Quando eu penso na ideia de um país parando por QUATRO dias pra festejar, com direito ainda a mais doze horas pra curar a ressaca, eu gosto mais e mais do Brasil. É tão bizarro, tão absurdo, tão impensável uma coisa dessas nesses tempos de produtividade máxima e time is money que me dá até vontade de chorar de tão lindo.
Como eu não sou muito de festa, gosto de aproveitar pelo menos a folga. Esse ano eu vim para Ponte Nova, Minas Gerais, cidade onde moram vovó e vovô e de onde eu escrevo esse post, utilizando um artefato antigo feito à base de celulose chamado "Caderno" (um belo caderninho pautado com um cachorrinho fofo na capa que eu apelidei de Aldebaran). Ponte Nova é uma cidadezinha com 57 mil habitantes a uma hora de Ouro Preto, aonde a essa hora milhares de jovens devem estar bebendo, se lambendo e, credo, se divertindo. Aqui, entretanto, é tudo parado: só se encontram abertos meia dúzia de bares, cada um com uns gatos pingados. Mas a paz, ah, a paz.
Como minha família veio da roça, lá é meio que um passeio obrigatório. Tem mato, terra, mato, terra, mato, mato, terra, mato, terra, terra. Tem uns rios e umas casinhas e uns boizinhos e isso tá parecendo redação de minhas férias. Mas é tudo muito bonitinho, embora eu não entenda nada que as pessoas falam a maior parte do tempo (que fruta dá em que época, como matar os porcos pra ficar gostoso de comer, como exterminar os formigueiros pra pararem de comer as plantações - sério, é muita matança). Eu não moraria lá (o trabalho no campo não me cai bem), mas parece um bom lugar pra ficar fazendo música (se a maior parte das minhas músicas não fossem sobre ficção científica) e pintando (se eu soubesse pintar).
E, bom, tem o riozinho, a pracinha com igreja, umas capivaras e tal - uma típica cidadezinha do interior, e não vou me alongar mais. Mas eis que, das conversas e fofocas, eu percebo que todo mundo aqui tem parente morando em São Paulo, e esses parentes moram todos perto da minha mãe, fazem compras no mesmo mercado, vão à missa na mesma igreja. E, então, epifania! E se São Paulo for na verdade não uma megalópole que suga a sua alma e despedaça seu coração, mas um grande compilado de cidadezinhas? Fica mais agradável, se você for ver bem. Porque, na prática, quais as diferenças? Só a falta de árvores a má educação das pessoas o trânsito o ônibus lotado o metrô lotado o trem lotado o preço do taxi a Marginal o estresse as enchentes o barulho o mau gosto os olhos sempre grudados no celular as camisas polo com brasão bordado os ladrões os carros blindados as câmeras de vigilância os babacas a Folha a poluição a luz amarelada as vidas de plástico o abismo social a xenofobia o céu sem estrelas os animais comprados no pet shop os antidepressivos a complicação a tattoo a facul o face a breja
É quase igual.
Ps: esse post foi escrito alguns dias antes da data de publicação, então algumas coisas podem estar desencaixadas no tempo.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Hoje a festa é no mato
Postado por Thiago Padula às 20:27
Marcadores: Inutilidades
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Padula, nao é de hoje que frequento essa espelunca, gosto dos seus textos. Acho que um perfil vida de bosta no facebook poderia fazer sucesso. Um abraço, Fernando Vasconcellos, o Fino.
Existe, mano: https://www.facebook.com/vidadebostacorp
Postar um comentário