sábado, 27 de março de 2010

Crazy trem

Não é que eu tivesse poucas oportunidades de conviver com pessoas de Minas Gerais durante o decorrer da minha vida, até porque minha mãe é mineira. Mas foi só passando uma semana na capital que eu pude notar alguns traços peculiares da gente desse estado. O mais característico, claro, é o sotaque, e digo a vocês, amigos e amigas, que eu o decifrei. Se um dia você for lá (não vale se você já é mineiro, né), imprima esse post, treine bastante e você poderá passar tranquilamente por um nativo.

O grande problema de você, seu lamentável e patético imitador de sotaques, é que você não se preocupa com a cadência da fala. Se você imita um gaúcho, só põe um 'bah' no começo da frase e um 'tchê' no final. Se imita um mineiro, só joga aleatoriamente um 'uai' aqui e outro 'trem' acolá. E nem quero pensar em você imitando o sotaque carioca. Pare. Com. Isso. Pelo. Amor. De. Deus.

Sotaque tem tudo a ver com ritmo, com levada. Você tem que perceber as nuances, o modo de entonação das vogais, as pausas entre as palavras. Estamos entendidos até aqui? Beleza, porque isso estando claro vai ser megafácil sacar o segredo por trás do sotaque mineiro. E ele é:

*tambores*

O segredo é você esticar a sílaba anterior à sílaba tônica da frase.

*vozes na multidão*

Sim, pequeno gafanhoto. Peguemos um exemplo enviado por São Randão: 'eu só quero um pouquinho'. Vamos decupar a frase (sílaba tônica em vermelho):

Eu só quero um pouquinho

A sílaba anterior é 'pou'. Logo, é só dar um breque logo ali. Fica mais ou menos assim:

Eu só quero um poouquinho.

Não há melhor jeito de entender isso do que ouvindo o sotaque por si próprio. Porém, não me gravarei falando (pra vocês verem como é possível um paulistano de merda passar tranquilamente por um mineiro) nem procurarei nenhum exemplo no YouTube, visto que tô com uma preguiça miserável. Mas nenhuma escola é escola mesmo sem lição de casa, então ó: você vai tentar ouvir um mineiro conversando e prestar atenção no que eu disse. Depois disso, grava sua própria voz e manda pra cá. Quem fizer direitinho ganha uma estrela na testa.

Se bem que, dado o nome do blog e tal, deveria ganhar um montinho de bosta na testa. Vou pensar melhor a respeito.

terça-feira, 23 de março de 2010

Além do horizonte

Então eu estou em Belo Horizonte, a capital mundial do... da... do... ponto de fuga... bonito. Bom, deve ser capital mundial de alguma coisa, porque todas as cidades do Brasil são capital mundial de alguma coisa. E esse, absolutamente, não é o ponto.

O ponto é que eu vim pra cá a trabalho e por cá ficarei duas semanas. Não tenho muita opinião formada sobre a cidade, mas sei que o sotaque mineiro (óbvio) que por aqui aflora me faz lembrar da casa da minha vó, um lugar mágico onde não existe preocupação e o tempo se arrasta tão devagar que chega a ser irritante.

O hotel, veja você, é o único cinco estrelas da cidade. Luxo, sofisticação, finesse, e UMA PORRA DE UMA TV DE TUBO QUE DEVE TER UNS QUATROCENTOS ANOS. Cada diária nessa bosta de quarto compra um aparelho daquele, mas enfim. A merda é que eu trouxe o PlayStation 3 pra cá, mas fiquei a ver navios.

Mas é engraçado como sair um pouco de casa muda sua vida: estou até ligando a televisão de manhã, enquanto me troco. Hoje passava Legião Urbana na MTV enquanto eu punha minha cueca, e isso deve significar alguma coisa.

Não tenho lá muito tempo pra escrever nem pra pensar em algo engraçadinho ou concatenar as ideias numa ordem lógica, porque a internet aqui é limitada (eu posso pagar 15 reais por uma hora nessa buceta, mas não posso ter uma TV com entrada de vídeo componente no meu quarto). Imaginei que tivesse assunto pra postar, mas nah.

Fica então com um resumo rápido desses meus dois dias aqui:

Chove toda tarde, pão de queijo gostoso, chove dentro do prédio do cliente, muita mulher gostosa, privada ruim pra cagar, televisão velha, três reais a garrafinha de água, trabalho tranquilo, cidade tranquila, meu tempo esgotou.

Adeus.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Vida de bosta

Você, leitor mais antigo do blog, talvez tenha entendido o que acontece por aqui. O Vida de bosta conta a história de um homem que, apesar de ser essa desculpa patética para um ser humano </edgeworth> é um homem que tentou. Um homem que tentou ser bonito, que tentou ser saudável, que tentou ser feliz, que tentou encontrar o amor verdadeiro. Mas o post de hoje, senhoras e senhores, é sobre um homem que desistiu.

Eu fracassei. Admito. O bonde da vida adulta passou por mim e me atropelou. Cansei de pegar rabeira, pensei e decidi que começaria de novo. Então hoje fui me consultar com a dra. Olinda, pediatra e pneumologista infantil.

Quando eu penso em "vida de bosta", não consigo pensar em nenhuma imagem melhor que um cara de 25 anos, já meio calvo e cansado da vida, entrando numa casa decorada com ursinhos e balões, sem estar acompanhado de uma criança. Era o meu atestado de derrota. Lá dentro a recepcionista me disse: "Dra. Olinda vai ficar tão feliz de te ver. Ele ali (aponta pra um outro cara sentado na sala) também é cliente dela desde pequeno". Olho para ele e penso "amigo!". Então ela completa: "só que hoje eles vem pra trazer os filhos, né". Orgulho espatifa-se no chão novamente.

Então estava eu lá, quieto e paciente, enquanto crianças corriam e jogavam um Brick Game que tocava Chorando se foi (pensei em sacar o DS da mochila, mas tive receio de que pensassem que além de crianção eu sou esnobe), de vez em quando esticando o pescoço na direção da porta, como se estivesse procurando meu filho. Talvez até tenha soltado um "esse moleque sai correndo por aí e ninguém sabe onde se mete", não sei. Apesar da encenação, era óbvio que todos olhavam pra mim com desprezo, e desconfio ter ouvido uma mãe cochichando pro filho: "tá vendo, Junior, se não fizer o que eu falo vai ficar igual esse moço". Imagine uma sala cheia de ursinhos de papel crepon, crianças angustiadas e o midi monofônico de um clássico da música brega nacional servindo de trilha.

Aí eu entrei no consultório, a doutora disse que nem me reconheceu, achou que eu fosse o meu pai (vulgo "caralho, como você tá acabado"), disse que sempre lembra de mim quando passa na frente da ETESP (paciente de quem o médico sempre se lembra é paciente problemático), perguntou da família e tal. Ela pegou meu histórico, viu que a última vez que me viu foi em 99 (quanto eu tinha 14 anos e já tinha vergonha de ir lá), falamos sobre minha saúde e tudo mais. Aí ela perguntou quando foi que começaram a crescer os cabelos no meu corpo...

(toma um ar)

Intercalando-se a essas amenidades todas, ela insistia no quanto eu estava magro (justo) e que precisava fazer um regime de engorda (não sei se deveria me sentir como um boi ou como o João, irmão da Maria). Aí ela começou a carcar ni mim e me estapear moralmente, fraturando cada osso do pouco que me restava de orgulho. Tentei fazer uma piada pra quebrar o clima.

- O pessoal do trabalho acha que eu faço fotossíntese <risada de porco>
- E bem mal feita, porque olha como você tá.

Aí acabou a consulta e depois de abraços e aquela coisa toda eu saí, cheio de guias médicas com o desenho de um pulmão feliz. Na saída, mais crianças assustadas com o fato de que alguém que se trata com o mesmo médico que elas tinha dinheiro na carteira pra pagar a consulta. Despedi-me e parti, enquanto as irritantes notas de Chorando se foi diluíam-se na distância.

Portanto, amigos, espero que entendam o que eu quis dizer no primeiro parágrafo. Eu sempre soube que rir de mim era uma coisa boa, mas a piada tá começando a ficar de mau gosto. Meu nome é Thiago Padula de Oliveira, tenho 25 anos e aceitei que a vida adulta não é pra mim. Deixarei de acompanhá-los nessa jornada, mas espero que tenham boa sorte com seus hobbies e sorrisos amarelos.

Se precisarem de mim, estarei no meu quarto lendo Chico Bento e tomando Sustagen.