domingo, 8 de setembro de 2013

O Brasil

"O Brasil", enquanto entidade demoníaca representativa de tudo que há de ruim no planeta, ganhou bastante popularidade nos últimos tempos. Após o início da onda de protestos que tomou as ruas do país porque era mais fácil ir pra casa a pé que pagar aquele preço da condução (brincadeira), as evocações a esta abstração maligna tem sido mais e mais constantes. Mas eu gostaria de pedir alguns minutos do seu tempo e alguns centavos da sua paciência para tentar desfazer uma injustiça cruel aqui.

O Brasil, agora sem aspas, é bastante maravilhoso. Não digo com ufanismo nem pachequismo atochado, digo como constatação. Vejam só: é um lugar grande pra burro, boa parte dele na beira do mar, e tantas outras partes pontilhadas por maravilhosas maravilhas como a floresta amazônica, o pantanal, a mata atlântica, as cataratas do Iguaçu, Pirituba (brincadeira). Aqui, tirando umas enchentes, você não vê nada daquelas coisas que devastam os países dos outros: não tem vulcões, não tem terremotos, não tem nevascas, não tem furacões, não tem tsunamis, não caem meteoros, não tem desertos, o calor não é tão quente assim, nem o frio é tão severo. Tem tipo um milhão de bichos e um trilhão de plantas e um dozilhão de doenças venéreas (que só pega quem transa, veja bem). O solo é tão fértil que se você jogar um feto na calçada ele vai atravessar o asfalto e em nove meses você terá uma árvore de bebês no seu bairro.

Resumindo: pra quem fala que "o Brasil é um lixo porque o novo Xbox custa 2200 reais", é melhor isso que pagar 30 centavos nele (sei lá quanto custa lá fora) e perder um mês depois porque passou um tornado e levou embora (e de quebra ainda levou sua casa, seu carro e sua vó).

Nesse ponto o adorável leitor deve estar já pulando da cadeira e assustando os vizinhos aos gritos de "mas os políticos também são Brasil, porra!". Ei, calma um minuto, psh, psh, passô. Eu sei, são Brasil sim. Mas vamos, para fins didáticos, não segregar os políticos a um grupo próprio; vamos incluí-los na categoria "pessoas". Porque é isso que são, afinal, como eu e você. Todas as qualidades negativas que se atribuem aos nobres parlamentares são apenas produto de sua natureza humana, e se eles se corrompem isso é apenas uma possibilidade já contemplada na nossa programação (o código deve ser alguma coisa tipo if oportunidade == true). Sem contar que nós, civis, plebeus, populacho (como você preferir chamar), não estamos exatamente isentos de culpa.

Então, chegando finalmente aos finalmentes, ainda que nós sejamos parte dessa gloriosa nação, anexar a qualquer coisinha a etiqueta "o Brasil é uma merda" é um tanto injusto com todos os outros aspectos que são dignos de aplauso. O que é parte da injustiça que eu menciono no primeiro parágrafo. A outra parte é: quando a gente fala assim, na terceira pessoa ("o Brasil", "esse país", etc), está dando um passinho pro lado e saindo do rumo do torpedo da responsabilidade. Ponhamos a mão na consciência um minutinho, vai: o Brasil é firmeza, a gente é que deixa a desejar. E não vamos resolver essa pendenga fingindo que o problema não é conosco.

Agora que eu avisei qual é o problema, você vai lá e resolve porque minha parte eu já fiz (brincadeira).

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