sábado, 15 de outubro de 2011

Gandalf



É muito provável que você conheça, no seu trabalho, faculdade, escola ou coisa do gênero, aquela pessoa que não é lá um exemplo de conduta, profissionalismo ou competência mas, mesmo assim, todos o adoram e o consideram muito melhor do que realmente é. A lábia, meus amigos, é um dos mais poderosos artifícios da raça humana desde a Terra Média.

Vamos pensar em Gandalf, o grande mago que guiou Bilbo Bolseiro e seu sobrinho Frodo em suas respectivas aventuras a mundos cheios de dragões, orcs, gollums (tá, só um) e a mais sensacional conjuntivite já registrada pelo homem. Gandalf é adorado e idolatrado por todos, inclusive você, que compartilhou aquela foto do ator que se gaba ser esse senhor e Magneto.

Mas agora você me diga, o que faz o Gandalf? Não, sério. Que mago de bosta é esse que não faz uma mísera bola de fogo? Que quando eles estão cercados por exércitos de orcs ele saca seu cajado e você imagina "uau, ele vai empalar todos com relâmpagos mágicos", e ele vai e dá com o cajado na cabeça do monstro, como um Donatello desajeitado. Eu posso não ser lá um expert em assuntos de mundos mágicos e meu currículo só contabiliza um partida de RPG na vida, mas eu nunca vi um mago que tem menos poder que o Zangief do fliperama da rodoviária.

Gandalf tem aquela característica marcante que o transforma num filho da puta com a reputação tão branca quanto a sua barba: ele fala muito bem. Fala tão bem que mesmo fugindo TODA VEZ que o bicho vai pegar ("eu sei que vocês estão em 10 pessoas, sendo quatro mancos, três cegos, duas grávidas e um Orlando Bloom, e que está vindo um exército de quatro milhões de bestas malignas poderosíssimas para arrancar as suas cabeças, pilhar seus pertences e estuprar suas mulheres, mas eu vou ali rapidão e volto ao amanhecer. É dois palito, guentaê") os caras ainda ficam felizes quando ele aparece, com outro exército de idiotas ludibriados pelo seu magnífico poder de oratória.

E é isso que o torna impressionante: mesmo sendo esse farsante desgraçado, ele teria um enorme sucesso em qualquer época da história. Qualquer uma. Poderes mágicos, fogos de artifício, uma barba maneira, todas essas características tiveram seus dias de glória no curso dos tempos, mas também já estiveram numa pior. Mas seja entre caravanas de anões de nomes muito semelhantes aos pares, entre os sofistas gregos, entre os líderes nazistas ou numa empresa de papel com filial em Scranton, o poder de persuasão e carisma de Gandalf o tornariam sempre um vencedor. Sempre.

Mas não muda o fato de que ele é incapaz de fazer uma bola de fogo. E então eu pergunto: que chance teria esse mago contra um ninja surdo? A resposta é desnecessária, mas digamos que o Magneto não teria o mesmo problema.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Viver de arte


A arte. Produto de uma mente enclausurada em busca de um caminho, forma e conteúdo em harmônica união, gatilho que ativa nossos mais introspectivos sentimentos e emana para todos os cinco sentidos. Ah, a arte.

Uma coisa interessante em se fazer arte é que ela é uma manifestação egoísta de um artista que põe aquilo na frente de um público que pode apreciar ou não. E é isso aí. Gostou, ótimo; não gostou, vá se foder. E é na borda disso, em cima da mancha causada por essa distorção absurda da ideia de comércio que aparece aquele grande problema, normalmente resumido na frase "é muito difícil viver de arte no Brasil".

Eu já ouvi essa várias vezes, muitas delas de cabeludos fedidos na rua tentando me vender seus livrinhos de poesia impressos na lan house e grampeados por um maneta. Então vamos deixar uma coisa bem clara aqui: é difícil, sim, viver de arte, mas é mais difícil ainda viver de bosta.

Porque ora porra, esse desgraçado escreve um amontoado de versos bregas, incompreensíveis ou de mau gosto (e normalmente com erros de ortografia) e acha UM ABSURDO que seja muito difícil viver de arte nesse país de merda. País de bosta. País de incultos, ignorantes, débeis, vermes. Não sabem apreciar a minha arte, a minha poesia.

E sabe por que? Porque a sua poesia é uma bosta. Porque você não produz nada pra sociedade. Porque os seus pensamentos, a sua agonia, a baranga que te largou são tão interessantes pra mim ou pra qualquer outra pessoa quanto o xampu que você usa (ou deveria usar). E porque poesia é uma bosta. E dança contemporânea é uma bosta. E circo é uma bosta. Esse é o seu trabalho, senhor palhaço, jogar um prato cheio de espuma na cara de alguém? Ora, vá encher uma laje.

Artista é uma raça desgraçada, gente mimada dos infernos que acha que merece ser recompensada por ser brilhante (além de tudo acha que é brilhante, só porque usa roupa suja). E não adianta conseguir dinheiro pra pagar as contas, não senhor. Isso é muito pouco para a minha genialidade, eu exijo ser milionário, e exijo agora! Olhe naquela tela e vislumbre meu filme sobre a chuva no retrovisor de um carro estacionado no centro de São Paulo e tenha a AUDÁCIA de dizer que eu não mereço maletas de ouro por isso!

Fazer arte é o máximo. Eu gosto bastante. Mas eu sei que isso só é interessante pra mim, então eu tenho um emprego, uma dessas coisas patéticas que te aprisionam para o resto da sua vida em troca de moedas. E eu não tenho nada contra o camarada que quer viver da sua arte. Pelo contrário, vá em frente, lute por isso! Faça o que te faz feliz, por favor! Mas tire esse pinto do rabo de vez em quando e tente enfiar um supositório de humildade pra perceber que ninguém é obrigado a te recompensar por ficar se jogando no chão em roupas leves (essa é a minha descrição ridícula para "dança contemporânea").

A vida não tá fácil pra ninguém, mas eu te garanto que é mais fácil ir à luta que ficar fazendo mimimi por isso. Ou desistir, considere sempre que você pode ser um merda que nunca vai ter sucesso nesse ramo.

Atualiza, diabo: nem se eu quisesse forjar conseguiria um depoimento tão perfeito pra exemplificar esse post. Vejam até o final, é uma lição de vida.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Reflexões sobre a inatividade

Pois então, esse blog está em seus dias de seguro-desemprego e não há movimento algum por aqui desde fevereiro (exceto pela constrangedora confissão da minha inadvertida aparente homossexualidade), o que pode levar alguns de vocês (todos aqueles que não estão fazendo cara de 'quem é essa porra?') a querer saber quais territórios meu exército ridículo anda tentando invadir. Então vamos a um resumo dos grandes acontecimentos na vida desse careca desprezível nos últimos oito meses:

  • nada.

É isso mesmo. Não fiz nenhum blog novo. Não mudei de emprego/fui promovido/subi na vida. Minha banda não deixou de ensaiar exclusivamente e tocar pra ninguém. Não comprei nenhum videogame novo (exceto por um Nintendo 64 - é, pois é, foi uma recaída). Não fiquei famoso, não fiquei bonito, não fiquei feliz. (E outro Wii. Mas esse é preto, então valeu totalmente.) Não dirigi, não mudei de casa, não paguei nenhuma dívida e só joguei bola uma vez, há seis meses, e ainda sinto dores. Assisti o Teenage Fanclub e o Primal Scream e foi foda, mas você provavelmente não faz ideia de quem sejam essas bandas (se fizer, parabéns por não ser essa gentalha ignorante isso). Não odiei o filme novo da Pixar. Não morri, então continuo de mau humor.

De todo modo, ao menos eu estou tentando: a minha lojinha de camisetas para perdedores jogadores de videogame como eu foi de Squirtle a Blastoise e está toda linda com suas novas estampas e site bonito. Você não fazia a menor ideia de que eu tinha uma loja de camisetas, né? Pois bem, tenho. E você não perde nada por ir lá ver como ficou e espalhar pros amiguinhos. E comprar, né, porra, faz esse favor. As pessoas olham diferente quando você anda na rua com Green Hill Zone rodeando-lhe a cintura (não estou aqui pra julgar se diferente-bom ou diferente-ruim).

Mensagem subliminar: compra, filho da mãe

Então, é isso. Até daqui a oito meses (ou eu volto pra puxar seu pé antes se morrer de inanição por sua recusa em comprar na minha lojinha), ou nunca.