nossas cabeças, isso aí num dá não, vocês me desculpem. Vou corrigir meu déficit de viagens do primeiro parágrafo, juntar meus trapos e meus videogames e pegar o primeiro trem pra Groenlândia. Porque só na minha cabeça a melhor maneira de combater esse calor é viver num frio muito pior que tudo que eu já vi na vida.

O que me segura aqui entre vocês é a tubaína que está no congelador, esperando sua hora de estalar na minha boca. Ela é o meu oásis. Mas o dia que faltar ela no mercado, aí é adeus mesmo, pergunte à minha mãe se no céu tem ventilador, e morri.

Mas se me mandarem pro inferno, lascou.

Um comentário:

Roberto disse...

Cuidado com a tuba no congelador. Pode estourar a garrafa. hehehe