Há quase um ano eu publiquei um texto sobre como eu não tinha um smartphone pra poder cagar melhor (não era exatamente sobre isso, mas é uma interpretação possível). Pois passaram-se 11 meses e meio e meu antigo celular, o velho de guerra, o que me avisava a hora de acordar desde a última Copa, se foi. Na verdade ele não se foi, mas começou a não funcionar da maneira que eu espero que ele funcione (me acordando de manhã) e precisei comprar outro. Estou há uma semana com, sim, um smartphone.
É um aparelho bacana, tem cores, tem som, tem milhões de aplicativos (dos quais eu só uso aquele de afinar o violão e o de fazer flexões) e me abriu a um mundo de possibilidades nunca dantes navegadas (mentira, claro que eu não faço flexões) e isso... não é bem o que eu gostaria.
(eu não tenho força nem pra tirar a capinha do celular, imagina pra fazer flexões)
Não me leve a mal, não é que eu não aprecie o esforço do aparelho, e não é que eu esteja fechando meus portos a toda influência estrangeira, é só que me parece um desperdício. Ok, eu tenho acesso a um mundo de informações e posso estar conectado com todos os meus mil amigos em qualquer lugar. Mas eu tenho tipo dois amigos e as únicas informações que me interessam não vivem assim um período de grande produção, visto que a pré-temporada acabou agora e meu time é um lixo. Não é uma novidade, eu sempre fui assim, não é um paralelepípedo de plástico que vai mudar algo, mas me dói um pouco ver tudo que eu poderia usufruir e, em contraste, o quão pouco eu aproveito.
E esse pensamento me levou a outro, e foi aí que eu fiquei preocupado: nessa dinâmica da decepção entre o posso fazer - realmente faço, existe um sério déficit de minha parte com relação a outro produtor de possibilidades, que vocês talvez já tenham ouvido falar sob o pseudônimo de "vida". Ou talvez tivesse ouvido falar se largasse essa merda uia que jogo é esse tem pra Android? E não foi exatamente isso que me preocupou, esse lance de "oh, cada minuto é precioso, carpe diem, caga pela boca bla bla bla". Me preocupou eu ter ficado mais chateado com o mal aproveitamento do celular que com o da vida.
Claro, é uma comparação injusta, afinal de contas eu paguei pelo celular. Mas a vida tem lá seu valor, e talvez o melhor fosse eu parar de me entristecer pelo telefone. Ou aproveitar melhor a vida, mas sejamos realistas. Então, a partir de agora, nada de ficar olhando a cada três minutos pra ver se a luzinha está piscando ("uau está piscando alguém me ama! ah é spam"), nada de ficar fuçando atrás de aplicativos novos para coisas que eu não vou fazer (eu não tenho um aplicativo de flexões, sério), nada de ficar acompanhando a bateria pra não deixar nunca acabar e correr o risco de não tirar aquela foto do cachorro quando ele fizer uma pose fofa. Se não pela qualidade de vida, pela coerência.
Que fique de ponto positivo que eu nunca mais perdi a hora de acordar, esses negócios são bons mesmo.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
O celular e a vida enquanto produtores de possibilidades infinitas
Postado por Thiago Padula às 13:14
Marcadores: I hate myself and I wanna die, Inutilidades
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Um comentário:
Tá explicado o Instagram, então hahahaha
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