Tive a graciosa oportunidade de aproveitar uma folguinha entretrampos alguns meses atrás e planejei a semana toda para uma série de eventos ao ar livre, em contato com a natureza. Ar limpo, sol quente, céu azul, aquela papagaiada. Claro que acabou só chovendo e minhas principais atividades na semana foram doar sangue e tentar resolver os efeitos colaterais de um assalto na frente da minha casa, mas deu pra aproveitar.
Porém, antes dos meus planos serem encharcados e temperados com leptospirose eu pude ao menos riscar um item da lista: conhecer o famoso aquário que fica perto de casa, um que eu não lembro o nome mas cujo ingresso custa um horror de caro. Fui a pé, escalando paredões que estranhamente estavam no meio das ruas (aquilo não podia ser só uma ladeira) enquanto os raios solares despejavam-se na minha cabeça como um shampoo cósmico. Mas vamos lá, vamos ver peixes, vamos contemplar o reino animal por trás de um vidro, o que me deixava superempolgado porque duas coisas que eu adoro são animais e janelas. Ia ser mara.
Só que o lugar é meio escuro e silencioso, talvez para simular vagamente algumas características de um ambiente subaquático, e confesso que isso me deixou meio, como dizer, receoso. E assim que eu parei na primeira "jaula" (como chama aquilo?) e só vi uma pedra, um galho e umas folhas pra depois descobrir que a pedra era um sapo, o galho era um jacaré e as folhas eram folhas mesmo acabei sendo invadido por um terror irracional, como se assim como aquela pedra deu um pulo o chão pudesse se mexer e eu na verdade estar nas costas do Cthulhu.
Assim eu caminhei pelos corredores do aquário, e enquanto crianças corriam e sorriam e famílias tiravam fotos na frente do peixe colorido e da cobra roliça, eu caminhava travado, lentamente, atento a tudo, como um tira num bairro barra-pesada.
E aí você chega nessa salona bem grande que tem um tancão (aumentativo de "tanque") com vitrines em dois lados do cômodo e uma passagem superior que liga os dois compartimentos. E lá estavam eles, magníficos, deslumbrantes: os tubarões. Eram muitos e estavam de boa num canto lá pra ninguém encher o saco, mas eles eram tão lindos que eu fiquei hipnotizado e fui caminhando lentamente em sua direção até ficar com o nariz atochado no vidro, completamente abobado. E nesse momento me passa a PORRA DUMA ARRAIA bem na minha frente, VUUUSH, DO NADA, com aquele :) ridículo rindo da minha cara enquanto eu não sabia o que ia explodir primeiro, meu coração ou meu rego. Vitória do segundo, me caguei inteiro, e se já estava caminhando lentamente antes você imagina agora.
Fui para a próxima área, ainda não recuperado do choque, mas essa era a ala dos peixes do Procurando Nemo e meu coração saiu da minha boca e voltou pro lugar de antes todo aquecido e feliz. Tinha os peixes-palhaço, tinha a Dory, tinha o Gil, tinha aquele baiacu e eu só ficava fazendo "oooown ♥". Estava apaixonado por um filme da Pixar e me humilhando publicamente, sinais claros de que voltava ao meu normal. Ainda acompanhado daquele cagacinho, mas sem o pavor descontrolado do ataque da arraia.
Tirei uma foto com meu celular. Não ficou ótima. |
Depois vinha a parte dos dinossauros, e ali eu comecei a achar que a passagem da arraia no meu campo de visão era tipo uma vinheta que fazia a minha transição pra um universo em que é normal ter uma área sobre dinossauros num aquário. Além de uns paineis contando a história de dinossauros brasileiros (cid moreira kkkkkk não, brincadeira) e um esqueletão que se era real demonstra que brasileiro já fazia gambiarra desde quando era réptil, havia uma passagem para outra sala, identificada por uma plaquinha como "Vale dos Dinossauros" e lá de dentro vinha a música tema do Jurassic Park. Imperdível!, empolguei-me sozinho, já que os outros grupos haviam ficado pra trás e eu era o próprio elo perdido. Estava vazio o aquário naquele dia, era segunda-feira à tarde.
Você entra e fica claro que você está mesmo no passado, quando a Terra era habitada por gigantes. Além da trilha sonora cinematográfica, o ar era povoado pelos sons das majestosas criaturas, de piados a grunhidos. No alto, um pterodáctilo plana. À minha frente estende-se uma pequena ponte, e às suas margens estão eles, os dinossauros. Não os de verdade (você acreditou por um instante, hein?), mas estátuas provavelmente compradas de algum circo falido, porque além de mal desenhadas e mal cuidadas ainda estavam completamente fora de escala e proporção. Mas isso nem me desagradou tanto, o que me desagradou foi que logo ao entrar eu tive que me deparar com a bunda de um tiranossauro virada pra mim. Porra, falta de educação. E à medida que eu caminhava em frente, revoltado com essa falta de etiqueta cretácea, a cabeça do monstro vira na minha direção.
Na. Minha. Direção.
Recobrada a consciência, segui em frente para ver algumas representações pouco fieis de diferentes etapas da evolução do ser humano e até o final do passeio ainda pude ver um peixe-boi (ah é, era um aquário), um tamanduá (ou não), um bugio, uns morcegos irados. E foi isso por aquele dia, em que depois eu ainda fiquei vendo vídeos de mulheres peitudas tocando violão e toda a coisa do assalto do primeiro parágrafo.
Escrevo isso agora porque acho que finalmente compreendi a minha desaprovação à obsessão daquele cabeleireiro por peixes. Não era nada contra o cara, era só reação instintiva de proteção depois desse recém-adquirido trauma com criaturas do mar.
Se eu ganhasse um real por cada medo babaca que eu tenho...
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