segunda-feira, 27 de julho de 2009

Streets of rage

Eu nunca fui assaltado. Nunquinha, jamaizinho. E, considerando que eu morei a vida toda em São Paulo, uma cidade em que pessoas saem de casa com os vidros do carro blindados e fazem campanha vestindo branco e usando nariz de palhaço para protestar contra a criminalidade (afinal, faz todo sentido, pensa bem), eu devo ter uma sorte da porra. Devo ter mais sorte ainda se pensarmos que eu tenho três características que deveriam me tornar o alvo ideal de qualquer larápio:

1- Eu ando sempre sozinho;
2- Eu tenho cara de bobo;
3- Eu sou fraco feito um grafite 0.5

Então por que, oh deus, por que ninguém quer me roubar? Outro dia, andando pelas tenebrosas ruas da Lapa de baixo no começo da madrugada de uma sexta-feira, um cara me parou e disse mais ou menos isso: 'Rapaz, vou lhe ser sincero: eu bebo. Bebo memo. Então eu quero lhe pedir um real pra comprar maconha [sem zoar a lógica do rapaz, vocês já viram os vícios dele]. Não vou lhe roubar, só tô lhe pedindo. Eu até podia lhe roubar, tô com mais uns caras ali, mas só vou lhe pedir um real pra comprar maconha'. Alguém pode pensar que foi só uma abordagem mais marota pra me assaltar, não fosse o fato de que eu não dei o real a ele. Ali estava eu, cara a cara com um assaltante assumido, e saí ileso.

Pensando mais, talvez tenha encontrado os motivos da minha invulnerabilidade aos males da cidade grande, olha só: se eu ando sempre sozinho, é sinal de que não tenho amigos nem amores. Qualquer sacripantas gatuno sabe que a abstinência dessas coisas pode fazer tão mal quanto a falta de cachaça. Além disso, a minha cara de bobo, além de justificar um pouco o tópico anterior, ainda mostra que eu sou fraco de espírito e força de vontade, coisas importantes na hora de arrumar um emprego que pague bem. E, sobre eu ser fraco, só de olhar pra minha cara de bobo já dá pra sacar que eu sou covardão o bastante pra não entrar em combate físico por causa de um assalto, o que torna esse ponto irrelevante.

Tudo bem, tudo bom, tudo legal. Tenho o corpo fechado, isso é bom, tô tranquilo.

Mas aí outro dia eu tive um sonho em que caminhava pro trabalho, e no pedacinho da Teodoro Sampaio entre a Henrique Schaumann e a Francisco Leitão só perambulavam malfeitosos malfeitores. Muitos deles. Um grupo de três me cercou e falou qualquer coisa que nada tinha a ver com eu dar o dinheiro ou eles me aplicariam um cuecão. Eu simplesmente tirei a carteira do bolso, entreguei e eles foram embora, num perfeito movimento que denunciava um bom entrosamento na relação assaltante-assalariadoassaltado. Caos nas ruas. Crime. Pânico. Um policial em busca de vingança. Insegurança. Impotência. Trabalho. Marcas de sangue no ar. Medo.

E então, desde esse dia, comecei a me borrar de medo de ser assaltado. Se na vida real for qualquer coisa igual ao sonho, é um sentimento horrível e boboca. Mas não se preocupem, já achei a solução: depois de tudo que aprendi nas bem sucedidas caminhadas contra o crime, só preciso ficar amigo de algum grupo de médicos palhaços criadores de pombos e tá tudo bem. Tirando em Gotham City, é uma tática que não deve falhar em lugar nenhum.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Just say yes

Sei que eu fico aqui pagando de moleque rebelde, apontando o dedo virtual na cara de pessoas que evidentemente não estão na minha frente (já disse: sou bundão, só falo mal pelas costas), mas a verdade, você deve saber, é que sou total Mariavaicasôtra. Total. Não tenho personalidade, não tenho originalidade, só sigo o mestre.

Eu tendo sempre a concordar com quem aponta um bom argumento. Sem questionar. A lógica fazendo sentido, por mais que seja contra tudo por que deveríamos zelar, tô comprando. Se o Maluf tivesse um blog, é bem provável que todos os meus direcionamentos políticos (1 - não votar no Maluf; 2 - não votar em ninguém) se despedaçassem como meu coração toda vez que vejo um Pikmin morrer.

Na outra mão, eu costumo criar total aversão a algo só porque muitas pessoas falam bem. Exemplos? Stand-up comedy, Tropa de Elite, Harry Potter, Madonna, essa porra de cultura trash, e por aí vai descambando. Então, a) eu me solidarizo com alguém só por ouvir seu argumento, sem objeções; e b) eu detesto algo simplesmente porque me irrita ver tantas pessoas gostando.

Meu irmão, matemático formado, volta pra casa na semana que vem. Mas nem preciso dele pra ajudar nessa conta: a + b = x, sendo 'x' um abjeto rascunho de ser humano. Bom, pelo menos já sei como começar minha necrografia.


Só não vou deletar esse texto porque estou em débito com o blog.

sábado, 4 de julho de 2009

Faz parte

Eu não sei quando começou, mas aposto que foi em algum lugar do século XX. Porém é inegável que, cada vez mais, esse fenômeno que arrebanha soldados aleatórios e preguiçosos por todos os cantos do planeta está cada vez mais forte. Senhoras e senhores, estamos vivendo os dias de glória do exército do 'faça a sua parte'.

É lógico que eu vou cagar em cima desse conceito todo, mas antes deixe-me explicar melhor do que se trata a bagaça: como o mundo está cheio de problemas e cheio de pessoas, é razoável imaginar que se todas essas pessoas se unirem com um objetivo comum, as coisas melhoram. Parece legal, parece justo, parece certo, certo?

Certo. O problema é: ninguém quer fazer bosta nenhuma. Tipo, eu quero mudar o mundo, mas eu tenho preguiça. Porque, sério, vamos admitir: a prostituição infantil é uma merda, mas não é mais importante que a minha carreira. Vou te dar alguns exemplos recentes pra ficar mais fácil somar esse parágrafo com o anterior e chegar ao mesmo resultado:

O primeiro aconteceu há uns três meses. Foi uma campanha ousada, grande, que propunha o seguinte: vamos todos apagar as luzes de casa durante uma hora, no mesmo horário. Porque o aquecimento global é esse monstro que fica debaixo da cama, e nós precisamos fazer algo com relação a isso. Lembram desse? Beleza, o próximo: com as últimas eleições presidenciais no Irã, tem nego apanhando e morrendo a dar com pau por lá. Você lê as notícias, não preciso explicar, né? Pois então, surgiu então uma campanha no Twitter, esse negócio que todo mundo adora difamar, que era a seguinte: todo mundo tinha que pintar suas fotos de exibição de verde. Sei lá porque, aposto que tinha um bom motivo. Mas a ideia era fazer um protesto contra as injustiças e não sei o que que rolavam no país de nome tão pequeno.

A última, também disparada no Twitter, era mais local: quem queria aderir escrevia um negócio assim: #forasarney. Lembra os caras pintadas que pediam a saída do Collor? Então, uma variação disso, que quer mostrar a quantidade de brasileiros indignados com os atos praticados por esse agora senador que está botando na nossa bunda há pelo menos 20 anos, sem ninguém poder fazer nada, porque o Brasil não é uma democracia e ele nunca foi eleito pelo voto popular.

Agora chega a parte em que eu começo a implicar: como disse, ninguém tá ligando. Sério. Ninguém economiza em água ou eletricidade, nem joga papel velho no lixo ou vai pro trabalho de bicicleta pra não poluir o ar (vai, quando eu digo 'ninguém', é claro que eu estou generalizando). Mas apagar a luz de casa por uma hora? Bem, isso eu posso fazer. E então, plim!, eu fiz minha parte. Se um dia as geleiras derreterem e todo mundo morrer afogado, a culpa não é minha.

O mal do faça sua parte é essa falsa sensação de dever cumprido. É a pessoa se sentir bem, e de alma lavada, por algo que nada mais é que uma idiotice. Tipo, #forasarney? Sério mesmo? Fotinho verde? E que porra é essa de mobilizar UM BILHÃO DE PESSOAS pra fazer um ATO SIMBÓLICO? Se todos os chineses (mais ou menos um bilhão de pessoas) pulassem ao mesmo tempo, a Terra sairia do eixo, é o que dizem. Então se um bilhão de pessoas tem esse poder, por que não fazer algo realmente relevante?

Porque um bilhão de pessoas podem apagar a luz, mas nem duas mil se disporiam a fazer algo que fosse exigir mais tempo de sua vida em um negócio que não vai botar uma TV de LCD na sua estante. E não pense que eu estou dizendo isso pra me crescer, não. Pergunta pro meu pai quantas TVs a gente já pesquisou hoje.

Então seguimos assim: a gente finge que faz nossa parte, e o mundo finge que é afetado por isso. O problema, amiguinhos, não é o aquecimento global, nem o Sarney. O problema é a punheta.