Eu era um molecote de joelhos tortos e cabelo oleoso na Freguesia do Ó, e gastava todo o tempo em que não estava ocupado com deveres acadêmicos ou futebolísticos dentro da Brasília do meu pai ouvindo Raça Negra no toca-fitas. A graça de ser criança é que tudo é novo e maravilhoso, e eu me lembro do dia em que, depois de decorar todas as letras e aprender a cantar todos os solos de saxofone, eu pensei: "será que tem mais?"
Vou cortar um pouco a história e avisar que houve um desvio no plano inicial, mas no final eu estava com uma fita cassete que tinha num dos lados Negritude Jr. e no outro, que é o que importa nesse texto, algumas canções pinçadas do primeiro álbum do Só Pra Contrariar. Não preciso dizer que esse era o lado que eu ouvia mais (SPC >>>> Negritude), e daí em diante a trupe colorida dos irmãos Pires cantou intermináveis serenatas sob a janela do meu desenvolvimento pessoal - me lembro especialmente de uma gincana na escola que a gente tinha que cantar uma música qualquer e uma equipe humilhou improvisando uma versão de A Barata enquanto meus comparsas e eu só conseguimos pensar em interpretar o coelhinho bossa nova.
Aí eu cresci, descobri o Nirvana, aprendi a tocar violão, deixei cair os cabelos (foi opção minha, vejam só), montei uma banda, comprei uma camiseta do Led Zeppelin e fui traído, covardemente rendido por essa terrível danação chamada nostalgia. Onze anos depois de gravar a Brasil 2000 na memória do meu rádio FM eu estava no Credicard Hall - perto de onde eu só havia chegado para assistir o Oasis no estacionamento - esperando começar o show que comemora os 25 anos do grupo que me ensinou que o samba não tem fronteiras e que não adianta nada essa tal liberdade se estou na solidão pensando em você.
Havia uns sérios problemas de coerência conceitual - a plateia ficava sentada e ou eles fazem muito sucesso na Noruega ou não tem mais água oxigenada em São Paulo -, mas lá estavam os sucessos, os refrões e os mesmos rostos que estão enormes na capa do vinil que eu comprei por 2 reais no centro há uns meses. Só que mais velhos, mais sábios, mais platina tripla.
Não era um show pra me emocionar, nem um show que me inundava de ansiedade e expectativa - isso eu guardo pro Blur e pro Bruce Springsteen - porque eu não estava ali como fã, estava ali a passeio. Um passeio num trenó mágico guiado por unicórnios sobre nuvens e arco-íris pela minha infância, por um tempo mais simples em que eu podia ter um gosto musical horroroso sem que ninguém me olhasse feio por isso. Não que eu sinta falta, longe disso, mas fica dentro do meu peito sempre uma saudade.
domingo, 7 de julho de 2013
Essa tal nostalgia
Postado por Thiago Padula às 18:53
Marcadores: I hate myself and I wanna die, Música
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Um comentário:
Você é uma vítima, Padula.
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