Ano atrás, estava eu dentro do falecido Perus via Lapa 8171/10 a caminho da casa onde já morei quando aconteceu algo bizarro que eu gostaria de compartilhar com vocês. É a primeira vez que conto isso pra alguém pela internet hoje. Parece simples e insignificante, mas crer nisso talvez tenha sido o meu erro durante todo esse tempo.
Minha cabeça manchava a janela com uma pequena amostra da quantidade massiva de óleo produzida diariamente (CRESCER CABELO QUE É BOM NADA, NÉ?!) e meus ouvidos provavelmente eram estropiados pelo alto volume de qualquer porcaria que eu estivesse ouvindo. Estava distraído, relaxado. O ônibus parou num ponto, pouco antes de subir a magnífica Ponte do Piqueri (se houvesse uma lista com as 7 100 maravilhas da zona noroeste de São Paulo, essa ponte passaria perto de entrar), e pessoas embarcavam e outras pessoas desembarcavam e outras pessoas ficavam de boa, esperando outros letreiros, outros destinos. Levantei os olhos da contemplação invisível e passei panoramicamente pela massa de gente que estava de pé a olhar para outro lugar, quando eu vi, eu vi. Eu me vi lá fora.
Não era reflexo na janela, não seja besta. Mas claro que não era eu também (nem meu irmão). Era só um cara que tinha mais ou menos a minha altura, a mesma pele cor de diarreia, o mesmo cabelo cortado baixinho e a mesma blusa de moleton que eu usava de vez em quando. Mas de cara, o primeiro reflexo que eu tive foi de achar que era eu lá fora, e então, por uma garradejogadordosãopaulo de segundo, o universo fendeu, tudo parou, algo mudou. Era como um tilt, um tropeço do tempo. E o ônibus seguiu, e eu segui, e aqui estamos.
Mas só agora (ou esses dias) me ocorreu que aquela sensação estranha pudesse não ser só uma aleatoriedade. Eu acho que, na verdade, naquele momento eu fui transportado para uma dimensão paralela. Acho que a pessoa que estava no ponto de ônibus era eu, sim, e o contato visual de uma pessoa consigo mesma (se ela não for vesga) foi a tela azul que forçou o sistema a rearranjar o espaço, e então eu fui pra outro lugar, e nesse outro lugar o cara no ponto era só um cara parecido comigo.
Impossível não imaginar o que aconteceu com o outro eu, o que estava esperando o ônibus. Ele hoje pode estar rico, pode ter crescido cabelo do nada, pode estar casado, pode estar feliz, pode estar famoso. Pode ter comido a Isis Valverde e tocado com o Michael Jackson (nessa outra dimensão, o Michael Jackson não morreu). E assim como há essa outra dimensão, pode haver mais. Em alguma delas eu posso inclusive morar na Lua.
Eu poderia ter mil vidas. Usando o título do blog como dica, adivinha qual é essa aqui.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Mundo bizarro
Postado por Thiago Padula às 13:41
Marcadores: I hate myself and I wanna die, Inutilidades
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Um comentário:
Aconteceu comigo uma vez...
Sem dizer que eu já vi vários outros você por aí.
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