quarta-feira, 30 de junho de 2010

Oportunidades e afins

Eu não sou muito fã, não sei se deu pra notar, dessas frases edificantes fáceis que falam e retuitam por aí. Devo ser um tipo de monstro pra algum escritor ou apreciador da autoajuda, essa anomalia literária e comportamental sem precedentes na história da burrice humana: eu me arrependo de tudo, eu deixo pra amanhã, eu prefiro morrer por dentro a arriscar e correr o risco de dar certo.

Mas entre os mandamentos da bagaça, tem um que está perigosamente fora de controle: o tal de agarrar todas as oportunidades. Tem um tanto a ver com essa tal visão teísta de que deus vai fazer isso e aquilo e que aquilo outro deu errado por culpa do capeta: basicamente entrega seu destino a algum fenômeno aleatório qualquer que pode um dia surgir e lhe sorrir.

Não vou ser besta de dizer que tudo nessa vida é talento e esforço e que nada depende de sorte. Claro que não é por aí - eu mesmo posso garantir que tudo que eu tenho é mais graças ao tal fenômeno aleatório que a meus méritos. O problema é achar que você deve agarrar toda maldita 'oportunidade', não importa qual é. Eu tento pensar que não, mas toda vez que eu vejo um coitado correndo estabanado pra entrar no elevador, mesmo sabendo que outro vai chegar em menos de um minuto, eu penso que é algum problema de interpretação da 'lição de vida' que, convenhamos, já é de muito fácil assimilação. Seu ônibus chegando no ponto antes de você não é uma oportunidade a agarrar, uma gostosa correndo pelada é.

Já cansei de ler fulaninho falando por aí que a vida é curta e o caralho. Eu vivi mais ou menos um terço do tempo de vida médio do brasileiro, e meu amigo, já não aguento mais. Mas muita gente acha que é, e se apega a várias dessas fórmulas mágicas da felicidade. Só que no fim acabam sendo só apressados, teimosos, inconvenientes. Como diz aquela música do REM, living well is the best revenge. Como vingança não está no cardápio de Augusto Cury e seus colegas - e neles, choro em dizer, encontra-se Seu Madruga -, viver bem parece ser também uma impossibilidade. Tudo bem então, continuem tropeçando vergonhosamente no caminho de suas oportunidades estroboscópicas; eu vou ali contar uma piada estúpida pro próximo frustrado amor da minha vida.

sábado, 5 de junho de 2010

You're bald!

Há males que vem para o bem, dita o dizido diz o ditado. Se considerarmos que o maior bem da vida adulta nesses dias de hoje é o tempo, então pode-se dizer que minha calvície me põe na regra que começa o post: os cortes de cabelo tem sido cada vez mais rápidos (o último, juro, durou cinco minutos), o que me deixa com tempo de sobra pra várias outras coisas, como... como me entregar às lágrimas em frente ao espelho enquanto contemplo o avanço do meu couro não cabeludo.

Não sei o quanto você, sofrido leitor, se identifica com a minha situação, mas é mais ou menos como a morte, com a fantástica vantagem de, bem, não ser a morte: você sabe que vai acontecer, só torce pra que demore. Digo, talvez não aconteça com você, mas na minha família todo mundo foi abatido por esse mal terrível: as únicas lembranças que eu tenho do meu pai cabeludo são por fotografias, e meu irmão - que é mais novo que eu - já raspa a cabeça há mais de um ano e meio. Eu vejo as fotos da minha juventude e lá estão aquelas entradas, pequenas rachaduras na parede de uma catedral bonita e cheia de vida, que um dia iriam crescer e derrubar aquela merda toda.

(Momento histórico: acabei de me elogiar no parágrafo anterior. Deve ser a primeira vez na história desse blog)

Mas aí sempre tem quem não sabe aceitar esse destino, e quer por que quer se manter cabeludo mesmo depois que o anjo do cabelo chamou na beirada da quadra e fez o sinal da substituição. Usam creme, passam babosa, compram peruca, fazem transplante. Pra manter a analogia com a morte, esses são como zumbis, gente que se recusa a dizer adeus e ser comido pelas minhocas. E, meu amigo, não venha me dizer que é legal ser zumbi. Não é. Zumbis são feios, não sabem andar direito, só querem comer o seu cérebro. Mas eles são melhores em um ponto: estrelam metade dos jogos de videogame lançados no mundo. Eu nunca vi um que tenha um personagem que fez transplante capilar.

Eu posso ser otimista e acreditar que se a natureza me permitiu demitir a capa peluda que habitava o topo da minha cabeça é porque eu provavelmente não preciso. It's the evolution, babe. Mas sei lá, aquecimento global, efeito estufa, cocô de pombo, tudo isso me faz pensar que a natureza tá na verdade tirando com a minha cara.

Não a culpo. Tem cara de paga-lanche, tem mais é que se foder.