sábado, 10 de agosto de 2013

Gelimão

Bar, restaurante, algo do tipo. Você está sentado, o garçom está de pé, ansioso.

- Vou querer uma Coca.

Ele anota. Sem levantar os olhos do bloquinho, manda:

- Gelimão?

Não, caralho. Não quero gelimão. Eu odeio gelimão. Não sei como alguém, em pleno uso de suas faculdades mentais, pode gostar de gelimão. Joguem bosta dentro do meu copo d'água, é menos agressivo e desrespeitoso que gelimão.

Não sei qual foi o desvio errado que o trem da sociedade pegou no passado que nos deixou nesse ponto em que é padrão colocar gelo e limão dentro de um copo de Coca. Não é uma questão de gosto, é obrigação já. Experimente dizer "não, só a Coca" pro garçom. Ele vai tomar como sarcasmo e vai trazer o refrigerante com gelimão do mesmo jeito.

A Coca-Cola é um líquido abençoado e maravilhoso, feito segundo receita de Deus, preparado por anjos, beijado por Satanás. Me dê um copo de Coca gelada e cheia de gás e eu não preciso nem da minha mãe. Então vamos começar pelo gelo: gelo é água. Serião. Se o seu refrigerante já está na temperatura ideal (que é o que se espera dele num estabelecimento desse tipo), por que bucetas você vai aguar ele com gelo? Nem deixa mais frio aquela porra, é só um cubo batendo no seu beiço. É tática pra enganar trouxa. A única coisa que fica gelada no processo é o seu bigode.

E refrigerantes, como sabemos, são feitos com doses industriais inacreditáveis jesuscristoémuitoessaporra de açúcar. Pesquisas comprovaram que em cada gota de Coca-Cola tem açúcar suficiente pra cobrir um vilarejo inteiro e ainda sobra um tantinho pra polvilhar na cabeça das crianças pra elas acharem que tem caspa. Quando você decide ingerir esse veneno, já está decidido a trocar dez anos de vida saudável por doçura e amor. E aí me joga o limão pra AZEDAR o bagulho. Vai tomar no cu.

O gelimão é só mais uma ferramenta dessa urubuzação invisível que é o conceito - jamais pronunciado em voz alta - de que a gente não merece a verdadeira felicidade. De que se uma coisa é boa demais, está automaticamente errada e é moralmente reprovável. O gelimão é a chuva ácida da sociedade sobre nossa liberdade, é o muro que nos separa dos nossos sonhos. O gelimão é o imposto abusivo, é o terceiro cartão amarelo, é o professor de educação artística, é a hora de ir pra cama. O gelimão é o DRM, é os talheres, é pagar mais pra beijar na boca, é não poder usar drogas, é não poder dizer pra sua vó que trabalhar é importante e casar é legal, mas as suas coisas preferidas na vida são dormir e cagar. O gelimão é o despertador, é não poder beber no estádio, é a porta do armário, é a borracha, é o DJ tocar Bon Jovi logo depois de The Cure, é a chapinha, é as definições de vírus foram atualizadas. O gelimão é o não.

Pois eu quero que o gelimão se foda. Eu quero é ser feliz, beber grandes goladas, arrotar alto. Gelimão é frescura, e de frescura na minha vida já basta esse post.

5 comentários:

Fernando vasconcellos disse...

Otimo! Gelo e laranja no guarana?

Anônimo disse...

Hahahahahaha! Boa.

Thiago Padula disse...

Gelilaranja é outra desgraçadez, porque parece um genérico de uma ideia que já não era boa originalmente. Sem contar que eu acho que jogam laranja nesse caso só porque dentro do guaraná a combinação de cores fica bonita.

Anônimo disse...

...sério? Isso é pra ser cult? que idiota.

Hebert disse...

É bonito ler um texto e reconhecê-lo m baianês, o mais peculiar de todos os dialetos do PT-BR. Infelizmente, o uso excessivo de escatologia e palavrões "quebrou as perna (SIC)" do seu discurso, que até então, tava bom pra porra. E olhe que eu amo gelimão...