quarta-feira, 23 de setembro de 2009

It's a long way to the top if you wanna rock 'n' roll

Não sei se eu já escrevi isso aqui alguma vez, mas imagino que dê pra presumir: eu tenho a maior vontade de fazer música. Estar numa banda, tocar pra gente, comer umas fedidas com tatuagem feia dos Rolling Stones no cóccix. Pra ser direto, se tivesse que listar as coisas que eu nunca fiz e quero fazer, o primeiro lugar seria parar de dar a bunda toda semana fazer um show pra um monte de gente. Estive perigosamente perto disso não faz muito tempo - lembra? - mas acabou não indo além de dois ensaios. Não sou de comparar épocas, mas se estivéssemos em 1977 minha falta de talento seria minha glória.

Na última sexta-feira chegou meu The Beatles: A Biografia, monobloco de três milhões de páginas sobre um determinado assunto aí. Se antes essa ideia de ser um deus do rock era só um foguinho que crepitava discretamente, agora estou completamente em chamas. A cada parágrafo eu jogo o livro pro lado, pego o violão e faço um sol trastejar como uma arara sendo abatida durante seu canto.

Mãs, sacomé, pra fazer esse negócio de rock 'n' roll precisa de três coisas: habilidade, atitude e algum tipo de conectividade social. Ter amigos que gostem da mesma coisa que eu ajuda - mais uma 'jam session' em que tiver de tocar Fernando e Sorocaba e eu me enforco com a mizinha. - Pensando nisso, decidi comprar um Guitar Hero.

(Vou aqui poupar vocês de detalhes sobre a briga Guitar Hero x Rock Band; o dia em que os instrumentos do segundo funcionarem no primeiro, a gente conversa)

Porque o Guitar Hero reune algumas coisas que podem ser interessantes: não precisa estudar nenhuma bosta de instrumento durante anos; faz tanto barulho quanto o volume da TV permitir; não tem Fernando e Sorocaba no tracklist. Além disso, um jogo desses tem o mesmo efeito da bola de capotão na meninitude: junta um monte de interesseiro ao redor. E isso não é um defeito, se estivesse procurando uma amizade verdadeira eu estaria no chat do UOL.

E assim, com um Guitar Hero e um frigobar, esse blog encerra suas atividades. Grande abraço.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Vida de bosta no mundo

Eu já tive vários blogs nessa vida, um pior que o outro. E uma coisa que aprendi nesse tempo é que, ainda que as coisas jogadas na internet possam ser vistas por todo mundo, provavelmente não serão vistas por ninguém, e portanto é muito bom saber gerenciar as expectativas. A melhor maneira? Não ter nenhuma. Por isso, nunca procurei saber nada sobre o Vida de bosta. A única pista que tenho sobre o tráfego dele é o número de comentários, mas convenhamos que isso não serve pra nada.

Daí que ontem eu estava fazendo um estudo pro trabalho (juro), e acabei esbarrando em algumas estatísticas do Google sobre essa pocilga. Descobri, por exemplo, que há 13 usuários Google cadastrados nos feeds do blog. Considerando que minha família não acessa esta bagaça e, dos meus cinco amigos, três não tem acesso à internet (ou ao mundo fora da minha cabeça), me pareceu mais do que eu mereço. Soube também que, se procurar por links pra cá no site de busca, a maior parte dos resultados vem do blog da Suzana (um beijo no seu coração, obrigado).

Mas o que mais me surpreendeu nessa série de informações brilhantemente irrelevantes foi saber que o Vida de bosta é o quarto resultado no Google quando se busca por 'maneiras de morrer'. Mano, que orgulho. Primeiro, por ser uma expressão de busca fantástica. Daria até pra usar como subtítulo pro blog, se ele não fosse super variado e falasse de milhões de outras coisas. Segundo, por pensar que algum idiota desgostoso com a vida pode procurar instruções no Google e de fato tentar se matar de november rain. Não consigo imaginar um presente melhor. O que é até perigoso, porque quando meu filho trouxer da escola uma carteira pintada com guache pra me dar, vai ser difícil evitar a cara de 'grande bosta, já tive gente se matando por orientação minha'.


Alguém se matar por um post meu e eu ter um filho. Pelo visto, a meta de não ter expectativas já foi pro saco. Bosta.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O punk da periferia

Fuçando nos meus arquivos no computador do trabalho, encontrei esse texto, de fevereiro de 2008, que jurava ter publicado. Como ainda pego o mesmo ônibus, continua valendo.


Julgar as pessoas pela aparência é feio, muito feio. Mas às vezes é necessário, e vou fazer minha defesa pessoal.

Sim, eu julgo. Mas é por um motivo muito nobre. Veja bem: no caminho do trabalho pra casa, eu pego um ônibus em Pinheiros pra Perus, e desço em Pirituba (língua do P?). E Pirituba, por mais que seja um lugar pelo qual eu tenha um carinho especial, é lugar de gente feia.

Não só feia, mas... Olha só: normalmente eu entro no ônibus já com todos os assentos ocupados. Qual o segredo? Ficar de pé ao lado de alguém que vá descer antes de Pirituba. Entende onde eu quero chegar?

O perfil piritubano é diferente do perfil de Pinheiros. No primeiro, reina a aparência humilde, a roupa de operário, o sotaque nordestino. No segundo, o 'arrojamento', o 'ecletismo', o visual 'alternativo'. É nesse tipo de pessoa que eu colo.

Dia desses, por exemplo, andando pelo corredor em busca de uma presa, vi um rapaz de barba propositalmente mal feita, piercing na orelha e All Star preto no pé. Lia a biografia do Eric Clapton. Parei do lado.

Normalmente esse pessoal desce ainda no começo do percurso, na Teodoro Sampaio. Mas o rapaz continuou lá, calmamente virando as páginas de seu livro. Às vezes, jogava um olhar na minha direção, provavelmente atraído pelos Rolling Stones que vazavam pelo meu fone de ouvido. Vamos lá, Clapton e Stones, ele não poderia me decepcionar.

Mas o caso é que vai rua, vem rua, curva pra lá, curva pra cá, página pra lá, página pra cá, e nada do cara descer. Um solo de saxofone estralou em Rip this Joint, ele olhou de novo. Voltou pro livro, virou mais uma página, e eu começo a ficar impaciente. Shake your Hips, Casino Boogie, em Tumbling Dice ele deu mais uma olhadinha. Virou pro livro, marcou a página, cutucou o cara que tava sentado ao lado, levantou, pegou o corredor, deu o sinal, e enfim desceu, quando começava Sweet Virginia.

Julgo sim, estou sentando. Tem gente que não julga e vai de pé.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Arquitetura da destruição

Eu costumava pensar - e as pessoas costumavam me dizer - que tinha cara de menino. Era uma coisa que até me incomodava um pouco, tanto que minha barba não tem como principal qualidade estar sempre feita. Em 2007, uma moça recém chegada à empresa em que trabalho disse que achava que eu tinha 18 anos - eu tinha 22. Alegria!, oras, é uma mulher dizendo que você parece mais novo do que é, mesmo que, por consequência, seja o mesmo que te chamar de moleque, irresponsável, estagiário e fudido. Eu não era estagiário, mas admito que há razão nas outras.

Daí que se passam dois anos, e uma linha recente nas conversas com os coleguinhas ultimamente tem sido como eu estou decadente. Um, de 28 anos, achou que eu era mais velho que ele. Outro, quando viu uma foto minha do ano passado pendurada em um dos murais da empresa, mandou um 'como você tá acabado, cara!'. É, com essas palavras.

Eu não entendo, juro. Não é o estresse que me detona, porque tô pra achar alguém mais sossegado que eu (não parece, mas é verdade). Não é o linguajar, porque se a menina lá de cima fosse cega poderia achar que eu tinha 12 anos. Também não é no visual, de um modo geral, porque a única mudança significativa nesse campo que eu fiz nos últimos sete anos foi trocar o All Star pelo Adidas. E não deve ser porque eu não rio, já que todo mundo sabe que não sou sério, sou cínico.

'Mas Padula, seu imbecil, no texto linkado ali de cima você dizia que queria parecer mais adulto'. Adulto é uma coisa, velho caquético é outra. Fora que um amigo meu certa vez disse, com razão, que eu vou ser daqueles velhos safados.

Mas, vá lá, tem suas vantagens. Um cara no trabalho, por exemplo, acha que eu sou o chefe do departamento, e desde então tenho agido como tal. Precisa ver os esporros falsos que eu dou quando ele tá por perto.

É, isso compensa tudo.