quinta-feira, 17 de maio de 2012

Pra viver em paz

11/05/2012

Eu tinha quase 19 anos, e era a única coisa que eu quase possuía. As outras - emprego, perspectiva, amigos, dinheiro -, nah. E naquela primeira semana de janeiro de, ahn, 2004, eu recebi pegar a merreca que tinha tirado de algum freela mal feito e mal cobrado e me comprar presentes de aniversário, porque alguém tinha que fazê-lo.

Então eu fui ao saudoso Stand Center, que ficava perto da faculdade, e saí de lá com uma caixa de lápis de cor e um CD do Los Hermanos (o Ventura). E era com isso, três dúzias de lápis coloridos e um CD com um passarinho na capa, que eu me preparava pra enfrentar o futuro. Amor e arte, é o que dizem.

Até os 18 anos você sabe exatamente como sua vida vai ser - ou como gostaria que fosse. Brincar, estudar, jogar, bater, beijar, transar, passar no vestibular, dirigir. Toda fase de crescimento de qualquer pessoa acontece com os 18 anos na mira. Passou dali, meu amigo, é como ter assistido a todos os episódios de um seriado e agora ter que esperar sair o próximo. Volta, Breaking Bad.

Eu não lembro o que aconteceu com os lápis. Lembro de ter comprado mais duas caixas depois daquela, mas dela mesmo, nada. Já o CD do Los Hermanos se transformou num gosto pela banda, o gosto pela banda se transformou em uma daquelas fases em que nada mais no mundo importa além das canções sobre flores e morenas, e as flores e morenas eu vi às centenas nos shows que frequentei com certa assiduidade nos dois anos que seguiram à data que começou o post. Coisas aconteceram nesse tempo. Coisas vieram e se foram, prometeram e sumiram, empolgaram e cansaram. E lá no fundo, rolando baixinho, os acordes dissonantes, as flores e as morenas.

Os shows do Los Hermanos em São Paulo na semana passada já não eram mais os mesmos. As pessoas com roupas de hippies agora se vestiam como pessoas com emprego, alguns cabelos cresceram e outros caíram, o pincel que desviou o vento foi parar no mesmo lugar que os meus lápis de cor. Mas, ah, que se foda. Aqueles nem foram anos bons.

E se de lá pra cá eu consegui emprego, dinheiro e alguma perspectiva, é curioso que meus momentos mais felizes nas últimas semanas tenham sido ouvindo a banda que já me acompanhou até no cemitério. Talvez a gente esteja no mundo só pra rir da tristeza, ou talvez a gente seja só trouxa. Nem importa. O que importa é que muito difícil fechar esse texto sem usar um verso de alguma música, o que eu estou evitando porque isso aqui já tá brega demais.

Volta, Breaking Bad.