Domingo passado (ou ontem) eu fui passear com os meus pais, dessas coisas que você faz quando é criança ou quando é eu. Nós pegamos a caratuba de Pirivana caravana de Pirituba e fomos até Barra Bonita, uma pequena cidade do interior de São Paulo que tem outro rio Tietê, embora eles insistam em dizer que é o mesmo. Aí que basicamente lá rola uma volta de navio por uma eclusa - um elevador de água que dizem ser uma fantástica obra de engenharia quando todo mundo vê que é bruxaria pura - e pelo rio durante longas paisagens que só tem água embaixo, um pedaço de terra no meio e o céu acima. Água, terra e ar, vejam bem, só falta o fogo pra chamarmos o Capitão Planeta.
"Não, amigo, falta também o coração"
E é sobre isso que eu quero falar. Como aparentemente a principal atividade turística da cidade são os passeios de navio, vários deles saem ao mesmo tempo e fazem o mesmo percurso. E nos momentos em que os barcos se cruzavam, acontecia algo que me chocava intensamente: as pessoas acenavam, davam tchau, mandavam beijos para as pessoas dos outros barcos.
"O que está acontecendo?!", pensei, transtornado. Por que essas pessoas não estão mostrando o dedo do meio, mandando tomar no cu, disparando aquela agressividade gratuita que faz nós sermos o que somos de verdade? Nada. E aquilo me fez refletir, sabe. Sobre como realmente é mais gratificante ser legal com as pessoas, sobre como o amor traz mais conforto que o ódio, sobre como gentileza gera gentileza. Por que não ser bacana com outras pessoas? Por que não ser educado, atencioso, prestativo? O que aconteceu conosco (não venha me dizer que eu sou o único, te conheço) que tudo precisa ser sarcástico, ríspido, cortante, feroz? Por que vivemos a vida como se estivéssemos nos comentários de um blog?
E aquela simplicidade, aquela ternura de pessoas que nem devem ter acesso à internet porque estão velhas demais pra conseguir entender esses vídeos pornográficos de baixa definição que jorram por aí me tocou. Me fez ser melhor. Me mostrou que não é só o aceno ou o "bom dia", mas é o sentimento positivo permanente que vale a pena. Só isso já te faz querer acordar todo dia.
Então passa uma lancha com um cara deitado de bruços e todo mundo começa a gritar "bicha, bicha, bicha". Cambada de filhos da puta.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Distribuindo a gentileza
Postado por Thiago Padula às 18:36
Marcadores: I hate myself and I wanna die, Inutilidades, Verdades
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5 comentários:
Trilha sonora natalina da Simone até o penúltimo parágrafo. Depois disso fez aquele ruído de disco riscando.
Cara, ri muito com o último parágrafo.
Caramba Padulera, você é bom mesmo com as palavras!
Thiago, larga tudo e vai escrever crônicas...vc podia escrever aquela última página da Vejinha (devem pagar uma grana). Seus textos são excelentes. Postei o link no Facebook.
Poxa, eu já estava achando que era um post inspirador da boa vontade do humano, do coletivo... coisa bonita e interiorana. Mas é a mesma cambada de filho da puta!!
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