terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Lua vai

Apesar de eu gostar de escrever, e até não ser um completo fracasso nesse quesito (depende, na verdade: eu sei algumas regras gramaticais, e não ganho nenhum dinheiro com isso; tem gente que não sabe nenhuma, e ganha cem reais por mês), toda minha atividade nesse campo costuma se restringir a esse blog e aos emails da empresa. Ou costumava: desde novembro, decidi encarar a árdua - e até agora infrutífera - tarefa de escrever letras de músicas. Músicas inteiras, na verdade, mas não vou ficar aqui contando pra vocês sobre o por que de eu ter escolhido o lá menor pra seguir o dó, ao invés do fá.

O lance é que escrever letras não é tão fácil quanto parece. Se é que parece fácil, sei lá. Porque as coisas tem que rimar, tem que obedecer a métricas e tem que obedecer à minha própria regra pessoal de ser um total imbecil o tempo todo. O resultado são coisas tipo 'eu te amo / mais ou menos / mas te quero só pra mim' e 'um Yakult azedo adoça a minha vida'. Como é que faz sucesso com umas coisas dessas?

Meu colega de protobanda ri dessas bostas e incentiva, obviamente porque ele sabe quem será o alvo das risadas no final. O negócio é que a gente se vira como pode: há pessoas com várias cicatrizes da vida, e escrevem as letras de suas músicas com o sangue que escapa dessas marcas. Minha biografia daria uma lauda, então só me resta a bobeira. Eu queria ser Bob Dylan, mas se o que resta é Carlinhos Carneiro, que seje.

Ao menos vou aprender a não falar mal das letras alheias. Se eu não gosto, a culpa não é das palavras, é do cara que pôs o fá depois do dó, quando claramente era melhor o lá menor. Disse um cara de muito sucesso, que não ganha cem reais por mês.

domingo, 10 de janeiro de 2010

O velho e o moço

Por alguma razão, a gente sempre espera que velhinhos sejam intransponíveis reservas morais, estandartes dos bons costumes, bastiões de tudo que há de correto e imaculado nesse mundo. Tanto é que sempre que surge uma notícia ou fofoca (hoje em dia é impossível diferenciar um do outro) sobre algum delito cometido por um idoso, todo mundo fica espantado.

Isso se deve a dois erros de nossa parte, um de inocência e outro de lógica. Porque eles vem com essa conversinha de que o mundo está perdido, que ninguém mais tem respeito por ninguém, que não se faz mais nada como antigamente. A gente, então, compra essa ideia, acredita que hoje o mundo tá mesmo poluído pelo pecado e nos idos de mil-novecentos-e-a-Hebe-pegável as pessoas eram civilizadas e educadas. Besteira. Cheque os recortes históricos e vai ver tantas provas do contrário quanto se é esperado para um mundo povoado por seres humanos. E além disso, eles não assistiram Rá-tim-bum na infância. Rá-tim-bum inventou o amor ao próximo, mano.

O erro de lógica é bem lógico: independentemente da geração ou de qualquer coisa, você é uma pessoa certinha, correta, faz o bem e respeita o meio ambiente e os corinthianos. Aí passam-se sessenta anos da sua vida e você ouviu todo mundo ao seu redor contando as histórias mais cabeludas sobre todas as coisas que você evitou fazer. E então percebe que está velho, recebendo um salário mínimo por mês, tem três filhos que te exploram e netos que não querem saber da sua cara. Você já aguentou demais. Sua vida acabou e foi uma merda, você tem o DIREITO de ser um velho escroto do cacete. Justiça na terra, sim senhor.


Já que as leis, a exemplo do seu pau/suas tetas, amolecem com a terceira idade, dê-se esse último presente e saía por aí furtando mercados e escorraçando menininhas/menininhos. A vida ficou muito curta pra ter que servir de exemplo pra gente que liga pro Criança Esperança.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

When I'm 25

No último 19 de dezembro meu pai completou 50 anos. Hoje eu faço 25. Não sei se você é um desses tapados em matemática, mas te ajudo: eu tenho hoje a idade que ele tinha quando nasci.

Quando se é uma pessoa que teve acesso a educação e a essa bobagem toda, é natural ter como principal meta de vida construir uma carreira, encher o cu de dinheiro, ficar chato e vazio. Quando não, o negócio é formar uma família mesmo. Então, aos 25 anos, meu pai cumpriu o que tinha que cumprir no praneta: tava casado e tinha uma criança linda (que acabou virando essa desgraça que eu sou hoje). Depois ainda nasceu meu irmão, mas em 85 ele já podia dizer que tinha uma família.

'Ai, caralho, agora ele vai ficar com esse negócio de falar que não tem família nem carreira e é um perdedor patético e não sei o que'. Nããããão senhor! Já que tem essa onda de reavaliar a vida a cada aniversário (e virada de ano, mas como o meu fica próximo eu guardo pro aniversário), eu quero é chamar meu pai pra uma batalha Pokémon disputa amigável sobre o primeiro quarto de século de cada um.

Olha só, aos 25 anos...

  • ... ele já tinha encontrado o amor da vida, casado e colocado uma bola na rede. Eu não encontrei, não casei e, queira deus, errei todos os chutes. Ponto pra ele.
  • ... ele era alcoólatra e fumante inveterado. Eu não sou dependente químico, ainda que talvez meu nível de apreço por Trakinas de morango e Coca-Cola possa ser considerado um pouco acima do saudável. Anyway, ponto pra mim.
  • ... ele já tinha claros sinais de calvície atropelando, mas nessa época tinha mais cabelo que eu. Ponto pra ele.
  • ... ele havia fugido da escola no então segundo colegial. Eu terminei o ensino médio e sou graduado em Publicidade e Propaganda. Ponto pra ele.
  • ... ele não tinha nem casa, nem carro, nem nenhum bem de valor. Eu tenho um monte de video games e um baixo Fender (Squier, mas vá lá), o que é melhor que nada. Ponto pra mim.
  • ... ele tinha sido fixo do grande Ajax da Vila Miriam. Eu nunca joguei em nenhum time de prestígio, mas também fui defensor por aí, e dos quase bons (não dá pra ser um zagueiro muito bom com 1,75 m e 56 kg, né). Empate.
  • ... ele tinha visto o Queen no Morumbi. Eu vi o Dylan e o Radiohead. Ponto pra mim, por pouco.
  • ... ele não tinha Twitter. Ponto pra ele.
  • ... ele tinha visto Pelé jogar. Eu vi o Richarlyson. 50 pontos pra ele.
  • ... ele passou pela chegada do homem à Lua, pela ditadura militar e pela morte do Elvis. Eu passei pelo E.T. de Varginha, pelo impeachment do Collor e pela morte do Michael Jackson. Ponto pra mim, porque o E.T. de Varginha chuta bundas.
  • ... ele foi circuncidado com uma gilete. Eu, pelos meios tradicionais e seguros. 50 pontos pra mim.
Disputa acirrada, senhoras e senhores, com um emocionante empate meu no finalzinho, depois de estar perdendo por 50 pontos de diferença. Eu sou o cara da virada, eu sou o cara do amor, parodiando a canção.

Tá, ponto pra ele.

    segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

    Surprise! You're dead

    Eu não gosto de festa surpresa, essas de aniversário, porque são chatas e desagradáveis. Você entra na sala, a luz acende, todo mundo grita e você não pode fazer a habitual cara de bunda porque alguém se deu ao trabalho de organizar aquela merda e você precisa parecer feliz por isso. Por essa razão já deixo bem claro a meus parentes e pessoas que gostam de mim (o que deve dar uns três coitados) que não me preparem esse tipo de coisa. Eu gosto, entretanto, de surpresas. Gosto de saber o que vai acontecer no filme, quem é o assassino no livro e que nova maneira de me humilhar o mundo preparará amanhã.

    Por isso eu não peço presente. Se alguém quiser me dar um, vai ter que escolher sozinho. Meu irmão começou a trabalhar há umas três semanas e achou que deveria me dar alguma coisa no meu aniversário. Ele pede dicas, pede pro meu pai investigar, faz o diabo, mas eu não conto. Sem falar que é muito fácil dar presente pra alguém previsível como eu: compra qualquer porcaria dos Beatles ou do Seinfeld e vualá!, tô mais que agradado.

    No último amigo secreto da firma a pessoa que me tirou mandou um recado anônimo pedindo pra eu dizer o que queria. Respondi: 'o que eu quero ganhar eu compro, quero saber o que você vai me dar'. E ele me deu uma CAIXA de Trakinas de morango. Melhor de todos os tempos, eu não teria escolhido melhor.

    Mas você pode encarar - não sei se sua mente também é assim doente e te leva a esse tipo de raciocínio, mas vamos lá - como apenas carência da minha parte, necessidade de fazer a pessoa, que já se dispôs a me dar algo, gastar ainda mais tempo pensando em mim. E você teria grandes chances de ficar com a razão.

    Vai ver é por isso que ganho tão poucos presentes. Pensamento ruim atrai coisa ruim, sacomé.