quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

2009 de bosta

"O homem é um animal social", disse Aristóteles. Renato Russo, por sua vez, era "um animal sentimental". Eu (repare a escala decrescente de relevância) sou só um animal. Você pode confirmar nessa retrospectiva do blog em 2009.

Porque esse ano você descobriu que eu:

E, se ter lido sobre tudo isso não for o bastante e você ainda tiver mais pecados pra pagar, pode me perguntar no formspring que eu respondo. Já que não vou ficar famoso pra aparecer no Jô, me contento com as suas perguntas sem graça.

E que 2010 seja um ano feliz e sem esse blog miserável.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Avatar

Eu já tava seco pra assistir Avatar desde uma pancada de meses antes de estrear. Aí foi lançado, e eu queria porque queria ver no Imax, 3D, aquela veadagem toda. Concorrência forte pra cá, cirurgia pra lá, só consegui ver mesmo na sessão das zero horas do último sábado pro último domingo. E valeu?

Opa. Assim, pra já deixar claro antes de entrar melhor no assunto: filmaço. Agora, entrando melhor no assunto: também não é pra tanto.

Num filme cuja promoção está praticamente toda em cima das inovações visuais, natural imaginar que a história em si seja fraca. Não é. É, claro, como todo blockbuster, um amontoado dos clichês mais detestáveis do cinema - o protagonista que começa um imbecil e o filme tenta te provar que ele é legal no decorrer (comigo normalmente não rola, perdão), o fraco desenvolvimento do casal principal (claro, a partir de um triângulo amoroso), o vilão ganancioso e trouxa, etc, etc, etc. O que ele faz melhor que praticamente todos os outros blockbusters que assolaram as telas de cinema dessa década (já entro mais a fundo nessa parte) é se preocupar genuinamente com a maneira como a história está embrulhada.

Pandora, o planeta que acolhe a aventura, é deslumbrante. E é bacana observar o cuidado com que pensaram em tudo: na fauna, na flora, na história, na religião, nas particularidades biológicas, tudo. É um cuidado (e até falta de preguiça) que não se vê em filme nenhum já há muito tempo. E aqui entra algo que talvez justifique o fato de Avatar merecer entrar na galeria dos filmes que marcaram essa geração: ele não busca suas referências imediatas no próprio cinema, esse centenário caduco. É possível enxergar claramente muito mais influências das duas alas do entretenimento que, queiram esses velhos barbudos de vinte e tantos anos ou não, dominaram essa década: os animes e os videogames.

É só prestar atenção: há mais Zelda, Final Fantasy, Pokémon e Bioshock em cada frame que qualquer Star Wars ou Jurassic Park. E a história da floresta, da guerra entre a tradição e a tecnologia, e até a maneira incandescente com que a flora local se comporta são influências muito óbvias de Princesa Mononoke, clássico de Hayao Miyasaki que teve o azar de existir antes de Chihiro abrir as portas pra arte do mestre no ocidente.

Se formos analisar pelo lado visual da coisa, o causador desse furor todo, não dá muito pra discordar: o filme é lindo. Tudo vive, respira e salta na tela. E não é só um display pra tecnologia 3D, não senhor, o design é soberbo, e brilha mesmo numa tela 'tradicional'. Inclusive, nesse aspecto, o maior problema da obra está justamente na parte da tridimensionalidade: a sensação de profundidade se passa principalmente através do foco - o objeto principal está sempre nítido, e o que quer que esteja atrás ou na frente aparece embaçado. Até aí, normal. O problema é que por várias vezes o filme acaba se perdendo nisso e a tela fica completamente borrada. Imagina meu desespero de ficar de cinco em cinco minutos achando que minha miopia tinha voltado. Ando paranoico, tentem entender.

Avatar, se formos analisar artisticamente, como uma obra dentro desse treco chamado 'cinema', não é a melhor coisa que já existiu, sequer a melhor que foi feita esse ano. É um produto, feito pra vender pra caralho e encher o cu dos produtores de grana. Mas tem uma série de ótimos atributos que, aliados ao fato de ter uma audiência excepcional, o coloca na briga com os Piratas do Caribe da vida pelo posto de filme mais marcante dessa geração. Mais uma vez, não é o melhor, longe disso. Mas certamente é um daqueles que daqui a 30 anos ainda terá fãs apaixonados em convenções deprimentes mundo afora. Você tem, então, três décadas pra assistir antes que fique chato. Mas, sério, vai agora.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

As meninas do Leblon nunca olharam pra mim

Foi com 13 anos (uma das poucas idades das quais não tenho aversão a lembranças) que eu comecei a perceber que enxergar a lousa ficava cada vez mais difícil. A aula de história, então, era um terror, porque a letra da Renata era muito pequena.

Foi aí que eu comecei a usar óculos. Tinha 1 grau de miopia. Só 1, mas já era bem ruim conviver com um mundo borrado. E eu morria de vergonha, paranóico e estúpido que sempre fui, então só usava os óculos dentro da sala de aula. Pra ir embora, meu irmão era quem lia o letreiro do ônibus. Um dia ele faltou, e não quero nem lembrar a quebrada onde eu fui parar.

Aí o tempo passa, você acostuma e tal, até o ponto em que pôr o óculos é a primeira coisa que você faz quando acorda e tirá-lo a última antes de ir dormir.

Escrevi esse texto em novembro de 2007. E agora, meus amigos, dizer-lhes devo: vai acabar essa merda. No próximo dia 22 eu opero meus dois olhos e, assim espero, me livro dessa porra pra sempre (não dos meus olhos, dos óculos. Pretendo continuar com os olhos, afinal a terra há de comê-los). Falando assim, parece que foi o período mais horrível que eu passei na minha vida. Também não é pra tanto. Nunca foi desconfortável, nem desagravável. E enxergar bem é bom pra cacete, né. O problema reside na aparência.

Primeiro, porque eu não sou bom em escolher modelos de óculos. Segundo, porque minha cara não ajuda. Aí tem que aguentar nego me chamando de Renato Russo, Gandhi e essas coisas. E de achar que eu tenho cara de inteligente. Sério, que adianta ter cara de inteligente se toda vez que eu penso ouço um barulho de descarga?

Lembro que, até os 13 anos, eu me dava bem com todos na escola. Não existiam grupos, não existiam gangues, e o fato de eu tirar boas notas não me desqualificava a ter boa convivência com qualquer aluno. Aí eu coloquei os óculos e bum!, fui segregado ao grupo dos nãrdes nerds. Não que, numa taxonomia mais simples, eu já não fizesse parte dele. Mas os óculos me trancaram nele. Então eu fazia trabalho com as mesmas pessoas, conversava com as mesmas pessoas, jogava bola no mesmo time (aliás, no futebol, nem quero lembrar as batalhas campais que rolavam entre o nãrdes nerds e os burros. Difícil ter um jogo em que alguém não saísse sangrando).

Não que esse tipo de coisa vá acabar agora, porque, bem, já acabou faz tempo. Talvez as pessoas no trabalho parem de achar que eu sou programador, mas nada de mais. O bom mesmo vai ser não ser mais parecido com Gandhi, nem com Renato Russo. Só um careca de barba mal feita e cara de burro. Não que eu não quisesse ser Gandhi (sem ser indiano) ou Renato Russo (sem, né, a AIDS e o que levou até ela), mas é bom ter uma cara própria.

Então agora só falta desfigurar o rosto do meu irmão.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Vai ter que rebolar




A gente tem, né, que saber lidar com as muitas situações que essa vida boba joga na nossa cara. Saber se virar, é, basicamente, o que difere os homens dos animais. Tipo, joga um cachorrinho na jaula de um leão e ele vai ser devorado. Joga uma pessoa e daqui a pouco você vai ver o desgraçado enfiando a cabeça na boca do cabeludo pra fazer graça.

Tem esse jogo, Scribblenauts, que funciona assim: você está num certo cenário, tem que fazer uma certa coisa. Pra fazer essa certa coisa, você pega um caderninho, escreve o nome de algo e plim!, tá lá esse algo pra você usar. Quer subir num lugar? Escreve 'escada'. Quer cavar? Escreve 'pá'. Quer mergulhar? Põe 'submarino'. Muito divertido, bem sacado, genial, yada yada yada.

Se você ligou os dois primeiros parágrafos, vai sacar que o jogo é uma emulação com pinceladas absurdas do tal 'se virar' que eu falo lá no começo. Eu sempre soube que era um cara sem recursos (sempre o mesmo drible pra dentro, sempre as bordas arredondadas, sempre as piadas com bosta), mas nunca imaginei que pudesse levar um tapa na cara tão forte de um DS.

Porque toda vez que a coisa aperta no jogo, eu chamo o pterodáctilo. É, aquele. Toda vez. E, vamos lá, se eu depender de um animal pré-histórico pra me livrar das enrascadas da vida, eu tô, basicamente, bem fudido. Já fiz um imenso esforço pra não depender tanto da minha mãe, que tá viva e saudável e pode, efetivamente, me ajudar, imagina como deve ser precisar de um pterodáctilo pra tudo. Já vi muita gente dizendo que nasceu na época errada, mas isso é ridículo.

Claro, você pode dizer que, ao contrário do jogo, provavelmente um pterodáctilo não seria tão útil no dia-a-dia. Concordo. Acho pouco provável que um réptil voador vá me ajudar a negociar um salário maior ou a dar ideia numa mina. Então eu fico simplesmente esperando que eles me paguem mais e elas cheguem em mim. É uma tática, até funciona, mas é pouco pra quem deveria colocar a cabeça na boca do leão.

E aí vai chegar um paulistano chato e dizer 'ah, mas eu queria um pterodáctilo pra não precisar pegar trânsito'. Em matéria de reclamação, meus conterrâneos são mais sem recursos que eu.