Já tem alguns dias (ou semanas) que toda minha atividade cotidiana foi drasticamente reduzida a apenas acompanhar a Copa do Mundo (os jogos, entre eles as entrevistas, depois deles os debates) ou jogar Mario Kart 8, numa espécie de hibernação contraproducente que, infelizmente, há de acabar.
E se digo infelizmente é, na verdade, por uma confusão de significados: embora eu esteja desanimado com a perspectiva de uma vida sem futebol o dia inteiro e sem personagens novos pra desbloquear, essa tal rotina de momento tem me feito, se tanto, infeliz. E eu estou achando muito bom.
Eu sou quase um robô, uma criatura mecânica sem a capacidade de amar criada somente para uma missão: falhar miseravelmente. Confesso que tenho uma certa dificuldade com sentimentos: embora eu já tenha me declarado chorão (digo, um amigo meu) em outro texto, as lágrimas funcionam muito mais como uma resposta genérica a um estímulo com o qual eu não estou confortável (praticamente todos eles) do que um arroubo emocional não planejado. Eu reajo muitas vezes mais de acordo com o protocolo social do que por espontaneidade, visto que, na prática, eu não sou muito capaz de sentir qualquer coisa além de calor e vergonha.
Talvez nesse ponto esteja parecendo que eu sofro da síndrome de Asperger, mas considere que eu exagero um pouco as coisas.
E é aí que entram o futebol e o videogame. Com todos os jogos maravilhosos que tem acontecido nessa Copa, eu posso sentir a adrenalina, a vibração, as emocionantes jornadas de gigantes que tombam e dos guerreiros que os derrubam, do herói que renasce das cinzas da incerteza para retornar à desgraça de sempre, do capitão que perece afogado em suas próprias lágrimas. Cada jogo é um pequeno épico, é um novo conto, e eu me aproprio de toda essa miríade de emoções como se elas fossem minhas de nascença e de direito. É uma prótese de silicone sentimental, alguém poderia dizer.
Porque assim como a moça que não está satisfeita com suas dimensões mamárias ou o rapaz que nasceu com a coisa errada entre as pernas, eu estou aqui tentando preencher uma lacuna pessoal com artifícios produzidos, de certa forma, em laboratório. A humanidade tem avançado para isso, e que deus abençoe os malditos ingleses ou os pais do Miyamoto por permitirem a esse homem de lata o direito a sentir coisas. Por outro lado...
Por outro lado o mundo é cruel e filho da puta. E o universo, ah, ele há de te arrebentar. E os jogos folclóricos divertidos urru que maravilha é o futebol se transformam em prorrogações, bolas na trave e Daniéis Alveses. E o Mario Kart carros coloridos pistas divertidas música feliz fatalmente se converterá em onze gringo na internet jogando casco vermelho e verde e azul na sua bunda bem quando você vê a porta da glória lhe sorrindo, mas você não consegue sorrir de volta. Cuidado com que desejas pois... alguma coisa. Eu queria sentimentos, e todos eles vieram na forma de sofrimento e dor.
Mas é melhor que nada. E é por isso que lamento por antecipação o fatídico dia em que um ricaço levantará uma taça dourada e que a última rodinha do kart estará disponível no menu. Ao menos a moça peituda e o rapaz que deixará muitos bêbados arrependidos poderão usufruir de seus apêndices artificiais pelo resto da vida. Já eu continuarei no meu esvaziamento habitual.
Pelo menos até sair o próximo Smash Bros :D
segunda-feira, 30 de junho de 2014
O Mario Kart, a Copa do Mundo e a prótese de silicone emocional
Postado por Thiago Padula às 21:18
Marcadores: Futebol, I hate myself and I wanna die, Videogame
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Um comentário:
Padula, eu te amo.
ass: sua admiradora secreta
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