Acordou lá pelas 8, o que era bem tarde (não que ele tivesse algo pra fazer). Abriu a porta, olhou a paisagem se achatando quilômetros abaixo dos seus pés. Era bom estar tão alto. Foi até o esqueleto da baleia, se apoiou numa vértebra e tirou mais um cochilinho. A história de como essa baleia foi parar no topo de uma montanha isolada de quatro mil metros de altitude é muito boa, mas essa história não é sobre isso.
Acabou cochilando mais do que os 15 minutos planejados, até que a sombra do osso saiu de cima dele e entre seu rosto e o sol não havia mais nada visível a olho nu. Acordou assustado, puxou ar bem forte, mas o ar não vem tão fácil quando se está tão alto. Ele ainda não tinha se acostumado. Voltou pra dentro de casa, acendeu o fogo e deixou a água fervendo. Já não chovia tinha algum tempo, e descer pra buscar mais água envolve uma expedição de alguns dias e sério risco de morte, de modo que ele tentava postergar isso o máximo que pudesse, principalmente depois da última vez. Mas deixa a última vez pra lá, vamos nos ater a essa história.
Sentado na mesa, segurou a foto dela e ficou olhando enquanto tomava café. Era a mesma coisa todo dia. A foto já estava desgastada, os cantos rasgados, um buraquinho de cigarro na parte de baixo. Mas ela continuava linda. Suspirou e se arrependeu, como todo dia, como toda hora desde que chegou ao cume daquela montanha. Mas não dá pra voltar no tempo, e ela não estava mais lá. Continuava se lembrando daquele último momento, de como ele deveria ter esticado o braço para ela ao invés de se segurar na árvore. Mas isso é o passado, e não é do passado que essa história se trata.
Essa história é uma merda.
segunda-feira, 31 de março de 2014
Essa história
Postado por Thiago Padula às 13:04
Marcadores: Histórias avulsas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário