sábado, 28 de janeiro de 2012

Escreveu, não leu, ficou uma bosta

Eu tinha dito, no primeiro post do ano, que a ideia era escrever mais em 2012. E até agora estou firme e forte na função, mas detectei dois problemas.

O primeiro é que tá foda de achar assunto. Não que não tenha coisa acontecendo no mundo, mas isso gera aqueles posts de cagação de regra, que apesar de normalmente serem os textos com mais acessos, são um saco. Sério, vocês não precisam de um imbecil como eu vomitando bosta sobre coisas que eu não faço ideia do que se tratam. Tem gente melhor por aí pra se ler. O lance é que eu estou tentando levar uma vida boa, positiva, leve, o que é a antítese da proposta desse blog. Ainda que nessas aconteçam coisas que mereçam ser relatadas, em geral é só chatice. Tipo o livro do Eric Clapton.

O segundo é que eu estou escrevendo mal padaná. Tudo bem que eu nunca fui um "meu deeeus, como escreve bem esse veado", mas ultimamente tá foda. Muito palavrão, muitas frases preguiçosas, muitas vírgulas, muitos parênteses, pouquíssima inspiração. Então por um momento eu comecei a pensar se existem pessoas que ensinam a nobre arte do artesanato de palavras, e fui esbofeteado pela verdade ao encontrar a resposta bem ao lado da minha cama: livros.

Ora buceta, livros! Quando eu morava na Freguesia do Ó e passava três horas ocioso num ônibus pra ir e voltar do trabalho, tinha a condição ideal pra eu ler (talvez não "ideal", mas funcionava). Agora que eu moro perto do metrô e só gasto 15 minutos (normalmente de pé espremido no meio dos honrados trabalhadores), não rola. Como eu nunca peguei o hábito de ler em casa (sacomé, tem videogame, violão, computadPARA DE ABRIR PARÊNTESES PRA TUDO!), fiquei parado. Ano passado, que me lembre, terminei dois volumes: Eu, Robô do Isaac Asimov e Duna do Frank Herbert. A ficção científica é uma paixão que eu não conseguiria justificar no tribunal da vergonha.

Enfim, é pouco. Então ou eu volto a trabalhar de busão, ou me disciplino a ler em casa. Nesse último caso, seria interessante se eu pudesse ler só no meu quarto, porque já fiz muito coleguinha de moradia cagar nas calças ao ficar uma hora trancado no banheiro esperando chegar no final do capítulo. Juro que era isso.

O problema dessas resoluções de ano novo é que elas nunca se resolvem em si mesmas: uma coisa abre outra necessidade, que depois abre outra e por aí vai até a hora que você desiste e não faz porra nenhuma. Olha aí a minha ideia de vida simples indo pro saco :\

(E com esse emoticon de careta fechando o texto, eu oficialmente me filio ao partido do humor pastelão. Minha mãe ficaria orgulhosa, se ela se importasse)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Três coisas que eu não gosto nos cachorros de casa

1- O cocô

Quando eu me mudei, já moravam cá dois cachorros: a Pepita e o Rocky. São vira-latas adultos e adoráveis, mas cagam como o inferno. A única experiência de vida que eu tinha e julgava ser útil nessa nova rotina longe dos mimos dos pais era a de limpar cocô de cachorro, mas como eu estava errado. Oh, como eu estava errado. Nos meus primeiros dias, costumava limpar a caca do quintal diariamente, numa rotina que se dava mais ou menos assim: pego o jornal, o saco plástico e o desinfetante; pego o cocô com o jornal; o cocô quebra, liberando um inacreditável cheiro que estava aprisionado, como um feitiço milenar dentro de um baú de merda; paro um minuto pra me recuperar do baque, volto à tarefa; o cocô quebrado começa a esfarelar mais e mais, e se enfiar nas frestas entre os blocos de cerâmica do chão; raspo o chão com o jornal, transtornado; os cachorros vem e a) pegam a sacola e espalham toda a merda que eu já havia juntado ou b) pulam em cima de mim, me desequilibrando e... bem; eu sento no chão (a alguns metros) e choro copiosamente; eles, sensíveis, chegam perto e me abraçam, eu enxugo as lágrimas e penso que agora está tudo bem; termino o serviço e volto pra casa satisfeito. Dia seguinte tá lá aquela colônia de bosta de novo.

E o que me deixa inconformado é que tinha jornal lá pra eles fazerem os seus serviços fundamentais em cima. Mas eles cagavam e mijavam em todos os lugares, menos na porra do jornal. Devem ser intelectuais os filhos da puta, preferiam ler as notícias. Meses depois chegou uma outra bonitinha em casa, a Zula, que ao menos pegou o hábito de fazer suas coisas no local apropriado (ainda não sabe ler, provavelmente), mas o cheiro do que ela faz não pode ser explicado pela ciência.

2- O latido

Eu tomo meu banho quentinho, assisto a algum episódio da minha série favorita e me preparo pra dormir. Arrumo o lençol, a fronha, o edredon, deito-me e sinto a milagrosa maciez do colchão, cada fibra, cada linha se adaptando perfeitamente ao meu corpo depois de um cansativo dia de trabalho. Fecho os olhos e deixo minha mente me guiar, primeiro relembrando os acontecimentos recentes, depois distorcendo a realidade até quWAWAWAWAWAWAWAWWOOWOOWOOWOOWAWAWAWOO

WAWAWAWAW

WAWAW

WAW

...

Como eu ia dizendo, os pensamentos vão ficando confWAWAWAWAWAWAWOOWOOWAWAWOOWAWA

Então eu bato delicadamente na janela e grito KLABOCAFIDAPUTAQRODORMEVOUTRABLHAAMANHÃPSIUCARAI

O que eu acredito que os cachorros entenderam do meu arroubo:

São Paulo, 20 de onzembro, 2h14

Caros Rocky, Pepita e Zula

Não sei se isso é claro para os senhores, então gostaria de manifestar formalmente minha satisfação pelos ótimos serviços prestados na manutenção da segurança de nossa moradia, demonstrando a cada pobre alma que tem a audácia de passar a um raio de cinquenta quilômetros que estão atentos e não tolerarão ousadias. Além disso, como assim nomeado responsável por vossas senhorias (já que as antiquadas leis de nossa sociedade consideram a nós, humanos, seres dignos de tal honra), também fico muito feliz em constatar que não perdem tempo ao responder para todo colega de espécie que ladra na vizinhança. Entendo que, por questões de ofício, nem sempre seja possível comparecer à casa de Lulu, o rotivailer do Olavo, para uma animada rodada de chá com bolachas e bateção de papo. Desta maneira, é importante mesmo que não percam o contato e contem as novidades, mesmo que à distância e durante a madrugada. Como está ele, por sinal? Curado daquela otite?

Enfim, talvez eu tenha soado tolo ao dizer algo óbvio, mas não poderia correr o risco de não deixar claro meu júbilo e alacridade ao ter por perto tão notáveis amigos.

Forte abraço,
Thiago Padula de Oliveira (ou, como devem me conhecer, o "Havaianas pretas")
3- Seus escudos mágicos contra o ódio

Eles cagam debaixo da minha janela, latem de madrugada, soltam pelos por todos os lados (o que pra alguém com a minha rinite é tipo veneno), pulam em mim quando estou usando camiseta branca, comem meu chinelo, fogem pra rua, deixam cicatrizes permanentes no meu braço por medo da agulha de injeção (claro que não é esse o motivo que eu digo quando me perguntam), abrem a porta da frente e fazem minha alma dar um pulo de três metros enquanto o corpo permanece no mesmo lugar, catatônico de susto. E quando eu penso em arrancar fora as suas cabeças... eu não consigo. Não dá. Eu não sei a que tipo de bruxa maligna esses filhos da puta juraram devoção, mas eles lançam um feitiço poderosíssimo que torna impossível odiá-los. E eu acho tudo tão adorável, a cara de delinquente da Pepita, os dentes de Hannya do Rocky (o cachorro feio mais lindo do mundo), a misteriosamente interminável energia da Zula. Talvez porque eles não sejam meus animais, e na hora do aperto você pode sempre empurrar a encrenca pro dono, mas enfim. Provavelmente é isso mesmo.

E o fato de eu não ter NENHUMA moral com eles (a única ordem minha que eles obedecem é "continuem fazendo o que vocês quiserem") só contribui pra minha fama de perdedor vida de bosta. Eu passo vergonha, mas é engraçado (pros outros).

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Só sei que ZzZzzzzZZz

Eu não escrevo isso com muita frequência por aqui (não gosto do assunto), mas eu não acredito em deus. Em nenhum deles, nem Deus, nem Alá, nem Dendê. E não é que eu refute a existência deles, eu só acho que o universo é grande demais e tem tantas possibilidades que alguém com o meu intelecto de merda não deveria achar que sabe de alguma coisa. É brega aquela frase do Sócrates (o filósofo), mas é por aí.

E eu fui autodegradante pra ser educado com os visitantes, mas já que vocês chegaram ao segundo parágrafo eu posso falar: ninguém sabe de merda nenhuma. A gente não entende o planeta, o universo, o corpo humano, a vida, a morte, nada. Em uma semana, beber cerveja faz mal. Na outra, descobrem que faz muito bem. Na outra, faz mal de novo. E se não dá nem pra saber se afinal de contas é bom beber uma porra dum líquido amargo, imagina essas coisas maiores que a gente, tipo deus. Portanto, quando eu digo que não acredito, não tô dizendo que não existe. Eu sei lá se existe. Pode ser que exista, e pode ser que seja um ser de infinita bondade, mas que ao invés de ter a aparência de um simpático senhor de barbas longas seja na verdade uma galinha verde com uma perna de pau, um olho de ciborgue e um pedaço do crânio aberto deixando o cérebro à mostra. Por que não? Probabilisticamente, as chances são iguais. De modo que, se eu não estou dizendo que deus não existe, não venha você também me dizer que existe sim, por quaisquer razões absurdas que sejam. No fim das contas, é só uma questão de crença mesmo.

Mas não, não pode ser. Crença é um negócio muito subjetivo, e se é subjetivo tudo tá valendo, e se tudo tá valendo ninguém ganha, e se ninguém ganha EU não ganho. Eu sei lá o que diabo aconteceu com o mundo que todo mundo agora quer currar o cérebro do próximo na parede na base da martelada intelectual, mas tá foda. Naquele tempo primitivo em que a grande biblioteca do conhecimento humano tinha só umas revistinhas de fofocas, podia mais quem batia mais. E eu sei que parece absurdo dizer isso hoje em dia, mas aquilo fazia muito mais sentido. Porque já que todo mundo quer ser melhor que o outro, não tem jeito mais sem erro que por esse povo pra cair na porrada. Quem ficar de pé no final ganha, é muito simples. Mas depois que algum desgraçado inventou que o cérebro valia mais que os músculos, fica essa palhaçada de gente se agredindo com superargumentos tipo "Deus existe porque tá escrito na bíblia", no que o outro rebate dizendo... bem, dizendo nada, só fazendo cara de esnobe, porque parece que nesse jogo uma atitude blasé vence um argumento. Sei lá, deve ser tipo papel ganhar da pedra.

O problema é que a gente processa essas questões complexas com base nas ideias e informações que conhecemos, e as esquadrinhamos de acordo com nossos padrões lógicos (ou simplesmente aceita o que outra pessoa falou, acontece também). Só que nossos padrões lógicos são nada. Nossos padrões lógicos são tão medíocres que pra muitas pessoas ainda é um mistério se o tomate é uma verdura ou um fruto. E essa maldita classificação foi inventada justamente pelas pessoas! Então a gente fica aí achando que precisa haver um criador com C maiúsculo, ou que a ciência sabe de tudo, ou que o Luciano Huck é um bom apresentador. Eu não consigo nem começar a imaginar essa questão, porque tente, num esforço de pensamento, encaixar no seu cérebro a totalidade da ideia de deus ou do universo. É demais. É maior que esse espacinho, não cabe. Não faz sentido! Como pode o universo não ser infinito? Ou como pode ele ser infinito, como isso acontece?

Tem um livro chamado You are not so smart, do qual eu só li o prefácio porque não sou lá muito esperto, que trata um pouco disso. Tem lá aquelas pesquisas com um monte de gente pra demonstrar que essa coisa de a gente procurar motivo em tudo e ter explicação pra tudo é só uma autotapeação, pra não nos sentirmos uns merdas ignorantes. Se você também for um grande preguiçoso, dá pra ler uma entrevista com o autor aqui. Mas se estiver engajado mesmo na causa, me manda um email que eu te, ahn, 'providencio' o livro. O Megaupload morreu, mas seu espírito continua vivo nos nossos corações bucaneiros.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Esse não é um texto sobre o Big Brother

Tirando momentos esporádicos nas primeiras temporadas, eu nunca acompanhei o Big Brother. Em algum período foi pelo meu afastamento gradual da televisão, em outro foi pelas obrigações noturnas da faculdade, em mais algum pela alternativa de assistir aquela Casa dos Artistas que tinha a Tiazinha, a Feiticeira e a Ellen Rocche. Mantenho minha posição de que esse último é o melhor programa de TV de todos os tempos, mas isso não vem ao caso. Era pra falar sobre Big Brother, mas eu não quero falar sobre Big Brother.

Também não quero falar se o cara estuprou a mina ou não, se cu de bêbado tem dono ou não, se a Globo tem que se fuder ou não, se o programa tem que sair do ar ou não. É um assunto chato pra cacete, e a única lição que a gente deve tirar daí é que estupro é uma coisa feia e não deve ser praticada (talvez o Rafinha ache que só deve ser praticada com mulheres feias e o Maluf abra a ressalva de que é permitida desde que não seja seguida de morte, mas que eles discorram sobre isso nos seus próprios blogs).

E eu quero lá ficar dizendo se as pessoas devem assistir ou não, ou fazer qualquer análise sobre a degradação do intelecto humano baseado no interesse por esse suposto lixo. Primeiro porque se juntar aos amigos que normalmente são tão inteligentes quando uma tampa de tupperware pra encher o cu de cachaça e passar a noite vomitando num banheiro sujo também não acrescenta nada ao seu repertório cultural e ninguém deixa de fazer - nem deveria; segundo porque nego argumenta que ficar vigiando a vida dos outros e decidindo o que os outros devem fazer é uma merda, mas estão fazendo exatamente o mesmo. Enfim, dane-se, não vou falar sobre isso.

Eu não vou falar sobre nada. Só o que se fala é Big Brother, Brigbródi, Bebebê, e eu não queria falar sobre isso, portanto aí está, não falei. Parece que a gente sempre tem que falar sobre tudo que acontece e etc, mas não!, abracemos a opção de ignorar também. Como eu fiz, e agora sou um exemplo a ser seguido. Me siga.

sábado, 7 de janeiro de 2012

All apologies

Todo mundo tem um objetivo na vida. Tá, nem todo mundo tem, mas dar à sua vida um objetivo é meio que bom e tal. É difícil achar, mas tem uns por aí. Tá, quase ninguém tem.

Eu tenho um: morrer. É, eu sei, é apelação, porque pra não alcançar esse eu preciso ser muito ruim. Mas é alguma coisa. E não é porque eu acho que a vida é uma bosta miserável que não vale a pena continuar (eu acho tudo isso, mas não é por isso), é porque a morte é um negócio que me atrai de um jeito esquisito.

Se querem um bom exemplo, o post mais visitado do Vida de bosta (com exceção dos que tem algum tipo de auxílio à punheta do colega internauta solitário) é o 5 grandes maneiras de morrer, que eu escrevi há quase três anos. A continuação dele, 5 maneiras ruins de morrer, também tem números bons. Foram posts divertidos de escrever, fluíram facilmente, como se estivessem já ocupando boa parte do meu fluxo de raciocínio. A morte, amigos, é quase minha amiga.

Só não é minha amiga porque a morte é uma merda. Só no último ano, levou minha prima e minha gata, e essa semana levou minha tia-avó. É uma filha da puta (a morte, não minha tia, por favor), mas está aí e a gente tem que se acostumar com a ideia.

Completo hoje 27 anos (primeiro recorde pessoal alcançado: esse deve ter sido o post com o maior número de parágrafos enrolando antes de entrar no assunto de verdade). 27, você sabe, é uma idade que está enrolada nas pernas da morte. Tudo bem que - condição 1 - isso só vale pra quem era artista, famoso e relevante e - condição 2 - há que se deixar de lado algumas coisas aprendidas no curso da vida, como coincidência e tal.

Eu não vendi a alma pro diabo, não fundei os Rolling Stones, não dei pro Serguei. Na verdade, é engraçado como o mesmo tempo que não foi suficiente pra eu conquistar nada na vida foi mais que o bastante pra eu perder quase todo o meu cabelo. Mas, vocês sabem, as pessoas são idiotas e morrer aos 27 talvez me faça ganhar mais prestígio do que eu mereço. Eu não ligo.

Não vou, entretanto, por um fim à minha vida. Eu não, credo. As coisas tem que acontecer naturalmente, é assim que é bonito, é assim que é legal. Quando você força ou planeja, é tudo uma merda. E vai ajudar muito se eu for pro saco de um jeito mais rock 'n' roll. Como eu só corro risco de morrer de overdose se for de Coca-cola ou pão com manteiga, acho que essa possibilidade não vai rolar. Robert Johnson, um do clube, morreu envenenado por um chifrudo que ficou puto pelas liberdades que a versão bluesman de Fausto tomou com sua mulher. Mas não vou ficar dando ideia na mulher de ninguém, porque eu sou bunda mole bagarai. Aí vai ficando difícil.

Bom, deixa pra lá. O fato é que eu tenho 365 dias pra morrer em grande estilo, e o resto da vida pra me arrepender da oportunidade perdida. Fazer alguma coisa em grande estilo não é muito minha praia, então podem contar comigo reclamando aqui ano que vem.

Agora me dá parabéns.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Assim vocês me enchem o saco

Deixa eu já explicar uma coisa antes: eu odeio 'Ai, se eu te pego'. Acho uma bosta de música, fácil, feita de qualquer jeito, mas do jeito certo, e por isso bombou. Imagino até que por alguma movimentação cósmica arbitrária, porque nessa linha de música sertaneja para retardados há tantos outros exemplares até mais bem acabados, mas que não tiveram o mesmo sucesso. Essa é a graça da vida, o acaso.

E é bastante provável que se eu escrevesse sobre esse Michel Teló (que, pela cara de velha, poderia muito bem jogar no Flamengo) há duas semanas, o parágrafo de cima fosse um resumo do texto. Mas então parece que descobriram o cara. 'Descobriram', né, porque esse puto tá estourado nas rádios faz um tempão. Faixa mais vendida no Itunes em vários países, coreografia de celebridades internacionais como Cristiano Ronaldo e Rafael Nadal, possível motivo de expulsão de uma dezena de soldados israelenses. A mídia internacional fala dele. Então, a mídia nacional presta atenção. E cabum.

O Ronaldo Angelim da música aparece na capa da Época e neguinho fica maluco. Fica puto. Fica desgraçado da cabeça. Onde já se viu, o cara faz uma música que eu não gosto e vira capa da revista. Chamam de fenômeno, diz que traduz os valores da cultura brasileira. Não, senhor, não a minha cultura brasileira. Rica, cheia de sacis, berimbaus e cocares. Isso é um desrespeito, alguém faça alguma coisa!

Quer saber? É a cultura brasileira, sim. Cultura é coisa do povo, não dos livros de história. Se não é do seu gosto, do seu agrado, foda-se. Não é do meu, e eu tô cagando. A 'minha' cultura não me representa, meu país não me representa, quem me representa sou eu e acabou. E se isso é comprado, fenômeno de marketing ou o que quer que seja, paciência. O mundo de hoje é assim. Os Beatles são fenômeno de marketing, a Madonna é fenômeno de marketing, a Katy Perry, apesar - ou por isso mesmo - dos olhos lindos e seios perfeitos, é fenômeno de marketing. Independentemente do talento, da mensagem, da voz.

Michel Teló é o típico personagem que vai desaparecer daqui a alguns meses, e talvez com sorte reapareça no futuro (ex. Latino). O mundo hoje é assim, mastiga, mastiga bastante, e então cospe. Características do tempo, características do povo, características do lugar. Cultura, afinal. E o fogo reacionário só confirma isso - o que seria do Elvis sem os pais das adolescentes enfurecidos? E se colocar acima da população porque a cultura 'deles' não é alta o suficiente para alcançar os seus patamares rebuscados de bom gosto é coisa de moleque. Já discutimos isso no post sobre o Restart, lembram?

Eu também preferiria que os grandes representantes da cultura brasileira fossem a Nação Zumbi ou o Sivuca, como alguns até tentam fazer acreditar, mas não são. São, sim, representantes, parte dessa coisa maluca e linda que é a cultura brasileira, mas são personagens menores. E dane-se, também, porque eu conheço um monte de gente que ia ficar puta se o seu artista preferido estivesse estourado como o Michel Teló, ou o Luan Santana, ou a Paula Fernandes. Coisas do povo, crise de um sistema político, social e de pensamento que privilegia a maioria, não o meu umbigo.

E não me entenda mal, acho saudável se revoltar contra o mundo. Só que às vezes é meio ridículo, também.

O que eu não vou cumprir

Escrever não é preciso, me desculpem os companheiros de jornada. Passar o fio-dental é preciso, beber muito líquido é preciso, preencher o livro de ponto é preciso, fazer exercícios é preciso, conhecer os pais da namorada é preciso, ser proativo é preciso, emagrecer é preciso. E todas essas coisas tem uma característica em comum: são um saco. São atitudes que te ajudarão a viver mais, dirão alguns, sem perceber que viver mais também é morrer mais devagar.

Escrever não é preciso, mas é do caralho. Não pela terapia, não pelo desabafo, não pela expressão. Ou por tudo isso, não importa. É bom porque você não tem que prestar contas a ninguém, ou ao menos não deveria. Ou deveria, não vamos impor limites. Escrever tem sido minha atividade produtiva preferida desde que o Vida de bosta deixou de ser um fotolog pra virar um blog, e lá se vão cinco anos. Nesses cinco anos, eu tenho me achado um merda por todas as coisas que eu não faço: por não jogar bola mais, por não desenhar mais, por não estar mais atualizado a respeito das novidades musicais e cinematográficas e literárias e gamers e por aí vai. Eu tenho me achado pior, metade do homem que eu costumava ser (Lennon/McCartney), por ter largado essas coisas que eu gostava tanto no passado. Mas quer saber? Eu não gosto mais, foda-se. Se eu preciso me forçar a fazer algo que eu supostamente adoro, talvez eu não adore tanto assim. Então que vão pro caralho o desenho, o futebol, a Lana del Rey (ou sei lá que diabo tá bombando hoje em dia).

Pois que ainda que o ano novo não faça muito sentido da perspectiva da razão, é uma data que a gente usa pra fazer checkpoints (minha educação formal veio do Crash Bandicoot, perdoem os termos), reavaliar algumas coisas e tudo mais. E, após essa minha tardia epifania, resolvi que em 2012 eu vou escrever mais. Ou ao menos com mais disciplina, regularidade e tal. Até comprei um caderninho pra levar no bolso, e até agora ele só tem uma anotação: "aposto que eu vendo mais cocô que camiseta". Ainda tá no começo, gente, calma.

Não significa que vai ter mais posts no blog, porque o blog é um suporte com tamanho e cor já estabelecidos e não vai fazer bem eu ficar agarrado em fronteiras. Mas também não pretendo postar tão pouco quanto ano passado, que foi meio vergonhoso. Eu sei lá que porra eu vou fazer, na verdade, mas se for interessante eu aviso aqui. Aceito sugestões, inclusive.

E você, decidiu o quê pra esse ano de merda? (outra resolução: parar de ser tão desgraçadamente negativo) Lembrando que 'entrar na academia' e 'fazer uma tatu' é muito clichê.