sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Paramos para aguardar a movimentação do trem da história

São Paulo é uma cidade pós-apocalíptica com um problema sério de timing. Melhor dizendo, é uma cidade pronta para a merda, não no sentido de "estamos preparados, venham os demônios alienígenas" mas no de "quando tudo acontecer, aqui será como nos filmes". E há poesia nisso, sim senhor.

O metrô da cidade cinzenta é multicolorido, como muitos devem saber: tem a linha verde, a azul, a vermelha e tal. A linha mais nova é a amarela, e essa é motivo de orgulho para o paulistano mais apaixonado: moderna, elegante, veloz e bela. Tudo cheira a futuro, parece que estamos dentro de uma estação espacial. Não há, pasme, um maquinista. Ninguém pra fazer cara de "olha que babaca do caralho" quando você acha superengraçado estender o braço pro trem, ninguém pra dizer a próxima estação, ninguém pra pedir encarecidamente que o bovino usuário não impeça o fechamento das portas, ninguém para aguardar conosco a movimentação do trem à frente.

Esse é o modelo de futuro que habita o inconsciente popular: coisas fazendo o trabalho. Quanto mais puderem se livrar de pessoas, melhor. A assepsia misantropa tem seus entraves: quem vai dizer qual a próxima estação e por qual lado devemos descer? A solução foi usar uma gravação humana (porque a voz humana ainda soa melhor que a da GLaDOS) e deixar lá. É o melhor que dá, funciona bem, e o futuro não desapareceu do horizonte por causa disso. Ufa.

SÓ QUE, acompanhe o raciocínio comigo: um dia a pessoa da voz do metrô vai morrer. Um dia todos nós vamos morrer. Um dia os demônios alienígenas virão, colocarão um vírus terrivelmente terrível em algo que todos usam (tipo no gelimão) e aí PLAU, humanidade foi pro caralho. Os times não vão mais jogar, os videogames não vão mais ligar, as guitarras não vão mais tocar. Mas o metrô, vixe maria, o metrô vai continuar rodando, dia após dia, noite após noite (parando à meia noite ou uma hora no sábado), chug chug chug chug por debaixo da terra enquanto a mocinha tão simpática, tão alegre, a mocinha que morreu continuará narrando, do além-túmulo, próxima estação República, próxima estação Faria Lima, próxima estação Butantã. Desembarque pelo lado direito do trem.

E quando outros alienígenas pousarem na Terra, daqui a mil anos, e catalogarem o nosso rico ecossistema - e ele estará obviamente mais rico do que é hoje -, haverá um animal que eles não conseguirão classificar. Um grande verme feito de metal que ronrona chug chug chug chug e diz coisas sem sentido repetidamente com uma voz doce e angelical. E eles tentarão colocar as próprias naves para cruzar com os vermes, porque sei lá, vai que.

Com todo o respeito, esse futuro de macintosh que tentam me vender eu não quero. Eu quero o verme com voz de mulher.

Aviso: este texto ignora as leis mais básicas da física e da biologia. Caso os alienígenas resgatem também esse blog, saibam que se isso aí tudo aconteceu foi cagada.

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