Eu trabalho nesse lugar que eu trabalho há quase dois meses. É na Vila Mariana, é perto do metrô, é bom. Descobri, pouco antes de iniciar minhas aventuras aqui, que era possível ir andando do trampo pra casa (e vice-versa, mas isso significaria perder minutos preciosos de sono), desde que estivesse disposto a dar uma caminhadinha não desprezível. Eu sempre estou, então tenho feito o percurso da liberdade quase todos os dias desbravando as ruas da zona sul de São Paulo com nada mais que minhas pernas, minha mochila e minha vontade de correr esse mundo em busca de vingança contra o assassino de meu pai.
Meu pai tá vivo, eu que me deixei levar, perdão.
Ainda no começo do trajeto, onde cruza a Vergueiro com a Lins de Ivans Vasconcelos, há uma praça pequena e dentro dela uma quadra de futebol de salão. Os portões estão sempre abertos, qualquer um pode chegar e jogar. Só que...
Na primeira vez que eu passei lá, estava indo ensaiar com a gloriosa e achei estranho uma quadra pública vazia numa cidade do tamanho de São Paulo num país devotado ao futebol como o Brasil. Na segunda vez, já nesse circuito trabalho-casa, a quadra continuava vazia. E continuou vazia todas as vezes que eu passava lá, apesar de sempre ter pessoas na arquibancada improvisada fazendo aquilo que a gente sabe que os jovens fazem de melhor: viver. Poderia-se achar que essa presença de pessoas em estados alterados de consciência contribui para afastar os potenciais jogadores, mas não, qualquer um que já desbravou o futebol amador nesse país sabe que não é futebol se não tiver maconha e armas de fogo.
Comecei a pensar, então, que a razão mais lógica para esse bizarro fenômeno era que a praça foi construída em cima de um campo de futebol indígena, onde os nativos de tempos mais simples batiam a sua bola jogando com as cabeças e aquela coisa toda. Por isso a quadra estava agora amaldiçoada pelos espíritos dos índios craques do passado, como aquele grande time do Tabajara que venceu o Guarani e levou a Copa Vergueiro de 1490. Ora, o que mais poderia ser, certo?
Bom, poderia ser que as pessoas não tavam afim de jogar naquela época, porque agora o diabo da quadra tá sempre cheio e eu perdi o timing do post. Mas num dia a gente perde, no outro a gente ganha: descobri também nesse trajeto um mercado que vende Magikitos, o pior salgadinho do mundo. Dá pra sentir o cheiro daquela desgraça com o pacote lacrado. É irresistível.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Vingança, índios e salgadinhos fedorentos
Postado por Thiago Padula às 19:46
Marcadores: Futebol, Inutilidades
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Um comentário:
Peguei Padulinha comendo salgadinho fedorento de nome duvidoso, vou contar para todos. hehehehehe
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