segunda-feira, 7 de outubro de 2013

TC (ou algo assim)

A gente começou a montar o time com primos e amigos. Depois foram chegando os amigos dos amigos, os primos dos primos, os amigos dos primos e a coisa foi crescendo. Viramos um time com titulares, reservas, dois quadros. Tínhamos até uniforme, que era, divertidamente, o uniforme do São Paulo (o pai de um dos caras trabalhava na distribuidora da Adidas no Brasil, à época fornecedora de material esportivo do São Paulo). Estávamos com tudo.

Então fomos disputar nosso primeiro festival, e o adversário era o time de uma escolinha que treinava na mesma quadra. Não lembro o nome, era alguma sigla boba, tipo TC. Estávamos prontos, estávamos confiantes, íamos debulhar. Aí o juiz apitou e eles começaram a trocar passe, um dois três, um corria pra cá, um corria pra lá, chute, gol. 1 a 0 pro TC (ou o que quer que seja), nem um minuto de jogo, nem na bola a gente relou. Eu nem entendi o que aconteceu, como assim eles corriam sem a bola? Que loucura isso, rapaz. O jogo acabou uns 9x3 (pra eles claro), e eu fui até expulso - não fiz uma falta durante o ano inteiro, mas fui expulso mesmo assim.

O TC virou nosso rival, nosso Gary, nossa baleia branca. Jogamos de novo outras vezes, perdemos de novo todas as vezes. Quando estávamos com o time mais forte, mais bem treinado, voando, quando o próximo festival ia acontecer e a gente ia, finalmente, ganhar, eles cancelaram e aí o jogo foi contra outros caras (perdemos também e o time acabou depois disso). Esse último parágrafo não importa muito, mas eu queria contar essa parte da história.

Quarta feira o São Paulo (que usa uniforme igual ao que a gente usava) vai jogar contra o Cruzeiro em Belo Horizonte. E quando eu penso nisso, lembro daquele primeiro jogo contra o TC, deles tocando bola e da gente tonto sem saber pra onde correr tapando o olho pra proteger da areia que subia enquanto eles corriam feito pés-de-vento. Um time que sabe os fundamentos do futebol contra um que tem a resistência emocional de um papel molhado. Naquele ano, o ano do nosso time, o São Paulo foi campeão paulista, tinha França, Denilson, Raí voltando. 15 anos depois, eles viraram a gente. Quem sabe nós não poderíamos ser eles agora.

O curioso é que eu me lembro desse período da minha vida, meus 13 anos, como um dos mais felizes. Mas quando o juiz apitar o fim do jogo na quarta feira e o layout do placar da Globo estiver quebrado porque não prevê três dígitos, a única lembrança dessa época feliz pairando suspensa no ar será a da calamidade. Qual a lição que tiramos disso, hein?

Exato: nunca seja feliz, ou acabará contribuindo decisivamente para a humilhação de 15 milhões de pessoas. Que você não venha me dizer que nunca aprendeu nada com esse blog.

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