quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Viver de arte


A arte. Produto de uma mente enclausurada em busca de um caminho, forma e conteúdo em harmônica união, gatilho que ativa nossos mais introspectivos sentimentos e emana para todos os cinco sentidos. Ah, a arte.

Uma coisa interessante em se fazer arte é que ela é uma manifestação egoísta de um artista que põe aquilo na frente de um público que pode apreciar ou não. E é isso aí. Gostou, ótimo; não gostou, vá se foder. E é na borda disso, em cima da mancha causada por essa distorção absurda da ideia de comércio que aparece aquele grande problema, normalmente resumido na frase "é muito difícil viver de arte no Brasil".

Eu já ouvi essa várias vezes, muitas delas de cabeludos fedidos na rua tentando me vender seus livrinhos de poesia impressos na lan house e grampeados por um maneta. Então vamos deixar uma coisa bem clara aqui: é difícil, sim, viver de arte, mas é mais difícil ainda viver de bosta.

Porque ora porra, esse desgraçado escreve um amontoado de versos bregas, incompreensíveis ou de mau gosto (e normalmente com erros de ortografia) e acha UM ABSURDO que seja muito difícil viver de arte nesse país de merda. País de bosta. País de incultos, ignorantes, débeis, vermes. Não sabem apreciar a minha arte, a minha poesia.

E sabe por que? Porque a sua poesia é uma bosta. Porque você não produz nada pra sociedade. Porque os seus pensamentos, a sua agonia, a baranga que te largou são tão interessantes pra mim ou pra qualquer outra pessoa quanto o xampu que você usa (ou deveria usar). E porque poesia é uma bosta. E dança contemporânea é uma bosta. E circo é uma bosta. Esse é o seu trabalho, senhor palhaço, jogar um prato cheio de espuma na cara de alguém? Ora, vá encher uma laje.

Artista é uma raça desgraçada, gente mimada dos infernos que acha que merece ser recompensada por ser brilhante (além de tudo acha que é brilhante, só porque usa roupa suja). E não adianta conseguir dinheiro pra pagar as contas, não senhor. Isso é muito pouco para a minha genialidade, eu exijo ser milionário, e exijo agora! Olhe naquela tela e vislumbre meu filme sobre a chuva no retrovisor de um carro estacionado no centro de São Paulo e tenha a AUDÁCIA de dizer que eu não mereço maletas de ouro por isso!

Fazer arte é o máximo. Eu gosto bastante. Mas eu sei que isso só é interessante pra mim, então eu tenho um emprego, uma dessas coisas patéticas que te aprisionam para o resto da sua vida em troca de moedas. E eu não tenho nada contra o camarada que quer viver da sua arte. Pelo contrário, vá em frente, lute por isso! Faça o que te faz feliz, por favor! Mas tire esse pinto do rabo de vez em quando e tente enfiar um supositório de humildade pra perceber que ninguém é obrigado a te recompensar por ficar se jogando no chão em roupas leves (essa é a minha descrição ridícula para "dança contemporânea").

A vida não tá fácil pra ninguém, mas eu te garanto que é mais fácil ir à luta que ficar fazendo mimimi por isso. Ou desistir, considere sempre que você pode ser um merda que nunca vai ter sucesso nesse ramo.

Atualiza, diabo: nem se eu quisesse forjar conseguiria um depoimento tão perfeito pra exemplificar esse post. Vejam até o final, é uma lição de vida.

2 comentários:

Otávio Pacheco disse...

Creio que esta é a melhor frase deste blog: "é difícil, sim, viver de arte, mas é mais difícil ainda viver de bosta."

Ah, um detalhe, recentemente eu fiz um vídeo de chuva no parabrisa. hehehehehehe

Julio disse...

Perfeito. Você acabou de demonstrar que não tem a menor noção de qual é a finalidade da Arte...

Parabéns, você foi infectado com sucesso pelo capitalismo desenfreado.